Testes de Fórmula 1 no Bahrein: Red Bull promete época em grande

Por a 15 Março 2021 14:06

A F1 instalou-se no Bahrein para a primeira corrida do ano, mas antes cumpriu os testes de pré-época, este ano em versão ‘sprint’ de três dias. Ainda ficaram muitas questões por responder, mas tudo indica que a época tem tudo para ser em grande.

Se 2020 foi um ano atípico, 2021 começou também de forma ‘original’, com apenas três dias de testes, desta vez não em Barcelona, destino habitual para preparar a época, mas no Circuito Internacional do Bahrein.

Em teoria, as equipas teriam poucas novidades para testar, com os monolugares de 2021 a ser apenas pouco mais que evoluções das máquinas de 2020, mas na F1 já sabemos que o termo simplificar não existe e as equipas trouxeram muitas novidades. Além dos conceitos aerodinâmicos revistos devido aos novos regulamentos, praticamente todas as equipas receberam novas unidades motrizes, exceto a Alpine cujo motor Renault foi apenas alvo de melhorias pontuais, e a Pirelli introduziu este ano pneus com uma construção diferente (mais resistentes mas menos aderentes). Como se isto não chegasse, sete equipas apresentaram duplas de pilotos modificados, com as novas caras a ter apenas um dia e meio para se adaptarem à nova casa.

Areia complicou o primeiro dia

Se em Barcelona são as temperaturas baixas a complicar a vida aos engenheiros, esperava-se que no Bahrein as condições fossem mais representativas do que as equipas vão enfrentar ao longo do ano, mas o vento tratou de dificultar a tarefa às equipas, com o primeiro dia a ser marcado por uma tempestade de areia que tornou a pista menos aderente.

Max Verstappen e a Red Bull terminaram na frente da tabela de tempos, ao passo que a Mercedes teve um dia para esquecer, tendo perdido muito tempo de manhã, mais de três horas, com uma troca de caixa de velocidades, levando a que Valtteri Bottas ficasse a 6.176s da frente, enquanto Lewis Hamilton não conseguiu melhor do que ficar a mais de dois segundos da frente, em 10º.

Com o vento forte a ser também um fator determinante, pilotos tiveram algumas dificuldades em lidar com os novos monolugares, com menos downforce, tendo-se visto alguns piões, inclusive de Max Verstappen, o mais rápido em pista no fim do dia, e também o que mais rodou, 139 voltas. A McLaren, Alpine e Aston Martin tiveram bons arranques, ainda que em contextos diferentes. Os homens de Woking lideraram a sessão da manhã por intermédio de Daniel Ricciardo, enquanto Lando Norris colocou-se à tarde a 0.215s da frente, no segundo lugar. A Red Bull começou bem, a Mercedes mal, a Ferrari assim-assim com Carlos Sainz a mostrar-se pouco à vontade com a sua nova máquina e Charles Leclerc a ficar apeado no final da sessão da manhã com um problema mecânico. A Aston Martin com alguns problemas mecânicos teve um dia de altos e baixos e a Alpha Tauri mostrava uma plataforma prometedora.

Mercedes respondeu no segundo dia

No segundo dia a “normalidade” foi aparentemente reposta, mas não era um cenário convincente. A Mercedes terminou o dia no topo da tabela, mas voltou a ter problemas com Lewis Hamilton a ter dificuldade em domar o W12, com uma saída de pista que levou à interrupção da sessão da manhã ( o carro ficou preso na caixa de gravilha). Não foi uma boa manhã também para a Aston Martin, que esteve toda a sessão a tentar resolver os problemas na caixa de velocidade do monolugar depois de apenas seis voltas feitas por Sebastian Vettel ( um problema semelhante ao da Mercedes no dia anterior). A McLaren estava novamente na frente, com Ricciardo a mostrar-se confortável na sua nova máquina, mas a Mercedes recuperou o andamento durante a tarde e Bottas terminou o dia com o melhor tempo (feito com as borrachas mais macias). A Alpha Tauri manteve uma toada positiva ao longo de todo o dia, com um carro estável e tempos muito bons. A Alpine teve também uma manhã interessante com Fernando Alonso a fazer o seu regresso às pistas sem problemas e com um ritmo já digno de nota, mas com uma tarde mais discreta. Também discreto esteve Sérgio Pérez no primeiro dia de trabalho a sério com a sua nova equipa, sem grandes problemas a apontar. A Williams, com Nicholas Latifi ao volante durante o dia depois da sexta ter sido da responsabilidade de Roy Nissany, piloto de testes, mostrou que tinha evoluído bem e dava sinais de estar até à frente da Haas.

Red Bull terminou a sorrir

O terceiro dia ‘só deu’ Red Bull.. A equipa austríaca ficou à frente das duas sessões e Max Verstappen ficou com o melhor tempo dos testes. Durante a manhã, Sergio Pérez fez uma volta boa com o RB16B a mostrar-se muito estável (muito mais do que no primeiro dia). Houve “luta” pelo melhor tempo entre Pérez e Lando Norris, mas foi mesmo o mexicano a levar a melhor, com Pierre Gasly e Esteban Ocon a completar o top5. A Alfa Romeo foi das equipas que mais voltas fez, mostrando uma fiabilidade a toda a prova. Mas o melhor estava reservado para o fim. As equipas foram acumulando muitas voltas quer durante a manhã quer durante as duas primeiras horas da tarde, com exceção de Sebastian Vettel que voltou a ter problemas com o seu monolugar, terminando o dia mais cedo com complicações na unidade motriz, não tomando parte na hora mais excitante dos três dias.

Max Verstappen tratou de fazer o melhor tempo no início da terceira hora, tendo melhorado o registo pouco depois, enquanto Daniel Ricciardo assinava o segundo melhor tempo de seguida. Mas no final penúltima hora quem se destacava era Yuki Tsunoda no Alpha Tauri, que destronou Ricciardo do segundo lugar. Lewis Hamilton tinha o décimo tempo da sessão, à frente de Carlos Sainz que regressou às boxes com um problema hidráulico que foi resolvido com relativa rapidez.

A última hora foi mesmo “happy hour” com todas as equipas a tentarem voltas rápidas. Max Verstappen foi o primeiro a baixar significativamente o tempo, mesmo com uma tentativa algo atabalhoada com uma ligeira saída de pista, mas a surpresa veio da Alpha Tauri. Tsunoda começou a fazer voltas rápidas e chegou a liderar a tabela de tempos, sendo destronado por Verstappen. Carlos Sainz ganhou um lugar no top 3, seguido de Kimi Raikkonen e Lewis Hamilton que voltou a perder o controlo do seu monolugar no começo de uma volta rápida.

Max Verstappen ainda tentou baixar novamente o tempo, mas a tentativa não correu da melhor forma tendo sido abortada no final. Hamilton também teve uma nova tentativa que não deu o resultado desejado. Não vimos mais mudanças até ao fim da sessão assim Verstappen ficou com melhor tempo dos testes, com 1:28:960, melhor do que na FP1 do GP do Bahrein no ano passado.

Motores Honda mostraram potencial

Nunca foi produtivo tentar tirar conclusões do que vemos nos testes. Há que ter em conta as condições da pista, as cargas de combustível, os pneus usados, os modos de energia usados no motor… uma série de fatores que podem mascarar ou exagerar os tempos que vemos. Mas de uma forma geral podemos entender quem sai do teste mais satisfeito e quem tem trabalho de casa a fazer.

Red Bull e Alpha Tauri são equipas certamente felizes neste momento. A Red Bull terminou no topo da tabela de tempos num teste, algo que nunca aconteceu na era híbrida e a Alpha Tauri mostrou um monolugar bem equilibrado, fácil de usar e competitivo. Os dois carros com motor Honda deram nas vistas, tal como os quatro pilotos que os conduzem. Verstappen e Pérez tiveram um bom teste, tal como Pierre Gasly e Tsunoda surpreendeu na última hora com excelentes voltas. Com o que vimos no Bahrein a candidatura da Red Bull ao título está muito mais perto de ser oficializada, pois a distância para a Mercedes foi claramente diminuída. Mais ainda, a dupla da Red Bull pareceu encontrar depressa o pulso ao RB16B, mesmo Pérez que tem ainda de se adaptar à nova equipa. Do lado da Alpha Tauri vimos um Gasly em forma e um Tsunoda que parece ter tudo para ser a revelação do ano.

Bom trabalho da McLaren continua

Outra equipa que estará contente com o resultado dos testes é a McLaren. Três dias sólidos, com o programa cumprido sem problemas (a McLaren nunca gostou de fazer muitas voltas nos testes) e com tempos por volta interessantes. Ricciardo integrou-se bem na equipa e Norris mostrou que pode ser ainda mais rápido. A McLaren está na frente das inovações interessantes com um difusor pensado para contornar as regras, o que parece ter sido feito com sucesso, com as restantes equipas a prometerem copiar o conceito. A equipa evoluiu bem e não teve problemas de fiabilidade com a sua nova unidade motriz Mercedes, numa integração bem sucedida.

A Alpine teve um teste positivo mas algo discreto. Não surpreendeu com os tempos que conseguiu, mas os franceses deram muitas voltas e recolheram muitos dados para evoluir um carro cuja base vem de 2019. Alonso mostrou que está em forma e que a paragem não o afetou, tendo feito muitas voltas sem se ressentir fisicamente (ainda recupera de uma cirurgia no maxilar depois de um acidente de bicicleta). Esteban Ocon também se mostrou competitivo.

A Alfa Romeo mostrou apontamentos interessantes e foi a equipa que mais voltas fez juntamente com a Alpha Tauri. Os tempos não foram também nada maus e nota-se uma evolução, tal como na Williams que parece ter dado mais um passo podendo estar até melhor que a Haas que com um carro modesto e uma dupla inexperiente terá um ano duro pela frente.

Ferrari melhorou mas…

Com algumas dores de cabeça estarão a Mercedes, Aston Martin e Ferrari. A Ferrari será a “menos má” deste trio com um carro que parece estar melhor que a versão de 2020 (não era difícil), mas ainda há muito trabalho pela frente, especialmente para Carlos Sainz que parece estar pouco à vontade com a sua nova máquina. O espanhol admitiu que não se sente ainda “em casa” com o novo carro e teve alguns momentos que fizeram lembrar Vettel no ano passado. Uma coisa pareceu claro, a Ferrari seguiu o seu plano de forma irredutível e não se pareceu preocupada com os ecos das suas performances. Talvez um bom sinal dos homens de Maranello.

A Aston Martin perdeu praticamente um dia de testes e quem está pior é Sebastian Vettel que viu o seu carro ficar na boxe por duas vezes. Problemas no motor e na caixa tiraram muito tempo de pista ao alemão e mesmo Lance Stroll não parecia extremamente entusiasmado com o que viu, ao contrário do que aconteceu em 2020.A equipa foi a que menos voltas deu, a par da Mercedes, e apesar do monolugar parecer ter uma boa base, está ainda muito verde (e não falamos apenas da decoração), o que poderá custar pontos valiosos no arranque da época.

Mercedes perdeu o manto de invencibilidade

A Mercedes deixa-nos com muitas dúvidas. Não queremos dizer que perderam toda a vantagem que tinham e que não vão lutar pelo título, tal não faria sentido. Apesar de alguns percalços técnicos conseguiram um número aceitável de voltas, mas pela primeira vez na era híbrida foram os que menos voltas fizeram no cômputo geral. O ritmo pode não ser ainda o melhor, mas a Mercedes nunca mostrou muito andamento nos testes. O que “preocupa” são os vários piões de Hamilton, a traseira algo instável do W12 e uma sensação de que a época não vai começar sobre rodas para a equipa, que tem pouco tempo para corrigir os erros. O que nos parece evidente é que a Mercedes estará mais à mercê da Red Bull no arranque da época e com menos tempo de testes e menos orçamento para evolução, será certamente uma época muito dura.

Outra tendência que parece ganhar força é que as diferenças entre as equipas são tão reduzidas este ano que não se deverá falar de um primeiro e segundo pelotão. As contas feitas por alto aos tempos mostram que não há uma diferença significativa entre as equipas que ocuparam o topo em 2020 e as restantes e deveremos ter uma grelha mais uniforme e … mais competitiva.

Os melhores e os piores

Red Bull, Alpha Tauri e McLaren saem claramente com nota positiva deste teste. A McLaren e a Red Bull nem foram as equipas que mais rodaram mas pareceram cumprir todos os objetivos delineados, com bons tempos e, tal como a Alpha Tauri, com carros que parecem dar garantias de serem boas ferramentas para os pilotos.

Ferrari, Alpine, Alfa Romeo, Williams saem com nota positiva também mas de forma menos clara. As equipas foram colocadas nesta ordem pois parece-nos ser esta a distribuição de forças para já, com a Ferrari a aproximar-se bem mais do topo, mas ainda com trabalho e a Alpine no mesmo registo da Renault no ano passado. Bons sinais para a Williams que parece ter dado um passo interessante que poderá permitir a saída da cauda do pelotão.

Com nota negativa ficaram a Mercedes, Aston Martin e a Haas. Bottas admitiu que este foi o teste mais difícil que fez desde que está na equipa e não vimos os Flechas de Prata a imporem o seu domínio de forma paulatina como era hábito. As dificuldades são reais e apesar de serem ainda favoritos, deixaram de ser “tão” favoritos e isso é negativo para eles. A Aston Martin perdeu muito tempo nas boxes com uma fiabilidade abaixo do desejado (sempre por culpa dos componentes Mercedes) e apesar do monolugar parecer promissor os tempos não foram os melhores. Por fim a Haas, com uma dupla muito jovem e um monolugar que não parece permitir sonhar com grandes voos, não pode sair deste teste com razões para otimismos.

Os números dos testes do Bahrein

Este ano os testes de Fórmula 1, reduzem-se a três dias, e longe do local habitual, Barcelona. A pista escolhida foi o Bahrein, a mesma que acolhe a primeira prova da temporada. Nos três dias de testes, nem uma tempestade de areia faltou.

A Fórmula 1 mudou-se de armas e bagagens para o Bahrein, mas os testes de pré-época foram em boa parte influenciados pelas condições locais. No primeiro dia esteve muito vento, afectando a aerodinâmica nos carros. Como resultado do vento, houve também muita areia na pista que logicamente comprometia a aderência. As temperaturas foram também particularmente elevadas fatores que levaram a algum sobreaquecimento e aumento da degradação dos pneus. Nos dois restantes dias, as condições foram melhores e com isso as equipas puderam trabalhar melhor nos seus carros. Eis os números resultantes dos primeiros três de do ano na F1.

Número de voltas por piloto

Pierre Gasly foi o piloto que mais rodou, mas no caso dos pilotos o número de volta, para lá de significar fiabilidade, tem também muito a ver com os programas que cada um cumpre em benefício da equipa. Esta tabela mostra também os mais azarados em termos de fiabilidade e nesse ponto, Sebastian Vettel bateu todos, já que Roy Nissany é apenas piloto de reserva da Williams, tendo cumprido um programa específico.

VOLTAS POR PILOTO

PILOTO CARRO

Pierre Gasly AlphaTauri-Honda AT02 237

Kimi Raikkonen Alfa Romeo Racing-Ferrari C41 229

Nikita Mazepin Haas/Ferrari VF21 213

Charles Leclerc Ferrari SF21 212

Fernando Alonso Alpine/Renault A521 206

Max Verstappen Red Bull Racing-Honda RB16B 203

Lance Stroll Aston Martin/Mercedes AMR21 197

Antonio Giovinazzi Alfa Romeo Racing-Ferrari C41 193

Carlos Sainz Jr. Ferrari SF21 192

Esteban Ocon Alpine/Renault A521 190

Yuki Tsunoda AlphaTauri-Honda AT02 185

Mick Schumacher Haas/Ferrari VF21 181

Daniel Ricciardo McLaren-Mercedes MCL35M 173

Sergio Perez Red Bull Racing-Honda RB16B 166

George Russell Williams-Mercedes FW43B 158

Lando Norris McLaren-Mercedes MCL35M 154

Lewis Hamilton Mercedes F1 W12 EQ Power+ 154

Valtteri Bottas Mercedes F1 W12 EQ Power+ 150

Nicholas Latifi Williams-Mercedes FW43B 132

Sebastian Vettel Aston Martin/Mercedes AMR21 117

Roy Nissany Williams-Mercedes FW43B 83

O número de voltas de cada equipa

A perceção é essa e os números não enganam: a Mercedes foi mesmo a equipa que menos rodou nos três dias de testes no Bahrein, devido aos problemas com a caixa de velocidade do W12 de Lewis Hamilton logo no primeiro dia, mas não só. Não é dramático, porque o carro transita do ano passado, pelo que vai demorar menos a resolver as questões que ainda não estejam resolvidas, mas este é um dado nada habitual na equipa de Brackley. Acontece aos melhores.

Curiosamente, também a Aston Martin sofreu do mesmo problema, uma avaria na caixa de velocidades da Mercedes, e com isso só conseguiu rodar mais 10 voltas que a sua ‘fornecedora’.

No pólo oposto, a Alfa Romeo e a Alpha Tauri, cujos monolugares foram, de longe os que maior presença tiveram em pista, mostrando uma boa fiabilidade, e no caso da AlphaTauri, também rapidez. A Ferrari também não esteve nada mal, sendo a terceira equipa que mais rodou.

Eis a tabela.

EQUIPA/CARRO

Alfa Romeo Racing-Ferrari C41 422

AlphaTauri-Honda AT02 422

Ferrari SF21 404

Alpine/Renault A521 396

Haas/Ferrari VF21 394

Williams-Mercedes FW43B 373

Red Bull Racing-Honda RB16B 369

McLaren-Mercedes MCL35M 327

Aston Martin/Mercedes AMR21 314

Mercedes F1 W12 EQ Power+ 304

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