Entrevista a Daniela Lopes: “há cada vez mais mulheres a participar, e isso deixa-me muito feliz”
Daniela Lopes é uma piloto portuguesa que corre nos ralis há mais de uma década, uma paixão que herdou do pai e que hoje encara com a maturidade de quem aprendeu a crescer num mundo competitivo e maioritariamente masculino.
Iniciou-se em 2013 com um carro alugado, mas o sucesso foi tal que transformou o veículo de estrada do dia a dia num Saxo Cup, com o qual competiu durante vários anos. Admite que no início, ser mulher causava estranheza, mas quase sempre de forma positiva e hoje assume que há muito mais mulheres no desporto.
Ao longo da conversa, Daniela Lopes sublinha a importância da atitude e da postura dentro e fora das especiais, mas defende que o ambiente atual nos ralis portugueses é inclusivo e equilibrado, reconhecendo que várias marcas e equipas têm mostrado cada vez mais abertura a apoiar pilotos femininas.
Daniela Lopes destaca também o papel inspirador que quer desempenhar: “Quero ser um exemplo não pelo que faço na estrada, mas pela atitude e pela forma como me posiciono. Gostava que, daqui a uns anos, alguém dissesse que começou nos ralis por minha causa.”
Com um olhar no futuro, a piloto acredita que chegou o momento ideal para criar um troféu feminino em Portugal, à semelhança do que já aconteceu há uns anos nos Açores: “Seria uma forma de aumentar a inclusão e atrair mais mulheres à competição. Já temos número suficiente e todos sairíamos a ganhar.”
No fecho da entrevista, deixa uma mensagem simples e direta às jovens que sonham seguir o mesmo caminho: “Acreditem sempre, trabalhem muito e posicionem-se com respeito. O resto vem com dedicação.”

As origens da paixão pelos ralis
AS: Daniela, o que te trouxe para os ralis e o que te faz cá estar mais de uma década depois?
Daniela Lopes: “Esta paixão veio da família. O meu pai fazia o Campeonato Nacional de Velocidade e foi aí que tudo começou. Desde cedo acompanhava as provas dele — o José Carlos Lopes — com o seu Mini Cooper, com o qual competia nesse campeonato. Tenho memória de muito pequena ir ver o Rali de Portugal. Isto depois fica no sangue. É uma paixão que mantive viva e que quero continuar a alimentar.”

O início da carreira e o impacto de ser mulher
AS: Como foi o teu início nos ralis, em 2013, e de que forma sentiste o impacto de ser mulher numa modalidade maioritariamente masculina?
Daniela Lopes: “Em 2013 comecei com um carro alugado, uma experiência que era totalmente nova para mim. Correu tão bem que acabámos por transformar o nosso carro de estrada, um carro do dia a dia, num de competição — o Saxo Cup — com o qual competi durante cerca de dez anos.
O impacto de ser mulher foi, no início, estranho mas muito positivo. Ser mulher é diferente e isso é, na maioria das vezes, visto de forma favorável. Claro que há uma pressão extra, porque a sociedade ainda não estava preparada, mas felizmente, ao longo destes dez anos, nota-se uma evolução real. Hoje há muitas mais mulheres no desporto, sem medo de arriscar.
Durante muito tempo houve receio por parte das mulheres de se aventurarem, talvez pelos comentários ou pela pouca recetividade social à presença feminina na competição.”

AS: Mas hoje parece que isso já mudou bastante, não é?
Daniela Lopes: “Sim, hoje todos aceitam muito melhor. É importante, sobretudo, mantermos a nossa posição e darmos ao respeito. Caso contrário, é fácil sermos colocadas numa posição delicada e perderem o respeito por nós. Quem está cá há mais tempo deve ter orgulho no que faz e continuar a lutar por respeito e reconhecimento.”
Inclusão e oportunidades
AS: Sentiste dificuldades acrescidas por seres mulher ou consideras que os ralis em Portugal são inclusivos?
Daniela Lopes: “Acho que são inclusivos. Nos últimos anos, procurei representar uma marca feminina, mas não consegui concretizar esse objetivo. Ainda assim, tive parceiros que acreditaram em mim precisamente por sermos uma equipa feminina. Do lado das empresas e patrocinadores, há uma abertura muito positiva.
Entre as equipas, o ambiente é muito bom. Estamos de igual para igual — sente-se respeito e espírito desportivo.”

Preconceitos e estereótipos
AS: Tiveste de ultrapassar preconceitos ou estereótipos durante a tua carreira?
Daniela Lopes: “Felizmente, não. Os comentários existem, claro — o clássico “é uma mulher” — mas também existem críticas normais a quem tem um andamento mais fraco. No fundo, estamos numa posição muito exposta, porque de fora parece tudo mais fácil do que realmente é.
Lá dentro há emoções para gerir, concentração máxima, e uma série de detalhes que poucos imaginam. É fácil cometer erros e ser criticada, mas digo sempre: “Cá fora somos todos campeões. Sentar lá dentro é que é difícil.”
Representatividade e inspiração
AS: Já te sentiste um exemplo para outras mulheres que queiram seguir o mesmo caminho?
Daniela Lopes: “Sem dúvida, e isso deixa-me muito orgulhosa. Quero ser um exemplo, mas não apenas pelo que faço na estrada. Quero inspirar pela atitude, pela forma como me posiciono e pela imagem que transmito.
Gostava que, daqui a uns anos, alguém dissesse: “Foi por causa da Daniela que comecei nos ralis.” Gosto especialmente de passar essa mensagem às crianças — que é difícil, há obstáculos, mas se acreditarem verdadeiramente nos sonhos, têm de lutar por eles.”
O futuro feminino e o desejo de mais igualdade
AS: Como vês a ainda reduzida presença feminina nas listas de inscritos e o que poderia mudar?
Daniela Lopes: “Acho que seria interessante recriar um troféu totalmente feminino, como aconteceu nos Açores há alguns anos. Seria uma forma de aumentar a inclusão e tornar os ralis mais atrativos para novas pilotos. Felizmente, há cada vez mais mulheres a participar — algumas estreantes, outras com mais experiência — e isso deixa-me muito feliz. Sinto que estamos no bom caminho.”
AS: Achas que já existe número suficiente para formar um troféu feminino?
Daniela Lopes: “Sim, acredito que sim. Seria excelente e todos teríamos a ganhar.”
AS: Agora também começam a surgir outros carros, sobretudo os Rally6.
Daniela Lopes: “Sim, experimentei o Rally5 e gostei muito. É um carro interessante e equilibrado.”
Conselho final às jovens pilotos
AS: Que conselho deixas às jovens que sonham competir nos ralis?
Daniela Lopes: “Acreditar sempre. Trabalhar muito. E, acima de tudo, posicionarem-se de forma respeitosa. O resto vem com o tempo e com dedicação.”
FOTOS Daniela Lopes
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