Qualificação Sprint: O primeiro balanço

Por a 19 Setembro 2021 09:17

Com dois fins-de-semana de Qualificação Sprint realizados, é tempo de fazer um primeiro balanço sobre o novo formato introduzido pela FOM e verificar quais as suas virtudes e defeitos.

Ross Brawn e os seus homens queriam experimentar realizar uma corrida mais curta no dia de sábado para animar os fins-de-semana de Grande Prémio e, também, criar factores de incerteza para a corrida de domingo, que continuaria a ser o ponto alto do evento.

Uma das primeiras ideias apontava para uma grelha de partida invertida para essa prova de sábado, o que chegou a ser preconizada por Bernie Ecclestone, opção que foi afastada por força de algumas equipas, que consideraram que este subterfúgio desvalorizava a competição.

A FOM surgiu então com a solução que temos hoje, em que a qualificação se disputa na sexta-feira, formando a grelha de partida para a Qualificação Sprint, realizada no sábado, criando esta a ordem de saída para o Grande Prémio, que se mantém ao domingo.

Este formato tem ainda algumas subtilezas ao nível do regime de parque fechado, que começa com a qualificação de sexta-feira e a utilização de pneus, que tem como obrigatoriedade usar os mais macios na sessão que define a grelha de partida da Qualificação Sprint, sendo livre para o resto do fim-de-semana.

As experiências

O primeiro evento com este formato foi o Grande Prémio da Grã-Bretanha, tendo havido uma aceitação positiva da Qualificação Sprint. No entanto, se olharmos mais de perto para o que se passou naquele sábado à tarde, percebe-se que a relativa emotividade que se assistiu foi mais circunstancial que fruto da experiência.

A prova viveu essencialmente da primeira volta, em que Lewis Hamilton e Max Verstappen lutaram pela liderança, do arranque de Fernando Alonso – que subiu de décimo primeiro a quinto, colocando-o fora de posição e sob pressão dos McLaren – e do toque de Carlos Sainz com George Russell, que atirou o espanhol para penúltimo, obrigando-o a recuperar.

Na verdade, no resto da prova a pouco se assistiu que mais que um desfile a alta velocidade dos carros mais rápidos do mundo.

Em Monza, o palco da segunda experiência, a situação agravou-se…

Não houve grandes alterações no arranque e a natureza do circuito, que exige muito pouco apoio aerodinâmico, torna o DRS pouco poderoso, o que cria grandes dificuldades nas ultrapassagens.

Ao longo das dezoito voltas da Qualificação Sprint, assistiu-se à ultrapassagem de Fernando Alonso a Sebastian Vettel e à de Sérgio Pérez a Lance Stroll… Muito pouco.

Os defeitos e as virtudes

Uma das questões que leva a pouca ação na prova de sábado à tarde – a que a FOM não quer que se chame corrida – é o risco envolvido. Um acidente de maiores dimensões pode colocar em risco o Grande Prémio e no mínimo custar lugares na grelha de partida dominical, logo os pilotos não estão tão disponíveis para luta roda com roda como na corrida de domingo.

Para além disso, a curta distância percorrida ao longo da Qualificação Sprint não cria grandes problemas aos pneus da Pirelli, seja qual for a mistura. Como se viu em Silverstone e em Monza, os pneus macios aguentaram, mesmo a rodar no limite, dado, a juntar aos poucos quilómetros, há também o facto de os carros estarem mais leves, por carregarem menos gasolina.

Sem grande diferença de andamento catalisada pelos pneumáticos, as ultrapassagens são mais raras.

A receita nunca pareceu muito entusiasmante e a prática acabou por o confirmar.

No entanto, existe alguns pontos de interesse neste formato…

Dá um novo significado ao dia de sexta-feira. Normalmente, o primeiro dia de um Grande Prémio é apenas uma sessão de testes com as bancadas abertas, sem grande interesse competitivo. Com a qualificação, existe na jornada de abertura do evento algo para ganhar, ou perder, para os pilotos, beneficiando com isso os adeptos e a Fórmula 1.

Um aspeto positivo é, também, as regras de parque fechado entrarem em vigor no momento em que os carros saem pela primeira vez para a pista durante a qualificação, apenas com uma sessão de treinos-livres realizada.

Com uma hora para afinarem os seus carros, as equipas têm mais dificuldades em os colocar na janela ótima de funcionamento, assim como aos pneus, e isso acaba por criar algumas quebras ou subidas de forma inesperadas. Para além disso, exige que os pilotos se adaptem mais rapidamente e possam estar no seu melhor apenas com uma hora de pista e isso, em si, acaba por fazer a diferença entre eles.

Posto isso, e apesar de alguns aspetos positivos, o novo formato não está a trazer a emoção que esperava, e no fundo, a excitação das tardes de sábado, com os eventos de Qualificação Sprint, passou para sexta-feira, com a qualificação pura.

No entanto, existe mais uma prova com este formato, o Grande Prémio do Brasil, e ver-se-á se existirá um volte de face, mas Interlagos sempre deu boas corridas.

A FOM não deixa cair a ideia

Se Silverstone já deixava suspeitar uma experiência que não era tão bem-sucedida como esperado, Monza confirmou e rapidamente começaram a surgir ideias para animar as corridas sprint, que foram introduzidas para animar o fim-de-semana.

Ross Brawn não quer deixar cair a ideia e em cima da mesa está um conjunto de medidas para revitalizar o formato em 2022.

A proposta passa tornar as corridas sprint num fim em si mesmo, deixando de formar a grelha de partida do Grande Prémio, distribuindo mais pontos para os campeonatos do mundo, de modo que os pilotos se sintam mais motivados a arriscar e a tentar realizar ultrapassagens.

Mas a FOM poderá ir ainda mais longe e realizar uma grelha de partida invertida para este exercício de sábado.

Esta era um subterfúgio que não agradava a grande parte das equipas e à generalidade dos adeptos, mas que poderá agora ter um defensor de peso – a Ferrari já mostrou abertura para que se avançasse com a ideia.

Estas são possibilidades que serão debatidas pela FOM, FIA e equipas após o Grande Prémio do Brasil, que será o palco da última experiência com o formato Qualificação Sprint, esperando-se que não se vá demasiado longe, dado que isso poderá desvirtuar a imagem da Fórmula 1, que sempre foi sinónimo de excelência e de justiça desportiva…

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