GP do Mónaco de F1: Erros da Ferrari oferecem vitória a Sergio Pérez

Por a 30 Maio 2022 19:03

Charles Leclerc dominou quase todo o fim-de-semana do Grande Prémio do Mónaco, mas no final, e apesar de ser o mais rápido em pista, o monegasco viu o triunfo fugir-lhe por entre os dedos, sendo Sérgio Pérez o vencedor da prova de Monte Carlo.

O jovem piloto da Ferrari já em Barcelona tinha dominado o fim-de-semana até que um problema técnico no seu monolugar lhe roubou uma vitória certa no Grande Prémio de Espanha e chegava ao “seu fim-de-semana” ávido de poder recuperar aquilo que perdera em Barcelona.

Leclerc foi o mais rápido nos treinos-livres de sexta-feira, ostentando uma vantagem competitiva assinalável para os demais, muito embora o seu colega de equipa, Carlos Sainz, o conseguisse acompanhar de mais perto que o habitual.

Só na sessão de sábado de manhã o monegasco via o seu domínio interrompido, com Sérgio Pérez, que tinha vantagem no seio da Red Bull, a elevar-se ao topo da tabela de tempos, mas com uma vantagem de apenas 0,041s para Lelcerc.

O Ferrari F1-75 era o carro a ter nas exíguas ruas do Principado, permitindo aos seus pilotos atacar os correctores e grande capacidade de aceleração à saída das curvas lentas, para além da aderência mecânica ser elevada.

Leclerc era, portanto, o grande favorito à pole-position, o que era meio caminho andado para a vitória de domingo.

Na qualificação, o monegasco esteve sempre no controlo das operações, realizando na sua primeira volta lançada da Q3 um crono que deixou o seu colega de equipa a quase três décimos de segundo, uma enormidade num circuito de apenas 3,337 quilómetros de perímetro.

Esperava-se um contra-ataque nos momentos finais da qualificação, mas Leclerc estava determinado em selar a sua segunda pole-position para o Grande Prémio do Mónaco e no primeiro sector da sua segunda volta lançada foi ainda mais rápido sem que ninguém conseguisse acompanhar.

Porém, qualquer veleidade dos restantes pilotos caia por terra, quando Pérez batia na Curva do Portier, ficando no meio da pista com o seu Red Bull.

Sainz, que seguia de perto o mexicano, não teve como evitar o carro de Milton Keynes, embatendo no monolugar de Pérez.

A bandeira vermelha era inevitável e Leclerc, pelo segundo ano consecutivo, via um acidente confirmar a sua pole-position, mas desta vez não era o Ferrari número dezasseis a encontrar os rails.

Tudo corria de feição ao monegasco que tinha agora setenta e oito voltas pela frente para, finalmente, conquistar o triunfo no ‘seu Grande Prémio’.

Tudo o que o monegasco queria era um domingo sem sobressaltos e com incógnitas completamente definidas e, para isso, uma prova com a pista seca era o melhor cenário.

No entanto, desde quinta-feira que havia a possibilidade de a chuva poder fazer a sua aparição em Monte Carlo durante o dia da prova.

A quinze minutos do início do Grande Prémio do Mónaco, as nuvens descarregaram o seu peso, primeiro de forma tímida, mas depois de forma insistente, o que causou uma falha de energia que provocou um atraso de dezasseis minutos no início da corrida.

Então, os carros deram duas voltas atrás do Safety-Car, mas com a chuva a deixar a pista completamente encharcada, com muitas poças de água, e Eduardo Freitas decidiu interromper a corrida durante cerca de quarenta minutos.

A prova seria reiniciada com Safety-Car, a falha de energia não permitia garantir que os semáforos de arranque pudessem funcionar, e assim que houve bandeiras verdes, Leclerc lançou-se para uma performance irrepreensível numa pista difícil e onde qualquer erro, fácil de cometer, poderia ter consequências terminais.

Ninguém conseguia acompanhar o monegasco, que na décima quinta volta tinha uma vantagem de 5,2s para Sainz, 8,0s para Pérez e 10,2s para Verstappen.

Mas então, quem estava sob enorme pressão eram os estrategas das equipas, uma vez que a pista estava a secar e era preciso encontrar o momento certo para trocar de pneus e decidir entre intermédios ou slicks.

Com menos a perder que a sua rival, que tinha dois carros nas duas primeiras posições, a Red Bull abriu as trocas de pneus entre os candidatos ao triunfo, chamando Pérez às boxes para montar intermédios, e foi este o momento em que a equipa de Milton Keynes colocou o ónus sobre a Ferrari, que errou estrategicamente.

Os intermédios eram bastante mais rápidos que os pneus de chuva e a Ferrari ficou sem a possibilidade de responder a Pérez com Sainz, que tinha apenas uma vantagem de dezanove segundos sobre o mexicano quando este completou o segundo sector – uma troca de pneus em Monte Carlo custa cerca de 20s.

Se queria defender-se da ameaça Pérez, a Ferrari teria de chamar Leclerc, mas durante a volta que se seguiu à paragem do mexicano, a discussão no “pitwall” da “Scuderia” era se o espanhol deveria parar ou não.

O piloto do carro cinquenta e cinco, porém, fazia valer o seu ponto de vista e esperar que a pista pedisse slicks e não passar pela fase dos intermédios.

Esta era a decisão certa, mas então a Ferrari tomou a decisão desastrosa de chamar Leclerc às boxes para montar intermédios duas voltas após a paragem de Pérez. O ritmo deste era muito mais elevado que aqueles que tinha ainda borrachas de chuva, entre cinco a seis segundos por volta, e quando o monegasco entrou nas boxes já não tinha margem para sair à frente do piloto da Red Bull.

A Ferrari sofria assim um rude golpe nas suas aspirações, mas tinha ainda a possibilidade de vencer o Grande Prémio do Mónaco com Sainz e de ficar com Leclerc à frente de Verstappen, que parara para intermédios na mesma volta que o seu rival na luta pelo título.

Apenas três voltas depois, a Ferrari tomava a iniciativa de chamar o espanhol para montar slicks duros, sendo o primeiro dos homens da frente a colocar pneus no seu carro para ir até ao fim da corrida.

Mas então a ‘Scuderia’ errou pela segunda vez estrategicamente.

Parecendo não haver comunicação no “pitwall” da equipa ou, então, os estrategas da Ferrari não se aperceberam da rapidez com que o monegasco, com intermédios, se aproximou do seu colega de equipa, ainda com pneus de chuva, chamaram também Leclerc e quando se aperceberam do erro, já era demasiado tarde, uma vez que este estava já na via das boxes.

Ao ficar parado um par de segundos à espera que o seu colega de equipa trocasse de pneus, o piloto do carro número dezasseis ficava exposto a Verstappen, que poderia subir a terceiro por troca com o seu rival na luta pelo título.

Para compor a tarde de pesadelo da Ferrari, quando saiu das boxes, Sainz foi ultrapassado por Albon, perdendo imenso tempo atrás do Williams, até que este abriu para que o espanhol passasse.

Estava desenhada a tempestade perfeita para que os homens de Maranello fossem derrotados em toda a linha.

Percebendo a situação, e sabendo que cada volta que passasse seria uma hipótese que daria aos seus rivais da “Scuderia”, a Red Bull chamava logo na volta seguinte os seus dois pilotos às boxes – Pérez saía à frente de Sainz e ficava numa situação privilegiada para vencer pela primeira vez este ano, ao passo que Verstappen ficava à frente de Leclerc, ficando com a possibilidade de estender a sua liderança no Campeonato de Pilotos.

Num circuito em que as ultrapassagens são quase uma impossibilidade, a Red Bull parecia ter tudo do seu lado.

No entanto, ainda tentou dificultar a sua própria vida.

Na trigésima volta Mick Schumacher despistou-se com violência na saída das Piscinas, tendo o seu Haas se separado em dois pela zona da caixa de velocidades.

Com detritos na pista e as barreiras a necessitarem de reparações e Eduardo Freitas, o Director de Corrida, interrompeu a prova com bandeiras vermelhas.

No reinício, a formação de Milton Keynes equipava os seus dois carros com pneus médios que, apesar de mais performantes, eram bastante propensos à granulação.

Isso levou a que Pérez fosse bastante pressionado por Sainz no final da corrida, mas sem que este tivesse uma verdadeira possibilidade de lançar um ataque à liderança.

Assim, a Ferrari saía de Monte Carlo com uma pesada derrota, vendo uma dobradinha e uma vitória fugir-lhe devido a questões estratégicas, apesar de ter o carro mais rápido e o melhor piloto do fim-de-semana.

Pérez, que foi o mais forte no seio da Red Bull, era um merecedor vencedor, conquistando o seu primeiro triunfo no Mónaco e o seu terceiro na Fórmula 1.

MOMENTO Chuva

Leclerc dominara o fim-de-semana até às paragens nas boxes, mas a chuva que caiu antes do início da corrida baralhou tudo a nível estratégico. Sem a chuva, dificilmente a Ferrari cometeria os erros que levaram o seu piloto desde a primeira posição até à quarta, tendo a Scuderia sofrido uma pesada derrota. A Red Bull e Sérgio Pérez aproveitaram as oportunidades que lhes foram dadas e venceram, ao passo que Verstappen bateu o seu rival na luta pelo título.

FIGURA Sérgio Pérez

Leclerc esteve irrepreensível ao longo de todo o fim-de-semana e sem os erros da sua equipa dificilmente falharia a vitória. No entanto, Sérgio Pérez impôs-se categoricamente no seio da Red Bull, pela primeira vez este ano, e respondeu da melhor forma às ordens de equipa a que teve de obedecer em Espanha.

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