F1: Porque ninguém consegue chegar ao nível da Red Bull?

Por a 11 Março 2024 16:37

A resposta resumida é simples: têm o melhor piloto, o melhor aerodinamicista, Adrian Newey, a equipa mais afinada, a estrutura de gestão mais eficiente, conseguiu fazer de longe o melhor carro na nova era da F1 em 2022, tal como a Mercedes tinha feito em 2014 com a unidade motriz, não comete erros nas boxes, o facto do carro ser muito bom permite muito maior latitude na escolha das estratégias, que são quase sempre as melhores, a fiabilidade do carro tem sido perfeita, e tudo junto leva ao domínio total da Red Bull em 2022 e 2023 na F1.

Agora, como se viu no Bahrein, a Red Bull está um passo à frente da concorrência, mas agora, o que torna também o RB20 Honda, nas mãos de Max Verstappen, uma máquina tão especial?

Não temos a veleidade de expor os segredos da mais recente máquina de Adrian Newey – se o soubéssemos, estaríamos a trabalhar para uma das rivais da equipa de Milton Keynes por um vencimento principesco – mas existem algumas características que são evidentes que se podem analisar.

Desde o ano passado que tem sido claro que os carros da Red Bull são muito melhores em configuração de corrida, o que permite que os monolugares das restantes equipas se aproximem quando está um lugar na grelha de partida em disputa.

Esta é uma característica que foi pensada desde o primeiro monolugar da equipa de bandeira austríaca da atual ‘Era Regulamentar’, que foi introduzida em 2022.

O novo regulamento tinha como objetivo tornar as ultrapassagens mais fáceis que no passado, o que tira o foco da posição da grelha de partida, uma vez que, se um monolugar for superior em corrida, com a nova filosofia dos carros, seria possível impor a sua vantagem no dia em que os pontos são distribuídos.

Adrian Newey, tendo isto em mente, quando foram tomadas as decisões de projeto do RB18, o carro de 2022, concebeu, juntamente com a sua equipa técnica, um carro otimizado para a corrida em detrimento da qualificação.

A grande limitação em corrida são os pneus que, com o enorme peso, torque monstruoso dos V6 turbo híbridos e o elevado apoio aerodinâmico a alta velocidade dos carros atuais, sobreaquecem, o que provoca um desgaste prematuro dos pneus.

Os Red Bull, desde 2022, têm isto em mente, colocando menos temperatura nos pneus graças à sua filosofia aerodinâmica que mantém o seu centro de pressão estável ao longo de leque de velocidade bastante o amplo, permitindo que as borrachas de ambos os eixos mantenham temperaturas estáveis ao longo de toda a corrida.

Isto tem como consequência a dificuldade em aquecer os pneus para a qualificação, o que tem deixado Max Verstappen e, principalmente, Sergio Pérez mais expostos aos seus adversários, como se tem verificado.

O RB20 leva este conceito ao extremo, com a decisão de Newey em aproximar o máximo possível de todos os componentes do centro longitudinal do monolugar deste ano da Red Bull. Daí a presença de radiadores, e as respetivas condutas de arrefecimento, mais no meio do carro com o intuito de criar um monolugar o mais neutro possível, exigindo assim o mínimo possível dos pneus.

Numa primeira análise, o RB20 aproxima-se em termos de conceito dos mal-amados Mercedes W13 e W14, com a abordagem ‘zero-pod’, mas enquanto a equipa do construtor alemão abdicou de modular o ar da forma mais eficaz com os flancos, a Red Bull mantém estes componentes como ‘apêndices aerodinâmicos’ para direcionar o fluxo de ar para onde considera ser melhor e, como é do conhecimento de todos, Newey consegue ‘ver a estrutura aerodinâmicas ao olhar para um carro’ tendo facilidade em manipular a passagem da sua criação pela atmosfera.

Desde 2022 que os Red Bull têm vindo a ser concebidos com o objetivo de ganhar corridas e, logo, campeonatos, ao passo que os seus rivais têm como desiderato serem o mais rápidos possível, o que nem sempre se traduz em triunfos – desde meados de 2022 que tem sido raro.

As restantes equipas já perceberam a abordagem da equipa de Milton Keynes, mas esta tem mais de dois anos de avanço, o que em Sakhir, no Grande Prémio do Bahrein, se traduziu em cerca de meio segundo por volta do Red Bull para o Ferrari em condições de corrida.

A esperança é que os técnicos de Maranello consigam ao longo da presente temporada evoluir o seu carro de modo a colocar os homens de Milton Keynes sob pressão e oferecer-nos corridas mais disputadas… Frédéric Vasseur acredita que é possível…

E como tudo isto foi possível?

Max Verstappen é sem dúvida o melhor piloto da F1 na atualidade, e não temos a mais pequena dúvida que com um Ferrari ou Mercedes não mãos, não diríamos que venceria todas as corridas, mas o campeonato seria inegavelmente mais equilibrado. A sua habilidade ao volante é um dos principais pilares do sucesso da Red Bull.

Em segundo lugar, Adrian Newey: a Red Bull tem a sorte de contar com o melhor aerodinamicista da F1. Newey é responsável por projetar carros que são extremamente eficientes e rápidos, o que dá desde logo à Red Bull uma vantagem significativa sobre seus concorrentes. Foi o caso nos últimos dois anos, depois de aproveitar da melhor forma a mudança de era para monolugares de efeito de solo na F1. Ele próprio já tinha lidado com isso no passado, durante a sua longa carreira.

A equipa da Red Bull está extremamente bem afinada e é muito eficiente. Todos trabalham juntos de forma coesa e há um grande senso de camaradagem. Isso traduz-se num ambiente de trabalho positivo e produtivo, que contribui muito para o sucesso da equipa.

A Red Bull possui uma estrutura de gestão eficiente e eficaz. A equipa é liderada por Christian Horner, que é um excelente líder. Horner sabe como tirar o melhor de seus funcionários e criar um ambiente de trabalho propício ao sucesso. Por isso o caso que se vive hoje em dia em relação a si é muito complicado para a Red Bull.

Como já explicámos, a Red Bull construiu de longe o melhor carro da F1 em 2022 e 2023. O RB18 e o RB19 foram extremamente rápidos, fiáveis e eficientes e isso deu à equipa uma vantagem significativa sobre os seus concorrentes. A Red Bull é conhecida também por ter uma equipa de ‘pitstops’ muito eficiente e precisa que raramente comete erros, o que contribui também para o seu sucesso nas corridas.

Por outro lado, o facto do carro ser tão bom permite à equipa uma latitude muito maior na escolha das estratégias de corrida. A equipa pode escolher estratégias mais agressivas, que muitas vezes se traduzem em vitórias.

A fiabilidade dos seus carros tem sido perfeita em 2022 e 2023. O RB18 e o RB19 raramente apresentaram problemas técnicos, o que permitiu sempre a Verstappen e Pérez estarem perfeitamente descansados a esse nível.

Em resumo, o domínio da Red Bull na F1 é resultado de uma combinação de fatores, um piloto excecional, um excelente aerodinamicista, uma equipa afinada, uma estrutura de gestão eficiente, o melhor carro da grelha, uma equipa de boxes precisa e fiabilidade perfeita do carro. Todos esses fatores juntos traduzem-se num desempenho dominante que coloca a Red Bull em uma posição invejável na F1.

E porque equipas como a Ferrari ou Mercedes não chegam lá? É como quando um ciclista foge do pelotão: se os seus adversários tentam recuperar a margem e aceleram o passo, a Red Bull faz o mesmo como se viu no risco que correram com a mudança operada no RB20 face ao RB19 – e isso levou a que sem dúvida a Mercedes e a Ferrari tenham evoluído, mas a Red Bull fez o mesmo e por isso… ficou tudo na mesma! Agora vamos ver se com o mesmo tipo de domínio ou não, mas isso só os próximos tempos dirão…

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simoncelli
simoncelli
1 mês atrás

É verdade que a F1 passa sistematicamente por períodos extensos de domínio de determinados carros e pilotos. Talvez até possamos concluir que geralmente esses períodos de domínio prolongados acontecem apenas com um dos pilotos da equipa que tem o melhor carro. Domínio concentrado apenas num dos pilotos. Schumacher /Ferrari, Vettel/Red Bull, Hamilton/Mercedes e agora verstapen/Red Bull. Somos forçados a admitir que alguns pilotos são de facto mais rápidos e valem algumas decimas no tempo por volta a que se soma outras tantas decimas de vantagem do carro que conduzem. Quando se junta o melhor piloto dentro do melhor carro, a… Ler mais »

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