MEMÓRIA, HÁ 20 ANOS: Tiago Monteiro nas ‘fileiras’ Renault e na Fórmula 3000

Por a 17 Setembro 2022 17:03

Há precisamente 20 anos, as coisas começaram a ganhar forte tração para Tiago Monteiro, com a passagem para o Campeonato Internacional de Fórmula 3000. Depois de quatro anos de F3 francesa, inglesa, Le Mans nos GTS, as coisas tornaram-se bastante mais sérias com a passagem para a F3000. Em 2003 passaria pela Fórmula CART na Fittipaldi-Dingman Racing, em 2004 foi para a World Series by Nissan com a Carlin Motorsport, ao mesmo tempo qe se tornou piloto de testes da Minardi na F1, e em 2005, finalmente a F1 com a Jordan. Recordemos esses primeiros tempos antes de iniciar a F3000:

“O sorriso estampado no rosto não deixam dúvidas de que Tiago Monteiro está feliz. Tudo se passou muito depressa é certo e ele quase não deu pelo que aconteceu mas a verdade é que este ano vai disputar o Campeonato Internacional de Fórmula 3000 numa das melhores equipas do plantel ao mesmo tempo que terá a oportunidade de conduzir um Fórmula 1 pela mão da Renault num quadro de avaliação que poderá levá-lo mais longe.”

Tiago Monteiro é, de certeza, um dos homens mais felizes neste momento. Aos 25 anos de idade e apenas cinco de carreira (sim, isso mesmo, cinco!) vê realizar-se o sonho de poder guiar um monolugar de Fórmula 1 integrado numa equipa de fábrica como a Renault. A oportunidade a seu tempo surgirá pois o que mais interessa neste momento é que aproveite as condições que o construtor francês lhe dá de disputar um dos mais competitivos, difíceis e dispendiosos campeonatos de monolugares do mundo, o Campeonato Internacional de Fórmula 3000. Competitivo porque estarão 30 carros em pista todos iguais. Difícil porque tanto os mais experientes como os “rookies” só terão duas sessões de 45 minutos para “descobrir” o carro, afiná-lo e qualificá-lo o melhor possível. Tiago terá ainda que “descobrir” as nove das 12 pistas que irá percorrer. E dispendioso porque um lugar numa equipa “top” pode custar entre 1 a 1,5 milhões de dólares (entre 200 e 300 mil contos)!

“Começar assim é óptimo. Era mesmo isto que eu queria!” As palavras de Tiago Monteiro não poderiam ser mais expressivas. “Sempre disse no meu circulo de amigos e família que o ideal para mim era começar como piloto de testes para não ter a pressão das corridas, podendo aprender e assimilar tudo tranquilamente. Agora, se alguém me desse uma oportunidade como tem acontecido com a Sauber junto de jovens pilotos, reconheço que seria uma situação que daria muito que pensar, como daria que pensar se se abrissem as portas de uma Minardi pois tudo poderia terminar também, logo ali. Entrar na Fórmula 1 exige que se pense maduramente no assunto e não se entre em euforias sob pena de se poder comprometer toda uma carreira e um objectivo. Desta maneira, como tudo aconteceu é o ideal. Não podia mesmo ser melhor.”

Claro está que para quem começou a correr apenas há cinco anos e já tem as portas da Fórmula 1 entreabertas, há um conjunto de situações que têm de ser acauteladas, como por exemplo os conhecimentos técnicos…

“Neste campo sinto que ainda tenho muito que aprender mas do pouco trabalho que efectuei com a Super Nova deu para perceber o seu elevado profissionalismo e o muito que posso reter. Por sinal, acho que nos vamos dar bastante bem porque temos a mesma forma de ver as coisas em termos de método de trabalho. De certeza que as coisas só podem evoluir e como eu gosto imenso deste aspecto, só posso estar satisfeito.”

…Mas também, o físico. O nível de preparação é agora muito superior ao exigido para um Fórmula 3…

“Quando me sentei pela primeira num carro de Fórmula 3000 tinha acabado de fazer Macau e Coreia de F.3 e por isso os músculos estavam todos em condições. Agora, quando me voltei a sentar neste carro, depois do Inverno, é claro que todos os músculos se ressentiram e principalmente os do pescoço. No entanto, eu sei, por experiência própria e pelo que me têm dito alguns amigos que estão na Fórmula 1, que todos eles sofrem depois de um largo período de descanso. Mas mal comecem a andar com alguma frequência tudo volta ao normal e para o pescoço não há nada melhor do que andar, andar, andar.”

E testes é coisa que não vai faltar a Tiago Monteiro. A Super Nova não tem problemas financeiros que a impeçam de rodar quando o objectivo é lutar pelas vitórias. Durante três dias, Tiago Monteiro esteve no Estoril a repartir o novo monolugar da equipa com outros dois pilotos, tal como o deverá fazer em Barcelona, nos próximos testes. Mas depois quando rodar em Silverstone e Monza, terá os dias inteiros só para si, por forma a que quando chegar ao Brasil, por ocasião da primeira prova do ano que terá lugar no dia 30 de Março, tudo esteja em condições.

Chegar à Fórmula 1 sem “manager”

Enquanto pilotos como o inglês Jenson Button chega á Fórmula 1 com o apoio de dois “managers”, Tiago Monteiro vê surgir a possibilidade de guiar aquele que é o expoente máximo do desporto automóvel, sem ter do seu lado sequer um “empresário”, quanto mais dois…

“Um verdadeiro ‘manager’ como muitos têm, realmente, não tenho. O que tenho tido, isso sim felizmente, são muitos amigos que me apoiam e ajudam para que eu consiga alcançar os meus objetivos. Agora, não nego que nesta fase da minha vida senti muita falta de um ‘manager’. Consegui chegar aqui apenas contando comigo, com o meu pai e alguns amigos, mas nesta parte final não há dúvidas de que faz falta ter alguém do nosso lado mais experiente e conhecedor dos meandros. E percebe-se porquê. Não é que essa pessoa seja determinante em termos de aconselhamento, mas tão só e apenas porque há sempre muito trabalho a fazer. É preciso falar com tanta gente, resolver tantos problemas, viajar, enfim, é tudo tão alucinante que às vezes fico com a sensação de que me estou a esquecer de alguma coisa. De facto, não tenho ‘manager’ mas já tive vários contactos e não quero que volte a suceder o mesmo quando tive uma ligação a uma pessoa durante seis meses e as coisas não correram bem. É preciso ter muita confiança num ‘manager’ e infelizmente há muita gente em que não se pode depositar confiança. Enfim, como em tudo na vida, há bons e maus elementos e é preciso ter muita cautela.”

Viver um dia de cada vez, ou melhor, uma época de cada vez sem precipitações ou visões futuristas é a postura de Tiago Monteiro: “Sempre foi assim e não me tenho dado mal. Como tal, quero dar um passo de cada vez, procurando ser o mais profissional possível na certeza de que tenho muito trabalho pela frente, muito que provar e muitas corridas para ganhar antes de chegar à Fórmula 1.”

Se dúvidas houvesse, esta é apenas mais uma prova de como a eleição pelos leitores do AutoSport de “Piloto do Ano Portugal 2001”, foi inteiramente justa e merecida.

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