LEWIS HAMILTON: “Não quero ser como os outros, quero ser único à minha maneira!”

Por a 9 Novembro 2019 11:59

Os pais separam-se tinha dois anos e quando completou o sexto aniversário recebeu um carro telecomandado que serviu para exacerbar o seu lado competitivo tendo sido vice-campeão britânico um ano depois de ter desembrulhado o presente do pai. Jogou futebol, estudou na Cambridge Arts and Sciences, foi vitima de “bullying” na escola devido a ser mestiço e aprendeu karaté para se defender. Lembra que “não quero ser como os outros, quero ser único à minha maneira!”

Nasceu perto de Londres, filho de pai negro e mãe branca que se separaram quando tinha dois anos e a vida lhe sorria. Viveu até aos doze anos com a mãe e as suas meias irmãs, promovendo a mudança para o colo do pai. Aprendeu karaté com cinco anos para se defender do “bulliyng” que sofria na escolha devido à cor da pele. Irreverente, desde cedo deixou claro que não queria ser como os outros.

Recebeu de presente um carro telecomandado das mãos do seu pai e um ano depois de rasgar o papel festivo e desfeito o laço, foi vice-campeão BRCA (British Radio Car Association). Mostrando a massa de que era feito deixou claro que era o melhor quando declarou “andei a competir com estes carros de radio comandados e ganhei campeonatos de clube contra adultos!”

Lewis Carl Davidson Hamilton mostrou todo o seu talento quando o pai lhe ofereceu, tinha ele seis anos, um kart e fez um acordo de cavalheiros: apoiaria a sua carreira no automobilismo se se empenhasse fortemente na escola. O jovem Lewis cumpriu a sua parte do acordo, obrigando Anthony Hamilton a deixar um emprego confortável de gestor de redes informáticas para passar a ser empresário e muitas vezes tendo de trabalhar em dois ou três locais diferentes para financiar a carreira do filho. Ao mesmo tempo, assistia ás provas e era o empresário do jovem prodígio britânico.

Adepto do Arsenal, Lewis Hamilton poderá ter seguido uma carreira no futebol ou até no críquete, não fosse o chamamento da competição automóvel ter levado a melhor.

 

“Um dia vou ser seu piloto!”

Começou a carreira no karting em 1993 com tenros oito anos e ficou evidente que tinha um dom, um talento acima da média, sendo inteligente e resiliente. As vitórias eram como cogumelos e dois anos depois da estreia, aconteceu algo que iria marcar a sua vida. Aproximou-se do fleumático Ron Dennis e ao pedir-lhe um autógrafo, atirou com convicção “Olá, ou o Lewis Hamilton. Ganhei o Campeonato Britânico e um dia quero pilotar um dos seus carros de competição”. Dennis gostou do atrevimento e escreveu no autógrafo “Telefona-me daqui a 9 anos, certamente que vamos encontrar alguma coisa para ti.”

O homem forte da McLaren voltou as costas ao episódio e o jovem Lewis prosseguiu a carreira, passou pela equipa de um dos ícones do karting mundial, Martin Hines, e não demorou até dar nas vistas pela classe e talento que alardeava nos kartódromos. De tal forma que uma das maiores cadeias de apostas, a Ladbrokes, decidiu apostar 40/1 que Lewis Hamilton iria conquistar a sua primeira vitória no mundial de Fórmula 1 antes dos 23 anos. Tinha, na altura, tenros 12 anos. Mas a Ladbrokes foi mais longe, apostando 150/1 que o jovem britânico seria Campeão do Mundo de Fórmula 1 ates de chegar aos 25 anos.

Astuto como poucos, Ron Dennis não esqueceu a ousadia do miúdo e depois de o ver ganhar corridas atrás de corridas, contratou Lewis Hamilton para integrar o McLaren Junior Drivers Development. E, claro, no articulado do contrato lá estava a alinha que o levaria a um lugar na equipa McLaren de Fórmula 1.

Campeão Europeu de Karting em 2000, foi colega de equipa de Nico Rosberg e em 2001, fez uma corrida onde participou Michael Schumacher, Vitantonio Liuzzi e Nico Rosberg. Terminou em sétimo e raramente se cruzou com o alemão em pista, mas o piloto da Ferrari não deixou de deixar elogios ao jovem Lewis. “É um piloto de qualidade, muito forte e só com 16 anos. Se se mantiver assim, de certeza que chega à Fórmula 1. É algo especial ver miúdos desta idade a competir. Na minha opinião, tem a mentalidade competitiva certa!”

 

O acesso à F1

O salto para os automóveis deu-se em 2001 com a Fórmula Renault britânica e com o pé esquerdo, pois despistou-se na terceira volta dos testes. Fechou o campeonato em quinto e abriu as portas da Formula Renault, alinhando pela equipa Manor. Ganhou por três vezes e foi terceiro classificado no final da competição. No ano seguinte, manteve-se na Manor e ganhou o campeonato com dez vitórias. Uma vitória esmagadora sobre Alex Lloyd, com apenas duas vitórias.

Faltou às duas últimas corrida da F.Renault para se concentrar no próximo desafio, a Fórmula 3. A estreia saiu furada com um pneu a esvaziar-se e a coloca-lo fora de prova na primeira corrida, enquanto um acidente com o seu colega de equipa Tor Graves, o atiraram para o hospital.

“Não quero ser o mais jovem piloto na Fórmula 1, mas quero ganhar experiência e depois poder provar que tenho direito a estar na Fórmula 1.” Sem papas na língua, Lewis Hamilton provava que além de talento, tinha carácter.

Esteve a um passo de assinar com a Williams, mas a BMW recusou financiar a contratação do britânico, pelo que a McLaren acabou por prolongar o contrato que já tinha.

O primeiro teste com a McLaren F1 foi no final de 2004, em Silverstone, mas manteve-se na Euroseries F3. Foi quinto em 2004, com a equipa ASM foi campeão em 2005, ganhando 15 das 20 corridas realizadas. Uma desclassificação em Spa Francorchmaps roubou-lhe a 16º vitória. Venceu o Masters de F3 disputado em Zandvoort e fez parte dos 50 melhores pilotos de 2005 para o Autosport britânico.

O passo seguinte foi a GP2, agora com a equipa ART e o financiamento da McLaren. Hamilton escolheu a equipa que deu o título da GP2 a Nico Rosberg em 2005. A excelência da equipa e do piloto traduziram-se na conquista do cetro na primeira tentativa. E nesse ano, Hamilton deixou gravado a letras de ouro o seu nome com uma vitória fabulosa no Nurburgring, depois de ter sido penalizado nas boxes enquanto que em Silverstone passou por dois adversários na curva Becketts. Porém, o seu título seria conquistado de uma forma enviesada, com o ponto que necessitava a ser conquistado às custas de Giorgio Pantano, a quem lhe foi retirada a melhor volta de uma das corridas disputadas em Monza.

A fortuna quis que nesse mesmo ano, Juan Pablo Montoya tivesse decidido abandonar a Fórmula 1 para se dedicar à Nascar e Kimi Raikkonen foi contratado pela Ferrari. Qual história bíblica da abertura do Mar Vermelho, Hamilton viu a oportunidade escancarar-se à sua frente e no final de 2006, era confirmada a dupla da McLAren para 2007: Fernando Alonso e Lewis Hamilton. O ano em que Michael Schumacher se retirou. O resto… é história!

 

Os números de Lewis Hamilton na Fórmula 1

O seu ano de estreia foi absolutamente inesquecível. Foi o 13º piloto na história da F1 a terminar a prova de estreia no pódio liderou a tabela de pilotos, tornando-se no mais jovem piloto a liderar o Campeonato do Mundo de Pilotos.

A primeira “pole position” surgiu no GP do Canadá, palco igualmente da primeira vitória do jovem Hamilton. Venceu de seguida o GP dos EUA, tornando-se no segundo piloto britânico a ganhar (desde John Watson em 1983) uma corrida de Fórmula 1 em solo norte americano.

Manteve a liderança do Mundial de Pilotos e pelo caminho rubricou o recorde de 9 pódios consecutivos para um piloto britânico. O conto de fadas começou a esfumar-se com um acidente, devido ao aporto de uma roda, nos treinos livres para o GP da Europa, disputado no Nurburgring. Na corrida, largou lá de trás e despistou-se devido a uma tromba de água que se abateu sobre o circuito. Manteve o motor a funcionar, foi içado por uma grua e colocado na pista para continuar e terminar no nono lugar.

Lewis Hamilton foi o primeiro e único piloto na história da F1 a ver o seu carro içado por uma grua e colocado de volta à pista. A FIA nunca mais permitiu que um piloto seja ajudado para ser recolocado na pista.

Foi neste ano que o britânico cometeu um erro de palmatória, ao despistar-se à entrada das boxes do circuito de Xangai. Ainda assim, chegou à ultima corrida do seu ano de estreia com vantagem pontual sobre Alonso e Raikkonen. O GP do Brasil não correu nada bem ao britânico, que terminou em sétimo. O finlandês da Ferrari venceu e conquistou o único título da carreira por um ponto! Com 22 anos e 287 dias, Lewis Hamilton tornou-se no mais jovem vice-campeão da Fórmula 1.

Se na época de estreia não foi campeão, Lewis Hamilton não deixou escapar a oportunidade de, com Heikki Kovaleinen a seu lado (Alonso saiu em conflito com a equipa), ganhar o título depois de assinar um contrato multimilionário com a McLaren para cinco anos de trabalho com Ron Dennis.

A conquista do título foi épica: Lewis Hamilton tinha de conquistar um quinto lugar para ser campeão, caso Filipe Massa vencesse o GP do Brasil. Os caprichos da meteorologia trouxeram uma chuvada com Hamilton a cair de quarto para sexto com a paragem para troca de pneus para piso seco. Aguaceiros intermitentes levou os pilotos a fazerem muitas paragens e a três voltas do final, Massa liderava a corrida e Hamilton era quinto. Mas Sebastian Vettel passou pelo McLaren de Hamilton, deixando Massa campeão. O brasileiro cortou a linha de meta como campeão, mas num esforço final Vettel e Hamilton apagaram uma desvantagem de 18 segundos para Timo Glock, aflito com pneus para seco no seu Toyota numa pista molhada, e Hamilton lá conseguiu ser campeão por um ponto face a Felipe Massa.

Passaram cinco anos até o britânico regressar aos títulos, já aos comandos de um Mercedes e com as novas regras. O ano de 2014 assinalou o segundo título com 11 vitórias e 7 pole positions, para em 2015 chegar o terceiro título com 10 vitórias e 11 pole positions.

Nico Rosberg “roubou-lhe” o título de 2016 com muita política á mistura, mas o alemão retirou-se após bater Hamilton e dois títulos de seguida ofereceram a Lewis Hamilton a possibilidade de se igualar a Juan Manuel Fangio. Em 2018, Lewis Hamilton conquistou o quinto título, bateu o recorde de pontos registados numa só temporada (408) e ainda se tornou no primeiro piloto a ultrapassar os 3 mil pontos na carreira, igualando o recorde de 17 pódios numa temporada. O sexto título surgiu este ano e o piloto da Mercedes está a caminho de igualar a maioria dos recordes existentes.

 

Um dos melhores de sempre?

“Como piloto, é absolutamente espantoso. Além do talento, é uma boa pessoa, vai para as ruas e apoia bastante a promoção da Fórmula 1. É um talento 100%!” Quem o disse foi Bernie Ecclestone em 2015.

Não seria necessário ter um dos homens fortes da Fórmula 1 elogiar Lewis Hamilton. O recordista de “pole positions” (87 em 247 provas, percentagem de 35,22%) é impiedoso na qualificação, sendo capaz de extrair tudo do carro numa só volta. Consegue ser agressivo na defesa da posição, mas está mais maduro e experiente, preferindo não comprar guerras que não tem a certeza de ganhar.

“Penso que se deve a vê-lo na televisão quando era jovem e pensar ‘esta é a forma como quero pilotar quando tiver oportunidade para isso’ e, claro, fiz como ele, ou seja, fui para um kartódromo e tentar imitá-lo. Toda a minha abordagem á competição desenvolveu-se a partir dai.” Palavras de Lewis Hamilton sobre Ayrton Senna, tendo o britânico sido bastas vezes comparado ao brasileiro. “Não, o maior de sempre é Senna!” defende Hamilton.

O piloto da Mercedes é o melhor à chuva e no Grande Prémio da Grã-Bretanha de 2008, Hamilton terminou a prova com uma vantagem superior a um minuto sobre Nick Heidfeld, a maior margem de vitória desde o GP da Austrália de 1995. O seis vezes campeão do mundo esteve imbatível à chuva, desde 2014 a 2019, quando no GP da Alemanha foi batido por Max Verstappen.

“Ele tem a capacidade de vencer com um carro dominante, com um bom carro como os de 2010 e 2012 e maus carros como os de 2009 e 2011. Nem todos os campeões do Mundo podem dizer o mesmo!” Quem o disse foi Fernando Alonso, quando lhe perguntaram em 2017, a sua opinião sobre o britânico.

Hamilton é o primeiro e até agora único piloto de Fórmula 1 negro e, por isso mesmo, foi vítima de racismo durante toda a sua carreira. Em 2008, foi verbalmente ofendido nos testes de pré-temporada em Barcelona, dando origem à campanha “Race against Racism. No GP do Brasil, um sítio de internet quis fazer uma gracinha com o piloto e surgiram comentários racistas. Quando na temporada de 2011 foi penalizado em cinco das seis primeiras corridas do ano, o britânico ripostou “provavelmente é porque sou preto, seria isso que o Ali G diria.”

 

Palmarés de Lewis Carl Davidson Hamilton

(7 de janeiro de 1985, 34 anos)

248 Grandes Prémios disutados

5 companheiros de equipa (Fernando Alonso, Heikki Kovalainen, Jenson Button, Nico Rosberg e Valltteri Bottas)

2 construtores (McLaren, 110 GP e Mercedes, 138 GP)

1 construtor de motores (Mercedes)

13 carros diferentes (Mclaren MP4-22; McLaren MP4-23; McLaren MP4-24; McLaren MP4-25; McLaren MP4-26; McLaren MP4-27; Mercedes F1 W04; Mercedes F1 W05; Mercedes F1 W06; Mercedes F1 W07; Mercedes F1 W08; Mercedes F1 W09 e Mercedes F1 W10)

83 vitórias (33,6% das provas disputadas)

87 pole positions (35,22% das provas disputadas)

46 voltas mais rápidas (18,62% das provas disputadas)

149 pódios (60,32% das corridas efetuadas)

26 abandonos (10,53% das provas realizadas)

3381 pontos (13,69 pts/GP; 260,08 pts em média por temporada)

4400 voltas lideradas

22 269 quilómetros liderados

14 034 voltas cumpridas

70 707 km de corrida efetuados

1º Grande Prémio, Austrália 2007.

1º título Mundial, 2008

 

 

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