Mundo motorizado aguarda pela passagem do COVID-19: Estamos na luta

Por a 27 Março 2020 09:41

José Luís Abreu

FOTOS Oficiais e JB PhotoPress/José Bispo

Tal como o resto da sociedade, o mundo motorizado espera pacientemente pela passagem do que se pode considerar o ‘furacão’ COVID-19, de modo a que possa começar a lutar contra os seus efeitos e olhar para o futuro.

Nunca o mundo passou por uma crise tão grave desde 1945, ano em que terminou a 2ª guerra Mundial. Numa altura em que já se percebeu que o isolamento de duas semanas não chegará, há que, pacientemente, continuar a aguentar e a ‘fugir’ do coronavírus, que está aí em cada esquina à nossa procura.

Neste momento, ao receio do vírus, que se vai manter por mais algum tempo – vamos ainda ver quanto – começa a nascer uma atmosfera de temor para o que se pode seguir ao desaparecimento ou pelo menos forte diminuição da ação do vírus. A economia vai, naturalmente, sofrer, não será fácil voltar ao normal e não há área que possa escapar a tudo isto.

O que se seguirá a estes dias difíceis pode no entanto ter aspetos positivos, como por exemplo unir muito mais as pessoas em torno de um objetivo, em vez de cada uma puxar para o seu lado. Neste aspeto referimos-nos à relação de cada um dos países, por exemplo da Europa em que estamos inseridos, mas isso também se pode aplicar entre portas, e ainda ao ‘nosso’ mundo dos motores.

De resto, e tendo como exemplo o que se está a passar na China, e cerca de um mês após a implementação das medidas de contenção do vírus COVID-19, a economia da China já está a operar a cerca de 75% da sua capacidade, o que é um sinal positivo, pois na Europa, apesar de ainda estarmos numa fase que aquele país asiático já terminou há algum tempo, esse dado permite-nos perceber que algo semelhante poderá acontecer no velho continente, o que dá esperança que as coisas não fiquem tão mal quanto muitos preconizam.

A União Europeia e os diversos governos estão a tomar medidas de contenção da crise que se antevê, mas este dado sobre a China é animador, embora se perceba também que irá haver alguma demora na recuperação da confiança dos consumidores, pois o impacto que terão no comércio mundial as medidas de contenção que têm vindo a ser tomadas por todo o mundo, provavelmente, vão demorar a passar,

FPAK prolongou suspensão de atividade

Entre portas, e como se esperava a FPAK prolongou a suspensão de toda a atividade desportiva, voltando a colocar-se em linha com as recomendações do Governo Português, da Organização Mundial de Saúde e da Direção Geral de Saúde, numa medida que durará até, pelo menos, dia 30 de Abril, altura em que será reavaliada novamente toda a situação, sendo as medidas ajustadas em conformidade com as autoridades de saúde.

Na sequência disso, a FPAK decidiu estender a atual temporada ‘motorizada’ até ao fim de janeiro de 2021, pretendendo com isso acomodar o maior número de provas possível, devido à pandemia de coronavírus que está a fazer ‘marcar passo’ todas as competições desportivas.

Numa altura em que ainda estamos longe de saber quando será seguro recomeçar tudo, a FPAK está a trabalhar no pressuposto que tudo pode voltar a arrancar após o final de junho. Nesse contexto, remeteu uma circular aos clubes organizadores, à qual o AutoSport teve acesso, em que solicita que estes procedam à remarcação das suas provas até ao dia 30 de abril.

Nesse reajuste de calendários, será dada prioridade às competições FIA, em primeiro lugar, depois às FPAK sendo que nessa remarcação das competições terá prioridade a primeira prova suspensa no calendário de cada um dos campeonatos, seguido-se da segunda e assim sucessivamente. Com o previsível estender de calendário, as regulamentações desportivas manter-se-ão inalteradas em 2021, estando apenas previstas ligeiras afinações que tenham a ver com questões técnicas ou de segurança.

Como se esperava, mais provas em Portugal foram adiadas, nomeadamente as previstas para maio e junho, algo natural face à situação que se vive. O circuito de Vila Real ainda está, oficialmente, no calendário, mas a probabilidade de se realizar é diminuta, tal como nos disse José Silva, presidente da Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real: “Vivemos num momento de grande incerteza. A cada dia que passa somos confrontados com notícias e novos planos de ação, pelo que temos de avaliar a situação diariamente. A grande preocupação da nossa associação é o combate a esta pandemia e o bem estar das pessoas. As corridas, que são a nossa paixão, têm de ficar para segundo plano, pois há outras prioridades nesta fase. Mas devo ser honesto com todos os nossos fãs e, apesar de sem certezas e da situação ser muito volátil, as expetativas de termos corridas em Vila Real são muito diminutas. Olhando para o que o nosso governo diz e atentando a que esta situação se pode arrastar até maio, é um facto que a probabilidade de termos corridas este ano é muito baixa, como as pessoas compreenderão.”

Também a prova do Mundial de Rallycross de Portugal, agendada para os dias 2 e 3 de maio, foi naturalmente adiada, estando previsto ser estudada uma data alternativa viável para a realização do evento. WTCR, World RX e também no WRC. A nossa prova mundial foi adiada, sendo que esse assunto é tratado noutro local desta publicação.

F1 pondera calendário

O que se passa em Portugal com os ‘motores’ em nada é diferente de todas as competições do mundo. Por exemplo, na Fórmula 1, Chase Carey, Chairman e CEO da Fórmula 1, divulgou um comunicado sobre a temporada 2020 explicando o estado atual das coisas: “As 10 equipas e a FIA juntaram-se e tomaram medidas rápidas como parte da nossa resposta inicial à pandemia da COVID-19. Embora neste momento ninguém possa ter a certeza de quando é que a situação vai melhorar, ela irá melhorar e quando melhorar, estaremos prontos para voltar a correr. Estamos empenhados em oferecer aos nossos adeptos uma época de competição em 2020. Reconhecemos que existe um potencial significativo para novos adiamentos, no entanto nós e os nossos parceiros esperamos convictamente que a época possa arrancar em algum momento neste verão, com um calendário revisto entre 15 a 18 corridas.

Como anunciado anteriormente, utilizaremos o facto da pausa de verão ter sido antecipada para março/abril, para correr durante o período normal das férias de verão, e prevemos avançar a data de fim de época para além da nossa data original, de 27-29 de novembro, com a sequência real e datas programadas para as corridas a diferirem significativamente do nosso calendário original de 2020.

Não é possível fornecer agora um calendário mais específico devido à fluidez da situação atual, mas esperamos ter uma visão mais clara da situação em cada um dos nossos países anfitriões, bem como das questões relacionadas com as viagens a estes países, no próximo mês.

Com o benefício do anúncio e acordo de princípio da FIA para congelar os regulamentos técnicos ao longo de 2021, sem pausas de verão e com a paragem das fábricas antecipada para março/abril, a F1 pretende agora ter lugar no período normalmente reservado à pausa de verão podendo dessa forma cumprir os eventos ‘perdidos’ nesta primeira parte deste ano. Esta flexibilidade oferece uma oportunidade para fazer evoluir o desporto, experimentar coisas novas. Isso pode incluir iniciativas como expandir nossa plataforma desportiva, desenvolver conteúdo mais inovador como o Netflix Drive to Survive e outras formas criativas de gerar valor contínuo para os parceiros patrocinadores do desporto, parceiros de transmissão, promotores de corridas, equipas e adeptos – o ecossistema do nosso fantástico desporto.

Entre a Fórmula 1, as equipas e a FIA, trabalhando com as nossas principais partes interessadas, estamos a planear e totalmente empenhados em regressar à pista na primeira oportunidade para iniciar a temporada 2020 e continuaremos a receber conselhos das entidades oficiais de saúde e especialistas, uma vez que a nossa primeira prioridade continua a ser a segurança e saúde dos nossos adeptos, das comunidades que visitamos e daqueles que fazem parte da família da Fórmula 1. Estamos confiantes de que todos vamos superar isso e ver dias melhores pela frente e, quando o fizermos, vamos garantir que todos os que investiram neste desporto em todos os níveis se sintam recompensados”, escreveu Chase Carey.

Entretanto, o GP de Fórmula 1 do Azerbaijão, que estava previsto realizar de 5 a 7 de junho foi adiado e apesar de neste momento o GP do Canadá ainda se manter oficialmente agendado, está mais perto de ser adiado ou cancelado, isto depois de se ter ficado a saber que o Canadá não iria enviar atletas aos Jogos Olímpicos de Tóquio, com os organizadores deste certamente, entretanto, a adiarem a competição para 2021.

Como se percebe pelo estado atual das coisas e com a COVID-19 a ‘instalar-se’ com toda a força no continente americano a norte, a data de 14 de junho para o GP do Canadá é pouco menos que impossível. A data possível para o arranque da F1 tem vindo a avançar, e neste momento a possibilidade (não oficial) está no mês de julho. Até aqui já foram adiados os Grandes Prémios do Bahrein, Vietname, China, Azerbaijão, Espanha e Holanda e cancelados os da Austrália e Mónaco.

Outro grande evento que não escapou ao coronavírus, e também seguindo as diretrizes do governo francês, as 24 Horas de Le Mans, inicialmente agendadas para 13-14 de junho, foram adiadas para 19-20 de setembro, algo que logicamente vai afetar os calendários do Mundial de Endurance e European Le Mans Series.

Segundo Gérard Neveu, CEO da WEC e ELMS: “É a decisão certa de adiar à luz da situação atual. Estamos agora a trabalhar na revisão dos calendários para o resto da temporada, bem como para a nona temporada do Mundial de Endurance, que deveria começar em setembro de 2020. Voltaremos nos próximos tempos com novidades”. Por tudo isto, resta continuar a lutar contra o vírus, e quando este nos ‘largar’, o foco muda para a vida de cada um, e só depois para os ‘motores’…

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