Fórmula 1: A frustração da McLaren

Por a 1 Abril 2022 19:53

A McLaren marcou os seus primeiros pontos no Grande Prémio da Arábia Saudita, com o sétimo lugar de Lando Norris, mas não deixa de saber a pouco para uma equipa que olhava para 2022 como o ano em que se aproximaria do topo. O tiro saiu pela culatra e hoje a equipa de Woking tem problemas para resolver.

Depois dos anos desastrosos da Honda, em que o construtor nipónico lhe fornecia unidades de potência, a McLaren vinha numa trajectória de recuperação, tendo em 2020 conquistado o terceiro lugar no Campeonato de Construtores, lugar que perdeu o ano passado para a ressurgente Ferrari.

Os homens da estrutura inglesa olhavam para a introdução do novo regulamento como uma oportunidade para dar o salto do topo do Segundo Pelotão, onde tem marcado presença desde 2019, para o círculo das grandes, mas depois das boas indicações dadas na primeira sessão de testes do defeso, que teve lugar no Circuit e Barcelona – Catalunya, os problemas começaram a surgir com o MCL36 Mercedes.

No traçado espanhol o carro de Woking demonstrou ser pouco propenso a ser afectado pelo efeito do ‘porpoising’, parecendo uma boa base para que a equipa se lançasse para os objectivos que se propusera – imiscuir-se entre Mercedes, Red Bull e Ferrari e transformar as ‘Três Grandes’ nas ‘Quatro Grandes’.

O McLaren, juntamente com o monolugar de Maranello, era a estrela da primeira semana de testes, havendo até alguns analistas que consideravam que o MCL36 era superior ao F1-75.

Zak Brown e os seus homens deixaram Espanha com razões para sorrir, mas este durou pouco.

Logo na sessão de testes do Bahrein os sorrisos desapareceram, dando lugar a semblantes carregados de preocupação e frustração.

Com temperaturas mais elevadas, e mais próximas daquelas que serão encontradas durante os fins-de-semana de corrida, o MCL36 Mercedes evidenciou problemas de sobreaquecimento dos travões dianteiros, impedindo que a equipa realizasse séries longas de voltas, o que atrasou a equipa no conhecimento do seu carro relativamente às suas adversárias.

Para agravar ainda mais a situação da McLaren, Daniel Ricciardo era obrigado a falhar os testes de Sakhir, por ter contraído COVID-19, levando a que o australiano ficasse em desvantagem para o início da temporada deste ano.

Tudo parecia ir contra a formação de Woking, mas o problema técnico do MCL36 não se deve a uma fatalidade, antes a um erro de concepção da parte dos responsáveis técnicos da McLaren, liderados por James Key, engenheiro que Zak Brown foi buscar à Toro Rosso em 2019 e em quem depositou a esperança de levar a equipa até novos patamares de performance.

Segundo o técnico inglês, a McLaren falhou nos cálculos para as exigências de arrefecimento dos travões dianteiros devido ao facto de os carros de 2022 serem mais rápidos que o antecipado.

No entanto, não há relatos que outras equipas tenham passado pelos mesmos problemas, o que não abona a favor do departamento técnico de Woking.

Sem conseguir encontrar uma verdadeira solução para a questão, a McLaren correu nos dois primeiros Grandes Prémios da temporada com um arranjo de recurso, devendo-se a melhoria da performance em Jeddah a um circuito menos exigente para os travões, ao contrário de Sakhir, que demanda bastante destes componentes.

É claro que num carro de Fórmula 1 um componente não funciona isolado dos outros e no caso dos travões – sejam os dianteiros ou traseiros – as condutas de arrefecimento para lá de enviarem ar para os discos e maxilas, tem também a função de manipular o fluxo aerodinâmico, sendo preponderantes para que o ar seja direcionado para as superfícies que a os técnicos da equipa desejam.

É, portanto, evidente que o MCL36 perdeu apoio aerodinâmico com a solução de recurso concebido pela equipa para resolver os seus problemas de travões no eixo dianteiro a tempo dos dois primeiros Grandes Prémios da temporada e que se deve manter, ainda, para a prova da Austrália, que se realiza no próximo fim-de-semana.

Aqui pode residir o grande problema com o qual Lando Norris e Daniel Ricciardo se debatem neste início de época – uma redução no apoio aerodinâmico que altera o equilíbrio do McLaren MCL36 Mercedes, deixando-o bastante menos performante.

Mas poderão existir outros.

Tanto o inglês como o australiano têm vindo a queixar-se de um comportamento subvirador do monolugar inglês nas curvas de baixa velocidade, onde a aerodinâmica é menos preponderante.

Para este comportamento podem concorrer duas possibilidades – ou o MCL36 não está a aquecer convenientemente os seus pneus dianteiros ou a sua suspensão dianteira, que este ano passou para o sistema “pull-rod”, não está a realizar o seu trabalho.

O facto de a equipa ter sido obrigada a alterar a forma como arrefece os travões dianteiros pode contribuir para que os pneus não sejam colocados na temperatura correcta de funcionamento e, assim, provocar o escorregamento do eixo anterior.

Já o sistema “pull-rod” em si não é um problema, a Red Bull usa o mesmo sistema e não parece ter dificuldades, mas a McLaren poderá estar a sentir dificuldades em colocar as suspensões dianteiras na janela de funcionamento que deseja.

Se a raiz de todos os problemas for os problemas de arrefecimento, talvez a McLaren consiga dar um salto competitivo ainda este ano, mas se a fonte das contrariedades for a suspensão, então Lando Norris e Daniel Ricciardo podem estar a preparar-se para uma longa e difícil temporada.

Seja como for, este é um início de temporada longe do esperado para a McLaren, podendo até perder o papel de líder do Segundo Pelotão.

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