Emissões da Volkswagen: Cronologia de um enorme escândalo

Por a 30 Setembro 2015 12:08

Rebentou há cerca de duas semanas um dos maiores escândalos de sempre da indústria automóvel, com a adulteração de dados das emissões dos motores turbodiesel nos EUA, por parte da Volkswagen. Ironicamente, pouco depois da Volkswagen ter chegado a Nº1 Mundial, em termos de vendas de carros, por troca com a Toyota.

Tudo começou quando a US Environmental Protection Agency (EPA) e a California Air Ressources Board (CARB) publicaram um relatório que afirmava que a Volkswagen manipulou através de software, aquando da realização dos testes, os resultados das emissões de gases poluentes, adulterando, portanto, os resultados. Segundo o relatório, os modelos submetidos aos testes estavam equipados com um dispositivo que detetava o teste e ligava as funções de controlo de emissões.

Martin Winterkorn pediu de imediato desculpas pela quebra de confiança, assegurou que iriam cooperar com as autoridades para que tudo o que aconteceu fosse descoberto e iniciar de imediato o processo de restabelecer a ordem e recuperar a confiança dos clientes.

Logo nos primeiros dias, as ações do grupo VW caíram a pique, cerca de 15 mil milhões nos primeiros dias. Já recuperaram um pouco, mas o pior pode estar para vir.

O CEO do grupo VW nos EUA, Michael Horn, confessou a ‘marosca’, resumidamente, um software instalado no código-fonte do programa da unidade central de comando do motor (ECU) que detetava quando o carro estava a ser submetido a um teste, e ligava todas as funções que permitissem diminuir as emissões, algo que como se sabe, diminui as performances dos carros, mas como o teste não era feito em ambiente real, os valores ficavam abaixo do máximo permitido sem que isso se notasse na performance. Diz-se que os motores em causa podiam estar a emitir mais de 40 vezes o valor aceite para as emissões. Diz-se!

O sistema que a VW se ‘esqueceu’ de dizer que tinha instalado nos seus carros, é tão elaborado que deteta se o carro está a ser testado em rolos ou na estrada. Os sensores da direção e rodas conseguem ‘perceber’ se o carro está a ser testado, ligando todos os sistemas anti-poluição. Brilhante, mas, como se percebe, ilegal!

Mas como se chegou a este ponto? Em maio de 2014, o Centro para os Combustíveis Alternativos da Universidade de West Virgínia (WVU) realizou um estudo onde foi detetada uma discrepância entre os valores homologados e os obtidos em utilização real. A WVU alertou a California Air Resources Board (CARB) e a Agência para a Proteção Ambiental (EPA). Estes questionaram a VW, que alegou possíveis problemas técnicos ou condições de uso fora do normal, mas em dezembro recolheu meio milhão de veículos por causa da questão das emissões.

Meses depois, a CARB e a EPA voltaram a realizar testes e voltaram a ser identificadas discrepâncias entre os valores homologados e os reais.

Pouco depois, a CARB e a EPA emitem um comunicado onde referem que não vão aprovar certificados de conformidade para modelos VW 2016, equipados com motores diesel até que o grupo explique as discrepâncias.

Já este mês a VW admitiu a instalação do software para fazer batota nas medições das emissões e o CARB e a EPA tornam públicos os resultados.

A partir daí, os acontecimentos são diários. Neste momento já se sabe que o software utilizado para contornar os testes de emissões terá sido desenvolvido pela Bosch, mas apenas para testes comparativos. Neste momento a Kraftfahrt-Bundesamt (KBA), a autoridade rodoviária alemã, deu cerca de uma semana à VW para demonstrar que os seus veículos cumprem as normas de emissões vigentes. Caso contrário, perdem certificação.

Winterkorn demitiu-se, Mueller é o novo CEO

Com o passar dos dias, muito naturalmente, o CEO do grupo VW, Martin Winterkorn, apresentou a sua demissão, mostrando-se “chocado com os acontecimentos. Acima de tudo, estou chocado que uma má conduta em tal escala seja possível no Grupo Volkswagen. Como CEO, aceito a responsabilidade pelas irregularidades que foram encontradas nos motores diesel e por isso solicitei ao Conselho de Supervisão que aceite a minha demissão do cargo de CEO do Grupo Volkswagen.” Winterkorn foi a primeira vítima, mas não a única. Matthias Mueller era o mais do que provável sucessor e foi ele mesmo, o CEO da Porsche, que aos 62 anos assumiu o cargo.

Entretanto, vão-se dando algumas possíveis justificações para a batota, alega-se “pressão sobre os engenheiros para fazerem mais e melhor em pouco tempo!” e no meio disto tudo, vão ser precisos detetives à ‘séria’ para se chegar ao responsável ou responsáveis. E não restam dúvidas que uma decisão deste calibre não pode ser tomada por qualquer engenheiro. Neste momento, entre as marcas do grupo, VW, Skoda, Audi já foram confirmados oficialmente como estando ‘infetados’, a SEAT é quase certo, mas não confirmado, faltando saber a Bentley, Lamborghini e Porsche. Numa investigação interna, a VW determinou que dos 11 milhões de carros equipados com o software, cinco milhões são Volkswagen.

Como se pode calcular, os efeitos deste caso não se esgotam no Grupo VW, e depois da BMW ter visto um dos seus carros também testado, ao mesmo tempo que o os VW, este passou os testes, mas isso não evitou que a marca bávara tivesse sido ligada ao escândalo, desmentindo-o claramente, e pedindo mesmo ao regulador que preceda de maneira a repor a verdade dos factos e confirme que a BMW nada tem com este caso.

Com o epicentro do terramoto na Alemanha, os franceses da Renault e do grupo PSA aproveitaram para se manifestar de acordo com a introdução de regras mais restritivas e testes em condições reais para os testes, confirmando ambas que nunca utilizaram qualquer sistema para contornar os testes de certificação de emissões. A Mercedes também tornou público que não utiliza nenhum dispositivo ou software para adulterar testes.

E o desporto automóvel?

Até aqui falámos só da indústria automóvel, mas o que interessa realmente ao AutoSport é o desporto automóvel e aí resta saber o que poderá acontecer aos diversos programas das marcas do grupo no Desporto Automóvel. Para já… nada, mas a médio prazo é possível que com o dinheiro que o Grupo inevitavelmente gastará a mais, para resolver todos os problemas agora criados, será necessário poupar em algum lado e quando os gestores tiverem que fazer contas, é possível que o desporto automóvel sofra. Há duas semanas falava-se na Volkswagen ir para a Fórmula 1 em 2018 como Construtora de unidades motrizes, mas nestas altura alguém se atreve sequer a falar no assunto?

Outra boa questão é se o novo CEO do Grupo, Matthias Muller gosta de desporto automóvel. Certo é que Martin Winterkorn terá sido claramente a força motriz por trás da questão Fórmula 1. Mas já foi embora. E quanto a Matthias Muller? Sabe-se que tem um passado ligado à engenharia automóvel, e é um entusiasta do desporto motorizado. Logicamente o seu trabalho a médio prazo passa por limpar a imagem da VW, mas poderá ser muito renitente em acabar com programas no desporto motorizado que tão boa imagem têm dado ao Grupo.

A outro nível, muito mais baixo, outro elemento importante é Wolfgang Hatz é o grande obreiro do projeto Porsche na LMP1… que está com a cabeça a prémio já que é o responsável máximo pelos motores e transmissões do Grupo VW. A ver vamos o que resulta da investigação que será levada a cabo. Há certamente muita gente no Grupo que não andará a dormir bem… resta saber quem.

Este assunto ainda irá, naturalmente, fazer correr muita tinta, pois se é verdade que já existiram muitos problemas com a indústria automóvel, este caso está a caminhar rapidamente para se tornar se não ‘no’ pelo menos num dos mais importantes escândalos de sempre…

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