Crónica do Rali da Austrália

Crónica do Rali da Austrália por André Lavadinho

Olá a todos! Cá estou eu a escrever-vos enquanto aqui são 18.30 e ai são 9.30 da manhã! Não é preciso dizer que estou na Austrália a mais de 15.000 km de casa, onde o sol nasce no lado contrario e comparativamente a Portugal são nove horas de diferença horária. Os primeiros dias aqui foram terríveis com o ‘jet lag’, apesar de tentar sempre fazer o mesmo fuso horário local, é difícil despertar às 4 da manhã sempre, e estar com sono às 20h da noite.

Apesar de tudo, foi um evento especial por todas as peculiaridades que a Austrália tem! O melhor troco que vi em todo o WRC foi aqui! Chama-se Nambuca e tem quase 50 km, onde existem todos os pisos possíveis e imaginários, partes técnicas super difíceis, partes lentas e rápidas! São 50 km que fizeram os pilotos suspirar enquanto me diziam que também era das mais difíceis do campeonato!

Mas apos 22 horas de avião, chegar a Austrália e um verdadeiro sonho, tudo aqui e diferente! 80% dos animais do planeta terra só existem na Austrália o que torna a nossa passagem por aqui única! Enquanto faço as ligações para os troços, tenho que passar por kangurus que são considerados uma peste aqui, vêem-se koalas pelos eucaliptos, sardões completamente diferentes, e ouvir cantos de pássaros absolutamente únicos mesmo!

Mas, o mais difícil de lidar aqui neste evento são sem dúvida as cobras! Primeiro, quando fui levantar a minha acreditação de media tive logo um aviso de como fazer se fosse mordido por uma cobra! Não mexer, chamar ajuda e estar sempre quieto! Se as cobras fossem castanhas (são as mais perigosas) ter muito cuidado porque elas não têm medo de nós! Se fugirmos elas vão atras de nós…. Pensei logo que se visse uma o melhor remédio seria mesmo rezar! Todos os dias no centro dos media nos avisavam que foram reportadas cobras venenosas nas especiais!

No entanto, posso-vos dizer que todos mas todos os dias tive cobras ao meu lado! Algo inacreditável que fazia pensar a todo o momento que só queria fugir dali! Entrava nos troços sempre com uma vara! Tentava sempre verificar bem o sítio onde ia ficar mas se era no meio da floresta já sabia o que me ia acontecer! Ou as ouvia ou sentia-as a fugir o que interessa e que os pés não paravam pois temos de estar sempre a fazer vibrações para que elas fujam!

No sábado, no início de um troço vi uma cobra castanha. O meu cérebro parou fiquei colado a vê-la a contornar-se toda no ar para vir ter comigo mas não conseguia por causa de umas pedras e dava saltos no ar! Quando dei em mim comecei a fugir completamente arrepiado! Depois soube também, que nesse mesmo troco, foi atrasado dois minutos porque teve de entrar a emergência para ajudar uma pessoa que tinha sido picada!

No meio desta confusão toda, ainda para acrescentar, tive uma dor de cabeça enorme porque aqui o sol nasce e põe-se de forma diferente e faz um ângulo muito pequeno! Então e como a maioria dos sítios por mim escolhidos, eram no meio de uma floresta, tive que andar a treinar o rali sempre nas horas certas para verificar a luz certa nesse local!

E para acabar com as confusões, houve uma confusão maior no final do rali, quando estava a espera do suposto campeão Ogier no final da Power Stage ao lado da sua mãe e pai, que estavam muito nervosos, ouvimos o Colin Clark, que é uma das vozes da WRC Radio a exclamar que o Ogier não tinha sido campeão por um ponto devido ao furo do Hirvonen! Posso-vos dizer que só me lembro de olhar para o Mikkelsen e de ele ficar todo vermelho enquanto toda a gente diziam que não podia ser e logo chegar o Ogier feliz mas muito frustrado por ter dado o melhor e não ter conseguido!

Mas como ele próprio afirmou e todos nós sabemos, e assim o desporto motorizado! E são estas lutas que fazem o desporto ficar mais vivo e emocionante (ainda mais!) De salientar também o imenso pó, que obrigava sempre a andar com uma máscara para proteger os pulmões da nuvem gigante de pó que percorria os troços australianos. A organização foi mesmo obrigada a dar três minutos entre os carros (em vez dos habituais dois minutos) para melhorar a visibilidade dos pilotos e assegurar a segurança de todos.

André Lavadinho