Mattias Ekstrom: “O Audi lembra-me o Grupo B”

Mattias Ekstrom é um piloto bastante eclético. Já compete no DTM com a Audi desde 2001, com quem ganhou dois títulos, mas nos últimos anos descobriu uma nova paixão, o Rallycross. Não descansou até ser Campeão…

Mattias Ekstrom vangloria-se por não fazer as coisas de coração. Melhor interpretando as suas palavras e o seu slogan “vai duro ou vai para casa”, Ekstrom é um perfeccionista e um viciado em trabalho acima de tudo. Ou quase tudo, pois ao mesmo tempo Ekstrom tem uma imensa paixão pelo automobilismo e, apesar de nós em Portugal termos começado a ler o nome deste sueco associando-o a corridas de turismos, a base da paixão fomentada por este piloto super profissional da Audi teve a sua origem no Ralicross. Mais precisamente foi nos paddocks do antigo Campeonato Europeu desta modalidade que Mattias cultivou essa grande paixão pelo desporto automóvel, quando acompanhava o seu pai Bengt na antiga Divisão 1 aos comandos de um BMW M3 E30 Sport Evolution no final dos anos 80 e inícios dos anos 90. Curiosamente, a pista da Costilha em Lousada foi um dos primeiros circuitos internacionais que conheceu, como espectador, muitos anos antes de regressar ao nosso país como piloto, a Montalegre em 2015. Após dois títulos no difícil e competitivo DTM, em 2016 Ekstrom conseguiu transformar em realidade o seu sonho de sagrar-se Campeão do Mundo de Ralicross, após uma época disputada ao centímetro e ao milésimo com Petter Solberg, Sébastien Loeb, Johan Kristoffersson e Andreas Bakkerud. Para 2017, já está confirmado que Ekstrom irá mais uma vez competir em todas as 12 provas do Mundial aos comandos do seu espetacular Audi S1 quattro. A grande novidade virá do apoio direto da Audi Sport à sua equipa EKS. Enquanto antes, a EKS já tinha acesso a fornecedores e parceiros da fábrica mãe, o desenvolvimento técnico adicional que o Audi irá agora sofrer terá lugar com o apoio do departamento de Motorsport da própria Audi. Segundo Dieter Gass, diretor da Audi Sport, “Nós percebemos que vai ser cada vez mais difícil para a EKS manter a sua competitividade contra as outras equipas de fábrica, por isso optámos por intensificar o nosso compromisso com o World RX”. Este apoio de fábrica da Audi segue-se ao anúncio da nova equipa de Petter Solberg e Johan Kristoffersson, que alinhará com dois novos Polo RX preparados e desenvolvidos pela própria Volkswagen Motorsport da Alemanha. Para 2017 e sendo equipas primas ou não, o que se espera é que dentro de pista todos se esqueçam das cores que representam e deem o máximo na luta pela vitória.

Q&A

Autosport (AS): Mattias, parabéns pelo título de Campeão do Mundo de pilotos e pelo título de equipas conquistado pela EKS. De toda a caravana, a EKS é considerada uma das equipas mais bem-organizadas e que trabalha melhor a promoção e imagem. Achas que também poderiam ser considerados os Campeões na relação com os fans?

Mattias Ekstrom (ME): Obrigado. Quando iniciámos o projeto da EKS em 2014, sabíamos que o Mundial de Ralicross tinha este potencial de crescimento que temos visto e que durante as provas teríamos de proporcionar a maior exposição aos fans. Por isso queremos que os fans estejam o mais próximo possível de nós, temos uma área dedicada para eles no nosso espaço de assistência, onde podem experimentar os simuladores, tomar algo para beber, estar muito próximo dos carros a ver os trabalhos de assistência, além de poderem observar como toda a nossa equipa vai interagindo. Os fans querem ver o “detrás das cenas”, sem segredos, querem ter acesso ao que se passa por dentro e daí nós querermos proporcionar essa experiência aos adeptos. Fazemos uma aposta forte também na Internet com o nosso website e as redes sociais, procurando mostrar como as coisas se passam através de clips de vídeo produzidos de uma forma diferente do habitual, mais virados para o adepto. Dá mais trabalho é certo, mas nós entendemos que o campeonato vive da relação entre os patrocinadores, os fans e as corridas, por isso vale a pena.

AS: És um dos pilotos mais ecléticos do campeonato, com uma carreira de sucesso no DTM e com passagens pelo Mundial de Ralis, NASCAR e pelos V8 Supercars australianos. O que te atrai mais no Ralicross?

ME: Conduzir o meu carro! Para mim o Audi S1 quattro é um carro compacto tão potente que me faz lembrar o velho Audi Sport Quattro de Grupo B de Walter Röhrl, Stig Blomqvist e Hannu Mikkola, mas do século XXI. Claro que o chassis, motor, suspensões e caixa são da era moderna mas a performance é muito parecida à do velho e bom Audi S1.

AS: Em 2016 Montalegre era a primeira prova do Campeonato e começaste logo a mostrar que estavas em excelente forma, ao seres o mais rápido no dia de sábado. Que achas do circuito?

ME: Conduzir em Montalegre é muito agradável pois é um traçado fluído e natural. A recta é longa e a primeira curva um pouco apertada mas a Joker-lap é fantástica. Depois a combinação de curvas e contracurvas até ao final é exigente e intensa mas ao mesmo tempo muito divertida.

AS: Para 2017 espera-se que o nível do campeonato continue a crescer. Achas que o desafio de chegar à Final será maior que nunca?

ME: Sim definitivamente. Existem muitos rumores sobre os pilotos e equipas que vão correr este ano. Se não contarmos com os carros que vão ter apoio de fábrica, vamos ter apenas três ou quatro lugares livres para conseguir entrar nas meias-finais, vai ser ainda mais difícil.

AS: Já estão a circular na Internet alguns vídeos do novo Volkswagen Polo RX a testar com o Johan Kristoffersson ao volante e nota-se que o carro é “Made in Volkswagen Motorsport”. O apoio oficial que a Audi Sport vai dar à EKS em 2017 vai ser similar?

ME: Não pois nós não precisamos que a Audi Sport construa carros novos, a EKS já os tem! (risos). O que vai acontecer é que o apoio da Audi Sport vai permitir-nos ter mais recursos dentro e fora de pista. Claro que a nível técnico esperamos que os carros estejam mais rápidos e por outro lado vai permitir que as nossas atividades de marketing e media sejam ainda melhores do que são.

AS: Se fosses tu a mandar, que medidas tomarias para o Campeonato?

ME: É difícil responder…Talvez mais potência para os carros! (risos).