Entrevista a Hugo Lopes: “Estar numa equipa oficial é o passo que sempre quis dar”

Por a 23 Outubro 2025 19:22

A época de 2025 marca um passo decisivo na carreira de Hugo Lopes, que se estreou ao mais alto nível com o Team Hyundai Portugal e com a Sports & You, uma das formações de maior experiência no panorama dos ralis nacionais.

O ano foi muito positivo e deixou claramente a certeza que Hugo Lopes tem o potencial certo para ser um dos pilotos de futuro do Campeonato de Portugal de Ralis, tal como já tinha mostrado nos campeonatos de duas rodas motrizes.

Agora, resta-lhe aguardar pelas decisões que serão tomadas ao mais alto nível, sendo certo que os ralis em Portugal não podem desperdiçar o talento que Hugo Lopes já mostrou. Os responsáveis da Hyundai já deixaram claro ao AutoSport que a equipa ainda está a definir o programa para o próximo ano, mas considera que o projeto atual tem sido muito positivo e destaca o sucesso da aposta recente em jovens pilotos como Hugo Lopes e Gonçalo Henriques, com o apoio da Federação, vendo nisso um possível futuro para a equipa, essencial para o crescimento da modalidade e para os objetivos de comunicação e posicionamento da marca.

Em entrevista, Hugo Lopes revelou as diferenças entre as categorias em que competiu até agora e a exigência de um Rally2, sublinhando o papel vital da equipa e do engenheiro Dani Sordo no processo de adaptação: “Era para isto que tinha trabalhado estes anos todos. Estar numa equipa oficial é muito importante para a nossa evolução”, afirmou o piloto, que destaca a exigência técnica e o foco no detalhe como fatores decisivos nesta nova fase.

Hugo Lopes recorda as primeiras impressões ao volante do Hyundai Rally2, os desafios de se adaptar à tração integral e a importância da parceria com a navegadora Magda Oliveira, com quem voltou a competir após o acidente em Castelo Branco. Entre momentos de aprendizagem e resultados promissores, o piloto garante que “não houve pontos baixos — todos os ralis foram produtivos”.

O balanço é positivo, mas o olhar já está voltado para o futuro. Determinado em garantir um projeto a tempo inteiro, Hugo afirma que continuará a trabalhar para chegar ainda mais longe: “O objetivo agora é montar um programa completo. As decisões devem surgir em novembro.”

Nesta conversa, conduzida pelo AutoSport, Hugo Lopes partilha bastidores, análises e ambições, revelando um piloto maduro, técnico e focado em crescer dentro e fora dos troços.

AS: Hugo, qual é a sensação de competir na primeira divisão, ao mais alto nível, com uma equipa oficial?

Hugo Lopes: “É ótimo. Era para isto que tinha trabalhado todos estes anos. Estar finalmente numa equipa oficial, e numa estrutura com tanta experiência como a Sports & You, é muito bom para a nossa evolução e para o nosso objetivo nas competições e nos ralis. É um passo importante.”

AS: Quais foram as principais diferenças que notaste entre competir em categorias inferiores e correr agora neste patamar?

Hugo Lopes: “O carro é muito mais eficaz e permite muito mais. Cada pormenor faz diferença. A grande diferença está mesmo nos carros e na sua capacidade. Sendo tão eficazes, qualquer detalhe conta.”

AS: E quanto a esses pormenores, sempre falaste e trabalhaste muito com o Dani, não é?

Hugo Lopes: “Sim, sim. Comparámos bastantes vídeos e dados com os engenheiros. Isso ajudou muito. Tendo uma referência e sabendo que o carro é capaz de fazer determinadas coisas, é mais fácil ganhar confiança para também o fazer.”

AS: Esses conselhos do Dani Sordo, ou da equipa são logicamente muito importantes…

Hugo Lopes: “Sim, sobretudo sobre as notas e os pormenores nelas. A Magda trabalhou muito com o Cândido e com o Dani nesse aspeto. Os detalhes fazem diferença — por exemplo, pequenas pedras que num Rally4 conseguimos evitar, num Rally2 temos de antecipar e saber que estão lá. Também a distância entre mudanças e a precisão das notas melhoraram muito com essa ajuda.”

AS: Chegaste a andar ao lado dele?

Hugo Lopes: “Sim, andei com ele em terra.”

AS: Deve ter sido marcante…

Hugo Lopes: “Foi. Andei com ele quando testou pela primeira vez, e também era a minha primeira vez num Rally2. Para mim foi um choque…”

AS: Choque em que sentido?

Hugo Lopes: “Primeiro, não estou habituado a ir ao lado. O stress é maior. Depois, não conhecia o local, nem tinha noção do que um Rally2 era capaz de fazer. Mas aprendi muito com a equipa, através da análise de dados, da comparação de vídeos, e ao ver o Dani testar nos mesmos troços. Ter essas referências foi ótimo, tanto em testes como durante os ralis.”

AS: Vocês chegam ao ponto de analisar vídeos com a telemetria lado a lado?

Hugo Lopes: “Sim, fazemos exatamente esse tipo de trabalho…”

AS: Em Fafe não tiveste muita experiência com o carro, certo?

Hugo Lopes: “Sim. Foi difícil comparar, porque as condições variavam muito. Mas nos ralis de asfalto foi interessante. Houve momentos em que até fui mais rápido do que o Dani, o que foi curioso e motivador — ajudou-me a perceber o que podia ainda melhorar.”

AS: Que aspetos técnicos ou de condução sentiste mais desafiantes este ano?

Hugo Lopes: “A tração às quatro rodas. Nunca tinha tido experiência com um carro 4×4 e foi o mais difícil de adaptar. Em terra o estilo de condução muda muito, mais até do que em asfalto. Testei em seco e depois o rali foi à chuva — foi um grande desafio.”

AS: Podes falar um pouco de cada prova que fizeste e das sensações?

Hugo Lopes: “Em Fafe, as condições estavam péssimas. Tínhamos testado a seco e depois choveu muito. Foi também a primeira prova com a Magda depois do acidente em Castelo Branco, o que tornou tudo mais exigente. Mesmo assim, conseguimos mostrar rapidez em alguns troços e no shakedown.

Depois voltei ao Hyundai no Rali de Castelo Branco. Foi uma boa experiência. Também fiz Viseu, Chaves e o Vidreiro. Viseu foi em casa, por isso teve um significado especial, e serviu para preparar Chaves, que foi logo a seguir.”

AS: Como tem sido a adaptação ao carro e a dinâmica de trabalho com os engenheiros e mecânicos?

Hugo Lopes: “Tem sido ótima. Este carro exige atenção a todos os detalhes, e trabalhar com uma equipa experiente torna tudo mais fácil.”

AS: Este nível é outro mundo. Surpreendeu-te?

Hugo Lopes: “Um pouco, sim. Eu também sou engenheiro automóvel, por isso gosto muito da parte técnica — da telemetria, da afinação, do trabalho conjunto com os engenheiros. Sempre valorizei isso, mas agora tenho ainda mais noção da importância de cada elemento da equipa. Todos são fundamentais.”

AS: A preparação fora do carro também é uma aprendizagem constante, certo?

Hugo Lopes: “Sim, sem dúvida. Eu e a Magda trabalhamos muito antes dos ralis: vemos vídeos de anos anteriores, estudamos diferenças entre troços e tentamos prever afinações possíveis. Assim, quando reunimos com o engenheiro, já temos uma ideia clara do que esperar e do que pode ser ajustado em cada situação.”

AS: O que mais te surpreendeu no ambiente e na intensidade do campeonato a este nível?

Hugo Lopes: “Embora nos Rally4 o ritmo já fosse alto, passar para um Rally2 é um salto enorme. Os carros são muito eficazes, e em terra nota-se ainda mais a diferença. Além disso, os pilotos portugueses já conhecem bem estes ralis e sabem quase de cor cada mudança em cada curva. Para quem ainda está a adaptar-se, como eu, é uma desvantagem.”

AS: Quais consideras os pontos altos e baixos do ano?

Hugo Lopes: “Diria que não houve pontos baixos. Todos os ralis foram produtivos. Fafe foi uma experiência importante — o regresso com a Magda, as condições complicadas — mas mesmo assim mostrámos a nossa competitividade. Os tempos efetuados nos quatro ralis em que participámos com o carro oficial confirmam-no. Pena é termos tido pouca sorte em um ou outro momento.”

AS: E quanto ao futuro?

Hugo Lopes: “O objetivo é conseguir um projeto a tempo inteiro. Este ano foi um programa parcial, mas importante. Fui a quase todas as provas, mesmo só para fazer reconhecimentos ou, às vezes, como carro zero, para conhecer melhor os percursos. Agora é tempo de preparar o próximo passo.”

AS: Quando é que podem surgir novidades?

Hugo Lopes: “Talvez em novembro. Já devemos ter decisões nessa altura.”

FOTOS Go Agency/Hyundai

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