Campeonato de Portugal de Ralis 2022: O bando dos ‘Quattro’

Por a 7 Março 2022 08:50

O Campeonato de Portugal de Ralis 2022 arranca desta feita em Fafe, numa competição que este ano conta com algumas mudanças importantes. O campeão, Ricardo Teodósio, foi para o Team Hyundai Portugal, o que significa que o título se deve jogar entre dois Hyundai, um Skoda, e um Citroën. Uma espécie de ‘bando dos quatro’…

Pelo quinto ano consecutivo, o Campeonato de Portugal de Ralis prepara-se para ser, mais uma vez, uma competição muito nivelada. Como se pode comprovar pela estatística dos últimos quatro anos, sendo verdade que apenas dois pilotos foram campeões, Armindo Araújo, duas vezes, e Ricardo Teodósio, outras duas, a verdade é que tem havido outros candidatos, nomeadamente Bruno Magalhães e José Pedro Fontes.

O grande destaque deste ano tem a ver com a passagem do campeão em título, Ricardo Teodósio, para o Team Hyundai Portugal, que desta forma volta a ter dois pilotos.

Uma mudança que pode ter forte impacto na competição, já que uma mutação traz sempre consigo uma espécie de baralhar e volta a dar, e quando isso é feito pelo campeão, os restantes adversários, tendo em conta que dão sequência ao trabalho que têm vindo a fazer no seio das suas estruturas, podem (não quer dizer que o consigam) tirar daí algum partido, ainda que o Team Hyundai Portugal tenha outro forte trunfo este ano.

Já que se sabia perfeitamente que o Hyundai i20 R5 com que Bruno Magalhães iniciou o ano de 2021 era um pouco menos competitivo que a concorrência, e era principalmente a valia do piloto a permitir que se mantivesse à tona na luta pelo título, ao ponto de terminar o ano com as mesmas vitórias do campeão, Ricardo Teodósio, duas, e só mesmo a menor competitividade do i20 R5 nos pisos de terra, atrasou o piloto da Hyundai na corrida. Portanto, fica para se comprovar qual vai ser a ‘linha de orientação do CPR 2022’.

Todo o ‘bando dos quatro’ tem condições de chegar ao título. Mas tem sido assim, sempre, nos últimos quatro anos.

Vértice bom, base fraca

O Campeonato de Portugal de Ralis continua a ser uma competição de alto nível no topo da sua pirâmide, mas as coisas não são tão evidentes na base. Há que limar arestas! Os ralis em Portugal há algum tempo que carecem de uma base mais sustentada, pois há poucos concorrentes na base, para sustentar bem um topo de uma pirâmide tão bom.

É verdade que a Peugeot Rally Cup Ibérica veio ajudar um bocado, pois na luta com os seus congéneres espanhóis, os jovens lusos têm de se suplantar a si próprios, e agora há a novidade Toyota Gazoo Racing Iberian Cup, que pretende reunir mais concorrentes para o patamar logo abaixo dos RC2, pelo que é com expectativa que esperamos saber quantos e quais os pilotos que responderam à chamada da Toyota.

Isso vai saber-se rapidamente, já que a primeira prova da competição está agendada para duas semanas após o Rally Serras de Fafe-Felgueiras-Cabreira e Boticas.

Vamos esperar pela forma como decorre o ano de 2022, já que depois de dois anos de pandemia, em que muita gente teve de “marcar passo” ou mesmo “sair da formatura”, o que menos precisávamos eram efeitos colaterais de um guerra estúpida, com origem na Rússia e em alguns russos. Vamos ver que efeito isso terá no desporto motorizado em geral, e não só, logicamente, nos ralis.

Em termos de calendário, o ano passado as alterações foram grandes, mas este ano a principal novidade é mesmo o regresso do Azores Rallye, o que já não sucedia desde 2019.

Fafe volta a abrir a competição (o ano passado foi o Rali Terras d’Aboboreira, de modo a que Fafe pudesse ‘safar’ os problemas do ERC em termos de calendário, realizando-se apenas em outubro). Este ano há também uma clara divisão terra/asfalto. A primeira metade do campeonato é realiza-se em provas de terra e a segunda, toda em asfalto. Tal como em 2019, com a exceção que agora a divisão é equitativa pois só há oito provas.

Quem de ‘quattro’ tira um…

Todos os anos temos que fazer o mesmo exercício de antevisão quanto aos favoritos e todos os anos temos o mesmo ‘problema’. Um bom problema. É que qualquer um dos quatro pilotos que têm alternado entre si as posições nos últimos três campeonatos: Ricardo Teodósio, Armindo Araújo, Bruno Magalhães e José Pedro Fontes podem chegar ao título.

Têm andamento, carros e estruturas mais do que suficientes para chegar lá, mas os números, que nunca dizem tudo, mas dizem sempre muito, são claros. Olhando para os três campeonatos em que tivemos os mesmos protagonistas de agora, atrás referidos, só há um que é muito ‘coerente’: José Pedro Fontes foi quase sempre quarto classificado, tinha sido segundo em 2018.

Bruno Magalhães , que regressou em 2019, foi segundo nesse ano, voltou a ser segundo em 2020, e terceiro o ano passado. Armindo Araújo, foi Campeão em 2018, no seu primeiro ano na Hyundai, terceiro em 2019, e já de Skoda, campeão em 2020, vice-campeão em 2021, ficando muito perto de repetir o título.

Como se percebe por aqui, é nos detalhes que se definem as coisas. Uma coisa em comum desde 2018 é que foi sempre na última prova que se decidiu o título. O ano passado, por exemplo, terminaram separados por um ponto, e a única coisa que não podia acontecer a Armindo Araújo, desistir, aconteceu mesmo.

Ricardo Teodósio transformou a sua estrutura e a forma de encarar as provas de 2017 para 2018 e surgiu no CPR com condições que ainda não tinha tido. Logo no primeiro ano, não conseguiu ser campeão, mas mostrou que estava claramente na luta.

Conseguiu-o no ano seguinte, após muito esforço, com um triunfo em casa, muito festejado. Já em 2020, não venceu uma única prova. O ano foi atípico, de pandemia, os resultados das três primeiras provas, tornaram difícil chegar novamente ao título e isso confirmou-se pois a luta foi entre Armindo Araújo e Bruno Magalhães.

No ano passado, a luta foi taco a taco com Armindo Araújo, com Bruno Magalhães à espreita. O piloto da Hyundai recuperou muito na segunda metade do campeonato, mas os dois homens da frente chegaram à última prova com tudo por decidir e a vantagem que Armindo Araújo levava, esfumou-se rapidamente, com o algarvio ‘obrigado’ a vencer o rali e a Power Stage. Não falhou e foi campeão.

Nos últimos quatro anos, Armindo Araújo venceu 12 provas do CPR, o dobro dos triunfos de Bruno Magalhães, mais do dobro que Ricardo Teodósio e José Pedro Fontes. Por aqui se percebe, que foi na inconstância das outras 20 provas que esteve a diferença entre a vitória e a derrota.

Em 2018 foi um campeão dominador, foi mesmo ‘sem espinhas’ apesar do campeonato só se ter decidido na última prova. Em 2019, não teve carro, isso ficou claro, e não foi por acaso que se mudou para a Skoda.

Em 2020, Bruno Magalhães deu-lhe muita luta no asfalto, e era claro favorito à entrada da última prova, que já não se realizou.

No ano passado, era também o favorito à entrada da última prova, mas sucedeu algo em que os ralis são pródigos: um furo lento, uma saída de estrada e o consequente abandono. Como se vê, por vezes é nos detalhes que se decidem títulos. Teodósio fez o que lhe competia e foi campeão.

Bruno Magalhães tem procurado novo título, mas desde 2017, que fica perto a um nível que muitos gostariam e não conseguem. Foi vice-campeão europeu, no ano seguinte ficou no pódio do mesmo campeonato, voltou ao CPR com a Hyundai e em todos os anos lutou pelo título, mesmo sabendo-se que tinha o carro menos competitivo dos homens da frente.

Sabemos o que se esforçou para andar onde andou e talvez em 2022 possa saborear o prémio que lhe tem faltado. Pela primeira vez desde que regressou a Portugal ‘joga’ com armas absolutamente semelhantes aos adversários diretos. Portanto, este é o ano em que melhores condições tem para chegar ao título, sendo que nos três últimos anos também teve boas condições, mas não como agora.

Portanto, vamos ver o que é capaz de fazer. Lá motivado está ele…

Se José Pedro Fontes quiser lutar este ano pelo título, tem que melhorar significativamente os seus resultados nas provas de terra. Se o conseguir, o facto das últimas quatro provas serem todas em piso de asfalto permite-lhe ser um natural favorito a vencê-las, o que já não sucede na terra.

Portanto, esta primeira fase do CPR é absolutamente decisiva para Fontes, resta saber se é capaz de obter esses bons resultados, pois a concorrência tem sido mais forte, nesse tipo de piso, há vários anos, salvo raras exceções.

Bons outsiders

Miguel Correia, que este ano corre com Jorge Carvalho (Skoda Fabia Rally2 Evo) é um dos jovens pilotos que vai querer morder cada mais os calcanhares aos homens da frente. Já o tem feito, a espaços, mas a ideia é fazê-lo de forma mais consistente, até se intrometer definitivamente nessas lutas. É esse o objetivo para este ano.

Pedro Meireles terá Pedro Alves ao lado num dos novos Hyundai i20 N Rally2. É uma espécie de equipa B da Hyundai, também o seu irmão Paulo Meireles vai correr em algumas provas com o mesmo carro.

Pedro Meireles é sempre candidato aos lugares da frente, talvez um pódio aqui e ali, e pode mesmo repetir o que fez em 2020, vencer. Quando as provas lhe correm bem, tem andamento para andar nas lutas da frente, como tem mostrado, aqui e ali, nos últimos anos.

Pedro Almeida será este ano um caso a seguir de muito perto. Com Mário Castro, no Skoda Fabia Rally2, o jovem piloto pretende agora colocar em prática o que andou a fazer com Hugo Magalhães nos últimos dois anos. Pedro Almeida acha que está pronto para as lutas nos R5, Hugo Magalhães entende que precisava de um pouco mais de tempo. Vamos ver quem tem razão. Temos a certeza que lá vai chegar, só não sabemos, é com que rapidez.

Manuel Castro e Ricardo Cunha regressam com o Skoda Fabia R5 para tentar chegar aos melhores resultados possíveis, e devem liderar uma espécie de segundo pelotão, a morder os calcanhares a Miguel Correia e Pedro Almeida, mas provavelmente, atrás destes dois pilotos.

Em condições normais andarão pelo top 8, chegando aqui e ali mais à frente dependendo do que se passar à sua frente, em luta, por exemplo com Paulo Neto e Vitor Hugo que este ano têm uma Skoda Fabia Rally2, mais evoluído.

Para Ricardo Filipe e Fernando Almeida (Ford Fiesta R5) em 2021 foi tudo novo, pelo que este ano vão querer capitalizar os ensinamentos. Vamos ver até que resultados os levam.

Paulo Caldeira e Ana Gonçalves regressam no Citroën C3 Rally2 para mais algumas provas, Lucas Simões e Nuno Almeida (Hyundai I20 R5) vão estar em Fafe, logo se vê se é para se manterem no CPR.

Em 2022 deve reeditar-se uma boa luta que se viu em 2021 entre Gil Antunes/Diogo Correia (Dacia Sandero R4) e Daniel Nunes/Nuno Mota Ribeiro (Ford Fiesta Rally3). Em teoria, estes últimos terão este ano um carro ainda melhor, com mais 20cv, que os poderá aproximar dos R5 mais lentos, e mesmo envolverem-se nessas lutas.

Os 2WD são uma incógnita, pois misturam-se com a Peugeot Rally Cup Ibérica. O ano passado foram muito poucos na competição, este ano para já arrancam Ernesto Cunha, Ricardo Sousa, Paulo Roque, João Colaço, Paulo Lopes, Pedro Silva, Rafael Cardeira, José Loureiro, João Silva, Luís Morais e Helena Maia. Vamos ver depois os que ficam por lá. Se for assim todo o campeonato, já é bastante bom face ao que se tem visto.

Como se sabe, Fafe costuma ser dos pontos altos da época, muitos estrangeiros, ainda mais com o ERC, mas depois, nas provas não internacionais é que se afere bem em que estado estão os nossos ralis em termos de concorrentes. Com todas as alterações que houve com os Campeonatos Promo e Start, logo se verá se as mudanças têm efeitos ou fica ainda tudo pior…

Calendário

Prova/Data

Rally Serras de Fafe/Felgueiras/Cabreira/Boticas 11/3/-13/3/2022

56.Azores Rallye 25/3/-27/3/2022

Rali Terras d’Aboboreira 15/4/-16/4/2022

55.Vodafone Rally de Portugal 19/5/-22/5/2022

Rali de Castelo Branco 10/6/-11/6/2022

63.Rali Vinho da Madeira 4/8/-6/8/2022

Rali da Água – CIM Alto Tâmega 9/9/-10/9/2022

Rali Vidreiro – Centro de Portugal 7/10/-8/10/2022

Palmarés

1956 Fernando Stock

1957 Horácio Macedo

1958 José Luís Abreu Valente

1959 José Luís Abreu Valente

1960 José Manuel Pereira

1961 Horácio Macedo

1962 José Baptista Dos Santos

1963 Horácio Macedo

1964 Fernando Basílio Dos Santos

1965 César Torres

1966 Manuel Gião

1967 Américo Nunes

1968 Américo Nunes

1969 Não Houve Campeão Absoluto

1973 Não Houve Campeão Absoluto

1974 Não Se Realizou

1975 Manuel Inácio

1976 António Diegues

1977 Giovani Salvi

1978 Carlos Torres

1979 José Pedro Borges

1980 Santinho Mendes

1981 Santinho Mendes

1982 Joaquim Santos

1983 Joaquim Santos

1984 Joaquim Santos

1985 Joaquim Moutinho

1986 Joaquim Moutinho

1987 Inverno Amaral

1988 Carlos Bica

1989 Carlos Bica

1990 Carlos Bica

1991 Carlos Bica

1992 Joaquim Santos

1993 Jorge Bica

1994 Fernando Peres

1995 Fernando Peres

1996 Fernando Peres

1997 Adruzilo Lopes

1998 Adruzilo Lopes

1999 Pedro Matos Chaves

2000 Pedro Matos Chaves

2001 Adruzilo Lopes

2002 Miguel Campos

2003 Armindo Araújo

2004 Armindo Araújo

2005 Armindo Araújo

2006 Armindo Araújo

2007 Bruno Magalhães

2008 Bruno Magalhães

2009 Bruno Magalhães

2010 Bernardo Sousa

2011 Ricardo Moura

2012 Ricardo Moura

2013 Ricardo Moura

2014 Pedro Meireles

2015 José Pedro Fontes

2016 José Pedro Fontes

2017 Carlos Vieira

2018 Armindo Araújo

2019 Ricardo Teodósio

2020 Armindo Araújo

2021 Ricardo Teodósio

 

FOTOS AIFA/Jorge cunha; ZOOM MotorSport; Go Agency/Ricardo Oliveira

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