Balanço do Campeonato de Portugal de Ralis 2025: um drama decidido por 0.8s…

Por a 15 Dezembro 2025 12:15

A temporada de 2025 do Campeonato de Portugal de Ralis (CPR) ficará na memória como uma das mais emocionantes e imprevisíveis da história recente. Com a presença de estrelas internacionais do calibre de Dani Sordo (Hyundai) e Kris Meeke (Toyota), a competição elevou-se a um nível sem precedentes, culminando num desfecho dramático, decidido por meras décimas de segundo.

O facto de Armindo Araújo (Skoda) ter chegado à derradeira prova do ano na liderança, com sérias hipóteses de se sagrar campeão, muito revela sobre o caráter feroz deste CPR, onde a consistência e a capacidade de superação foram postas à prova em cada uma das oito rondas.

Armindo Araújo demonstrou uma proximidade aos “WRC Boys” superior à dos restantes candidatos, José Pedro Fontes (Citroën) e Ricardo Teodósio (Toyota), e do que ele próprio habitualmente estaria. Com a presença, este ano, de dois estrangeiros de grande categoria, o espetáculo nos troços foi ainda maior do que habitualmente.

A maior consistência de Dani Sordo, aliada aos dois toques de Kris Meeke que o levaram a ficar pelo caminho em dois ralis (Portugal e Água), prejudicou o irlandês, pois venceu mais vezes (quatro) que Sordo (três), sendo o último rali um “mano-a-mano”: quem vencesse, seria campeão.

Oito pilotos alcançaram o pódio, com Dani Sordo, Kris Meeke e Armindo Araújo a fazê-lo em seis ocasiões. A grande surpresa do ano, Gonçalo Henriques, obteve dois pódios, com resultados notáveis no Algarve e no Vidreiro. José Pedro Fontes, Pedro Meireles, Rúben Rodrigues e Pedro Almeida terminaram uma vez no pódio, sendo este último uma das grandes surpresas do ano com o triunfo no Rali de Portugal.

Em termos de vitórias em ralis, registaram-se quatro para Meeke, três para Sordo e uma para Pedro Almeida. Em termos de vitórias em troços, Meeke destacou-se com 45, seguido por Sordo com 29, Armindo Araújo com oito e Ricardo Teodósio com um. Meeke liderou ralis em 57 ocasiões, seguido por Sordo (22), Armindo Araújo (2), e Pedro Almeida e Ricardo Teodósio, com uma liderança cada.

A evolução da luta pelo título

A luta evoluiu da seguinte forma: Meeke começou por vencer em Fafe com mais de trinta segundos de avanço para Sordo, naquele que foi o primeiro confronto do ano para ambos. O piloto da Toyota dominou e, na manhã de sábado, alcançou uma vantagem que Sordo já não conseguiu recuperar. Armindo Araújo foi terceiro, longe da concorrência, e Hugo Lopes, do Team Hyundai FPAK Junior Team, desistiu na PEC6 em Luilhas quando já estava fora do top 10.

No Algarve, registou-se a primeira grande surpresa do ano, com Gonçalo Henriques (Hyundai) a terminar no pódio, 0.9s na frente de Armindo Araújo, numa prova em que Kris Meeke voltou a vencer. Contudo, Dani Sordo deu uma grande réplica, apesar de ter tido um problema com o turbo do seu Hyundai logo na sexta-feira, o que o atrasou. O espanhol passou o dia de sábado a recuperar segundos a Meeke, mas o irlandês geriu e terminou com 13.3s de avanço.

Na Aboboreira, um novo triunfo de Kris Meeke, desta feita com um equilíbrio muito maior, embora sempre com liderança do irlandês. Um furo num pneu do Hyundai no último troço resultou numa diferença final de 27.6s, enganadora face ao equilíbrio demonstrado. Armindo Araújo foi novamente um solitário terceiro classificado no CPR. Neste rali, Gonçalo Henriques era quarto do CPR quando bateu na PEC5 em Baião, abandonando.

No Rali de Portugal, assistiu-se à grande surpresa do ano. Pedro Almeida venceu por 2.7s na frente de Armindo Araújo, depois de Dani Sordo ter desistido cedo e Kris Meeke ter dado um toque no derradeiro troço. Meeke terminou o troço na frente do rali, mas os danos na suspensão tornaram impossível cumprir uma ligação de 100 km até ao final. Assim, foi o piloto Pedro Almeida (Skoda) a vencer, numa estreia na sua carreira. Pedro Meireles (Skoda) terminou no pódio e Gonçalo Henriques voltou aos bons resultados com o Hyundai, terminando em quarto.

Seguiu-se o asfalto de Castelo Branco, marcado pela polémica dos combustíveis e das penalizações. Dani Sordo venceu o rali por 0.5s após uma penalização de 15 segundos devido a ter percorrido parte do trajeto de forma incorreta. Mais uma vez, o irlandês esteve envolvido em grande polémica com os Comissários, tal como já havia sucedido meses antes no Vidreiro. Foi a primeira vitória do ano de Sordo, mais um pódio para Armindo Araújo, e Hugo Lopes foi sexto com o Hyundai.

Na Madeira, apesar de ter sido quinto classificado na classificação geral da prova, atrás de dois estrangeiros (Diego Ruiloba e Simone Campedelli) e dois madeirenses (João Silva e Miguel Nunes), Kris Meeke venceu no CPR, à frente de Armindo Araújo. Dani Sordo teve uma prova horrível, completamente irritado com o seu carro, terminando apenas em quarto no CPR, com Hugo Lopes logo atrás.

O começo da reviravolta na competição deu-se no Rali da Água, onde Dani Sordo voltou a vencer e Kris Meeke voltou a abandonar devido a um acidente. Contudo, a sua prova já estava a ser complicada, e o acidente apenas a tornou desastrosa. Problemas de motor afastaram Meeke da frente da classificação por quase dois minutos. No dia seguinte, um furo, resultado de uma ligeira “saída de trajetória” na PEC5, foi seguido por um espetacular despiste na PEC7. Armindo foi segundo e ascendeu à liderança do campeonato, e Rúben Rodrigues (Skoda) terminou no pódio.

O clímax no Vidreiro

Tudo se decidiu no Vidreiro! Não tinha sido um ano fácil para Dani Sordo e para a Hyundai, mas o espanhol soube aproveitar os azares da Toyota e de Kris Meeke para se manter na luta pelo título. No fim, o espanhol foi mais forte, ainda com Armindo Araújo à espreita. Se ambos se atrasassem, Armindo poderia beneficiar, mas os dois estrangeiros levaram a luta até ao derradeiro metro, num título decidido por 0,8 segundos. Ao contrário do que aconteceu ao longo da época, foi o espanhol que liderou grande parte do rali, sempre com margens mínimas, sob a pressão de Meeke. A maior diferença entre ambos foi de 3,7 segundos, logo na primeira PEC. A partir daí, seguiu-se um duelo intenso, onde cada décima contou. Sordo aproveitou os quatro troços da manhã de sábado para ir ampliando a vantagem, mas no penúltimo troço Meeke recuperou 2,2 segundos e deixou tudo em aberto até ao fim. Com a diferença reduzida a apenas seis décimas, a PEC 9 revelou-se decisiva. Sordo venceu a Power Stage, com Meeke a apenas duas décimas. No final, a diferença entre ambos foi de 0,8 segundos. Vitória para Dani Sordo e título para o espanhol. Duas décadas depois do JWRC, Sordo voltou a bater Meeke.

Mas não foi só, pois a luta pelo pódio foi igualmente intensa. Armindo Araújo cometeu um erro na PEC6 e Gonçalo Henriques aproveitou, garantindo o pódio provisório na antepenúltima especial. À entrada da última especial, apenas quatro décimas separavam Henriques e Teodósio, mas no final o piloto da Hyundai terminou no pódio pela segunda vez no ano.

Balanço final da temporada

Assim, Sordo sagrou-se Campeão, sucedendo a Meeke. Foram dois anos de campeões estrangeiros que muito contribuíram para a notoriedade do CPR. Armindo Araújo foi, de longe, o “melhor dos outros”, não venceu, mas obteve três segundos lugares. José Pedro Fontes só conseguiu ir ao pódio na Madeira. Teodósio não o conseguiu. Pedro Meireles foi ao pódio no Rali de Portugal e ainda é competitivo. Rúben Rodrigues realizou uma época a “tempo inteiro” no CPR e prepara-se para subir o nível em 2026. Pedro Almeida venceu o Rali de Portugal, mas fartou-se das “politiquices” do CPR e não deverá regressar a tempo inteiro. Diogo Marujo está a realizar um “Mestrado” nos Rally2. Ernesto Cunha teve um ano muito azarado e já colocou o Skoda à venda. Paulo Neto teve altos e baixos e apanhou um enorme susto na Madeira.

A temporada de 2025 do CPR, além de ter proporcionado um espetáculo desportivo de alta voltagem, sublinhou a importância de uma gestão estratégica da corrida e a resiliência dos pilotos face aos imprevistos. A presença de nomes do WRC não só aumentou o mediatismo da prova, como também serviu de barómetro para o nível de competitividade dos pilotos nacionais, que se mostraram capazes de lutar por posições de destaque. A decisão do título no último rali, por uma margem tão ínfima, é um testemunho da crescente profissionalização e do talento que abunda no Campeonato de Portugal de Ralis.

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