Quando a Fórmula 1 quase se partiu… em duas

Por a 16 Março 2023 10:20

Guerra FIA/FOTA quase resultou no fim da Fórmula 1. Já lá vai bem mais de uma década desde o tempo que que a FIA e a FOTA se envolveram numa enorme guerra, devido à vontade da FIA impor novos regulamentos, que quase resultou numa ‘nova’ F1. O campeonato rebelde acabou por não acontecer, já que Max Mosley atirou a toalha ao chão. Estávamos em 2009…

A história da Fórmula 1 teve imensos episódios de querelas entre os seus ‘eixos’ de poder, a FIA, Bernie Ecclestone, e em 2009, a FOTA, que com a maioria das equipas do seu lado, quase fez com que a Fórmula 1 como a conhecemos acabasse, para se construir ao lado outra, com as principais equipas, Ferrari incluída.

A perspetiva de um campeonato rebelde na F1 chegou a ser muito real, já que a maioria das equipas, representadas pela FOTA, fartas da postura arrogante de Max Mosley, cansadas de encher os bolsos de Bernie Ecclestone e e decididas a fazer valer a sua força pensaram na possibilidade de um novo campeonato, ‘chamando’ a si o Ás de trunfo desta ‘guerra’, a Ferrari.

Não foi a primeira vez que se falou dum campeonato paralelo à F1.

Em 1981 a FOCA (Formula One Constructors Association, a FOTA só nasceu em 2008) tentou levar a sua avante e chegou mesmo a organizar um Grande Prémio na África do Sul, ganho por Carlos Reutemann, mas sem a Ferrari, Renault e Alfa Romeo do seu lado, acabou por ter de chegar a um acordo com Balestre e com a FISA, no que foi a base para o primeiro Pacto da Concórdia.

Em 2002, quando a GPMA (Grand Prix Manufacturers Association) se formou, também se aflorou a possibilidade dos construtores deixarem o campeonato da FIA e organizarem a sua própria competição. Mas a falta das equipas independentes dificultou o projeto antes da deserção da Ferrari, paga a preço de ouro por Ecclestone e Mosley – com 100 milhões de euros por ano e direito de veto para alterações ao regulamento técnico – fazer a organização projeto soçobrar.

Naquela vez, no entanto, a FOTA manteve-se unida, apesar da ‘traição’ da Williams – ligada à FIA por outros contratos e em sérias dificuldades financeiras – e com nove equipas determinadas em fazer valer os seus argumentos, o campeonato rebelde tinha uma boa base para se lançar.

Por isso, e face ao finca-pé de Mosley num teto orçamental que levaria cerca de três mil pessoas para o desemprego, a FOTA planificou um campeonato para as nove equipas e mais três que se lhes quisessem juntar, deixando à Williams a possibilidade de também se juntar.

Também importante era o facto do Príncipe Alberto ter garantido que o GP do Mónaco ia para onde fosse a Ferrari. Quanto à F1, a ausência da Scuderia do campeonato da FIA era razão suficiente para poder abandonar o contrato com Bernie Ecclestone!

Com a Ferrari e o GP do Mónaco do seu lado, a FOTA estava em posição de força.

PREÇOS MAIS ACEITÁVEIS

Na altura, os Grande Prémios europeus tradicionais – Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha, Bélgica e Itália – Ecclestone e a FOM cobravam entre 12 e 15 milhões de euros por ano, mas Valência, por exemplo, pagava 23 milhões, Donington, 22 milhões. Mas era fora da Europa que Ecclestone exagera. A China tinha que pagar 44 milhões de euros à FOM, 47 em 2010, Singapura, 58 milhões de euros e os organizadores árabes também desembolsavam mais de 35 milhões de euros cada, por ano.

Por isso, não era de estranhar que todas as organizações perdessem muito dinheiro. Spa perdeu quatro milhões de euros em 2008, na Austrália, o governo local de Victoria perdeu 25 milhões de euros nesse ano, 2009.

MENOS LUCROS, MELHOR DIVISÃO

Se com Mosley a questão era política e de controlo dos regulamentos, com Ecclestone os problemas da FOTA resumiam-se a uma questão: dinheiro. Pelas contas publicadas relativas a 2008, sabia-se que a FOM tinha tido receitas de um pouco mais de mil milhões de euros, para custos operacionais de 285 milhões, o que quer dizer que os lucros líquidos foram na ordem dos 715 milhões de euros!

Destes, 300 milhões foram divididos pelas dez equipas enquanto a FOM, de Ecclestone, ficou com 415 milhões! Era essa distribuição que a FOTA queria acabar, pois ficou a perceber que podia montar a sua própria estrutura por um preço mais em conta que o de Ecclestone e desfazer-se do inglês, dividindo o lucro total por dez ou doze equipas, garantindo muito mais do que os 30 milhões de euros que cada uma.

WILLIAMS ERA ÚNICO TRUNFO DE MOSLEY

Olhando para as coisas do ponto de vista da FIA e de Max Mosley, a Williams era a única equipa que se iria inscrever no Mundial da FIA. Po isso, Mosley tinha 12 vagas para novas equipas. A USF1 tinha pernas para andar, a Lola, não tinha equipa, mas tinha meios para a construir.

A Williams estava refém dos acordos com a FIA, à Prodrive faltava-lhe um investidor, enquanto a Epslion Euskadi, nem meios tinha para competir em Le Mans, tornando pouco provável consegui-los para a F1. A iSport não tinha nem investidores nem meios para projetar e construir carros enquanto a Litespeed não podia sequer ser levada a sério, pois quem andava em último da Classe B do campeonato Britânico de F3 não podia, em seis meses, transformar-se em construtor de F1.

Era claro para todos que em caso de cisão, o campeonato da FIA dificilmente iria avante, por falta de concorrentes, pois com cinco ou seis equipas não se organizava um Mundial de F1.

TELEVISÕES DECISIVAS

A opção das principais cadeias televisivas era fundamental para a FOTA poder colocar de pé o seu próprio campeonato se a FIA não alterasse a sua posição e com as principais e equipas e pilotos mais populares do lado da FOTA, a decisão do Mónaco seguir a Ferrari inclinou claramente os pratos da balança para o novo campeonato que se perspetivava.

PORQUE TUDO CHEGOU A ESTE PONTO?

Aproveitando o Conselho Mundial Extraordinário, a FIA antecipou a publicação das regras para o Campeonato do Mundo de F1 de 2010, incluindo a fatídica ideia de Mosley de dividir as equipas em duas categorias: as que aceitasse uma limitação de orçamento de 40 milhões de libras (contra os 30 inicialmente avançados) e as que quisesse continuar a trabalhar com o dinheiro que conseguissem angariar.

Fora dessa limitação ficavam os salários dos pilotos, despesas com marketing, multas, custo dos motores, dividendos e todas as despesas que não fossem direcionadas para a melhoria das prestações.

Às equipas que aceitassem o teto orçamental seriam dadas amplas liberdades no capitulo técnico, enquanto as restantes teriam de submeter-se às restrições. E se a generalidade das equipas não se opunha a uma limitação de orçamento – mas nunca tão baixa como a que a FIA queria impor, até porque isso implicaria o despedimento em massa de milhares de funcionários – o que ninguém aceitava era uma F1 a duas velocidades, até porque a FIA fez saber de imediato que poderia mudar sempre os parâmetros se existirem discrepâncias de andamento entre as duas categorias que queria fazer correr juntas. E dada a postura da FIA face aos construtores, era evidente que só quando as suas aliadas estivessem na frente das equipas oficiais é que Mosley iria deixar os regulamentos estáveis.

Luca di Montezemolo fez chegar a Mosley uma carta na qual a Scuderia exprimia a sua oposição a uma F1 a duas velocidades. Carta que alguém fez chegar aos jornais, seguida duma reação de Mosley na qual o inglês dizia de forma clara que se a Ferrari quisesse abandonar a categoria não se oporia, convencido de que o Mundial sobreviverá sem a Scuderia. Uma loucura! Poderia a F1 sobreviver sem a Ferrari?

FERRARI LIDEROU REVOLTA

A reunião entre a FIA e a FOTA ficou longe de resolver os conflitos entre as duas partes. A postura inflexível por parte do presidente da Federação, que manteve intocado o teto orçamental de 40 milhões de libras – cerca de 44 milhões de euros – esbarrou na insistência das equipas, que clamavam em uníssono que não era um valor realista, pelo que as partes saíram da reunião ainda mais afastadas.

Na altura, uma equipa como a Force India tinha 270 pessoas ao seu serviço com uma folha de salários que atingia 16 milhões de euros, para se perceber que toda a gente teria de efetuar despedimentos em massa para ficar dentro do limite que a FIA queria impor.

Por alto, todas as equipas teriam de afastar entre 100 e 350 elementos de imediato, estimando-se que três mil pessoas perdessem emprego, num campo altamente especializado e onde as alternativas eram escassas.

Logo durante a reunião a Ferrari informou a FIA que tinha iniciado uma ação judicial contra a FIA num tribunal francês, por esta não ter respeitado, na feitura dos novos regulamentos, acordos firmados com a marca de Maranello.

No famigerado acordo entre as duas partes, assinado em Janeiro de 2005 e que matou a GPMA, a FIA terá garantido à Ferrari o direito de veto sobre alterações aos regulamentos, tendo em 2009 passado por cima desse direito, para impor as novas regras.

Max Mosley lançou diversos ataques à Ferrari: “a Ferrari terá de aprender a lutar com os mesmos meios das outras equipas, pois não é justo que gaste três vezes mais do que os outros para ganhar corridas.” O presidente da FIA disse também que, “se eles acham que não conseguem competir em pé de igualdade podem ir-se embora. Será triste se ficarmos sem a Ferrari, mas não podemos ficar reféns da Ferrari, porque se acharmos que a F1 não sobrevive sem ela, então será a Ferrari a fazer os regulamentos. Quando eles refletirem bem tenho a certeza que aceitarão as novas regras e teremos a Ferrari e a maior parte das outras equipas atuais no Mundial de 2010.”

Se Max Mosley se desfez em comentários, a FOTA não reagiu. As equipas estavam unidas e da sua reunião ficou decidido que tinham de começar a preparar um campeonato paralelo no caso de Mosley se mantivesse inflexível.

ACORDO FORÇADO

Nesta altura começou a perceber-se que o braço-de-ferro entre a FIA e a FOTA teria mesmo que terminar, com ambas as partes a terem de fazer cedências no processo negocial. As duas partes chegaram a um ponto que estavam condenadas a entenderem-se, depois de ter ficado claro que as equipas tinham meios para organizar o seu próprio campeonato em 2010, mas que a FIA e Ecclestone iriam fazer de tudo para lhes colocar entraves legais.

Por fim, nove equipas da FOTA aceitaram inscrever-se no Mundial de F1 no prazo ditado pela FIA, mas essa inscrição em bloco soou mais a ultimato do que a paz.

Se à primeira vista esta inscrição em bloco poderia parecer uma vitória inequívoca para Max Mosley e a sua postura de não compromisso, o que aconteceu na realidade foi que a FOTA encontrou uma maneira de se manter unida.

Com a inscrição no Mundial, a FOTA quis forçar a FIA a decidir se queria manter as coisas como elas estavam ou obrigar as nove equipas associadas a abandonarem os Grande Prémios e a criarem o seu próprio campeonato para competir em 2010.

VENCEU A LINHA DURA

Com a Mercedes e as três equipas que lhe estavam associadas – McLaren, Brawn e Force India – a defenderem uma linha de compromisso no seio da FOTA, acabou por prevalecer a linha dura, que tinha na Ferrari, Toyota e Renault os seus rostos mais visíveis. Montezemolo, Howett e Briatore tinham sido abertamente críticos acerca da forma como a FIA gere a F1 e o inglês foi dos mais ativos nos contactos com promotores, circuitos e televisões para encontrar alternativas para um novo campeonato.

A a bola passou para o lado da FIA, que teve mais dez dias para reagir a este ultimato feito pela FOTA, dependendo de Mosley aceitar um compromisso para salvar a F1 ou forçar uma cisão ao mais alto nível, que levaria ao fim do Mundial a curto ou médio prazo e à criação de um campeonato alternativo que poderia levar tempo a tornar-se apelativo para os espetadores, o que seria mau para todas as partes.

BRABHAM, LOTUS E MARCH ENTRE AS CANDIDATAS

Na tentativa de lutar contra um campeonato FOTA com nomes prestigiosos como Ferrari, McLaren, Renault, Toyota ou BMW, a FIA encorajou algumas das potenciais candidatas ao seu Mundial a comprarem nomes de antigas equipas de prestígio. A Litespeed anunciou ter o acordo de David Hunt para usar o nome Team Lotus, a Formtech inscreveu-se com a denominação Brabham – o que levou a família australiana a iniciar procedimentos legais para evitar a utilização do seu nome – e a March, que só existia no papel, também estava entre as inscritas.

Mas eram apenas nomes, sem qualquer ligação ao passado daquelas equipas, sem instalações, tecnologia, pessoal qualificado e, acima de tudo, fundos para poder competir num Mundial.

Também a N Technologies, historicamente ligada aos turismos, fez a sua inscrição, o mesmo acontecendo com a Superfund, mas aproveitando a possibilidade de se inscrever online, grupos de adeptos, empresas de televisão e outras, também mandaram os seus formulários para a FIA, pois não era necessário pagar nada e ao menos sempre garantiram um pouco de publicidade grátis e algum divertimento.

MOSLEY: DIVIDIR PARA REINAR

Em silêncio desde o fecho das inscrições, Max Mosley esticava a corda. Dando como certo que as inscrições da Williams e Force India, bem como a do Team US F1, seriam aceites, não faltava quem acreditasse que a FIA iria incluir a Ferrari no lote das equipas inscritas, com base no acordo entre a Scuderia e a Federação, que Mosley defendia ser válido até 2012 e que Montezemolo já tinha denunciado publicamente.

Desta forma a FIA tentaria retirar à FOTA o seu principal trunfo, a Ferrari, mesmo se isso lhe custar uma longa batalha judicial.

Mas também era possível que a FIA aceitasse as inscrições da Brawn, Toro Rosso e Red Bull, deixando de fora apenas as equipas ligadas aos construtores, na tentativa de atrair os independentes para o seu campeonato.

A solidez da FOTA seria fortemente posta em causa, mas Ross Brawn deixou bem claro que não tinha ideias de abandonar a FOTA.

Forçada pelas dívidas que tinha para com Bernie Ecclestone, a Force India fez a sua inscrição no Mundial da FIA de 2010, sem as pré-condições da FOTA, uma semana depois de ter assinado o mesmo documento que as outras oito equipas.

A pressão de Ecclestone foi suficiente para vergar Vijay Mallya, o que levou à suspensão da equipa de Silverstone fosse suspensa pela FOTA.

GUERRA ABERTA CONTRA MOSLEY

Nesta altura, a fase do politicamente correto tinha chegado ao fim para a FOTA. Depois de meses em que manteve uma postura serena e construtiva, a associação de equipas de F1 mudou de estratégia e declarou publicamente guerra ao líder da FIA, à forma como este geria a F1, ao modo como as regras tinham sido sucessivamente alteradas e também à gestão comercial da categoria.

Pouco depois da FIA ter anunciado a lista de inscritos para o Mundial de 2010 a FOTA publicou um comunicado bastante agressivo, no qual se insurgia contra, “o anúncio erróneo feito pela FIA, antes de garantir que todos os nossos membros submeteram inscrições condicionais para o Mundial da FIA de 2010 e essas condições ainda não foram satisfeitas.”

Foi num ápice que Luca di Montezemolo ‘pediu a cabeça’ de Mosley, ao declarar que, “temos de ter uma liderança clara, pois não é aceitável que se mudem os regulamentos a cada seis meses, como tem acontecido nos últimos anos!”

Estava claro que a FOTA tinha entre mãos uma alternativa credível. Tinham motores, caixas, nomes famosos, tecnologia, organização e capacidade para investir, portanto não era muito difícil arrancar com um novo campeonato.

Houve também uma decisiva boa resposta das televisões que foram contactadas para difundir as corridas do campeonato alternativo, e a nível de circuitos já existiam muitas certezas do lado da FOTA.

Portanto, ficou nas mãos de Mosley a decisão final acerca dos inscritos no seu Mundial. Se esta questão não ficasse decidida a contento dos seus oito membros, a FOTA iria ultimar o calendário e o pacote comercial para o seu campeonato, devendo anunciá-lo o mais tardar no final de julho.

EQUIPAS UNIDAS

A colocação da Ferrari, Red Bull e Toro Rosso na lista das equipas inscritas incondicionalmente no Mundial da FIA de 2010 não conseguiu quebrar a união no seio da FOTA. Tanto a Ferrari como os comandados de Mateschitz, Red Bull e a Toro Rosso, reiteraram que se tinham inscrito condicionalmente no Mundial de 2010, e que se mantinham com a FOTA nesta luta contra a FIA.

Portanto, falhou nova tentativa de dividir a FOTA, não parando de espantar a capacidade das equipas se manterem unidas depois de décadas em que nunca foram capazes de falar a uma só voz.

A corda continuou a esticar, permaneceu a intransigência de Max Mosley, que se recusou até ao fim a aceitar as condições das equipas para se inscreverem no Mundial de Fórmula 1 de 2010, e a FOTA não esperou sequer pelo último dia do prazo dado pela FIA para resolver o impasse e anunciou a organização dum novo Campeonato a partir de 2010.

MOSLEY FIRME

Face a esta decisão da FOTA, a reação da FIA foi a habitual e previsível: Mosley seguiu o rumo que já tinha traçado, sem se importar com o que estava a acontecer à sua volta e ignorando a realidade. Numa entrevista à BBC, Mosley garantiu que, “a FOTA não vai poder organizar um campeonato. Isso é só uma fantasia, eles sabem que é uma fantasia e quando chegarmos a Melbourne em Março de 2010 as equipas vão estar quase todas lá. Dois ou três construtores poderão abandonar a Fórmula 1, por falta de meios para competir, mas as equipas tradicionais vão estar todas lá.”

Mas sem equipas suficientes para apresentar uma lista de inscritos a FIA renunciou a publicá-la no dia 19, como tinha garantido ir acontecer, deixando por definir a data em que vai iria dar a conhecer as 13 equipas do seu campeonato.

Com o processo interposto pela Ferrari contra a FIA no Tribunal de Grande Instância de Paris a seguir os seus trâmites normais, depois de ter sido negado o procedimento de urgência requerida pela Scuderia, a FIA também anunciou que tinha instaurado processos em Londres contra as oito equipas que integravam a FOTA, ao mesmo tempo que terá iniciado procedimentos legais contra a Ferrari noutras instâncias.

A RENDIÇÃO DE MOSLEY

Finalmente, e porque alguém tinha que ceder, as propostas da FOTA vingaram e foram aprovadas pelo Conselho Mundial da FIA, depois de duas reuniões prévias entre Mosley, Ecclestone e Montezemolo terem sido suficientes para o presidente da FIA perceber que sem as equipas não tinha meios para manter o campeonato e que o seu aliado de sempre – Ecclestone – também estava a caminho do deixar isolado.

O famoso limite de orçamento que Max Mosley queria impor à força foi completamente abandonado, passando a valer a ideia das equipas acordarem com a FIA um pacote de medidas técnicas que limitassem seriamente os custos, para se chegar, eventualmente, a níveis semelhantes aos que eram gastos nos anos 90.

Mas o que ninguém disse foi se o objetivo era gastar o que se gastava em 1990 – pouco mais de 40 milhões de dólares para as equipas da frente – ou em 1999 – mais de 200 milhões de dólares no caso da Ferrari! Como se via, ficou por definir o que seria um valor aceitável para todos. Ficou ainda definido que para 2010 valeriam as regras técnicas de 2009.

Como se percebe, uma derrota total para Mosley, que teve de abandonar todas as ideias que defendia intransigentemente há meses, e uma vitória total para a FOTA, que ainda assim, ainda teve que tratar com o inglês durante mais três meses, o tempo que faltava para novas eleições.

Feito o acordo com a FIA, mesmo se Mosley o veio colocar em causa dois dias depois, numa reação que foi recebida com o total silêncio da FOTA e de Ecclestone, foi a vez do patrão da FOM se haver com as exigências das equipas. As equipas, para além de exigirem de forma imediata o pagamento dos valores que estavam em atraso, quiseram regressar a Montreal e Indianapolis em 2010, independentemente dos valores que os respetivos promotores pagassem a Ecclestone.

Terminou assim um enorme braço de ferro, que podia ter acabado muito mal. Ninguém sabe o que dali poderia ter saído caso Max Mosley se tivesse mantido intransigente.

Este é mais uma exemplo de que é muito difícil conciliar os interesses de todas as partes na F1, mas pelos menos desta feita, houve um personagem que tudo tornou mais fácil, Max Mosley. É que a sua instransigência, ao invés de desunir a FOTA, fez precisamente o contrário.

Dez anos depois, os problemas da F1 são distintos, mas continuam a existir, já que se está a preparar também muito do que Mosley queria, um teto orçamental.

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