Fórmula 1: Williams, McLaren e Renault bloqueiam venda da Force India

Por a 31 Julho 2018 12:46

Como é do conhecimento público, a Force India entrou num processo de proteção de credores desde o fim de semana do GP da Hungria, numa ação concertada entre a Mercedes, a BWT, Julien Jakobi e Sergio Perez, no sentido de permitir o futuro da equipa. Como?

Este grupo de credores da equipa entrou com um pedido de falência dois dias antes da prova húngara no sentido de permitir que a equipa fosse vendida e assegurado o seu futuro com investimento assegurado e parceria técnica garantida. A presença de Vijay Mallya e a cauda de problemas que arrasta consigo, seria sempre um entrave à venda da Force India.

Contas feitas, Sergio Perez exige o pagamento de mais de 4 milhões de dólares devido a comissões e pagamentos de patrocinadores que o mexicano trouxe para a equipa, enquanto a Mercedes reclama 15,15 milhões de dólares de pagamentos em falta no acordo de motores. Após ver confirmada a nomeação de um administrador judicial, Otmar Szafnauer disse á imprensa que seria uma questão “de um par de semanas até que o nosso futuro se torne mais claro e, acredito, muito mais seguro!”

Lawrence Stroll e parte da sua coleção

E para dar razão ao CEO da Force India, foi anunciada a possibilidade de haver cinco candidatos à compra da equipa. Porém, nesta altura, só se conheçam dois sérios apostadores: Lawrence Stroll, cansado que está da Williams e seduzido pela oportunidade de comprar uma equipa para lá colocar o filho, Lance Stroll e Dmitry Mazepin, o bilionário russo dos fertilizantes, que veria com bons olhos a compra da equipa para lá colocar o seu filho, Nikita Mazepin, atualmente na GP3, sendo piloto de desenvolvimento da Force India.

Enfim, o otimismo, apesar da situação, reinava nas hostes da Force India. Isto porque, como disse Sergio Perez aos jornalistas presentes no Hungaroring, “a situação é crítica e só a venda resolve os problemas”, deixando no ar a incerteza face ao seu futuro na equipa. Exatamente o mesmo discurso de Szafnauer. “Estamos no período crítico, que pode durar uma semana ou duas. Temos de nos manter positivos, desfrutar das férias e voltar á luta. Mas acredito que aconteça o que acontecer, será sempre melhor para nós!” Se for afastado Vijay Mallya – que continua a lutar para não ser extraditado para a Índia e procura vender bens no valor de 2,03 mil milhões de dólares para pagar aos seus credores, entre os quais um sindicato de bancos indiano que quer reaver mil milhões de dólares “enterrados” na defunta Kingfisher Airlines – o processo, diziam os homens da Force India, seria muito mais fácil.

Pelo meio, a Rich Energy tentou um plano de resgate, injetando mais de 30 milhões de euros, mas o tribunal considerou a tentativa inócua e a Rich Energy – interessada na compra – acabou por publicar no Twitter uma mensagem pouco feliz. E não se espantem que no meio desta confusão, vejam aparecer uma empresa chamada Orange India Holdings, uma empresa detida por Vijay Mallya e Michiel Mol e que é o veículo através do qual são donos da equipa. Está na lista de credores da Force India. Adiante.

Porém, nem tudo são rosas no mundo da Fórmula 1. E há umas regras que foram criadas para defender o bem comum mas que estão, agora, a travar o negócio. Diz o Pacto da Concórdia que uma equipa que mude de mãos, é considerada uma equipa nova e perde o direito à sua parte na distribuição dos dinheiros dos direitos televisivos e outros proventos, tendo de começar do zero como todas as equipas novas na Fórmula 1, como sucedeu com a Haas, por exemplo. Esta situação só pode ser ultrapassada se todas as equipas aceitarem que a equipa mude de mãos e continue a participar da partilha de verbas.

O cenário então é este: se a Force India não receber assinaturas de todas as equipas a aceitar a venda da equipa, serão cerca de 150 milhões de dólares perdidos num período de três anos. Essa situação reduz, drasticamente, o valor da equipa e pode, no limite significar o fecho da Force India colocando 405 pessoas no desemprego e menos dois carros na grelha de partida de 2019.

Percebe-se, assim, porque é que Chase Carey tentou reunir as assinaturas todas já na Hungria e a firmeza de Ross Brawn em afirmar que “vamos fazer tudo para ajudar a Force India.” É que um plantel com 20 carros já não é muito saudável, ter apenas 18 carros em 2019 seria trágico para a Liberty. Mas… e nestas coisas há sempre um “mas”, há equipas que não estão pelos ajustes.

Vijay Mallya, Zak Brown e Claire Williams (da esquerda para a direita)

Chase Carey embateu nas negas de Williams, McLaren e Renault em assinar o acordo. Da parte da Williams e da McLaren percebe-se o objetivo: atolados em problemas e com o dinheiro a escassear, menos um “player” ofereceria mais uns milhões de euros muito necessários. Mas é uma posição ridícula que se limita a olhar para o umbigo, despercebendo o mal que podem estar a fazer ao negócio que os sustenta. Esquecem que podem ser eles os próximos a estar numa situação idêntica e a precisar do acordo unânime de todos. E nestas coisas, a memória não costuma ser curta…

Claire Williams e Zak Brown deveriam olhar para Gene Haas. O americano foi duramente atacado pela Force India devido à relação próxima com a Ferrari. Quando lhe foi pedido para assinar o documento, assinou sem reservas, pois percebeu que não é reduzindo a concorrência que irá mais longe.

No caso da Renault, esta recusa é mais tática que outra coisa. Perdida a RedBull, a marca francesa fica com a sua equipa e a McLaren. Uma associação fraca face àquela que poderá surgir da ligação Mercedes – Force India ou da ligação Ferrari – Haas – Sauber. Desta forma, Cyril Abitboul tenta evitar que a Fórmula 1 seja dominada pela Mercedes e Ferrari e as suas equipas.

Uma vez escrevi aqui no Autosport que teríamos de ter muita atenção ao que se iria passar com as equipas apoiadas pelos construtores de motores. O arregimentar de forças já começou o ano passado e em 2018 acentuou-se com a ligação profunda entre a Sauber e a Ferrari. O grupo FCA fez regressar a Alfa Romeo à Fórmula 1 e não restam dúvidas que mesmo depois da morte de Sergio Marchionne, a FCA vai fazer regressar a Maserati à disciplina máxima da competição automóvel, através da Haas.

A Mercedes não pode ficar a ver e por isso está envolvida neste processo da Force India, embora não possa estar na lista de compradores, embora o seu contributo seja de alguns milhões pela entrega dos motores. A mesma situação da Ferrari.

Cyril Abitboul

Ora, perante esta situação, a Renault ficou em inferioridade e Cyril Abitboul bloqueou o jogo para perceber o que pode fazer. A primeira opção seria votar a favor de uma unidade de energia mais barata e simples que as atuais. Mas tanto a Renault como a Mercedes e a Ferrari, insistem em manter as complexas e caríssimas unidade de potência que acabam por sugar todos os recursos das equipas clientes deixando-as sem oportunidade de lutar pelos primeiros lugares. Mantendo, igualmente, longe novos construtores que aceitam ir a jogo, mas sem cometer loucuras. Com construtores como o grupo VW, a Toyota ou os coreanos da Hyundai Kia fora da equação, Mercedes e Ferrari podem continuar a dividir a hegemonia na Fórmula 1 entre si.

Enfim, Cyril Abitboul e a Renault dão mostras de, também eles, não estarem a olhar para a floresta, mas apenas para a árvore e isso pode ser preocupante. Esperemos que o bom senso prevaleça e que a Force India se veja livre de Vijay Mallya e tenha um futuro mais brilhante, pois tem massa cinzenta fantástica e a recuperação que fizeram desde os testes de pré-temporada em Barcelona é fabulosa.

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