Kalle Rovanperä troca ralis por circuitos: muitos outros exemplos de transições entre modalidades
Kalle Rovanperä, bicampeão mundial de ralis, anunciou uma inesperada transição para os monolugares, reabrindo o debate sobre a versatilidade no desporto motorizado. A sua decisão ecoa a de outros grandes nomes que, ao longo da história, ousaram trocar as pistas de rali pelos circuitos de Fórmula 1, o seu contrário ou as motos pelos automóveis, demonstrando um talento que transcende as fronteiras das modalidades.
Kalle Rovanperä, bicampeão mundial de ralis (2022 e 2023) e atual piloto da Toyota no WRC, anunciou oficialmente que deixará os ralis no final da temporada de 2025 para seguir uma nova carreira nos monolugares.
O piloto finlandês de 25 anos vai rumar à Super Fórmula japonesa em 2026, com o objetivo de, posteriormente, tentar a Fórmula 2 e, eventualmente, chegar à Fórmula 1.
Esta decisão marca uma transição histórica no desporto motorizado, representando o que a Toyota considera “uma transição nunca antes vista no automobilismo”. Rovanperä explicou que “tendo já conseguido tanto nos ralis nesta idade, comecei a pensar noutras possibilidades e noutros desafios que gostaria de enfrentar”.
Há muito que se sabe do desagrado do finlandês com a ‘vida’ nos ralis e a má adaptação este ano aos novos pneus e com o WRC em profunda transformação, podem ter ajudado a dar o passo…

O ‘caso’ de Fernando Alonso
Alonso venceu por duas vezes as 24 Horas de Le Mans, em 2018 e 2019, ao serviço da Toyota, conquistando também o título do Mundial de Resistência em 2018-2019. Em 2019, alcançou a vitória nas 24 Horas de Daytona com a equipa Wayne Taylor Racing, juntando-se ao restrito grupo de campeões da Fórmula 1 a vencer esta clássica norte-americana.
Estes triunfos reforçaram a sua reputação como um dos pilotos mais versáteis da sua geração.
O espanhol tentou ainda completar a chamada Triple Crown do desporto motorizado, ao participar nas 500 Milhas de Indianápolis nos anos de 2017, 2019 e 2020. Teve prestações competitivas, liderando a prova em 2017, mas nunca chegou ao pódio nesta célebre corrida.
Dakar Rally e Rally-Raid
Em janeiro de 2020, Alonso estreou-se no Dakar, a bordo de um Toyota Hilux preparado pela Toyota Gazoo Racing, tendo o experiente Marc Coma como navegador. Terminou em 13º lugar na geral, enfrentando vários contratempos mas mostrando bom ritmo, incluindo um segundo lugar em etapa e pódio noutras provas de rally-raid preparatórias, como o Al Ula-Neom.
Fernando Alonso demonstra ser um dos raros campeões modernos verdadeiramente multifacetados, com sucesso significativo tanto em Grandes Prémios quanto nas mais exigentes provas do automobilismo mundial, e mantém o objetivo de regressar e conquistar o Rali Dakar.

Pilotos dos ralis que foram para as pistas
Há bons casos de sucesso na transição ralis/pistas! Stéphane Sarrazin destaca-se como um verdadeiro polivalente, pois o francês construiu uma carreira alternando, sem grandes problemas, entre os ralis e as corridas de circuito. Chegou a fazer uma aparição na Fórmula 1.
Começou nos monolugares em 2001, foi Campeão francês de Fórmula Renault em 1994, Vice-campeão da Fórmula 3 Francesa em 1997, venceu corridas na Fórmula 3000, participou no GP do Brasil de F1 1999, como substituto na Minardi, mas não pontuou. Testou carros para Prost Grand Prix (1999–2001) e Toyota em 2002.
Depois migrou para os protótipos, endurance e por fim, ralis (2002–2013).
No WRC fez a sua estreia em 2004 com a Subaru, obtendo o quarto lugar no Rali da Catalunha, venceu o Tour de Corse de 2014 (ERC) foi terceiro no Rali de Monte Carlo de 2009.
Nas Le Mans Series foi Campeão com Peugeot em 2007 e 2010, teve uma longa participação nas 24 Horas de Le Mans onde obteve 6 pódios e 4 vezes em segundo lugar (2007, 2009, 2013 e 2016), poles entre 2007 e 2009, mas nunca venceu.
Foi piloto oficial Toyota no WEC entre 2012 e 2017, vencendo provas em Fuji e no Bahrein.
Na Fórmula E correu pela Venturi (2014–2017) e depois por Techeetah e Andretti, alcançando poles e um pódio.
Sarrazin é um dos poucos pilotos a competir com alto nível em monolugares, protótipos de endurance, ralis e categorias elétricas, com títulos nacionais e internacionais, além de presença constante nos maiores palcos do automobilismo mundial.

Sébastien Ogier
Um piloto de ralis a enfrentar o Circuit de la Sarthe? Foi exatamente isso que Sébastien Ogier fez quando participou nas 24 Horas de Le Mans em 2022. Ao volante da Richard Mille Racing na categoria LMP2, o oito vezes campeão do WRC impressionou na estreia em provas de resistência, adaptando-se rapidamente às exigências da competição ao estilo de Le Mans. Não foi, contudo, a sua primeira incursão no desporto motorizado de circuitos — em 2017, Ogier já havia testado um monolugar de Fórmula 1 com a Red Bull Racing.

Sébastien Loeb
Reconhecido como o piloto mais bem-sucedido da história do WRC, Loeb sempre manteve uma paixão paralela pelas corridas em circuito. Em 2006, terminou em segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans, competiu no Campeonato do Mundo de Carros de Turismo e chegou também a testar um Fórmula 1 com a Red Bull Racing. Apesar dessa vasta experiência em pista, o verdadeiro chamamento de Loeb sempre foi o rali — e os seus nove títulos mundiais são a melhor prova disso.

Colin McRae
Audaz ao volante em qualquer disciplina, Colin McRae nunca recusava um desafio. Embora seja lembrado sobretudo pelos feitos no WRC, o campeão mundial de 1995 também se aventurou nas corridas de circuito. Em 2004, participou nas 24 Horas de Le Mans, guiando um Ferrari 550-GTS Maranello na categoria GTS. Apesar da experiência limitada nesse tipo de competição, McRae e a sua equipa alcançaram o terceiro lugar da classe — uma demonstração de que o seu talento ia muito além dos troços de rali. Fez ainda algumas aparições noutras provas de circuito, como a Porsche Supercup, e chegou a realizar um breve teste na NASCAR. Para McRae, contudo, o rali era sempre o verdadeiro lar.
Henri Toivonen
O falecido Henri Toivonen é uma das figuras mais icónicas da história do rali, mas antes de se destacar no WRC já era um talento em ascensão nos circuitos. Competiu na Fórmula Vee e venceu provas do Campeonato Europeu antes de direcionar a carreira para os ralis. A abordagem destemida do finlandês tornou-o uma lenda da era do Grupo B, até à sua trágica morte em 1986.
Takamoto Katsuta, antes de se tornar um piloto regular no WRC com pontuações constantes pela Toyota, competia em monolugares, em 2010–2011 foi Campeão da Fórmula Challenge Japão e de 2012 a 2014 correu na Fórmula 3 japonesa sendo vice-campeão em 2013, quarto em 2014. Depois foi para os ralis, venceu a classe JN-5 no Japão, em 2015–2016 teve uma participação intensiva em programas de desenvolvimento nos ralis, competindo em eventos regionais na Europa e estreia no WRC2 e daí até cá foi o que sabemos, depois de se estrear com um World Rally Car (Toyota Yaris WRC) em 2019.
Outros exemplos: Espekka Lappi & Teemu Suninen
Antes de competirem no WRC, os caminhos de Esapekka Lappi e Teemu Suninen cruzaram-se no karting. Ambos os finlandeses começaram os seus percursos no desporto automóvel a correr em karts, com Lappi a servir brevemente como mecânico de Suninen no início das suas carreiras.
Suninen alcançou um sucesso razoável no karting e depois aventurou-se no rallycross em 2012, antes de se dedicar totalmente aos ralis no ano seguinte. Lappi, por outro lado, fez a transição direta do karting para os ralis, onde conquistou o título do WRC2 em 2016 e, mais tarde, tornou-se um vencedor de provas do WRC.

O percurso inverso: F1 para os ralis
Vários pilotos de Fórmula 1 aventuraram-se nos ralis com diferentes graus de sucesso:
Robert Kubica representa o exemplo mais notável de sucesso nesta transição. Após o grave acidente no Rally di Andora em 2011, que afetou a sua carreira na F1, o polaco dedicou-se aos ralis e tornou-se campeão do WRC2 em 2013. É o único piloto de F1 a conquistar um título mundial em ralis.
Kimi Räikkönen, o conhecido ‘Iceman’, aventurou-se nos ralis entre 2009-2011 durante uma pausa da F1.
Competiu no WRC com a Citroën, alcançando como melhor resultado um quinto lugar no Rali da Turquia em 2010.
Heikki Kovalainen fez uma impressionante estreia no WRC no Rali do Japão de 2022, após ter vencido o campeonato japonês de ralis num Škoda Fabia R5.
Valtteri Bottas experimentou provas fora de estrada em várias ocasiões, incluindo um Rali do Ártico em 2018 e uma vitória numa prova alternativa em Paul Ricard com um Citroën DS3 WRC.
Carlos Reutemann foi vice-campeão de Fórmula 1 em 1981 e somou 12 vitórias e 45 pódios em 146 Grandes Prémios, correndo pela Brabham, Ferrari, Lotus e Williams entre 1972 e 1982.
Contactado pela Fiat para disputar o Rali Codasur (que viria a tornar-se o Rali da Argentina), o então piloto da Williams F1 aceitou o desafio de guiar um 131 Abarth e superou todas as expectativas ao resistir à dureza da prova e conquistar o terceiro lugar. Mais tarde, ainda participou em dois ralis do WRC, ambos disputados em casa, na Argentina, e em ambas as ocasiões terminou no terceiro lugar.

A ligação histórica entre duas e quatro rodas
A transição de pilotos do motociclismo para a Fórmula 1 é uma tradição no desporto motorizado. Figuras proeminentes como Tazio Nuvolari, Achille Varzi e Bernd Rosemeyer competiram em motos antes da fundação do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, em 1950.
Piero Taruffi e Alberto Ascari, bicampeão mundial de F1, também tiveram carreiras notáveis nas duas rodas durante os anos 20 e 30. Em França, Jean Behra, Jean-Pierre Beltoise e Patrick Depailler, todos campeões nacionais de motociclismo, realizaram igualmente esta mudança para a competição automóvel.
O legado britânico: Hailwood e Surtees
O Reino Unido contribuiu com lendas das duas rodas que brilharam na Fórmula 1, destacando-se Mike “the Bike” Hailwood e John Surtees. Este último alcançou um feito singular em 1964, tornando-se o único piloto a conquistar campeonatos mundiais tanto em motociclismo como em Fórmula 1, evidenciando a estreita relação entre ambas as modalidades.
Talento comum e vias de acesso
Peter Collins, um reconhecido olheiro de talentos, sublinhou que a velocidade e a compreensão das exigências da pilotagem são qualidades partilhadas, tornando natural que pilotos rápidos em duas rodas o sejam também em quatro. O motocross, em particular, surge como uma alternativa de baixo custo para jovens que procuram iniciar-se na competição, muitas vezes desconhecendo o karting ou devido às suas barreiras financeiras.
Pilotos Atuais com experiência em motos
Embora seja menos comum nos dias de hoje, alguns pilotos de Fórmula 1, como Gerhard Berger e Michael Andretti, mantêm o gosto por andar de moto por prazer. Damon Hill, campeão mundial de F1 pela Williams, iniciou a sua carreira nas motos como forma de estabelecer a sua própria identidade, afastando-se do legado do seu pai, Graham Hill. Outros exemplos incluem o britânico Mark Blundell e o italiano Fabrizio Barbazza, ambos com experiência em motocross.
Além da Fórmula 1: outras competições
Pilotos de moto experientes que procuram manter a adrenalina com menor risco frequentemente migram para outras modalidades, como carros de turismo ou corridas de camiões. Barry Sheene, Gregg Hansford e Steve Parrish são exemplos notáveis. Mais tarde, Wayne Gardner testou um Lotus de F1, sugerindo uma possível incursão na categoria máxima do automobilismo.

Valentino Rossi: o exemplo perfeito de versatilidade
Valentino Rossi, apesar de ser primariamente conhecido como lenda da MotoGP com nove títulos mundiais, também se destacou significativamente nos ralis. O italiano participou em três eventos do WRC oficial – duas vezes no Rali da Grã-Bretanha (2002, 2008) e uma no Rali da Nova Zelândia (2006), em que terminou em 11º lugar.
Contudo, foi no Monza Rally Show que Rossi verdadeiramente brilhou, conquistando um recorde de sete triunfos (2006, 2007, 2012, 2015, 2016, 2017, 2018). O evento, que decorre anualmente no Autódromo de Monza, não tem o nível dos ralis do mundial, mas Rossi derrotou regularmente estrelas do WRC como Colin McRae, Thierry Neuville, Dani Sordo, Andreas Mikkelsen e Teemu Suninen. O conhecimento ajudou…
Chegou a falar-se muito da possibilidade de Rossi rumar à Ferrari, chegou a testar para a Scuderia entre 2004-2006, esteve muito perto de assinar um contrato com a Sauber, mas depois o processo não avançou.
Il Dottore compete atualmente no WEC com o Team WRT, pilotando um BMW M4 GT3. Participou várias vezes nas 24 Horas de Le Mans e venceu corridas em várias categorias GT
A versatilidade de Rossi demonstra que, embora raras, as transições bem-sucedidas entre modalidades são possíveis quando o piloto possui o talento natural e a dedicação necessária para dominar diferentes disciplinas do desporto motorizado.
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI






