Fórmula 1 2022: um mundo de incógnitas

Por a 2 Março 2022 09:26

Está prestes a arrancar a Fórmula 1 2022, numa nova era para a disciplina. Monolugares completamente novos, que se espera poder aumentar as lutas em pista, facilitando aos monolugares rodar mais juntos. A correlação de forças não deve mudar muito, mas ainda há espaço para surpresas…

A Fórmula 1 entra este ano numa nova era, com um regulamento técnico que exige carros quase completamente novos que poderão ter um impacto no equilíbrio do plantel e, até, criar algumas surpresas em pista.

A FIA e a FOM tinham como grande objetivo criar um conjunto de regras que permitisse a construção de monolugares que promovessem de uma forma mais efetiva as lutas em pista, algo que era muito difícil, muito embora não impossível, na geração anterior de automóveis de Grande Prémio.

A receita passou por alterar completamente a filosofia através da qual os carros geram o seu apoio aerodinâmico – até agora mais de 60% da ‘downforce’ era criada pelas asas, mas a partir de 2022 o fundo dos monolugares, com os túneis Venturi, será responsável por quase 70% da aderência aerodinâmica.

Sempre foi considerado que esta filosofia para criar apoio aerodinâmico era mais favorável à possibilidade de os carros seguirem mais próximos uns dos outros, dado que desta forma é criada menos turbulência, e a FIA e a FOM decidiram seguir este caminho.

Para além disso, também os pneus são completamente novos, com dimensões bastante distintas dos do passado, ao passar dos tradicionais pneumáticos de 13” para 18”.

No campo das unidades de potência foi onde se verificou uma maior estabilidade, mantendo-se basicamente o mesmo regulamento dos últimos anos, mas com algumas nuances.

Os V6 turbo híbridos mantém-se em ação, mas passam a ter de usar combustível com 10% de etanol, por questões ecológicas

Esta parece ser uma alteração muito subtil, mas na verdade implica uma dinâmica de combustão completamente diferente e custa cerca de 20 cv de potência.

Acresce que este ano entra em vigor o congelamento do desenvolvimento das unidades de potência, que se estende até ao final de 2025, o que obrigou a todos os construtores – Ferrari, Honda, Mercedes e Renault – a conceber e a construir V6 turbo híbridos completamente novos.

Isto significa que os três grandes diferenciadores de performance – aerodinâmica, gestão de pneus e performance dos motores – foram alvo de fortes impactos durante este defeso, havendo o potencial para que a competitividade relativa de cada uma das equipas seja completamente alterada.

Uma nova ordem competitiva?

O potencial para haver grandes modificações na ordem competitiva vista nos últimos anos é elevado, muito embora não se espere uma repetição do sucedido em 2009, quando a Brawn GP, com uma interpretação muito própria dos regulamentos, apresentou um carro muito mais competitivo que os demais.

O elevado nível de prescrição do novo regulamento técnico impediu que isso tivesse acontecido, mas ainda assim vimos durante os testes interpretações divergentes para construir um carro para 2022, sendo a área dos flancos onde se verificaram maiores diferenças.

No entanto, perceber quem seguiu o trilho correto será extremamente difícil até à qualificação do Grande Prémio do Bahrein, o primeiro da temporada, sendo os testes de este ano ainda mais inconclusivos que no passado.

Com monolugares completamente novos, as equipas centraram a sua atenção na fiabilidade e na correlação de dados entre a pista e as suas ferramentas de simulação – túnel de vento e CFD – uma vez que, dada a nova filosofia aerodinâmica, uma falha na relação entre o real e o virtual colocaria em risco todo o projeto e poderia colocar uma equipa num caminho de desenvolvimento completamente errado.

Com unidades de potência completamente novas, uma falha de fiabilidade poderia comprometer o esforço feito durante o Inverno e lançar entraves ao desenvolvimento de todo o carro, que este ano será particularmente importante, dado estarmos na primeira temporada de um novo regulamento, precisamente quando a evolução é mais rápida e mais importante.

Sendo assim, apontar favoritos é extremamente precoce neste momento, sendo presentemente o melhor barómetro os problemas que cada uma das equipas sentiu ao longo dos três dias destes de Barcelona.

O que sabemos?

Apesar de carros completamente novos, a fiabilidade revelada pelas equipas ao longo dos três primeiros dias de testes foi verdadeiramente impressionante, com oito equipas a ultrapassarem os mil quilómetros, tendo a Ferrari suplantado a barreira dos dois milhares.

Apenas a Alfa Romeo (818) e a Haas (748) ficaram aquém dos milhares, tendo sofrido diversos problemas técnicos que as remeteram aos confins das respetivas boxes.

A Scuderia esteve em muito bom plano, tendo sido a equipa mais que mais quilómetros (2052) somou, seguida da Mercedes (1837), McLaren (1715), Red Bull (1673), Williams (1622), AlphaTauri (1439), Aston Martin (1383) e Alpine (1234).

É visível, portanto, que a formação de Maranello teve um bom início de pré-temporada, conseguindo rodar de forma consistente e deixando transparecer ter um carro bem-nascido, mas tal como as restantes equipas a performance é ainda uma incógnita.

Mercedes e Red Bull também não evidenciaram problemas de maior, ainda que no caso da formação de Milton Keynes dificuldades com a caixa de velocidades tenham obrigado Sérgio Pérez a parar em pista.

A McLaren não evidenciou dificuldades técnicas, tendo ainda sido a equipa que menos sofreu com o regresso do fenómeno do “porpoising”, tendo todas as restantes sido afetadas de uma forma mais evidente.

Grande parte dos problemas sofridos pela Alfa Romeo deveram-se a este fenómeno, que era tão extremo C43 que alguns componentes não resistiram, obrigando o carro que ostenta as cores da marca de Arese a permanecer nas boxes.

A Alpha Tauri, a Aston Martin e a Williams todas elas não evidenciaram problemas de maior, sendo presenças em pista consistentes, o que lhes permitiu reunir bastantes dados para analisar e, assim, preparar da melhor forma a nova temporada.

Já a Alpine teve um primeiro teste mais complicado, tendo problemas com o DRS ao longo dos três dias, para além de uma fuga hidráulica na manhã do terceiro dia ter provocado um incêndio no A522 que impediu que Fernando Alonso voltasse à pista.

No entanto, nenhuma das equipas mostrou estar tão atrasada que não possa recuperar até à primeira prova da temporada, que terá lugar em Sakhir no próximo dia 20 de Março.

Então quem são os favoritos aos títulos?

Nesta fase, apontar favoritos na luta pelos títulos é quase como jogar no Euromilhões e dificilmente alguém terá uma visão clara de quem serão os grandes atores deste ano.

Porém, será com alguma dose de confiança que poderemos dizer que a Mercedes e a Red Bull poderão estar numa boa posição para continuar a digladiarem-se por vitórias em cada um dos Grandes Prémios.

São duas equipas bem equipadas e operacionalmente habituadas a lutar pelas posições cimeiras, o que é determinante para alcançarem bons resultados.

No entanto, ambas têm questões por resolver. A formação de Milton Keynes tem um monolugar bastante acima do peso mínimo regulamentar.

Não é a única neste barco, mas segundo os rumores que circulavam em Barcelona, é o carro de Max Verstappen e Sérgio Pérez que mais sofre de ‘obesidade’.

Do lado da Mercedes, o grande problema foi o ‘porpoising’, tendo sido uma das equipas que mais se debateu com o fenómeno.

No entanto, a equipa de Brackley deverá apresentar nos testes do Bahrein uma evolução profunda do W13, tal como fez em 2019, o que lhe deverá permitir resolver as questões de oscilação que afetaram o seu monolugar em Espanha.

Estas duas equipas dominaram o panorama nos dois últimos anos, mas poderão ser acompanhadas por outras duas equipas que no ano passado deram mostras de poderem dar um salto competitivo e nos primeiros dias de testes continuaram a dar boas indicações – Ferrari e McLaren.

A formação transalpina tem todas as infraestruturas de uma equipa de topo e foram algumas circunstâncias que a afastaram do círculo dos vencedores nas últimas duas temporadas.

A “Scuderia” apostou tudo no novo ciclo regulamentar, com um carro arrojado e com uma nova unidade de potencia com tecnologia experimental, e deu boas indicações em Barcelona, muito embora a performance de cada um dos carros seja ainda uma incógnita.

Este poderá ser o ano do regresso da Ferrari ao topo, caso o F1-75 demonstre ser o carro que a equipa espera.

A McLaren, por seu lado, tem vindo a desenhar uma trajetória ascendente nos últimos anos e, muito embora não tenha ainda as infraestruturas de uma equipa de topo, deu boas indicações no defeso, se isso é suficiente para poder jogar de igual para igual com a Red Bull e a Mercedes, será um dos motivos de interesse da temporada.

Atrás destas quatro estruturas, que se veem neste momento como as mais fortes à luz do que fizeram, sobretudo, nos últimos anos e, de alguma forma, nos testes de Barcelona, a competição será muito forte.

A Alpha Tauri parece ter um carro muito bem-nascido, assim como o Williams, que poderá dar um salto competitivo do final da grelha para a luta pelos melhores lugares do segundo pelotão.

A Aston Martin, para já, tem assumido uma postura discreta, mas os pilotos têm-se mostrado satisfeitos com o AMR 22, muito embora talvez não o suficiente para replicar a competitividade de 2020, quando o ‘Mercedes cor-de-rosa’ era, consistentemente, o terceiro carro mais rápido em pista.

Já a Alpine terá de recuperar das dificuldades que apresentou em Barcelona, mas sendo uma equipa com recursos e de um grande construtor, espera-se que possa estar na luta pelas melhores posições do segundo pelotão, sem que a Ferrari e a McLaren possam ser incluídas neste grupo.

As grandes dúvidas são a Alfa Romeo e a Haas.

A formação suíça parece ter um carro capaz de dar um salto competitivo, o mesmo se passando com a Haas, porém, se no monolugar de Hinwil se vê a qualidade para poder lutar por lugares de pontuáveis regularmente, o monolugar da estrutura de Kannapolis não parece ter argumentos para conseguir mais que terminar algumas vezes nos pontos, em dias em que tudo lhe corra bem, mas sem fugir ao papel de equipa menos forte do plantel.

Porém, tudo isto são conjeturas, ainda que baseadas em factos, e numa temporada em que o ritmo desenvolvimento será de extrema importância, até porque tem de ser feita dentro dos constrangimentos do teto orçamental, tudo pode ser alterado no decorrer do ano e isso será outro dos motivos de interesse do próximo campeonato.

Depois da temporada do ano passado, todos estamos ávidos de voltar a assistir a um novo duelo entre Max Verstappen e Lewis Hamilton e poucos serão aqueles que não apostam nestes dois nomes como principais candidatos aos títulos, porém, poderão ver-se outros nomes a entrar na ‘guerra’ – Charles Leclerc, Carlos Sainz, Lando Norris e Daniel Ricciardo são aqueles que surgem num primeiro momento – o que traria ainda maior interesse à Fórmula 1.

É, portanto, com grande expectativa que se aguarda o início da temporada e o seu desenvolvimento, sabendo-se que as surpresas poderão ocorrer já no Grande Prémio do Bahrein.

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