Fórmula 1: O contra-ataque da Ferrari

Por a 10 Junho 2020 23:11

O acordo realizado entre a FIA e a Ferrari no âmbito da potencial ilegalidade da unidade de potência transalpina parece estar a dar frutos, tendo a FIA enviado às equipas mais duas diretivas técnicas para as impedir de contornar o regulamento dos motores, no que pode ser uma manobra dos italianos para ganhar vantagem. Explicamos porquê.

O V6 turbohíbrido da “Scuderia” esteve ao longo de 2019 debaixo de fogo, tendo tanto a Mercedes como a Red Bull questionado a sua legalidade, dada a vantagem de performance que ostentava.

A entidade federativa acabou por selar uma unidade em Abu Dhabi e levá-la para análise. Contudo, os técnicos da FIA, muito embora suspeitassem que nem tudo estava legal com ela, nunca conseguiram provas inequivocamente que não cumpria o regulamento, acabando as duas partes por chegar a um acordo que ficou nos segredos dos deuses.

Porém, no anúncio da concordância entre as duas partes, realizado no último dia dos testes de Inverno deste ano, era revelado que a Ferrari ajudaria a FIA a encontrar formas de reforçar a legalidade das unidades de potência de todos os construtores: “A FIA e a Scuderia Ferrari acordaram um número de entendimentos que melhorarão a monitorização das unidades de potência de Fórmula 1 para as próximas temporadas. Ajudará ainda a FIA em outras funções de regulação na Fórmula 1 e nas suas actividades respeitantes a emissões de carbono e a combustíveis sustentáveis”.

As dúvidas quanto à legalidade da unidade de potência da “Scuderia” tinha já dado lugar a um directiva técnica para este ano, que passa pela introdução de um segundo sensor para medir o fluxo de combustível, que será colocado num local desconhecido das equipas e terá um sinal encriptado, assim como uma frequência de funcionamento diferente do primeiro.

Há alguns dias a FIA foi mais longe e divulgou mais duas directivas técnicas, com as quais pretende impedir que os construtores de unidades de potência consigam andar numa zona ilegal, mas impossível de policiar.

Uma delas, a TD0018/20 passa por introduzir um segundo sensor no ERS para verificar a distribuição de potência eléctrica recuperada pelos sistemas, que será instalado nos carros das três equipas da frente já desde o Grande Prémio da Áustria, sendo posteriormente feito o mesmo às restantes formações.

Com esta medida, a FIA pretende impedir que as equipas ultrapassem os limites de potência permitidos para o sistema híbrido para obter picos de potência sem que sejam verificados pelos técnicos da entidade federativa.

A Directiva Técnica 0019/20 vem novamente reduzir os limites para o consumo de óleo, passando a ser de 0,3 litros por cada cem quilómetros, o ano passado era 0,6 litros por cem quilómetros.

Esta é uma guerra que a FIA tem vindo a travar há longos anos, uma vez que os construtores de unidades de potência usam o óleo para lubrificar o motor como combustível, o que lhes permite obter mais potência sem ultrapassar os limites de fluxo de gasolina – 100Kg/h.

Tendo a Ferrari estado na berlinda, o primeiro impulso passa por apontar à equipa de Maranello o ónus destas medidas, mas não deverá ser assim.

A “Scuderia” poderá ter perdido parte da sua vantagem no que diz respeito à unidade de potência, o que foi aparentemente confirmado nos testes de Inverno, com os carros de Maranello a ficarem aquém no que diz respeito a velocidade de ponta e, se o arrasto aerodinâmico do SF1000 é uma das causas para a debilidade, existe algum desconforto no seio da equipa quanto à performance da unidade de potência, muito embora Toto Wolff admita que ainda não viu o verdadeiro potencial do V6 turbohíbrido italiano deste ano.

Por outro lado, presentemente, existem suspeitas de que alguns dos restantes construtores de motores estariam a empregar os subterfúgios fechados pelas mais recentes directivas técnicas para ganhar rendimento nas suas unidades.

Ora estando a Ferrari numa posição aparentemente precária quanto a competitividade e obrigada a ajudar a FIA a encontrar formas para um melhor policiamento técnico das unidades de potência, os homens da formação do “Cavallino Rampante” terão sugerido aos responsáveis da entidade federativa quais os caminhos para fechar as brechas exploradas pelas suas adversárias.

O “timing” não é também inocente, tendo as clarificações sido reveladas a um mês do início da primeira corrida, o que deixará as rivais da “Scuderia” numa situação, no mínimo, desconfortável, dado o pouco tempo de reacção.

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