Fenómenos do ‘motorsport’: Quatro a ‘puxar’ no asfalto

Por a 13 Dezembro 2023 09:17

Imprescindível nas provas de ralis e todo-o-terreno, a tração às quatro rodas tem uma história de menor sucesso na Fórmula 1, pois era demasiado complicada para ser montada em monolugares, mas ainda ganhou uma prova extra-campeonato.

O nome de Harry Ferguson hoje existe apenas nos tratores da marca Massey Ferguson, mas entre os entusiastas do automobilismo sabem que o engenheiro irlandês também criou o sistema de tração integral. Carros de quatro rodas motrizes são indispensáveis para ganhar nos ralis, no offroad e nas provas de todo-o-terreno, mas já foram banidos das provas de carros de turismo.

Houve apenas uma disciplina onde a tração integral não vingou: nos monolugares. Em 1961, cinco anos antes de ter sido usada pela primeira vez num carro de estrada, foi criado o primeiro exemplar de F1 em que a força do motor era usada pelas quatro rodas. O carro chamava-se Ferguson P99 e foi usado na temporada de 1961 pela Rob Walker Racing Team. Foi pilotado por Jack Fairman e por Stirling Moss, que o considerou o melhor F1 que já conduziu. No entanto, o P99 era pouco fiável e a Ferguson Research (que passou a ser gerida por Tony Rolt com a morte de Harry Ferguson) queria usar o carro apenas como montra tecnológica.

Ainda assim, Moss conseguiu ganhar uma vez com o carro, à chuva, na International Gold Cup, uma prova extra-campeonato disputada em Oulton Park. Apesar do sucesso, pouca gente se mostrou interessada. Foi apenas em 1964 que a BRM fez algumas experiências com o modelo P67, enquanto a Novi Engineering participou nas 500 Milhas de Indianapolis com o modelo P104 pilotado por Bobby Unser.

Tentativas abortadas

Os carros existentes continuaram a ser usados noutras competições. Depois de fazer algumas provas da Gold Star australiana nas mãos de Graham Hill, o Ferguson P99 foi vendido a Peter Westbury, que o usou para se sagrar Campeão Britânico de Rampas em 1964. Com um motor maior, o BRM P67 também seguiu o mesmo caminho, vencendo esta competição em 1968 com Peter Lawson ao volante.

O calendário virou então para 1969, e o novo regulamento que permitia motores até 3000 cm3 começava a elevar a potência para níveis acima dos 400 cv. Para controlar os monolugares, os projetistas voltaram a fazer experiências para ganhar mais tração, com sucesso inicial nos apêndices aerodinâmicos e pneus slicks. Depois de ter experimentado fazer um carro de quatro rodas motrizes para as 500 Milhas de Indianapolis em 1968, a Lotus surgiu no GP de França de 1969 com o modelo 63.

O sistema obrigou a um design de compromisso, em que o motor era virado a 180 graus e o piloto estava praticamente sentado em cima do eixo dianteiro. Graham Hill e Jochen Rindt consideraram o carro perigoso e tiveram que ser John Miles, Mario Andretti e até o cliente Jo Bonnier a testarem o carro em prova. O 63 era lento e avariava constantemente, conseguindo apenas um segundo lugar por intermédio de Rindt, ironicamente na International Gold Cup, mas muito longe de mostrar sinais de competitividade.

A McLaren e a Matra também experimentaram a tração integral com o inguiável M9A e o pesado MS84, respetivamente. Foram usados no GP da Grã-Bretanha, onde correram contra dois Lotus 63. Houve até um projeto da Cosworth, que nunca chegou a correr. A Lotus regressou em 1970 com o 56B, readaptando também a tecnologia de turbina, banida juntamente com a tração integral nas provas americanas, mas Emerson Fittipaldi pouco pôde fazer com um carro que se desligava a baixa velocidade.

E assim acabou a saga da tração integral na F1, que acabou por ser banida, mais como um pró-forma, com o final da temporada de 1982.

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