MEMÓRIA, HÁ 20 ANOS: sob o pretexto da redução de custos, FIA revoluciona a F1

Por a 1 Fevereiro 2023 12:43

As coisas são bem diferentes na Fórmula 1, a disciplina é de longe, a que mais saúde financeira respira, tem crescido nos últimos anos, desde que a Liberty Media tomou as rédeas, mas há precisamente 20 anos as coisas eram bem diferentes, e a FIA, leia-se Max Mosley, na altura, cortou a direito. Recordemos o texto…

O presidente da FIA, Max Mosley, deixou-se de “paninhos quentes” e optou por uma linha dura, do tipo do “ou vai, ou racha”, para procurar forçar as equipas de Fórmula 1 a prescindirem das ajudas electrónicas e, no fundo, abandonarem a procura constante de soluções e materiais muito dispendiosos, através duma standardização da disciplina, precisamente sob o pretexto da redução de custos.

A bandeira agitada por Mosley é a da necessidade de redução de custos para assegurar a sobrevivência da F1, mas de passagem também procura aumentar a competitividade dos Grandes Prémios, através do nivelamento de valores, que pensa conseguir com a proibição imediata (deixando em aberto que possa ser o mais rapidamente possível…) das ajudas eletrónicas e, futuramente, com o aumento da longevidade de motores e outras peças fundamentais, ou ainda pela standardização de elementos como as asas traseiras e os travões, ou mesmo das unidades de controlo eletrónico.

Em princípio, 15 de Janeiro ficará a marcar o início duma das mais importantes revoluções realizadas na F1, mas também pode assinalar o princípio do fim da atual modalidade e, eventualmente, agudizar posições contrárias favorecendo o lançamento da “F1 paralela” que cinco grandes construtores europeus já anunciaram para 2008, mesmo sendo certo que dificilmente poderão coexistir duas competições com o estatuto da actual F1 e caso seja ultrapassada a crise económica que reduziu o pelotão a dez equipas…

Actualmente, a FIA mantém a F1 sob controlo, embora condicionada pelo Pacto da Concórdia, que deixa uma ampla margem de manobra em matéria desportiva, mas é bastante limitativo nas questões técnicas, que necessitam de aprovação a mais de um ano de distância da sua aplicação, e de forma praticamente consensual. E como o consenso ou a unanimidade são sempre difíceis de conseguir, ainda para mais num desporto em que coexistem múltiplos interesses, as tentativas de alteração têm esbarrado, sistematicamente, na falta de vontade de algumas equipas para permitirem mudanças técnicas significativas. Por isso, as razões de segurança têm sido invocadas pela FIA para levar por diante algumas alterações regulamentares, pois não requerem aprovação ou consenso e podem ser implementadas de forma imediata, mas até agora não permitiam a Mosley ir tão longe como desejava!

“RAZÕES DE SOBREVIVÊNCIA”

Nestas circunstâncias, o Presidente da FIA parece ter inventado o que pode ser definido como “razões de sobrevivência”, justificadas pelo desaparecimento de duas equipas (Prost e Arrows) no espaço de um ano, ambas por dificuldades económicas insuperáveis, para justificar a opção pela linha dura na aplicação dos regulamentos. Se não podia modificar os regulamentos técnicos, e neste momento também já não podia mexer nos regulamentos desportivos sem a aprovação unânime das equipas, Mosley resolveu adotar a interpretação literal e restrita de algumas regras já existentes no regulamento desportivo, para adotar uma longa lista de proibições, ao mesmo tempo que avisava as equipas de que pretendia ser ainda mais restritivo e duro futuramente, pois disso dependia a sobrevivência da F.1, por isso era melhor que as equipas se entendessem e chegassem a consensos para a aplicação das modificações propostas…

Será que as pressões e o clima de ameaça lançado por Max Mosley vão surtir o efeito por ele desejado? Depois da posição tomada pela FIA a 15 de Janeiro, é difícil que nada mude, e provável que muita coisa venha a ser alterada. Mas tratando-se, duma maneira geral, dum “alinhamento por baixo”, em que as equipas financeira e tecnicamente mais fortes deverão abdicar de muito mais do que as outras, é inevitável que surjam grandes resistências.

O “GPWC” já se manifestou nesse sentido! E já houve uma reunião do Grupo de Trabalho Técnico, que integra técnicos de todas as equipas, na passada sexta-feira, da qual nada transpirou. Para hoje, segunda-feira 20, está prevista nova reunião, e muitas outras deverão seguir-se, entre técnicos e diretores das equipas, até ao início da próxima época, para definir o que será aplicado de imediato e que medidas serão adiadas, sem excluir a hipótese de que, finalmente, surjam propostas efectivas e construtivas por parte do Grupo de Trabalho Técnico, que ultimamente se tinha limitado a afastar hipóteses de modificações regulamentares, ou a adiar o estudo de outras para o “dia de São Nunca”… Mas estas reuniões também se justificam, e serão essenciais, para a definição dos múltiplos pormenores que implicarão as alterações lançadas pela FIA.

Como a FIA quer baixar os custos na F. 1

Apesar do desaparecimento de duas equipas de Fórmula 1 nos últimos doze meses, nada foi feito para poupar dinheiro. No passado mês de Outubro, as equipas da Fórmula 1 analisaram todas as propostas da FIA para reduzir custos. As próprias equipas fizeram várias reuniões, mas estas nada produziram.

Entretanto, a FIA convidou as equipas para uma reunião no Aeroporto de Heathrow, e informou-as que, com o objectivo de reduzir custos e melhorar as corridas, irá aplicar com rigor as regras em vigor desde o início da próxima época, por forma a:

eliminar a telemetria das “boxes” para os carros

eliminar a telemetria dos carros para as “boxes”

eliminar todas as comunicações por rádio entre equipa e piloto

permitir apenas o uso de dois carros por equipa (isto é, excluir o carro de reserva

colocar os carros em parque fechado entre o final da qualificação e a corrida (as equipas não poderão trabalhar neles, excepto sob supervisão estrita)

eliminar o controlo de tracção, o controlo automático de partida e as caixas de velocidades com comando totalmente automático (sendo possível a derrogação durante a totalidade ou parte do ano de 2003, mas seguida de execução obrigatória em 2004, se necessário através de unidades de controlo electrónico standardizadas)

Paralelamente a FIA também autorizará as equipas a utilizarem componentes comuns.

Para 2004 perspetivam-se novas regras que implicarão:

a utilização dum sistema de travagem standardizado

a utilização duma asa traseira standardizada

a utilização de componentes com longa duração

a garantia de que os construtores de automóveis envolvidos na Fórmula 1 fornecerão motores para todas as equipas inscritas

Para 2005 pretendem-se aplicar outras regras desportivas para assegurar:

que a duração do motor seja estendida de uma para duas corridas

uma ainda maior duração de vida dos principais componentes

novas penalizações para mudanças de motor ou componentes fora dos prazos permitidos

Para 2006 as regras desportivas sofrem nova alteração para assegurar:

que a duração do motor passe a ser estendida a seis corridas

Para além de tudo isto a FIA procurará o acordo das equipas para introduzir um novo regulamento técnico que visa eliminar o uso de materiais caros e exóticos em qualquer parte do carro, incluindo o motor.

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