Entrevista a José Correia: “O objetivo é claro, subir de patamar, o CPR ou um formato estável da Taça de Portugal”

José Correia, promotor do Constálica Rali Viseu Dão Lafões, explica a evolução do evento, a aposta territorial e as ambições de integrar o Campeonato de Portugal de Ralis: “O nosso rali já é uma imagem de marca de Viseu Dão Lafões”.

AS: O Constálica Rali Viseu Dão Lafões tem agora um novo nome e maior identidade regional. Essa designação veio para ficar?

José Correia: Sim, é para ficar. Esta nova designação reflete um projeto amadurecido. Chegámos aos 12 anos de trabalho contínuo e o rali tem crescido de forma sustentada, ano após ano. Este ano a prova correu excecionalmente bem, resultado direto de um esforço conjunto de longa duração e do envolvimento das autarquias.

A Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões reconhece o evento como um ativo estratégico do território — uma verdadeira imagem de marca da região.”

Expansão territorial e aposta política

AS: A inclusão de Viseu teve claramente um lado estratégico?

José Correia: “Sem dúvida. Pretendemos que o rali seja um evento âncora do território, abrangendo já quatro concelhos e com perspetiva de integrar São Pedro do Sul e Tondela no próximo ano. Ainda aguardamos confirmações, até porque Viseu teve mudanças políticas recentes.”

Reuni-me já com o novo presidente, João Azevedo, e ele próprio disse que o rali tem grande impacto e deve continuar. Apesar de diferentes cores partidárias entre câmaras, há consenso: o rali é um evento de união, importante para todos. O slogan que adotamos este ano traduz isso mesmo: “Não é apenas um rali, é um território.”

Ambição nacional: “Temos condições para o Campeonato de Portugal”

AS: Quais são os objetivos futuros? Candidataram-se à Taça de Portugal e ‘querem’ o Campeonato de Portugal de Ralis (CPR)?

José Correia: “O objetivo é claro — subir de patamar. Queremos integrar o Campeonato de Portugal de Ralis ou, em alternativa, conquistar um formato estável da Taça de Portugal. Contudo, pretendemos um compromisso a longo prazo da Federação, não apenas de um ano.

A estrutura da Promo Lafões e do clube organizador está totalmente preparada. Fizemos este ano um rali 100% novo, com novos municípios, e foi um sucesso absoluto. O relatório do observador federativo destaca só pontos positivos.”

AS: o que distingue Rali Constálica Viseu Dão Lafões?

José Correia: “É um evento feito para as pessoas, o Rali Viseu Dão Lafões distingue-se porque envolve a população. As super-especiais são exemplo disso: não há carros esquecidos nas zonas de segurança, tudo é preparado com semanas de antecedência em articulação com Proteção Civil e GNR.

Nas aldeias, são os próprios habitantes, muitos deles com 80 anos, que penduram as fitas e decoram as ruas. “Eles vivem o rali como um evento seu. É quase como preparar as festas populares — com o mesmo carinho.”

Entre o CPR e a Taça de Portugal

AS: Se tivesses de escolher entre o CPR e uma Taça de Portugal a longo prazo, qual preferias?

José Correia: “Honestamente, preferia ter uma Taça de Portugal com garantia plurianual. Assim poderíamos criar uma grande festa motorizada, como em França: eventos familiares, piqueniques no Fontelo, churrascadas com equipas e público, tudo num ambiente de celebração.

Temos todas as condições logísticas e culturais para isso. O Parque do Fontelo, em Viseu, aliado à Feira de São Mateus, oferece um cenário simbólico e diferenciado.”

AS: Sei que apostas muito na relação entre política e desporto, como andam as coisas a esse nível?

José Correia: “Falta quebrar o divórcio entre a política e o desporto motorizado. Em muitas regiões, quando um político ouve falar em automóveis, recua logo. Mas os ralis são dinamizadores do território, trazem pessoas, turismo e comunicação. Felizmente, em Viseu Dão Lafões, temos uma relação equilibrada com as autarquias.”

AS: E quanto ao Rali Espumante do Dão, de onde surgiu a ideia?

José Correia: “Nasceu de um convite do presidente da Câmara de Carregal do Sal, que queria um evento com impacto nacional. No início, duvidei: “Como é que vou fazer um rali aqui e atrair pilotos?” Mas depois o projeto ganhou forma.

Houve um entendimento com o Carlos Lucas, produtor da Quinta de Cabriz e da marca Ribeiro Santo. Ele sugeriu unir o nome do rali ao espumante do Dão, e foi aí que tudo fez sentido. O resultado foi extraordinário.

Durante o evento, convencemos a organização a oferecer 5.000 euros em produtos aos expositores locais, permitindo que as equipas experimentassem vinhos, queijos e enchidos gratuitamente. Era essencial que a caravana do desporto motorizado conhecesse o território e falasse bem dele — e assim foi.

Uma semana depois, o presidente do município disse-me: “Foi a melhor decisão que tomámos.” E tinha razão.

Esses 5.000 euros valeram muito mais do que qualquer jantar institucional. Renderam frutos e criaram uma ligação emocional entre público e território.”

O Termas MotorFest e o futuro

Correia também destacou o Termas Motor Fest, que vai para a quinta edição. Apesar de obstáculos políticos iniciais, o evento cresceu — e o novo presidente de São Pedro do Sul já demonstrou apoio total.

“Temos das maiores estâncias termais da Península Ibérica e 3.000 camas turísticas. É o cenário perfeito para um evento automóvel com identidade própria, seja com ralis ou veículos clássicos.”

“O segredo é fazer com paixão”

No final, José Correia sublinha que os seus projetos assentam em trabalho, paixão e sentido de responsabilidade.

“Aprendi muito com pessoas como o saudoso José Regêncio, do Clube Automóvel do Centro, e o falecido Paiva, do Sport Dão Lafões. Eram homens que viviam o desporto com paixão. É isso que falta hoje em muitos clubes.”

“Fazemos isto com alma, muitas vezes às duas ou quatro da manhã, mas com um sentido de dever e vontade de servir o território. É essa paixão que mantém o rali vivo e em crescimento.”