GP Las Vegas F1: Como os pilotos se preparam para uma corrida totalmente nova?

Por a 13 Novembro 2023 10:33

O próximo fim de semana de F1 vai ficar marcado por algo inédito entre todos os pilotos da grelha, em forma do novo circuito de rua de Las Vegas. Quando entrarem em pista para o primeiro treino livre, será a primeira vez que qualquer um deles terá experimentado a pista sem ser no simulador, e só aí vão sentir tudo o que os simuladores não permitem.

Como, afinal, os pilotos se preparam para uma corrida totalmente nova? A F1 pediu a Jolyon Palmer, antigo piloto da Renault F1, que explicasse todos os principais processos numa situação destas.

Até aqui, claro, as equipas já há muito trabalham no simulador, onde vão introduzindo dados novos conforme todos os detalhes que vão aprendendo, mas num circuito citadino, as incógnitas são maiores do que nunca e neste caso até há um dado muito pouco habitual na F1: temperaturas de pista muito baixas…

Para Jolyon Palmer: “Quando eu estava a correr, tivemos outro circuito citadino a surgir no calendário – Baku, no Azerbaijão. Foi no início do ano, mas só se tornou um verdadeiro foco depois das primeiras ‘passagens’ terem sido feitas e estarmos a aproximar-nos da semana da corrida.

Aprender estas novas pistas antes de chegar é crucial e a melhor maneira de o fazer é no simulador. Para os estreantes na Fórmula 1, é claro que muitas pistas são novas, como a Cidade do México para Oscar Piastri, por exemplo. Nestes casos, no entanto, há muitas filmagens e dados históricos disponíveis para ver o que é o quê. Não demora muito tempo a perceber.

Nunca tinha conduzido no Albert Park antes de me estrear na Fórmula 1 na Austrália em 2016, mas como tinha crescido a ver a Fórmula 1 e até a jogá-la na PlayStation, senti que conhecia muito bem a pista antes de sair das boxes.

É claro que os pilotos também continuam a fazer corridas em simulador nestes circuitos, mas não se trata tanto de saber se vamos virar à direita ou à esquerda na próxima curva, mas sim de afinar ideias de configuração, experimentar linhas de trajetória e entrar num ritmo.

Para as novas pistas, como foi o caso de Baku para mim, ou Vegas este ano, trata-se muito mais de voltar ao básico. Não há imagens históricas, não se tem um banco natural de informações sobre o circuito, por isso, quando se trata de uma sessão de simulador, é preciso começar do zero e construir.

Embora o ideal fosse fazer a sessão de simulador na semana antes de ir para o local, a realidade é que, com o calendário tão preenchido que temos atualmente, nem sempre é possível.

Para mim, Baku foi uma corrida consecutiva com Montreal, por isso a sessão de simulador foi feita algumas semanas antes da corrida. Em Las Vegas, provavelmente, os pilotos tiveram que o fazer antes devido à ‘tripla’ de corridas pelas Américas que antecedeu Las Vegas.

Sempre achei que os circuitos de rua são mais difíceis de aprender do que as pistas permanentes. A linha de visão dos pilotos é pior nas curvas porque, ao nível do chão, tudo o que se vê são barreiras e vedações de ambos os lados, especialmente à noite.

Ficamos focados na pista e tudo à volta é escuridão – por vezes não é nada óbvio quando estamos a descer uma longa reta para onde vai a próxima curva. Voltei a descobrir isso em Jeddah, há alguns anos, quando tive o prazer de fazer algumas filmagens antes do Grande Prémio inaugural da Arábia Saudita.

É por isso que a marcação no simulador é fundamental. Para começar, faço uma longa corrida só para me habituar ao traçado. Depois, com cada paragem e discussão com os engenheiros, voltamos a sair e a pista começa a parecer mais familiar. Quando nos sentimos confortáveis, podemos começar a inclinar-nos mais sobre o carro, começar a experimentar as linhas e os corretores e voltar às sessões mais centradas no desempenho.

Tudo isto ajuda a entrar na zona de concentração antes de ir para o circuito, mas uma vez lá, fazia sempre um ‘track walk’ na quinta-feira, só para tentar absorver mais informações também ao nível do solo.

Um ‘track walk’ pode ser uma parte essencial da aprendizagem de uma nova pista para alguns pilotos

Os ‘track walks’ são muitas vezes apenas uma oportunidade para sair com a equipa numa quinta-feira, falar sobre o fim de semana que se aproxima e ver se há algo de novo ou interessante no circuito. No entanto, para uma pista nova como Vegas, será a primeira oportunidade de ver com os seus próprios olhos como são os corretores, que são uma grande parte da composição de um circuito. Consegue-se ultrapassá-los? Têm grandes ‘quedas’ na parte de trás que podem danificar o carro?

O que é que existe nas escapatórias dap ista? É relva sintética – que pode ser escorregadia – ou é asfalto, que pode ficar um pouco mais duro durante o fim de semana e aumentar a largura da pista?

Como piloto, tentamos utilizar toda a informação possível para nos familiarizarmos com a pista.

Quando chega o TL1, já se deve conhecer o circuito quase na perfeição. É claro que as primeiras voltas vão ser ligeiramente diferentes à medida que absorvemos a sensação de conduzir o circuito a sério e sentimos o nível de aderência, especialmente com as baixas temperaturas previstas para Las Vegas. Mas, no final das primeiras voltas, as coisas devem estar relativamente normalizadas.

Também é bom aprender os números das curvas bem antes de ir para a pista.

É fácil saber onde se tem de virar, mas lembrar-se de qual é a curva também é importante para fornecer imediatamente um feedback conciso e preciso à equipa.

Por vezes, num circuito novo, pode até gravar-se um mapa da pista no cockpit para as primeiras sessões, e o engenheiro também terá acesso fácil a um para que, quando estiverem a discutir determinadas curvas, possam ter a certeza de que estão na mesma página.

É um dos aspectos mais básicos, mas ficaria surpreendido com a quantidade de tempo que pode ser desperdiçado a tentar explicar em que ponto do circuito surge uma determinada lomba ou um estalido de sobreviragem quando não se tem o mapa da pista à mão ou na memória.

Em última análise, a adaptação a um novo circuito tem mais a ver com trabalhar bem com o engenheiro e adaptar-se a mudanças inesperadas do que simplesmente saber para que lado virar o carro. Com todas as ferramentas à disposição das equipas em 2023, todos serão capazes de fazer isto, mas os que estiverem mais atentos e conseguirem entrar nos detalhes mais rapidamente estarão um passo à frente no final de sexta-feira”.

Excelente a explicação de Jolyon Palmer, que ajuda a perceber melhor o ‘mind set’ de um piloto e tudo o que tem de fazer para estar ao seu melhor nível num novo circuito.

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