ESTÓRIAS do WRC: De Arganil para o Mundo, em Renault 4L

Por a 27 Janeiro 2014 14:48

Em quatro décadas de vida do WRC, muitos foram os projectos que emprestaram um colorido especial à caravana do Mundial de Ralis. De todas as iniciativas, há que destacar uma, bem portuguesa, por sinal, que teve tanto de original como de bem-sucedida. Depois da participação em algumas edições do Rali de Portugal, António Pinto dos Santos decidiu levar a sua Renault 4L, com as cores do xisto do Piódão, a uma participação além-fronteiras, surpreendendo tudo e todos ao enfrentar com a sua corajosa máquina, as armadilhas de provas tão diversas como a Suécia, RAC, Catalunha, Córsega, Sanremo ou a demolidora Acrópole. Nuno Rodrigues da Silva, um dos navegadores de serviço neste projecto recheado de peripécias, partilha as memórias de quem viveu por dentro esta gratificante aventura: “A participação da 4L foi muitíssimo bem recebida e acarinhada por toda a gente. Lembro-me que o carro usava umas bacquets do Lancia oficial do Biasion, mas toda a restante preparação era caseira. Não obstante, encarávamos as participações com grande seriedade. Além do piloto e navegador, viajavam para as provas o mecânico Américo Paiva e o “Xico” Vasconcelos que acumulava, entre outras, as funções de relações públicas, manager, condutor e responsável pela logística. O carro ia no reboque para as provas, com o Xico e o Américo. Levavam 6 pneus, quatro montados e dois suplentes, para todo o rali. Nós íamos lá ter, treinávamos sempre com um carro melhor do que o de prova e, durante o rali, adoptávamos as necessárias cautelas, adequadas a um carro com aquelas características. Tínhamos que ter muita atenção aos tempos de ligação que, na maioria das vezes, não eram fáceis de cumprir. Apesar de tudo, chegámos ao fim de todas as provas em que alinhámos, o que demonstra também o ‘profissionalismo’ com que encarávamos a ideia. A nossa equipa passou a ser uma das atracções das provas, como o comprovam inúmeros episódios que vivemos. Na Acrópole, em 2000, a desistência da equipa oficial da Seat deixou uma clareira no parque de assistências. Mesmo ao lado, estava a equipa Procar, e o Alessandro, com quem eu já tinha trabalhado nos tempos do Rui Madeira, propôs-me em segredo que, na manhã seguinte, eu encaminhasse o Pinto dos Santos para a assistência da Procar em vez da nossa. Assim fiz, pedindo ao Pinto dos Santos que se dirigisse para o local, sem ele saber o que se iria passar. Mal parámos o carro, os mecânicos da equipa italiana começaram imediatamente a assistir a 4L, perante o ar incrédulo do Pinto dos Santos e o ar assutado do nosso mecânico, preocupado com o facto de o filtro do ar estar preso com um arame e só ele saber o truque para o manter em funcionamento…

Essa edição da Acrópole foi recheada de histórias. Recordo-me que quando o Richard Burns, por quem tinha enorme simpatia, nos viu com o carro, veio ter comigo e perguntou-me o que teria passado pela nossa cabeça para querer fazer o rali grego com uma 4L. Respondi-lhe que era nosso objectivo chegar naturalmente ao fim e disse-lhe a brincar que quando o Subaru cedesse, obrigando-o a parar a meio de uma classificativa, nós passaríamos por ele e buzinaríamos para o cumprimentar. E não é que o pobre do Burns desistiu mesmo e, quando estava sentado numa pedra e ouviu a nossa buzina, começou a abanar a cabeça não querendo acreditar que éramos nós…

Na Suécia o Pinto dos Santos viu-se e desejou-se para arranjar 6 pneus com pregos que servissem ao carro. Os pregos eram muito pequenos e quando chegámos à assistência, uma equipa francesa que alinhava com um Citroen AX, ofereceu-se para nos ajudar no que fosse necessário, demonstrando alguma pena pelas condições que dispúnhamos. Quando, no final do primeiro troço, os franceses constataram, que lhes havíamos ganho vários segundos, nunca mais nos falaram…

Enfim, histórias inesquecíveis como a do Sanremo, em que a caixa de ferramentas não foi para Itália, indo no seu lugar umas caixas de vinho ou quando o Pinto dos Santos, querendo mostrar que era entendido em massas e pediu que fossem comprar uns pacotes ao supermercado, exigindo as da marca Barilla, foi ‘aos arames’ quando alguém disse de imediato que essa era marca que comprava para o cão…

Não passávamos despercebidos em toda a caravana do Mundial. Éramos mais aplaudidos que os pilotos oficiais e o público permanecia nos troços, sem arredar pé, aguardando pela nossa passagem. Até o famoso cozinheiro Nicola Manccini, um dos mais prestigiados do WRC, fazia questão de cozinhar para nós em todas as refeições.

Apesar de nos divertirmos, emprestávamos rigor ao que fazíamos e chegámos a ponderar fazer o Safari. Antes de tomarmos a decisão, fui com o Pinto dos Santos ao Quénia, treinar uma etapa do rali e chegámos à conclusão que não era possível, porque o carro não tinha velocidade de ponta para cumprir as longas ligações dentro do tempo regulamentar, mesmo considerando os 15 minutos de tolerância…”

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