CRÓNICA: Um ‘rookie’ em Spa-Francorchamps

Por a 21 Junho 2014 23:53

Quem visita o Circuito de Spa-Francorchamps pela primeira vez não pode de deixar de ficar ‘tocado’ pelo facto de ali se terem escrito dezenas de capítulos da história do desporto automóvel mundial. A zona foi muito importante igualmente para a história mundial, já que o circuito está bem inserido na densa floresta das Ardenas, que foi palco de uma batalha absolutamente decisiva para o desfecho da Segunda Guerra Mundial – foi por ali que os alemães tentaram o contra-ataque, querendo dessa forma reverter o curso da guerra, pois há muito que estes se tinham visto obrigados a recuar para lá das fronteiras do seu país.

Revertendo a questão apenas para o âmbito do desporto automóvel, tudo o que envolve a pista é mesmo especial e não é por acaso que este circuito é considerado por muitos adeptos a melhor pista do mundo. Talvez existam outros locais, como o Mónaco, com um glamour diferente, mas se esquecermos tudo o que fica do lado de fora da pista, não há outra no mundo que possa levar da mesma forma pilotos e máquinas aos limites. Para quem vem de Bruxelas, a chegada ao circuito dá-se invariavelmente através do gancho de La Source, e aí surge de imediato a admiração pela enorme quantidade de acidentes que já li se deram, quando é tão largo. Assim de repente, e na primeira vez que olhei para ele, recordei as enormes carambolas da partida da F1 em 2012, quando Romain Grosjean voou por cima dos seus adversários com o Lotus e dos acidentes na descida para Eau Rouge, em 1998, mas qualquer um que visite esta pista depressa vai procurar o Raidillon, que se vislumbra de imediato, pois após uma enorme descida, ali está ele, como se de uma montanha para escalar se tratasse. Mítico, mas requer uma visita de mais perto, por isso já lá vou…

Os motores ouvem-se na pista, mas ainda não os do WTCC, mas sim do Europeu de F3. Os belgas, felizes da vida, gozam de uma trégua da inclemente meteorologia que este circuito quase sempre sofre, e os 25º com que Spa me recebeu são mesmo a exceção à regra, pois uns dias antes, imagine-se, um forte tornado tinha varrido muitas árvores da floresta das Ardenas bem ali perto…

O paddock, é diferente de tudo o que conhecia, pois tal como as subidas e descidas do circuito, a feira que acompanha as corridas em Spa também se faz por ‘andares’, num paddock que alberga bem mas gente que as bancadas. Lá dentro, uma autêntica feira, como tantas vezes já referi ser o que pode juntar pais e filhos, onde não falta sequer insufláveis para as crianças. Tendas das equipas, perfeitamente preparadas para receber os adeptos, um sem número de entretenimentos para os espectadores, um paddock que fervilha como nenhum outro que vimos em Portugal. Dezenas de locais de comes e bebes, dezenas de ‘barracas’ de Merchandising, bares enormes no paddock, os espectadores podem mesmo ir para o terraço de parte do edifício das novas boxes, pois apesar da maior parte estar reservadas ás equipas e aos seus convidados, os organizadores não se esquecem do comum dos adeptos que paga bilhete de paddock e oferecem-lhe muito em troca pelo que pagou.

Com o decorrer das sessões, ‘calhou’ ao WTCC ser o escolhido para ser observado num dos locais mais falados do mundo dos desportos motorizados, o Raidillon. Mas que autêntica parede a pique que parece quando estamos na zona mais baixa, na saída das boxes antigas. Ali, o olhar para cima, não há como não me recordar de imediato das horríveis imagens tantas vezes vistas do acidente que vitimou Stefan Bellof em 1985, depois da colisão com o carro de Jacky Ickx. É fácil identificar o lugar, hoje com uma enorme escapatória ao contrário do que sucedia em 1985, com os rails ali tão perto da pista.

Ver os novos WTCC subir aquela parede foi interessante e a primeira conclusão é que são muitos poucos os que não metem o pé no travão, e alguns não o largam desde Eau Rouge até à saída do Raidillion. Uma curva a ‘sério’ onde se vê quem são os verdadeiros pilotos.

Da reta de Kemmel, nada se vê, mas sabe-se o que foi capaz Mika Hakkinen de fazer a Michael Schumacher, em Les Combes, os incontáveis acidentes ou saídas em frente na chicane, a zona da saída para Malmedy, que fazia parte do circuito antigo. Depois, Rivage, Puhon, Fagnes e Stavelot e Curva Paul Frére, a zona onde o circuito antigo reentrava no atual Spa-Francorchamps, numa história que já existe desde 1920.

A rapidez do circuito antigo, e a forma como (não) se olhava para a segurança no passado (pelo menos na forma como a entendemos hoje) levou a que muitos perdessem a sua vida nesta pista, que ainda por cima era invariavelmente assolada por inclementes condições meteorológicas.

Tal como Nürburgring e Le Mans circuits, Spa também foi sendo falada devido aos acidentes fatais que por lá aconteciam. Em 1960, Chris Bristow e Alan Stacey morreram com 15 minutos de diferença, Stirling Moss ficou gravemente ferido, mas felizmente há muito que não se ouvem falar de acidentes muito graves em Spa.

A seguir á zona dedicada a Paul Frère (piloto de F1 e jornalista belga) está Blanchimont, outra zona muito temida pelos pilotos devido á alta velocidade que se atinge nas duas esquerdas. Quem não se lembra em 1992, ter visto Ayrton Senna a correr para ajudar o acidentado Erik Comas. No passado, a zona da paragem do autocarro era palco de muitos acidentes e na recente renovação do circuito, em 2007, esta desapareceu, dando lugar a uma chicane, com uma entrada muito mais segura na reta da meta. Apesar das mudanças, Spa não perde a sua aura e continua a ser um circuito que todos os pilotos admiram e respeitam, recebendo hoje em dia as mais importantes competições do mundo do desporto motorizado, com exceção do Mundial de Motociclismo.

Aqui, muitos pilotos portugueses obtiveram triunfos, sendo que provavelmente um dos momentos mais recordados nem sequer é um triunfo, mas sim um oitavo lugar. Quem mo recordou hoje foi Edmar Monteiro, pai de Tiago Monteiro que em 2005 partiu de 19º e chegou em oitavo, pontuando pela Jordan na Fórmula 1. Por isso, nove anos depois, talvez esteja na altura de novo brilharete em Spa-Francorchamps. Quem sabe…

José Luis Abreu

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