Ventos de mudança na F1

Por a 19 Outubro 2016 10:24

Não há volta a dar! Vai haver mudanças significativas na F1 a médio prazo, e pela quantidade de gente que se ouve a falar da questão, não há como não aproveitar a oportunidade para fazer mudanças que há muito se impõem na F1. Mas mais do que palavras há que mostrar é serviço…

Um mês depois da notícia que confirmou a venda dos direitos comerciais da F1, as ondas de choque iniciais já se esbateram e neste momento muitos dos players da F1 olham para a questão como uma boa oportunidade de mudar o que entendem não estar bem, perspetivando uma F1 melhor. Entre muitas, foi curiosa a abordagem de Nico Rosberg, atual líder do Mundial de F1, que reconhece os enormes feitos de Bernie Ecclestone na F1, mas é de opinião que novas e frescas ideias podem ser boas para o futuro da modalidade. Basicamente, um obrigado e adeus…

E pelo que se sabe, é muito provável que seja mesmo isso que está prestes a acontecer, já que depois de inicialmente se ter ficado com a ideia que Bernie Ecclestone iria permanecer à frente dos destinos da F1 mais três anos, bastou uma reunião com John ‘Darth Vader’ Malone, dono da Liberty Media para que este autêntico choque de titãs os afastasse. Da parte de Malone, nem a Ferrari escapou com Sergio Marchionne também metido ao ‘barulho’, num claro sinal de que “quem manda aqui agora sou eu…”

Com este ‘qui pro quo’ com Bernie Ecclestone, ficou a saber-se que a F1 pode mesmo mudar muito mais do que se pensa. Logo na altura, Ecclestone disse que iria ouvir quem de direito e depois tomar a sua decisão, e pelo que se sabe neste momento, Chase Carey já esteve reunido chefes das equipas e fê-lo sem a presença de Ecclestone. Portanto, é claro que algo não está bem, e no mínimo o que se pode dizer é que o futuro da ligação de Ecclestone à F1 está indefinido: “Se as coisas levarem um rumo que na minha forma de pensar não é o correto, então tenho a certeza que vou desaparecer”, disse Ecclestone.

Enquanto esta questão não ata nem desata, há outros sinais que indicam a possibilidade duma mudança radical na forma como a F1 se relaciona com os seus adeptos, e sendo óbvio que neste momento, enquanto não houver declarações oficiais da Liberty Media, tudo é especulação, fala-se cada vez mais a no papel que a Tata Communications pode ter no futuro dessa relação. Através desta empresa, a FOM produz e edita o conteúdo que distribui às operadoras que pagam pelos direitos televisivos. Tal como sucede em Portugal com o Eurosport, cada país junta-lhe os seus comentários. Isto tem sido confiando às operadoras de TV, mas existe a forte possibilidade da FOM se ‘virar’ também para o conteúdo online, introduzindo um modelo de subscrição, entrando num período de coexistência com as operadoras de TV.

O modelo teria logicamente lógicos óbices, pois há contratos com as operadoras em vigor, e esses não contemplam coexistência com uma oferta online. Teria de haver ajustes, numa transição que faria descer muito o valor pago pelas operadoras, que a FOM teria de compensar cobrando o acesso a muito mais gente do que a que vê pela TV em ‘pay per view’. Mais cedo ou mais tarde isto irá suceder, a FOM já tem a plataforma, o site F1.com, e só fica a faltar a vontade estratégica do fazer. E neste aspeto a Liberty Media é um veículo perfeito, pois sendo um grupo de media terá uma abordagem bem diferente duma empresa de capital de risco como é a CVC Capital Partners. Se o foco da Liberty Media for fazer crescer a sua base de adeptos, como parece ser a intenção, a F1 pode ‘explodir’, pois há competições, como por exemplo o MotoGP, que são bem geridas a esse nível e chegam a uma legião enorme de adeptos. “Mais adeptos, mais jovens adeptos. O foco tem que ser na base de adeptos”, é a frase mais comum que se ouve de diversos observadores do fenómeno da F1.

Pilotos agradados

Foram vários os pilotos que ficaram contentes com a compra da F1 por parte da Liberty Media, mostrando desde logo o seu otimismo relativamente ao que a empresa norte americana pode vir a fazer. Uma das coisas mais referidas é o agressivo marketing norte-americano, o outro é a urgente necessidade de seduzir rapidamente jovens adeptos para a Fórmula 1. Como se sabe, as estatísticas atuais ‘dizem’ que 93% dos adeptos de F1 são homens, 7% mulheres, com menos de 18 anos há 3.9%, entre os 18 e os 40 anos, 59.3%, dos 41 aos 60, 27.3% e com mais de 61, 9.4%. Provavelmente seria melhor um nova divisão dos 18 aos 25 para perceber melhor ‘aquela’ percentagem de quase 60 por cento, mas fica claro que a F1 precisa de renovar a sua base de adeptos e Jenson Button tem uma opinião muito clara acerca disso: “Penso que o facto da Liberty Media ser uma empresa norte-americana é bom, pois levar a F1 para os EUA só pode ser positivo. Pelo que já pude perceber, eles querem interessar uma audiência muito mais jovem. Basta ver que temos um piloto com 18 anos na grelha. Penso que a média de idades andará entre os 30 e os 40 anos, é muito alta, e portanto a esse nível só pode melhorar”, disse o inglês que é globalmente corroborado por Carlos Sainz, também ele um jovem piloto: “Acho que as coisas só podem melhorar face ao que temos hoje. Espero que possam atrair jovens adeptos, pois eles são muito difíceis de seduzir. Mesmo os meus amigos, quando lhes digo para verem Fórmula 1, a primeira coisa que fazem é ir procurar nas redes sociais e não encontram o que querem. É difícil convencê-los”. Pelo que se percebe o trabalho que há para fazer na F1 a esse nível é mais do que muito. Ao contrário do que sucedia há 20 e 30 anos com os que estão hoje em dia na idade média de um adepto de F1, a ‘oferta’ existente para diversão era muito menor que hoje em dia, e nem sequer havia a ‘concorrência’ das redes sociais com o tempo que isso rouba ao interesse dos jovens. Portanto, há 20, 30 anos era bem mais fácil um bom produto como a F1 poder em dado momento interessar ao jovem. Hoje, as solicitações são inúmeras, e a sua exigência é muito maior do nos anos 80 e 90. A F1 tem um produto que pode, se bem ‘trabalhado’, chegar a qualquer adepto no mundo, pois a sua génese é tudo o que os jovens gostam, ação, emoção, adrenalina. Os ingredientes estão lá todos, é preciso é cozinhá-los bem. Está longe de ser uma missão impossível, e Fernando Alonso também vê no ‘american way’ uma boa possibilidade: “têm boa experiência, são americanos, sabem dar aos seus adeptos bons espetáculos televisivos, e tudo o que vem dos EUA em termos de desportos é atrativo, portanto, julgo que a sua visão e ideias será muito bem vinda à F1. Vejo um bom futuro para a F1”.

Chase for the future’

Na NASCAR é a Chase for the Cup, na F1 agora, Chase Carey é o novo Chairman da F1, e por isso, nas suas mãos está muito do que pode ser o futuro a médio prazo da F1, pelo que importa ouvir muito do que tem a dizer, e a primeira coisa que não esconde é que os EUA são uma área de oportunidade da F1 a longo termo: “É-o certamente, mas não só a América, mas também a Ásia. De qualquer forma, parece claro que nos EUA há um mercado que não foi explorado. Talvez não tenha sido bem trabalhado no passado, e por isso teremos que o fazer de forma inteligente” começou por dizer Carey, que explicou também os planos da Liberty Media no que ao retorno do investimento diz respeito: “Criar valor de longo prazo! Queremos investir não só em áreas ‘históricas’, tornando as corridas melhores, pistas melhores, mas também investir no marketing, ligando os adeptos da forma certa. Queremos investir em novas plataformas, digitais, dar aos adeptos a informação que querem tirando partido de tudo o que a modalidade tem para oferecer” disse Chase Carey, que confessou também estar preparado para passar os próximos meses mais tempo a ouvir as pessoas do que a ‘fazer’: “Não dá para contentar todos ao mesmo tempo , mas dá para tentar perceber o que todos querem e encontrar um rumo”, disse Case Carey, que continua a dar mais ‘luzes’ sobre o que pode ser o futuro da F1. Questionado sobre que motivos levaram um grande grupo como a Liberty Media a investir num desporto que não representa assim tanto para os americanos, Carey salientou o caráter global da empresa que representa, mas também que irá dar a cara pela Fórmula 1, e não pela Liberty:

Bom, é uma companhia que tem as suas raízes na América, sim, mas faz negócios em todo o mundo. Mas agora tenho de falar por mim e não pela Liberty, já que a minha carreira tem estado dividida mais pela Fox and News do que pela Liberty. E no futuro irei trabalhar para a Fórmula 1 e não pela Liberty. Quanto ao motivo para investir num desporto que é muito dominado pelos europeus, a resposta é simples: os negócios tornaram-se globais e a Fórmula 1 é um desporto global. Portanto a era em que pensávamos em continentes e regiões é uma coisa do passado. A Liberty tem investido por todo o mundo e a Fórmula 1 é apenas mais um ativo do seu portfólio”, explica, até porque “não existe qualquer dúvida de que o que verdadeiramente distingue a Fórmula 1 é o facto de ser um desporto global reconhecido por todo o planeta”, e que tem lugar “todos os anos durante nove meses”, ao contrário dos Jogos Olímpicos ou do Campeonato do Mundo de Futebol, que decorrem de quatro em quatro anos. “Essa é uma vantagem incrível que a Fórmula 1  tem de poder crescer ainda mais”, assegura o novo rosto da Fórmula 1.

Apesar de concordar que, tal como a América do Sul e a Ásia, “os Estados Unidos são uma área de oportunidade para o desporto a longo-prazo, e que existe algo por desvendar” no seu país, sugerindo provas em locais como “Los Angeles, Nova Iorque ou Miami”, Carey reitera que será igualmente importante continuar a fortalecer a Fórmula 1 em locais históricos dentro da Europa. É aqui onde se encontram as fundações do desporto e nós certamente iremos crescer e aproveitar essa força histórica”.

A colaboração com Bernie Ecclestone também esteve em cima da mesa, com Carey a confirmar, entre risos, que é “demasiado velho” para ser um aprendiz. “Penso que trazemos coisas diferentes para a mesa e espero que ao trabalharmos juntos possamos  descobrir como retirar o melhor do desporto. O que eu trago é uma longa carreira no negócio da criação de conteúdos de media, sendo que o desporto foi uma grande parte desta minha atividade. Estive envolvido a partir de um ponto de vista televisivo, portanto compreendo a importância dos eventos ao vivo. Sei ainda como comerciá-los e promovê-los – não com ferramentas velhas, mas com as novas plataformas digitais. E sei como gerir um negócio, colocando a equipa certa para trabalhar com o Bernie e a sua equipa, e em conjunto fazer crescer o desporto. Portanto, são 30 anos de carreira nos média e entretenimento, na gestão de grandes e complexas empresas, e em lidar com personalidades difíceis”. Embora prometa um tipo de liderança distinta, Carey não coloca de parte a hipótese de trabalhar lado-a-lado com Bernie Ecclestone: “Nos primeiros dois meses – vamos dizer 100 dias – o meu papel passará muito por ouvir e encontrar-me com as pessoas, e depois por digerir esses encontros. E depois então surge uma fase em que as diferentes visões continuam a ser moldadas. Mas nunca nada está escrito para sempre. O Bernie é o chefe executivo, portanto o Bernie irá liderar e eu irei trabalhar com o Bernie de modo a estabelecer um plano estratégico que nos leve para aquilo que queremos atingir”.

De modo a ser bem-sucedido nas suas novas funções, Chase Carey terá a difícil tarefa de ter que agradar a construtores, equipas, pilotos e adeptos. Estas vozes são muitas vezes discordantes, mas o norte-americano tem uma estratégia para recolher senão o agrado, a adesão de todos:

O desporto tem muitos elementos e vozes, portanto é importante perceber  os objetivos dessas vozes, e os seus problemas, e depois providenciar uma liderança que os tem em consideração, com uma visão daquilo que queremos atingir e onde queremos estar – algo que as pessoas possam suportar. Não podes fazer com que todos estejam felizes e satisfeitos constantemente, mas tens de perceber o que todos querem e depois encontrar um caminho. Esta não é claramente uma tarefa para um comité, uma vez que estes têm tendência para se tornarem burocráticos, e também não pode ser uma ditadura, mesmo que aqui as pessoas estejam provavelmente habituadas a isso. Precisam de liderança, e a liderança traduz-se na criação de uma visão para atingir os objetivos certos para o futuro. As empresas e negócios de sucesso assentam em lideranças de sucesso que compreendem o que cada parte exige, e sim, existem muitas partes envolvidas na Fórmula 1. Por isso também terão que existir compromissos. Não vais conseguir com que todos estejam felizes, mas esperas que estejam contentes o suficiente para acreditar e assinar por baixo na direção definida para o desporto”.

Reiterando que “é necessário ter uma visão a longo-prazo”, mas também que esta “deve ser ajustada às mudanças de circunstâncias”, Carey acredita que, no imediato, a Fórmula 1 pode capitalizar numa melhor promoção da história do desporto e as suas personagens, aliando a experiência digital à cobertura televisiva: “Os pilares históricos são importantes e iremos continuar a fazê-los crescer. Tornar os eventos maiores do ponto de vista da promoção e transmiti-los na televisão com uma experiência mais ampla que se ajuste às necessidades de hoje é outra possibilidade. Acredito que um bom produto digital torna a experiência televisiva mais compensadora. Promover o desporto, contando a história das estrelas e dos heróis e destas máquinas incríveis. E depois fazê-lo crescer geograficamente. Portanto não existe uma galinha de ovos de ouro, mas a possibilidade de crescer em todas as áreas”, diz o homem que acredita poder levar a Fórmula 1 para outro nível: “Sem tirar o mérito a Bernie, que teve um enorme sucesso – todos admiram o negócio que ele construiu – penso que existe outro nível para onde podemos levar a Fórmula 1. Esta foi uma oportunidade que me entusiasmou quando me foi apresentada.”

TV paga e mais publicidade

Confiante no homem escolhido para ser o representante da sua empresa na gestão comercial da Fórmula 1 e em dar um novo impulso às receitas televisivas através de subscrições pagas está Greg Maffei, presidente e chefe executivo da Liberty Media. “Existem oportunidades para fazer crescer o negócio, começando pelas receitas televisivas, a maior fonte de rendimentos. Muito virá de mudar o paradigma de serviços gratuitos para serviços pagos a um preço competitivo, e isso foi o que aconteceu, por exemplo, no Reino Unido, quando a Sky comprou os direitos”, disse Maffei, que acrescentou: “O Chase Carey é muito experiente nesta matéria. É difícil pensar em alguém melhor que tenha tido a oportunidade de gerir empresas de media e ativos diretamente ligados com o desporto, bem como a ligação entre ambas”.

O patrão da Liberty Media também comentou a falta de contratos publicitários na Fórmula 1: “Penso que temos cerca de 17 patrocinadores, e três pessoas a trabalhar na publicidade na Fórmula 1. É um grande contraste com a Major League Baseball, um negócio que conhecemos bem através dos Atlanta Braves. Aqui existem 75 patrocinadores, e apenas nos Estados Unidos. Portanto penso que existe uma oportunidade para crescer, investir na captação de novos parceiros e fazê-los crescer”.

Aposta no digital

Tal poderá afetar o número de corridas, com Greg Maffei a afirmar que o calendário pode aumentar: “Temos 21 provas neste momento, mas penso que existe uma oportunidade para fazer com que esse número suba ao longo do tempo, em particular quando algumas das provas atuais já foram maximizadas com valores relativamente elevados. Penso que existe uma oportunidade para crescermos no número de provas e em locais que são potencialmente mais atrativos para acordos de transmissão de longa duração e igualmente ao nível da publicidade”. Maffei diz que o caso óbvio no curto prazo é “a Ásia, e potencialmente a América Latina”. E que no longo-prazo as baterias devem ser apontadas “à América do Norte, particularmente os EUA, onde realmente estamos abaixo na audiência, receita e todos os aspetos”.

Os média digitais serão outro dos cavalos de batalha da companhia, incluindo a indústria dos jogos: “Algo que atravessa todos estes aspetos é o facto de menos de 1% das receitas provir do digital. Não existe realmente nenhum esforço organizado neste campo. E penso que existem muitas coisas que podemos fazer em redor dos jogos, Realidade Virtual e Realidade Aumentada. Existe uma quantidade enorme de vídeo e dados que já estamos a recolher em cada corrida e que depois não são processados de forma substancial para os fãs mais conhecedores, ou para oportunidades em redor de coisas como o jogo de apostas.”

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gillesi
gillesi
7 anos atrás

Mudar o paradigma de serviços gratuitos para tv paga a preços competitivos. No fundo levar a F1 para outro nível… de lucro. Esperemos que esteja enganado, mas não me admirava que a relação da Liberty com a F1 seja como aquele sinalzinho que até lhe dá uma certa graça e com o decorrer do casamento se vai tornando numa verruga insuportável. Depois há a questão americana, que reside no marketing mas também na mentalidade. Este fds vamos poder aferir a saúde do GP dos EUA através do preenchimento das bancadas, mas em Austin o Estado do Texas vai contribuindo, porque… Ler mais »

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