Por que Bruno Magalhães não conseguiu fazer uma época brilhante no IRC?

Por a 13 Outubro 2011 09:20

Sempre que um piloto português se aventura num campeonato além-fronteiras, poucos são os amantes da disciplina que tem paciência para esperar pelos resultados. Mentalidade tipicamente portuguesa? Fanatismo? Falta de informação técnica ou de contextualização na hora da avaliação? Talvez um pouco de tudo.

Por que Bruno Magalhães não conseguiu fazer uma época brilhante no IRC?

A verdade é que no segundo ano em que mediu forças com os pilotos do IRC, para muitos, Bruno Magalhães ficou aquém das expectativas, não conseguindo capitalizar a experiência adquirida no primeiro ano. Porquê? O piloto do Peugeot 207 S2000 da equipa Peugeot Sport Portugal traz a resposta na ponta da língua: “faltou sorte em determinados momentos! Se eu tivesse acabado o Rali de Ypres e o dos Açores bem classificado como estava quando desisti devido a peças do carro que tinham defeito de fabrico, estaria agora, mais ponto, menos ponto, entre os melhores Peugeot e estaríamos a analisar a minha performance de outra maneira.”

“Por outro lado, é preciso ter a noção das coisas. As pessoas têm que se consciencializar, de uma vez por todas, que o IRC é, atualmente, o mais competitivo campeonato de ralis do mundo. Basta dizer que o Petter Solberg foi ao rali de Monte Carlo e já lá tinha estado mais quatro vezes que todos os outros e, mesmo sendo quem é, não ganhou um único troço aos pilotos do IRC! É impossível concorrer com algumas equipas que dispõe de outros meios, nomeadamente a Skoda que é uma equipa oficial. Basta dizer que somos logo prejudicados pelo número de provas que fazemos. Num campeonato onde contam os sete melhores resultados, nós só fizemos sete ralis (ficando, portanto, sem qualquer margem para errar), enquanto os candidatos ao título vão fazer 13 e algumas com um coeficiente superior (Escócia e Chipre). E isso faz toda a diferença…”.

‘Pôr o dedo na ferida’

Por que Bruno Magalhães não conseguiu fazer uma época brilhante no IRC?

Contudo, se a conjuntura global não foi de todo favorável a Bruno Magalhães, fazer uma viagem pelos problemas por que passou este ano ajuda a perceber as dificuldades do Tricampeão nacional. Questões como: porque é que se iniciaram ralis com set ups errados (Bulgária) ou porque é que os travões foram o elo mais fraco do Peugeot (Córsega) são, de todo, pertinentes. Começando pela escolha das más afinações, o piloto, que defende as cores da Peugeot Portugal há já sete anos vai ao fundo da questão para pôr tudo em ‘pratos limpos’: “grande parte das equipas inicia já o rali com o set up adequado para as características da prova, o que raramente aconteceu connosco (à exceção de Ypres e Sanremo). Isso significa que podem atacar desde o primeiro metro, enquanto nós ainda estamos a fazer o ‘trabalho de casa’ e só depois poderemos entrar no ritmo deles, numa altura, em que, claro, já ganharam um considerável avanço. E o problema agrava-se quando sabemos que todos os ralis do IRC são diferentes e que não podemos aproveitar os set ups iniciais de umas provas para as outras”.

Quanto às lamentações dos travões, Bruno considera que “nalgumas situações considero que possa ter sido responsável, como na Córsega, por exemplo, onde tive que mudar o meu estilo de condução para que eles aguentassem, mas noutras situações, como no Rali de Portugal em que ao fim de 10 quilómetros estava com problemas, não me responsabilizo porque nada teve a ver com o seu uso abusivo. De resto, acabamos por mudar algumas coisas no sistema e a situação foi corrigida naturalmente”.

Estas e outras contingências, acabaram, afinal, por limitar as aspirações de toda a estrutura liderada por Carlos Barros e do próprio Bruno Magalhães que reconhece estar “a pagar os dividendos de ter ficado demasiado tempo Portugal” e que também por isso merece mais uma oportunidade para, em 2012, elevar as cores nacionais no IRC.

Porque perde Bruno do meio do troço para a frente?

Por que Bruno Magalhães não conseguiu fazer uma época brilhante no IRC?

Na sua melhor prestação da época, Bruno Magalhães deparou-se uma dificuldade acrescida: perder tempo do meio para o final dos troços longos quando na parte inicial conseguia acompanhar o ritmo dos mais rápidos. No Rali de Sanremo que terminou num positivo quinto lugar, Carlos Barros identificou o problema e em conjunto a equipa procurou uma solução que servirá para o futuro. Nas palavras de Magalhães “trata-se de uma situação que, pessoalmente tenho que corrigir no futuro e que não está ligada à perda de frescura física ou desconcentração nos troços grandes, mas sim ao sobreaquecimento dos pneus. Como não é possível testar em troços com 30 km não conseguimos determinar qual é o ponto de saturação dos pneus em testes, o que, se acontecesse, me ajudaria a regular o ritmo e, automaticamente, a gerir o rendimento dos pneus num troço grande. A solução passa por não ser tão agressivo no início dos troços, adotando um ritmo mais constante ao longo da especial e, jogando também com afinações técnicas que ‘libertaram’ mais a frente do carro para não ‘queimar’ demasiado cedo os pneus e ter borracha até ao final da classificativa”.

Finalmente com as notas certas!

 

Num campeonato tão competitivo como no IRC, o sistema de notas de navegação é crucial para se obterem bons resultados. Bruno Magalhães admite que “tive que mudar o sistema a partir da Bulgária e em Sanremo percebi que o que tenho agora é o ideal para ralis com as características dos do IRC”. Mas em que é que o novo sistema é afinal diferente? “Dantes tínhamos notas por ritmo, agora temos pelo desenho da curva ou seja, são notas bastante mais objetivas e que não deixam lugar a hesitações”, esclareceu.

O que tem Thierry Neuville que Bruno não tem?

Por que Bruno Magalhães não conseguiu fazer uma época brilhante no IRC?

O principal barómetro de avaliação para Bruno Magalhães é o jovem Thierry Neuville que este ano, com um Peugeot 207 S2000 ganhou duas provas (Córsega e Sanremo) contra nenhuma do português. Mas o piloto de Lisboa frisa que os resultados do belga não apareceram por acaso e que existem diferenças importante que é preciso ter em conta quando se avaliam performances. Para começar, “se quanto aos 207 que tripulamos acredito que estejam muito equivalentes, já a estrutura da Kronos é muito maior que a nossa e faz sempre testes prévios antes de cada rali, o que não acontece connosco”. Para além disso, “o Neuville é um excelente piloto que teve a sorte de começar a beneficiar, pelo seu valor, de maior apoio da Peugeot Sport. Em 2010 fez dois campeonatos e descobriu o sistema de notas eficaz (que eu, por ter feito muito menos ralis, só agora descobri!), o que fez com que os resultados começassem a aparecer. Com resultados, a marca começou a olhar para si de outra forma e foi chamado muito mais vezes para testar e desenvolver o 207 do que eu. Isso traduz-se, depois num ritmo competitivo superior”.

“Não tenho um teto de idade para o Mundial”

Com o programa e orçamento deste ano esgotado, a equipa Peugeot Sport Portugal não irá participar este ano em mais nenhum rali do IRC ou noutra prova de índole nacional. Uma situação que Bruno Magalhães analisa com apreensão: “mesmo que consigamos alinhar novamente no IRC em 2012, até lá, vou estar cinco ou seis meses parado, sem fazer qualquer rali, o que é preocupante!”. Mas, sem dúvida, menos preocupante do que se a equipa Peugeot Sport Portugal não conseguir convencer os seus patrocinadores em renovarem a aposta no IRC. A este propósito, Carlos Barros, diretor de equipa, afirma “tudo dependerá essencialmente da vontade dos concessionários Peugeot para voltarmos ao IRC. Em 2012 queríamos fazer, no mínimo seis provas e o Rali de Portugal e terá que ser ainda com o 207 porque o 208 R4T só se deverá estrear em 2008”.

Se as pretensões falharem, Bruno Magalhães não tem pensada nenhuma alternativa de recurso, mas, com convicção afirma que “mantenho de pé o sonho de guiar um WRC e não é o avançar da idade que me retira esse sonho, nem o de aceder ao Mundial pois o Freddy Loix, que já por lá passou, aos 44 anos diz-me que nunca guiou tanto como agora. É tudo uma questão de oportunidades. Em Portugal, ganhei um troféu com 14 pilotos, três campeonatos nacionais e não posso fazer mais do que lamentar se aos 18 anos o meu pai não me podia dar um WRC como o faz o pai do Mikkelsen!”

Filipe Pinto Mesquita

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