GP da Bélgica de F1: A história de uma corrida… que não houve

Por a 30 Agosto 2021 16:21

O GP da Bélgica prometia ser das melhores corridas do ano, o que tornou ainda mais frustrante o exercício que se viu no final da tarde de domingo.

A Fórmula 1 chegava a Spa-Francorchamps depois do seu período de férias, e todos estavam desejosos de voltar a assistir ao duelo pelos títulos deste ano que opõem Lewis Hamilton a Max Verstappen, e a Mercedes à Red Bull, para mais num dos circuitos mais aclamados do calendário.

Para além disso, as previsões climatéricas apontavam para chuva durante todo o fim-de-semana, o que criava ainda mais expectativa entre todos, uma vez que, se enfrentar Spa no seco já é um desafio, no molhado é um desafio dantesco e exige ainda mais dos pilotos.

No entanto, na floresta das Ardenas nem sempre as previsões meteorológicas se confirmam, adensando ainda mais a trama para o Grande Prémio da Bélgica.

Na sexta-feira as duas sessões de treinos-livres foram disputadas, maioritariamente, com a pista seca, o que lançava as equipas por o meio das dúvidas quanto à configuração aerodinâmica que adotariam para os seus monolugares.

Este é uma dúvida que se põe todos os anos, uma vez que a natureza do traçado de Spa permite duas abordagens – privilegiar o primeiro e terceiro setores, onde a velocidade de ponta manda, e apostar em pouco apoio aerodinâmico; ou apostar no segundo sector, composto por uma zona com mais curvas, e carregar o carro com apoio aerodinâmico.

As duas abordagens podem produzir tempos muito semelhantes, mas um piloto com mais apoio aerodinâmico no seu carro ficaria exposto na corrida, caso esta fosse disputada no seco, ao passo que um menos “downforce” teria muitas dificuldades na eventualidade da prova ser realizada com o asfalto molhado.

No sábado de manhã a chuva estava de facto presente com insistência em Spa-Francorchamps, prometendo um resto de fim-de-semana bastante molhado, e a direcção privilegiada foi a de carregar os carros com apoio aerodinâmico que, ainda assim face ao à natureza do circuito, fica longe dos níveis verificados em Monte Carlo ou Hungaroring.

Foi assim que pilotos e equipas enfrentaram a qualificação para a prova belga e foi então que a chuva começou a ter impacto no horário, uma vez que a luz verde se acendeu catorze minutos depois do previsto devido à falta de condições.

Quando a pista abriu, todos deixaram as boxes com pneus de chuva… todos, menos os Williams que elegeram os intermédios para enfrentar a Q1.

Este era uma primeira indicação de que a formação de Grove estava na qualificação para ser um factor a ter em conta e, rapidamente, as restantes chegaram à conclusão que tinha sido a equipa que nos últimos anos tem sido a lanterna vermelha a tomar a decisão acertada.

A Alfa Romeo e a Haas não aproveitavam as condições instáveis para fazer algo de especial e, juntamente com Yuki Tsunoda, eram eliminadas na Q1.

Na Q2 as condições mantiveram-se, mas com a ameaça da intensificação da chuva, e as surpresas era a eliminação dos dois Ferrari e de Fernando Alonso, que foram acompanhados por Nicholas Latifi e Lance Stroll.

Os carros de Maranello não se davam bem no circuito de belga nem no seco nem no molhado, ao passo que os Alpine tinham dificuldades quando a pista estava em situação de usar os intermédios, sentido-se mais à-vontade quando o asfalto estava seco ou como muita água.

Ainda assim, Esteban Ocon, fresco da sua vitória em Hungaroring, conseguia passar à Q3, voltando a bater o espanhol, que admitiu não estar confortável com o comportamento do seu monolugar no molhado.

Por seu lado, George Russell passava pela segunda vez consecutiva à Q3 e seria um dos protagonistas do derradeiro segmento da qualificação.

No entanto, as condições da pista deterioram-se com a chuva a cair insistentemente, mas foi dado início à Q3, o que acabou por se revelar um erro.

Lando Norris, que fora o mais rápido na Q2 e era um verdadeiro candidato à pole-position, era o primeiro em pista e, quando se fez ao Radillon, perdeu o controlo do seu McLaren, batendo a alta velocidade.

O inglês saiu dos restos do seu monolugar pelos seus próprios meios, mas ainda assim foi levado ao hospital mais próximo para exames de precaução. Felizmente, tudo estava bem com Norris que podia disputar a corrida de domingo, mas de uma possível pole-position, caía para um desapontante décimo quinto lugar na grelha de partida, depois de ter sido obrigado a trocar a caixa de velocidades do seu monolugar.

Mas se o piloto da McLaren ficava impossibilitado de protagonizar uma surpresa, esse papel acabaria por ter outro ator.

A qualificação foi retomada quase quarenta e cinco minutos depois e os pneus intermédios voltavam a ser os escolhidos.

Na primeira bateria de voltas lançadas, era Lewis Hamilton que levava a melhor, parecendo ter a situação sob controlo, mas faltava ainda mais uma tentativa para todos.

O inglês saiu das boxes para a sua derradeira volta lançada no encalço de Russell, ao passo que Verstappen seguia mais atrás.

O inglês da Williams realizou uma volta irrepreensível e quando cruzou a linha de meta, eclipsava a marca do seu conterrâneo por quase segundo e meio e, mais surpreendentemente, o heptacampeão mundial era incapaz de bater Russell, cuja “pole” poderia ser apenas ameaçada por Verstappen.

O holandês, muito embora com uma asa traseira muito pequena no seu Red Bull, assinou uma volta extraordinária, conquistando a sua sexta pole-position da temporada ao bater o inglês da Williams por apenas três décimos de segundo.

Esta era uma grelha de partida que deixava tudo em aberto para a corrida de domingo, uma vez que os candidatos ao título estavam próximos um do outro e era preciso ainda perceber que papel teria Russell no desfecho da corrida.

Para além disso, Daniel Ricciardo conseguia a sua melhor qualificação do ano, com o quarto registo, e Sebastian Vettel estava no quinto posto.

No entanto, daqui para a frente, todas as alterações que se verificaram entre a classificação da qualificação e o final da corrida aconteceram antes desta última ter sido iniciada.

Valtteri Bottas, oitavo, e Lance Stroll, décimo quinto, eram penalizados com cinco lugares na grelha de partida devido às suas ações nos incidentes da primeira curva de Hungaroring. Norris caía de décimo para décimo quinto por ter trocado de caixa de velocidades, ao passo que Kimi Raikkonen, décimo nono na qualificação, arrancava das boxes por ter trocado a asa traseira do seu Alfa Romeo, não mantendo a especificação desta.

Por seu lado, Sérgio Pérez batia na volta em que se dirigia para a grelha de partida, em Les Combes, e com a suspensão dianteira / direita do seu Red Bull bastante danificada chegou mesmo a ser dado como fora da corrida.

Contudo, com a longa espera para que a corrida tivesse o seu início, a equipa de Milton Keynes recebeu o carro nas boxes e teve ainda tempo para o recuperar, o que permitiu ao mexicano alinhar na “prova” de duas voltas do final da tarde.

Lance Stroll foi ainda penalizado com dez segundos por ter trocado a asa traseira do seu Aston Martin durante a primeira situação de bandeiras vermelhas, não mantendo a sua especificação.

Para lá destas alterações, numa corrida de duas voltas sob situação de Safety-Car, em que foi a classificação da primeira que definiu o resultado final, tudo estava definido mesmo antes de os pilotos terem saído das boxes.

Max Verstappen acabou assim por ser dado como vencedor, seguido de George Russell, que conquistou o seu primeiro pódio na Fórmula 1, e de Lewis Hamilton. O holandês reduziu a sua desvantagem para o inglês de oito para três pontos nas contas do Campeonato de Pilotos, uma vez que foram atribuídos apenas metade dos pontos por ter sido completado menos de 75% da corrida.

A Williams volta a pontuar, pela segunda vez consecutiva este ano, e novamente com dois carros, dado que Nicholas Latifi, com as penalizações de Norris e de Bottas e o despiste de Pérez, ficou classificado em nono.

No entanto, no final de uma longa tarde, a sensação dominante era que existia uma classificação de uma corrida que na realidade não tinha acontecido, deixando o evento belga um longo amargo de boca depois de prometer tanto.

Talvez tenha servido para quem de direito tenha aprendido e assim se evite um episódio semelhante.

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Autosport Exclusivo
últimas Autosport
autosport-exclusivo
últimas Automais
autosport-exclusivo
Ativar notificações? Sim Não, obrigado