GP Áustria de F1: Nada parou Charles Leclerc

Por a 11 Julho 2022 18:09

Foram cinco corridas de frustrações e desapontamentos e Charles Leclerc precisava de um fim-de-semana em que as circunstâncias não jogassem contra ele, como vinha a acontecer há demasiado tempo, para poder concretizar o potencial que demonstrava. Em Spielberg, o destino não conjurou contra si e venceu o Grande Prémio da Áustria, apesar de um susto.

O jovem monegasco chegava a pista austríaca depois de ter visto uma vitória certa em Silverstone se evaporar devido a um erro estratégico da sua equipa e isto já vinha em cima de dois abandonos por questões de motor quando liderava confortavelmente e de no Mónaco ter visto o triunfo desaparecer devido a uma decisão duvidosa da Scuderia.

Leclerc precisava de vencer e voltar a colocar a sua temporada nos carris.

Porém, nem tudo parecia jogar a favor do piloto da Ferrari, uma vez que na primeira sessão de treinos-livres os Red Bull pareciam estar ligeiramente mais fortes que os carros de Maranello e isso traduziu-se numa pole-position para Max Verstappen, ainda que por uma diferença mínima – Leclerc perdeu apenas 0,029s e Carlos Sainz, o terceiro, 0,082s.

Sérgio Pérez era penalizado por ter abusado dos limites da pista austríaca e arrancava para a Corrida Sprint de sábado de décimo terceiro.

A Mercedes confirmava a progressão verificada em Silverstone, ainda que sem o ritmo dos Ferrari e dos Red Bull, mas os seus dois pilotos despistavam-se na Q3, ficando George Russell em quarto da grelha de partida e Lewis Hamilton em décimo – definitivamente, os Flechas de Prata não seriam um factor na luta pelos lugares cimeiros, tendo de se contentar com aquilo que as duas equipas que venceram todas as corridas este ano deixariam.

A Sprint acabou vencida por Verstappen, que aproveitou a luta fratricida entre os dois Ferrari para ganhar uma vantagem decisiva logo no início da prova.

Depois de se ver livre do seu colega de equipa, Leclerc rodou no ritmo do holandês, tendo mesmo se aproximado dele na ponta final do exercício de vinte e três voltas. Porém, sem necessidade de atacar, ficava a ideia de que Verstappen nos derradeiros momentos levantou o pé, permitindo uma aproximação controlada do seu perseguidor.

Contudo, o monegasco, após a Sprint mostrava-se muito confiante para o dia seguinte, deixando escapar que a gestão de pneus no Grande Prémio da Áustria, disputado ao longo de setenta e uma voltas, seria de capital importância para o resultado final.

O arranque para a prova de domingo ocorreu sem grande sobressaltos, mantendo os três primeiros as suas posições, ao passo que Sérgio Pérez – que no dia anterior recuperara até quinto – e George Russell envolviam-se num duelo na saída da Curva 4, tendo os dois carros se tocado… Resultado – o mexicano ia para a gravilha e danificava bastante o seu monolugar, o que ditou o seu abandono na vigésima quarta volta, ao passo que o inglês era penalizado com cinco segundos e atrasava-se irremediavelmente.

Entre os pilotos da frente, sem ser incomodado pelo seu colega de equipa, Leclerc apenas na segunda volta deixou a zona de DRS de Verstappen, passando a pressionar o Campeão do Mundo, que, por mais que tentasse, não conseguia afastar-se do Ferrari.

Com a pista mais fria e lavada pela chuva da noite, o Red Bull RB18 tinha dificuldades em gerir os pneus da Pirelli, demonstrando ainda um comportamento inconsistente que deixava o holandês sem saber o que esperar em cada uma das curvas.

Por seu lado, o Ferrari F1-75 estava completamente à vontade, mostrando-se tão ou mais rápido que a máquina de Milton Keynes e com uma delicadeza para os pneus que permitia a Leclerc rodar na esteia de Verstappen sem qualquer problema.

Na décima segunda volta o inevitável aconteceu – o monegasco surpreendeu o líder na travagem para a Curva 4, assumindo autoritariamente o comando.

Sem ter resposta para o andamento de Leclerc, duas voltas depois a Red Bull chamou o seu piloto às boxes, tentando com a tática fazer o que não conseguia fazer com a performance, assumindo uma corrida com duas paragens nas boxes.

Consciente da superioridade do seu carro, a Ferrari não reagiu, mantendo-se fiel ao seu plano inicial, que já passava por duas trocas de pneus, mas deixando a Red Bull no escuro quanto às suas opções estratégicas.

Leclerc pararia apenas na vigésima sexta volta – treze depois de Verstappen – fazendo Sainz o mesmo na seguinte.

Os dois pilotos da Ferrari perdiam uma posição para o holandês, mas a superioridade técnica do carro de Maranello e os pneus bastante mais frescos que montavam, num circuito em que as ultrapassagens não são difíceis, o regresso ao comando da parte do monegasco seria uma inevitabilidade e mesmo o espanhol estaria em condições de assegurar o segundo posto.

O inevitável mais uma vez aconteceu, com Leclerc a suplantar novamente Verstappen, estavam decorridas trinta e três voltas.

Quando Sainz se preparava para fazer o mesmo, a Red Bull chamou o seu piloto às boxes para realizar a sua derradeira paragem planeada.

Uma vez mais, a Ferrari não se atemorizou, mantendo-se fiel à sua estratégia, trocando os pneus a Leclerc apenas na quadragésima nona volta, conservando a vantagem de borrachas treze voltas mais novas do lado do monegasco e catorze no caso do espanhol, que parava na passagem seguinte pela linha de meta.

Uma vez mais, os pilotos da Ferrari teriam de fazer algum trabalho em pista, mas as circunstâncias estavam completamente do seu lado.

Leclerc suplantou Verstappen sem qualquer problema na quinquagésima terceira volta, assumindo definitivamente o comando, ao passo que Sainz preparava-se para fazer o mesmo e, assim, garantir uma dobradinha para a Scuderia.

Porém, quando seguia no escape do Red Bull para a travagem da Curva 4, a unidade de potência do carro número cinquenta e cinco autodestruiu-se estrondosamente, obrigando o espanhol ao abandono quando estavam decorridas cinquenta e seis voltas.

O pesadelo voltava às hostes da Scuderia com uma situação de Safety-Car Virtual provocada pelo abandono do seu piloto a poder alterar a dinâmica da corrida.

Contudo, os estrategas da Ferrari conscientes de que, se Verstappen não aproveitasse a oportunidade e não seguisse Leclerc para as boxes, estaria exposto aos ataques do monegasco, chamaram o seu piloto para uma terceira troca de pneus, montando médios, no que foi imitado pelo seu perseguidor.

A Scuderia respondia bem estrategicamente, como tinha feito ao longo de toda a corrida, e em circunstâncias normais o triunfo sorriria a Leclerc.

No entanto, a vitória do monegasco estava destinada a ser envolvida por drama, com o acelerador do seu monolugar a não recuperar totalmente, mantendo-se entre 20% a 30% mesmo quando o piloto levantava completamente o pé.

Para além dos problemas evidentes que isso causava – Leclerc não podia descrever as curvas à velocidade que realmente desejava – as reduções eram também afetadas, uma vez que a centralina eletrónica do F1-75 ao detetar uma aceleração anormal durante as reduções negava a passagem de caixa.

Foi neste quadro que Leclerc realizou as últimas onze voltas, tendo ainda de se defender da aproximação de Verstappen.

O holandês, que quando terminou a situação de Safety-Car Virtual estava a quatro segundos do primeiro classificado, foi-se aproximando, aproveitando os problemas do seu rival, mas no final não chegava, tendo Leclerc conquistado a sua terceira vitória da temporada com uma vantagem de 1,5s para o piloto da Red Bull.

Finalmente, e depois de três meses certos desde o seu triunfo anterior, o monegasco voltou ao degrau mais alto do pódio, acompanhado por Verstappen e Hamilton, num dia em que a Ferrari esteve irrepreensível estrategicamente. Contudo, o abandono de Sainz não deixará de preocupar os homens de Maranello que perderam mais um resultado de relevo devido a questões de fiabilidade.

FIGURA-Charles Leclerc

O monegasco já não vencia há três meses e em Spielberg estava determinado a terminar com a sua travessia do deserto. Até à situação de Safety-Car Virtual o seu ritmo estava fora do alcance dos seus perseguidores, mas depois um problema no acelerador colocou em risco o seu regresso às vitórias. Apesar das contrariedades, Leclerc conseguiu imprimir um andamento que lhe permitiu gerir a aproximação de Verstappen e somar o seu terceiro triunfo da temporada. Foi uma prestação ‘à campeão’, vencendo as dificuldades inesperadas para garantir o resultado que desejava e necessitava.

MOMENTO – Abandono de Sainz

Até ao abandono do espanhol a Ferrari parecia caminhar com segurança para uma dobradinha, a primeira desde o Grande Prémio do Bahrein. No entanto, uma vez mais, a fiabilidade do F1-75 deixou a desejar, colocando Sainz fora de prova. Para além disso, obrigou a Scuderia a reagir estrategicamente, mas desta feita, fê-lo bem, deixando Leclerc em boas condições para regressar às vitórias, apesar dos problemas com o acelerador.

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