Fórmula 1: As dúvidas da evolução da Alpine

Por a 5 Janeiro 2022 11:13

A Alpine tomou o ano passado da Renault, estreando-se na Fórmula 1 e, apesar de uma vitória, assistiu-se a uma quebra de performance relativamente a 2020, e se houve motivos justificáveis para isso, existem também alguns motivos de preocupação no seio da estrutura de Enstone.

A equipa que representa o grupo gaulês desde 2016, na verdade, foi apanhada pelas circunstâncias criadas pela pandemia da COVID-19, o que a deixou em desvantagem face às equipas a seu redor.

Consciente de que dificilmente poderia recuperar a enorme desvantagem que tinha para as três equipas da frente – Mercedes, Ferrari e Red Bull – Cyril Abiteboul, a meio de 2019, decidira apostar tudo na implementação do novo regulamento técnico que, originalmente, estava prevista para 2021.

A Renault, então, decidia para 2020 manter o chassis e a unidade de potência de 2019 para que os seus recursos fossem aplicados quase exclusivamente nos novos “carros-asa”.

Quando o mundo se vergou perante o novo coronavírus e foi decidido manter os carros quase inalterados de 2020 para 2021 e adiar o novo regulamento em um ano, a Renault, que no passado ano se transformou em Alpine, sabia que estava numa posição debilitada.

O seu chassis de 2019 tinha já chegado ao seu limite de desenvolvimento no final de 2020 e teria de realizar mais uma temporada. Com esta limitação, dificilmente a Fernando Alonso e Esteban Ocon poderia ser um factor determinante na luta pelo topo do segundo pelotão, quanto mais aspirar a batalhar pelos pódios e os responsáveis da equipa mantiveram a estratégia original de estrear uma nova unidade de potência apenas com a introdução dos novos monolugares, adiada para 2022.

Espera-se, portanto, que a Alpine possa dar um salto competitivo assinalável para a próxima temporada, dado que terá novos chassis e V6 turbo híbrido, ficando em linha com as suas rivais mais próximas e as formações da frente.

No entanto, independentemente deste cenário, a formação de Enstone não teve uma temporada de 2021 consistente e isenta de problemas, em que demonstrasse que estava a operar nos limites do material que tinha à sua disposição.

Logo no início do ano, os responsáveis da equipa admitiram que falhas na correlação de dados entre as ferramentas de simulação da Alpine e a realidade tinham criado uma discrepância nos resultados verificados em pista, sofrendo o A521 de problemas aerodinâmicos.

Mesmo sem grandes evoluções técnicas ao longo da temporada, a equipa conseguiu debelar e grande parte debelar as questões criadas pela falta de correlação, criando no seu monolugar uma plataforma aerodinâmica consistente.

Porém, os monolugares de Enstone revelaram outras questões. Muito embora o Alpine fosse em média o sexto mais rápido em pista, tanto Alonso como Ocon tiveram de se haver com grandes flutuações de competitividade – em algumas provas estavam perto dos Ferrari e dos McLaren em outras caíam para trás dos Alpha Tauri e acossados pelos Aston Martin.

Segundo a própria equipa, esta inconsistência de performances deveu-se às características do Alpine A521, que se adaptava melhor a um tipo de circuitos que outros, mas não só, e mais preocupante, devido a dificuldades em colocar os pneus a funcionar corretamente.

Os pneumáticos são o único ponto de contacto entre qualquer carro e a superfície e um entendimento débil do seu funcionamento pode causar variações de competitividade de grande amplitude, o que se verificou este ano com a formação de Enstone.

Com novas borrachas a serem introduzidas na próxima temporada, com medidas completamente diferentes, o conhecimento que cada equipa terá dos novos Pirelli de 18” será fundamental para uma campanha de acordo com os seus objectivos.

A unidade de potência Renault deste ano será, seguramente, um passo em frente relativamente à época passada, ao passo que no campo do chassis tudo dependerá da interpretação que cada equipa fará do novo regulamente, um cenário semelhante a todas, mas a avaliar pelo que se passou em 2021, a Alpine terá que melhorar substancialmente no departamento dos pneumáticos, caso contrário, o esforço e investimento que fez para o novo regulamento técnico será infrutífero, ficando completamente mascarado por pneus a operarem fora da sua janela de funcionamento óptimo.

Em 2022, espera-se, portanto, um salto competitivo por parte dos monolugares da marca gaulesa, mas a possibilidade de vermos Alonso e Ocon a lutar pelo topo do segundo pelotão, ou até, quem sabe, pelos lugares do pódio, depende da capacidade da equipa em entender a ciência das borrachas redondas.

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