Toyota reforça aposta na resistência, mas ‘pisca o olho’ a outros projetos

Por a 21 Novembro 2023 19:19

A Toyota deixou a Fórmula 1 no final da temporada de 2009, depois do projeto ter nascido em 1999 e competido pela primeira vez em 2002, com a dupla de pilotos Alan McNish e Mika Salo. Apesar da dupla de pilotos ter testado bastante no ano anterior à entrada oficial na F1, a equipa passou por muitas dificuldades, tendo somado apenas 2 pontos (através de Salo) e alcançado o 10º lugar na classificação do mundial, entre os onze construtores que o disputaram nesse ano.

Com instalações em Colónia, a Toyota fechou a atividade na Fórmula 1 no final da temporada de 2009, com Jarno Trulli, Timo Glock e Kamui Kobayashi (que substituiu o piloto alemão por lesão) somaram 59,5 pontos, terminando no 5º lugar no campeonato de construtores. Foram 8 épocas disputadas, sem qualquer vitória conquistada pela estrutura nipónica. 

No entanto, indiretamente a Toyota esteve envolvida na Fórmula 1 durante muitos mais anos do que aqueles em que competiu em pista. Só este ano a McLaren deixou de usar o túnel de vento da Toyota em Colónia, após 12 anos de estreita colaboração no desenvolvimento dos monolugares da equipa britânica. A equipa de Woking tem agora infraestruturas mais modernas e que permitem melhores resultados, uma vez que o túnel de vento na Alemanha era uma tecnologia ultrapassada para o estado atual da Fórmula 1 e o esforço dos britânicos era enorme quando precisavam de testar novos componentes. 

No momento em que as duas estruturas anunciaram o fim deste trabalho em conjunto, a Toyota Gazoo Racing Europe sublinhou que as portas continuavam abertas se a McLaren precisasse. Pouco tempo depois, e durante o Grande Prémio do Japão, a McLaren anunciou que o piloto japonês Ryo Hirakawa será piloto do seu programa de desenvolvimento em 2024, tornando-se ainda piloto de reserva da equipa. Hirakawa é piloto da Toyota no Campeonato do Mundo de Resistência da FIA (WEC), mantendo-se em funções na próxima temporada.

Logo nesse instante, começou a especulação sobre o surpreendente anúncio e a possibilidade da Toyota regressar à Fórmula 1. Com Hirakawa em Suzuka esteve Akio Toyoda – presidente da Toyota Motor Corporation – e vários outros responsáveis da Toyota. Um deles era Kazuki Nakajima, vice-presidente da Toyota Gazoo Racing Europe, que não quis “entrar em muitos pormenores” quando questionado sobre o tema

Os rumores de uma parceria entre McLaren e Toyota multiplicaram-se e ganharam mais força quando, também sem confirmação, foi noticiado a reavaliação do projeto de fornecedor de unidades motrizes de Fórmula 1 em parceria com a Sauber por parte da nova direção da Audi. A ideia é entrar oficialmente na Fórmula 1 em 2026, adquirindo até lá uma posição de maioria no capital da equipa suíça, transformando-a numa equipa de fábrica, sem depender de motores de outro fornecedor. O nome da Toyota surgiu entre toda a especulação como opção para substituir a Audi na parceria com a Sauber e avançar para um regresso à F1, mas antes foi sugerido que a Porsche tomaria o lugar da outra marca do grupo Volkswagen.

Isto foi negado por uma fonte da Audi, revelando que o projeto se mantinha, sendo reforçado o mesmo pelo lado da Sauber, através de Alessandro Alunni Bravi, que explicou que o acordo ainda em vigor com a Alfa Romeo não permitia uma comunicação mais forte sobre os avanços desta parceria

Ainda assim, e voltando à Toyota, no anúncio dos alinhamentos de pilotos dos programas dos nipónicos no Campeonato do Mundo da FIA de Ralis (WRC) e do WEC para a próxima temporada, foi confirmado o programa TGR WEC Challenge, que “visa desenvolver e produzir pilotos que possam competir no futuro no Campeonato do Mundo de Resistência da FIA (WEC)”. Assim, o piloto Ritomo Miyata, que competiu no Super Fórmula (SF) de 2023 e na classe Super GT500, vencendo ambos os campeonatos e tornando-se o mais jovem duplo campeão de sempre, com 24 anos, continua a fazer parte deste programa em 2024. Passara a ser piloto de reserva da equipa no WEC, mas competirá também no Campeonato FIA de Fórmula 2 e no European Le Mans Series.

Curiosas são as palavras de Kazuki Nakajima, que salientou estar satisfeito com as “oportunidades na F2 e no ELMS terem sido possíveis” a Miyata, agradecendo a “todos os envolvidos”. Explicou o vice-presidente da Toyota Gazoo Racing Europe que “em particular, a sua participação na F2 foi possível graças ao incentivo e apoio de Morizo [o nome utilizado pelo Presidente da Toyota Motor Corporation, Akio Toyoda, quando está sentado ao volante] à oportunidade de [Ryo] Hirakawa se tornar piloto de reserva da McLaren, juntamente com as conquistas de Miyata em 2023. Esta é uma grande oportunidade para Miyata ganhar experiência tanto nas fórmulas como na resistência e abrirá muitas possibilidades para além disso, dependendo do seu empenho”. 

Nakajima disse estar “muito contente com o que o programa vai fazer em 2024”, acrescentando que “temos de fazer com que este programa abra várias oportunidades”. O que quererá dizer com “várias oportunidades”?

Pelo que se percebe, ainda pela comunicação oficial dos nipónicos, o foco da Toyota para o desporto automóvel pode expandir-se. O mesmo responsável explicou melhor. “Quero criar um sistema que permita aos pilotos experientes darem feedback aos mais jovens, tal como o José [María López]”.

O piloto argentino, que até ao final desta temporada, competiu no WEC com o carro número 7 da Toyota, tendo como companheiros de equipa Mike Conway e Kamui Kobayashi, e será substituído por Nyck de Vries. Assim, José María López, que competiu no WEC com a Toyota Gazoo Racing desde 2017, mudará da classe Hypercar para competir na classe LMGT3 com a Team Akkodis ASP aos comandos do Lexus RC F GT3. Será responsável pelo desenvolvimento da equipa e do carro e apoiará os jovens pilotos e os Gentlemen Drivers.

A ideia de Nakajima, que deverá representar a visão da Toyota para o automobilismo, passa por “fazer deste programa uma colaboração entre várias bases para criar um ambiente onde, não só os pilotos japoneses, mas também muitos outros pilotos, possam desafiar-se a si próprios”. A Toyota pretende formar os seus jovens pilotos com a experiência dos mais velhos, podendo abrir toda um novo horizonte de possibilidades para os colocar a competir.

Depois de aguentar o WEC em alturas complicadas e manter o projeto no WRC, que passa por muitas dificuldades em atrair novas marcas para alargar o pelotão, não seria estranho que o grupo Toyota, que manteve em 2022 a liderança do mercado automóvel e é inquestionável a sua contribuição para o desporto, possa ter ambição de vir a competir noutras séries além daqueles dois onde está diretamente envolvido. Fórmula 1 pode ser apelativo, até pelo que tem vindo a atrair no mercado norte-americano, e também por abrir novas possibilidades com o regulamento das unidades motrizes para 2026.

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