O impacto na Fórmula 1 da guerra Rússia/Ucrânia

Por a 23 Fevereiro 2022 15:52

A tensão que se vive na Ucrânia está já a ter um impacto na economia global, com o efeito mais visível a ser a subida da energia e do petróleo, e a Fórmula 1 não está imune ao que está a acontecer no leste europeu, podendo sofrer impactos fortes com a invasão russa.

Hoje em dia vivemos na famosa aldeia global em que tudo está interligado, o que leva a que um acontecimento num dado local transmita ondas de choque que são sentidas de uma forma generalizada.

A Fórmula 1, muito embora muitas vezes pareça um microcosmo estanque, não está imune ao que se passa no mundo e a tensão que se vive presentemente na Ucrânia terá um impacto notado na categoria máxima.

Um dos impactos mais evidentes é a possibilidade do Grande Prémio da Rússia não se realizar este ano.

A prova e Sochi está prevista para 25 de Setembro, o que dá alguma margem e manobra à FOM, podendo analisar calmamente a forma como a situação na Ucrânia evolui, mas existe já pressão da parte de alguns governos para que a final da Liga dos Campeões, marcada para São Petersburgo em Maio, seja mudada para outra cidade.

Se a tensão entre a Rússia e a Ucrânia prosseguir, será seguro que a pressão para que a prova de Sochi seja cancelada ou mudada para outro local deverá crescer, o que deverá obrigar a FOM a tomar uma decisão que não contrarie a comunidade internacional.

Se a Fórmula 1 como um todo pode ser afetada pela situação, também as equipas individualmente podem sofrer o impacto da situação que se vive devido às sanções que a Comunidade Europeia, Reino Unido, Estados Unidos a América, Japão e Austrália aplicaram à Rússia.

Estas passam por o corte de relações com alguns bancos russos, a proibição da emissão e dívida soberana da Federação Russa nos mercados internacionais e o congelamento dos bens de alguns milionários próximos do Kremlin.

Para já, não existe um impacto direto em nenhum dos russos envolvidos na Fórmula 1, mas os países já mencionados já avisaram que podem agravar as sanções se a Rússia continuar e levar adiante uma invasão de larga escala à Ucrânia.

Caso se verifiquem novas sanções, a equipa mais exposta será a Haas, que tem como principal patrocinador a Uralkali, uma empresa detida por Dmitry Mazepin, o pai de Nikita Mazepin, piloto da formação e bandeira americana.

A empresa de Perm, Rússia, integrante do grupo Uralchem, não está ainda na lista das sanções, mas dado a sua área de intervenção ser os fertilizantes de potássio, sendo, portanto, uma empresa química, poderá ser alvo de um novo pacote de constrangimentos ao país liderado por Vladimir Putin, o que poderá deixar a Haas numa situação financeira difícil.

Para já, do lado da formação de Gene Haas está o facto de a Uralkali exportar sobretudo para a Ásia e para o Brasil, mas se a administração de Joe Biden proibir as relações comerciais entre cidadãos americanos e russo isso será irrelevante.

A Ferrari também poderá estar exposta às sanções, uma vez que tem como parceiro a companhia russa Kaspersky, uma das companhias mais conhecidas na área de software de segurança. Isto não teria um grande impacto financeiro na formação de Maranello, mas mudar de fornecedor de software numa estrutura em que os dados e a sua segurança são de elevada importância seria seguramente um problema pelo qual a “Scuderia” não está interessa passar neste momento.

Num campo macroeconómico, os impactos no mundo da Fórmula 1 poderá ser, igualmente, intenso.

A Alemanha cancelou a certificação do gasoduto Nord Stream 2, através do qual deveria receber gás natural desde a Rússia, sendo este o país o maior fornecedor desta “commodoty” à Europa e, muito embora o fornecimento ainda se mantenha, os preços estão a subir, assim como o valor do barril de petróleo, ainda que em parte, neste caso, seja um aumento não circunstancial, mas que tem também como causa a tensão na Ucrânia.

Como é do conhecimento de todos, o aumento do combustível e da energia leva a um incremento da inflação, o que será um problema numa era em que todas as equipas têm de trabalhar dentro de um teto orçamental.

Toto Wolff já se queixou que a inflação que se vive presentemente está a colocar dificuldades às equipas e com a situação da Ucrânia esta situação tende a agravar-se

Para além disso, a Rússia é o principal fornecedor de alumínio e de aço à Europa, duas matérias-primas que são de capital importância para a indústria automóvel.

Caso também este sector seja afetado pelas sanções, o custo destes dois metais disparará, causando ainda maiores dificuldades a uma indústria que é obrigada a investimentos massivos para se adaptar às diretrizes ecológicas da sociedade de hoje e tem vivido em dificuldades devido à escassez de semicondutores no mercado internacional.

Isto colocaria ainda maior pressão sobre os construtores automóveis atualmente presentes na Fórmula 1, seja de que forma for, o que poderia ter como efeito reduzir, pelo menos, o seu envolvimento financeiro na categoria.

Outra questão que se levanta é se o Grupo Volkswagen, neste ambiente, deseja ainda ingressar no Campeonato do Mundo de Fórmula 1 a partir de 2026.

A Audi e a Porsche têm evidenciado interesse em ingressar no mundo dos Grandes Prémios, parecendo já haver um pré-acordo entre a marca de Zuffenhausen e a Red Bull para juntarem forças a partir do primeiro ano do novo ciclo regulamentar de motores, ao passo que a Audi tem sido dada como próxima da McLaren.

No entanto, para que o projeto avance, será necessária a luz verde dos responsáveis máximos do Grupo Volkswagen.

A Alemanha será um dos países mais afetados pela situação que se vive, uma vez que depende quase exclusivamente do gás natural russo, o que no ambiente que se verifica presentemente levará a um aumento do custo desta matéria-prima.

Para além disso, também como já foi apontado, o preço do alumínio e do aço poderá igualmente disparar.

Resta saber se este é um enquadramento que os alemães consideram favorável para se atirarem para a Fórmula 1.

Face a tudo isto, as equipas podem estar com as atenções centradas em Barcelona, mas alguns dos seus membros estão atentos ao que se passa na Ucrânia, assim como responsáveis da FOM, uma vez que os desejos imperialistas de Putin poderão ter um impacto nefasto na categoria máxima do desporto automóvel.

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