Entrevista a Pedro Meireles: “O que me move é a paixão, fazer ralis…”
Com uma carreira que se estende por quase 30 anos – completam-se em 2026 – Pedro Meireles é uma figura incontornável no panorama dos ralis nacionais. Desde a sua estreia em 1996, o piloto português tem demonstrado uma paixão inabalável pela competição, marcando presença quase ininterrupta nos ralis, com uma grande variedade de carros. O balanço da sua jornada é “extremamente positivo”, coroado com o título nacional de iniciados em 1996 e o Campeonato Nacional de Ralis em 2014, um feito notável alcançado com um S2000 numa era em que os R5 já começavam a dominar.

Meireles acompanhou de perto a evolução tecnológica do desporto motorizado, desde os tempos das assistências na estrada e carros que exigiam “mais braço”, até à era moderna dos R5, que considera fantásticos de conduzir, embora menos “genuínos” que os seus antecessores. A transição do S2000 para os R5, impulsionada pela FIA para reduzir custos sem comprometer a performance, foi, na sua perspetiva, o maior salto tecnológico, alterando profundamente o estilo de condução e a preparação dos pilotos.
A sua motivação permanece centrada no prazer de competir e na descarga mental que os ralis lhe proporcionam, um legado que espera ver continuar através das gerações mais jovens. Pedro Meireles enfatiza a importância da paixão, dedicação e trabalho árduo para os novos talentos, sublinhando que o apoio de marcas é crucial para o desenvolvimento de carreiras de sucesso, tal como aconteceu com muitos pilotos das décadas de 90 e 2000.
A sua própria carreira teve um momento de viragem em 2012, quando investiu num Skoda Fabia S2000, catapultando-o para um novo nível competitivo. A lição mais valiosa que retira da sua vida nos ralis é a de nunca desistir, pois o trabalho e o empenho superam o talento inato.

Balanço de uma vida dedicada à competição
“Sim, foi em 1996, faz para o ano 30 anos desde o meu primeiro rali. Houve algumas interrupções pelo meio, mas já são 30 anos que comecei nos ralis. Faço um balanço extremamente positivo da minha carreira. Comecei logo em 96 com o título nacional de iniciados, depois em 97 fiz outras provas a nível nacional, depois parei, voltei, mas sobretudo, o que acho importante ressaltar na minha carreira é que, independentemente das condições que tive — uns anos foram bons, outros menos bons, carros competitivos e menos competitivos —, sempre que pude, estive presente.
O que me move é a paixão, fazer ralis. Nunca esperei pelas condições ideais para correr.
Mesmo quando as deixei de ter, continuei a marcar presença. Guardo isso comigo, independentemente do sucesso, que penso que foi comprovado com títulos.
Mas o importante é todo o trajeto: ganhar títulos, depois correr mal, depois bem outra vez — sempre com a postura de fazer melhor e de me divertir, porque a prioridade é divertir-me nos ralis.
Depois, claro, sou competitivo, gosto de fazer sempre melhor. Mas tenho presente que nem sempre podemos ser tão competitivos quanto gostaríamos. É preciso cabeça fria e seguir em frente…”

Evolução dos ralis e dos carros
“Acompanhei a evolução dos carros e dos ralis. Sou do tempo em que se faziam assistências na estrada, no fim e início dos troços. Hoje, os carros são muito mais fáceis de guiar do que eram antigamente.
A evolução dos tempos foi brutal em tudo na nossa geração. Hoje anda-se muito mais depressa, tudo é mais fácil.
A grande diferença hoje é que quem trabalha mais tem mais probabilidade de ter sucesso: há muitos testes, telemetria, pormenores. Quem investe mais tempo nisso tem melhores resultados. Em 96, 97 não havia nada disso, era muito mais genuíno e simples, mais intuitivo e natural. Tinha mais encanto, mas não sou um “velho do restelo”. Estes carros são fantásticos de guiar, mas antes era mais genuíno e exigia mais braço”.
Sobre o futuro dos carros de rali
“Nem quero fazer ideia, gosto tanto deles como são. Hoje em dia ninguém faz futurologia quanto a isso…”
Recordações das primeiras provas
“Fantásticas! Era um miúdo de 21 ou 22 anos, sem nunca ter guiado um carro de ralis, recebi um Golf GTI grupo A para um rali. Hoje isso é impensável.
O primeiro rali foi Fafe, só fiz 12 km no carro antes, só para me habituar à caixa. Podia ter ficado logo na quarta ou quinta curva, mas acabei e ganhei o troço seguinte, ganhei o rali por um segundo e fui campeão de iniciados.
Na altura, obrigavam a subir para consagrados, o que não foi tão bom porque ainda não estava preparado em orçamento para o campeonato todo. Mas as recordações são muito boas; os treinos eram menos stressantes do que hoje.”

Salto tecnológico e carros especiais
“O maior salto tecnológico que vivi foi a passagem do S2000 para os R5. Um S2000 era um carro mais mecânico, sentíamos muito mais o carro. O Skoda Fabia S2000 que guiei foi o melhor carro do mundo, muito prazeroso na condução. Era mais caro do que estes carros de hoje.
O que a FIA fez com os R5 foi uma excelente medida: redução de custos enorme, sem perder performance. Os outros eram mesmo carros de rali, estes têm mais peças de série.”
Mudanças na eletrónica e na condução
“Mudou bastante. Se guiarmos os carros de hoje como antigamente, não conseguimos ser competitivos. O estilo mudou porque os carros são outros; têm de ser muito mais macios, e há coisas que mudaram muito na forma de conduzir. Hoje, o uso do pé esquerdo é completamente diferente. A evolução dos tempos impõe mudanças; preferia o estilo antigo, mas estes carros são fantásticos e o importante é divertir-nos.”
Motivação, paixão e ambiente nos ralis
“O que me motiva é mesmo fazer ralis. Sou competitivo desde cedo, pratiquei muitos desportos, gosto de outros, mas é nos ralis que posso competir a este nível com esta idade. Digo sempre que para o ano deixo, mas enquanto puder vou fazer, porque gosto, faz-me bem e alivia-me a cabeça do trabalho. Chego ao fim do rali mais leve e satisfeito.”
Sobre o público apaixonado
“A paixão pelos ralis transmite-se de geração em geração desde os anos 70, 80, 90. Vejo menos jovens a aderirem espontaneamente; antes via amigos em que os pais não gostavam de ralis e eles iam ver. Hoje isso acontece muito menos. Temos de levar mais ralis às pessoas para criar essa paixão. Os espectadores ainda são viciados, levantam-se cedo e enfrentam mau tempo só para ver os carros passar. Também gosto de ir ver, quando não faço ralis.”
Diferenças no ambiente competitivo ao longo dos anos
“Não há muitas diferenças. Damo-nos todos bem, criam-se relações. Antigamente havia mais tempo para conviver; hoje tudo é mais contado, menos convivência, mas o ambiente é bom. Lutamos contra o cronómetro, não uns contra os outros. As politiquices podem afetar alguns aspectos, mas quando estamos a competir na estrada, só conta o cronómetro.”

Momentos marcantes e títulos
“O título nacional em 2014 foi um ponto alto. Já tinha feito uma grande época em 2013; estreava-me no S2000, fui competitivo, cheguei ao último rali a poder ser campeão nacional. Em 2014, senti-me bem no carro, dediquei tempo aos ralis, e o carro era bom. Fui competitivo, ganhei quando era preciso e acho que foi um título sem mácula. Não tinha o melhor carro, e já havia uns R5.”
O campeonato de 2017
“Fiz uma época de gestão, não prova a prova. Se tivesse ganho a super especial de Mortágua, era campeão por um décimo. As coisas são o que são, sem pôr em causa o valor dos vencedores. Ter sido campeão uma ou outra vez não altera minimamente a minha satisfação pessoal.”
Objetivos e legado
“Com a idade, o principal objetivo é divertir-me e ser competitivo. Tenho demonstrado competitividade em quase todos os ralis. Já não arrisco como antes, mas estou bem, e vejo os ralis com outra perspetiva. Tenho um testemunho para passar, como o meu irmão passou ao meu sobrinho. É agradável ver a tradição de família continuar com o Guilherme…”
Mensagem aos jovens pilotos
“Que se movam primeiro pela paixão — é o mais importante. Que deem passos certos na carreira. Hoje é difícil começar nos ralis, mas vejo jovens a despontar, já nos Rally2, há marcas a apostar nos ralis e deviam apoiar os jovens.
Quase todos os grandes pilotos das décadas de 90 e 2000 tiveram apoio de marcas. Se não fosse isso, não teriam tido a carreira que tiveram. Os futuros dos nossos ralis são os jovens.
As marcas deveriam refletir e apoiar quem tem talento. Paixão, dedicação e trabalho são precisos para ter sucesso. Os jovens são mais disciplinados, têm outros meios, vídeos, telemetrias; aproveitem.

Momentos decisivos na carreira
“Decidi em 2012 comprar um Skoda Fabia S2000, com as minhas poupanças, para correr num carro sério de ralis, foi um momento de viragem. Os primeiros anos foram ótimos, depois houve desilusões, mas continuei a fazer ralis. Comprar o carro catapultou-me para um novo nível na carreira.”
Lições de vida
“Nunca virar a cara à luta, mostrar-se quando as coisas correm mal e ir à luta. O talento é muito menos importante que o trabalho. O trabalho é decisivo, não basta ter talento. É preciso empenho e dedicação para vencer.”
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI






