Michele Mouton: “Os portugueses têm pura paixão pelos ralis”

Por a 29 Março 2013 10:33

Trinta anos depois, recordámos com Michele Mouton os belos tempos do Rali de Portugal, com a atual manager do WRC a falar do passado, do presente e do trabalho que está a fazer tendo em vista o futuro.

Completam-se 31 anos desde a histórica vitória de Michele Mouton e Fabrizia Pons no Rali de Portugal de 1982, naquela que foi a sua segunda vitória mundialista. Se o seu sucesso de 1981 em Sanremo deixou desconfiados os adversários, meses depois, em Portugal, ficava a certeza de estarmos na presença duma piloto de eleição, que venceria por mais duas vezes nesse ano, terminando o campeonato no segundo lugar. Ganhou definitivamente o respeito dos adversários a ponto de Ari Vatanen encontrar a razão do seu sucesso: “A andar desta forma na terra ela tem por certo um avô finlandês”.

Trinta e um anos depois, fomos encontrá-la novamente em Portugal, agora no papel de manager do WRC, numa altura em que trabalha para encontrar os melhores caminhos para a modalidade, indo buscar no passado muita da inspiração e ideias que pretende para o futuro.

Autosport: Que memórias especiais tens de há 31 anos?

Michele Mouton: “As multidões que ladeavam a estrada, a paixão das pessoas pelos ralis, e pelos pilotos, é o que sobressai mais.”

AS: Era a primeira vez que visitavas Portugal?

MM: Estive cá em 1981 com a Audi. Era impressionante, bastava sair a porta do hotel e já havia gente a ver-nos. Durante os treinos, mesmo à noite. A paixão dos adeptos era incrível, nos troços, tanta gente a incentivar-nos, por vezes a bloquear a estrada e a Fabrizia (Pons) sempre a dizer-me para acelerar. Era absolutamente incrível a paixão desta gente pelo desporto.

AS: Porque achas que Portugal era tão especial assim?

MM: “Penso que a pessoas gostam do desporto, do rali e da ação. Basta ter visto o que se passou no ano passado em Fafe, para perceber isso mesmo, ver o entusiasmo das pessoas. Isto é pura paixão pelos ralis!

AS: Com o atual sistema implementado pela FIA, os formatos dos ralis têm um padrão. Achas possível que este rali possa regressar ao norte novamente?

MM: “Espero bem que sim! Este desporto é muito popular e temos de estar o mais perto possível dos adeptos. Ok, quando digo perto, não quero dizer tão perto quanto o que se via nas estradas nos anos 80 aqui em Portugal. O trabalho que foi feito ao longo dos anos foi excelente e as pessoas hoje em dia comportam-se duma forma completamente diferente, pois sabem que as regras mudaram. Mas espero que seja possível voltar um dia. Sinto que é importante para os ralis estar perto das pessoas que sentem uma forte paixão por esta modalidade.”

AS: Com a influência que tens devido ao teu cargo de manager do WRC, que mudanças achas que deviam ser feitas no WRC?

MM: “Conhecemos e temos consciência de todos os argumentos, os custos, e por isso temos de ser cuidadosos com o que fazemos. Estamos a trabalhar em diversas direções para reduzir custos, no aspecto técnico, nos pneus, mas o que eu acho que realmente faz falta a este desporto é criar histórias, acontecimentos. Por exemplo, quando se fala em endurance, isso pode não significar ralis mais longos, mas basta por exemplo introduzirmos uma classificativa longa, como aconteceu no México, para fazer mexer com as pessoas, pois a dado momento todos queriam saber o que se poderia passar nesse troço. Se essa especial estivesse dividida em três pequenos troços, nada se passaria, e sendo extensa, criou-se uma história. Se nada se passar num troço, não se criam histórias.”

AS: Então achas que os 66km da especial na Argentina foi o melhor que poderia ter sucedido ao campeonato?

MM: “Por quê fazer três classificativas de 20 km se podes fazer uma de sessenta? Isso é suficiente para que os pilotos tenham de mudar um pouco o ‘chip’ e guiar de forma diferente, porque um furo numa especial de 15 km pode dar para ir até ao fim, mas 60 não, tens de parar e mudar o pneu.

AS: Há uma filosofia para experimentar mudanças, muitas vezes repetindo casos bem sucedidos do passado. Pequenas coisas como a ordem inversa, que muitos pensam ser uma boa ideia. É só uma experiência ou já é permanente?

MM: “Penso que não somos estúpidos! Se isto parar com as táticas estúpidas que tivemos nos últimos anos, e que não eram boas para o desporto, já é bom. Se entendermos que esta não é a melhor solução e encontrarmos outra melhor, é claro que não somos contra. Vamos ver como tudo se adapta. Para já penso que está a funcionar melhor. Mas nada é perfeito.

MH: Quão definitiva é a intenção de realizar classificativas noturnas? Outra experiência?

MM: “É uma experiência que também dá endurance ao rali. Os pilotos não estão habituados a correr de noite, mas também se conduz à noite, então porque não fazer troços à noite? É simplesmente algo diferente. Não penso que seja mais perigoso. Temos de adaptar a segurança à noite não penso que deva ser proibido.

MH: Exceto o fator pó…

MM: “sempre se guiou com pó no passado. Não percebo o porquê de repente os pilotos terem deixado de ver com o pó…”

AS: A ideias de troços mistos, é bom para o desenvolvimento de pneus ou boa para a filosofia?

MM: “Não somos a favor de ter muitos ralis mistos, mas há a Espanha e é bem famoso. Não sou contra, mas não encorajo porque é mais caro e é mais trabalhoso para as equipas. Portanto não forçaremos a que existam mais provas.

AS: Há mais experiências que gostasses de fazer?

MM: “Temos muitas ideias para o futuro. Estamos a ver como será possível talvez reduzir os tempo na assistência, obrigando a peças mais duradouras, mas ainda está em estudo. O que pretendemos mesmo é ter mais histórias, mais endurance, pois os ralis não são ‘sprints’. Temos também de caminhar no sentido da redução de custos. Estamos a trabalhar em tudo isso.

AS: Uma questão final, vi que a Fabrizia Pons ainda vence ralis, mas tu não. Não te sentes frustrada?

MM: Nem um pouco! Deixo a Fabrizia divertir-se nos ralis, mas não me sinto com vontade de competir novamente. Também não há problema, pois tenho muito que fazer”

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