CRÓNICA: A máquina do tempo na descida da Pena

Por a 8 Dezembro 2018 13:31

Ao olharmos para esta imagem, podemos muito bem regressar às Camélias de 1985, na altura Joaquim Moutinho e Edgar Fortes ganhavam este rali com um R5 tour-de-corse da Renault portuguesa. Parece que tenho nas mãos uma máquina do tempo que nos vai permitir olhar para o passado. Regressamos mais de trinta anos atrás.

Podia muito bem ser aquele carro, exteriormente é similar… a diferença é que agora tenho os olhos atrás de uma máquina com performances extraterrestres para os idos anos 80 do século passado.

Foi preciso chegar quase ao fim da segunda década do futurista século XXI, para um rali nas curvas da descida da Pena entrar na era da fotografia digital. É com excitação e quase espírito científico que vamos comparar eras. Descobrir as diferenças e semelhanças, o que mudou em trinta anos de avanço tecnológico.

Logo à cabeça, o que se mantém e decerto nunca será diferente, é a escassa quantidade de luz que temos no meio do bosque verde, denso e escorregadio destas curvas sagradas para os amantes desta categoria de desporto automóvel.

Só que agora temos um sensor, retroiluminado e super performante, na altura tínhamos uma caixa de fujichromes, ecktachromes e a considerar somente os de sensibilidade mais elevada. Aqui, para resultados satisfatórios não se podia ir além de uns míseros 400 asa, a roubar um pouco na luz para ganhar na velocidade.

As aberturas máximas das nossas lentes não são muito diferentes, f:2.8, para os mais afortunados, só que agora podemos alterar eletronicamente os ASA, a sensibilidade do olho digital.

Batemos uma ‘chapa’ e olhamos para o resultado, aqui já estamos a ganhar umas horas ao século passado. Alem de podermos ver o que acabámos de fazer, antigamente se estava mal, não havia hipótese de corrigir, só descobríamos no laboratório…

Mas mesmo com um ASA alto, nas sombras eternas duma manhã de inverno duma encosta virada a norte, ainda não temos velocidade suficiente para fixar o movimento do carro e termos uma imagem satisfatoriamente nítida.

No escuro de Sintra, estamos a lutar contra os elementos e lá temos que pedir ajuda à luz exterior do flash, a evolução tecnológica ajuda, mas aqui… ainda não é suficiente.

Começo a sentir saudades da 50mm f:1.4 que usava há trinta anos e que estupidamente tinha ficado em casa, ia dar-me dois pontos de velocidade extra, que por vezes é a diferença entra o fracasso e o sucesso.

Aqui, estamos quase na mesma! e na mesma está também o trabalhar do evo do Rui Madeira que se aproxima aos tiros e rateres serra abaixo resultantes do levantar o pé e acelerações sucessivas, a trazer-nos a ideia aquela passagem única de um senhor de apelido Röhrl, que marcou as vidas de todos os adolescentes amantes das corridas de automóveis da altura, ou seja, nós.

Sintra é um amplificador de emoções, a acústica da serra potencia o disparo de adrenalina nos nossos corpos. Se fosse piloto e tal fosse possível, gostaria de um dia me ‘ouvir’ a aproximar estando ali de pé ao lado da estrada. São duas sensações distintas mas seria bom que todos pudéssemos experimentar ambas.

O digital veio trazer a capacidade de captar uma imagem muito mais parecida com aquilo que os nossos olhos veem. A adaptação da sensibilidade e a atenuação do contraste aumentado pelo filme analógico, permite-nos captar imagens muito mais realistas desta serra e que seriam mesmo muito difíceis de conseguir na era analógica.

Num par de anos, estas palavras que acabámos de ler, serão decerto obsoletas, teremos telemóveis que nos vão deixar o peso das máquinas fotográficas em casa. Em pouco tempo poderemos gravar um Miniclip de 16k e retirar as melhores imagens com uma resolução equivalente a uma SLR média atual. Recordaremos com saudosismo e romantismo o ato de roubar um instante ao tempo. O melhor de tudo é que ainda não estamos lá…

Pedro Palheiro

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