F1: Mercedes com fraquezas pouco vistas

Depois do que se viu nos treinos livres e qualificação não havia quem pensasse que a Mercedes poderia perder com tanto estrondo o GP da Áustria. Se não fosse Hamilton, seria Bottas, mas a verdade é que as corridas e campeonatos continuam a ter uma imprevisibilidade que os adeptos adoram…

O Red Bull Ring é um traçado em que a Mercedes tem sido imbatível, mais do que a média do seu domínio na ‘Era Turbohíbrida’, mas neste Grande Prémio da Áustria mostrou debilidades em todas as áreas, sendo as dificuldades estratégicas uma situação que se vem a repetir ao longo da temporada.

Logo em Melbourne, Lewis Hamilton liderava a corrida confortavelmente, parando nas boxes para trocar de pneus sem que tivesse assegurado para Sebastian Vettel a distância necessária para impedir que este assumisse o comando na eventualidade do aparecimento de um Safety-Car Virtual.

Os problemas das boxes de Grosjean acabaram por precipitar a introdução do Safety-Car Virtual, tendo o inglês perdido o comando e a corrida para o seu rival.

Na prova de Xangai, Valtteri Bottas parecia capaz de poder vencer, mas uma situação de Safety-Car acabou por cercear qualquer possibilidade de o finlandês poder ascender ao degrau mais alto do pódio. A Red Bull aproveitou o episódio para trocar os pneus dos seus pilotos, ficando em vantagem com as suas borrachas frescas, face aos pneumáticos ‘cansados’ dos restantes pilotos.

A Mercedes poderia ter feito o mesmo com Hamilton, que rodava entre Verstappen e Ricciardo, mas considerou que a vantagem que poderia alcançar com a operação era negligenciável, o que não se verificou, tendo o australiano vencido a corrida. Verstappen não foi ao pódio apenas por que se envolveu num toque com Sebastian Vettel.

Na Áustria as dificuldades estratégicas da Mercedes voltaram a fazer-se sentir, quando foi adotada uma situação de Safety-Car Virtual para remover o monolugar de Valtteri Bottas, que abandonara com problemas hidráulicos.

Com a aproximação do período para as paragens nas boxes, a Red Bull e a Ferrari chamaram os seus pilotos para trocar de pneus, perdendo menos tempo com toda a operação do que aconteceria se a corrida estivesse a decorrer normalmente. Contudo, estranhamente a Mercedes manteve Hamilton em pista, deixando-o exposto aos dois pilotos da equipa de Milton Keynes e a Kimi Raikkonen.

Os piores cenários para inglês concretizaram-se quando realizou a sua troca de pneus, caindo para quarto, deixando claro o erro estratégico dos homens de Brackley.

O chefe de equipa da formação do construtor germânico mostrou-se desapontado com o sucedido, explicando que a falha tática se deveu a um processo demasiado analítico dos estrategas da equipa. “O que penso que aconteceu foi que estávamos nos dois primeiros lugares a controlar a corrida e, subitamente, vemos o nosso segundo carro a parar”, começou por dizer Toto Wolff que acrescentou: “o Safety-Car Virtual foi implementado e tínhamos meia volta para reagir, mas não reagimos. Foi aí que perdemos a corrida.

Naquela fase da corrida, com o Safety-Car Virtual, parar nas boxes é opção correta em 80% das ocasiões.

Com um carro contra dois outros, o processo de raciocínio que foi empregue foi ‘o que acontecerá se os outros chamarem as boxes os seus carros?’.

Sairíamos atrás do Kimi (Raikkonen), dado que deixariam o Kimi em pista e atrás do Max (Verstappen). O que significaria isso para a corrida?

Não diria que toda esta linha de pensamento nos distraiu, mas demoramos muito tempo nisto.

Para mim, foi a situação mais dura nos meus anos de Mercedes, pior do que Barcelona (n.d.r.: quando Hamilton e Rosberg bateram logo no início no Grande Prémio de Espanha de 2016).

Muita gente veio ter comigo no início da corrida e disse, ‘será um dia calmo, dobradinha, têm o carro mais rápido’.

Isto é o que pode acontecer nas corridas. Podem ser cruéis e hoje todas a crueldade veio ter connosco”.