F1, Mattia Binotto em entrevista: “No mínimo, vitórias…”

Por a 19 Fevereiro 2022 14:41

Mattia Binotto está entusiasmado com a entrada em vigor do novo regulamento e mostra-se orgulhoso do trabalho desenvolvido pela Ferrari que resultou no F1-75. No entanto, o chefe de equipa da “Scuderia” revela-se muito cuidadoso, apesar de admitir que se Charles Leclerc e Carlos Sainz não estiverem em condições de vencer corridas este ano, a época será uma desilusão

O que dizem os vossos estudos quanto à possibilidade de haver mais ultrapassagens com este novo regulamento?

Mattia Binotto: Penso que temos de esperar até chegarmos à pista. É muito difícil julgar através das simulações e dos dados internos. Estes carros continuam a desenvolver muito apoio aerodinâmico, performance, portanto, não estou à espera de uma grande alteração relativamente ao ano passado. Mas posso estar completamente errado e só a pista nos poderá dizer se há uma melhoria ou não. Portanto, vamos esperar uns dias, na próxima semana, ou próximas semanas, no Bahrein, poderemos ter já uma resposta.

De que forma estão a planear o desenvolvimento do carro até aos testes do Bahrein? Têm alguma coisa planeada?

Mattia Binotto: Estes carros são muito diferentes dos do passado, diferentes em termos de conceito, de conceito aerodinâmico, são diferentes na forma como temos de os afinar, diferentes na forma como os pilotos os terão de pilotar e penso que, no início, haverá muito tempo por volta a ser descoberto enquanto aprendemos e verificamos a performance do carro. Acredito até que isto poderá levar algumas corridas, não creio que alcançaremos o seu potencial num único teste. Vamos consolidar e manter o pacote para o início da temporada, o que significa primeiro e segundo testes, teremos alguns desenvolvimentos, mas não são enormes, dado que no início será uma questão de mapeamento, aprendizagem e explorar o potencial do carro.

Como gere a pressão, dado que parece haver muita expectativa para ver a Ferrari a vencer este ano?

Mattia Binotto: Penso que gerir a pressão é, sobretudo, focarmo-nos no que estamos a fazer. Temos estado tão ocupados todos os dias no que estamos a fazer, desenvolver o carro, concebê-lo que não estamos a considerar a pressão. É assim que vivo, concentrado no meu trabalho juntamente com toda a equipa. É claro que sinto a responsabilidade, se não vencermos, será uma derrota para a Ferrari. É importante para a Ferrari voltar a ser competitiva, 2022 é a nossa grande oportunidade. A equipa esforçou-se muito para conceber e desenvolver o novo carro, estou muito orgulhoso do carro que fez. Não estou a olhar para um falhanço, estamos focados em fazer o nosso melhor, em elevar o nível e em ter um bom início de temporada.

Falou-se muito de inovação neste carro e no passado, quando as equipas seguiram caminhos mais inovadores, em algumas situações acabaram por ficar com um carro pouco competitivo. Está nervoso quanto às soluções que foram adoptadas no F1-75?

Mattia Binotto: Penso que, antes de mais, foi importante ter uma mente aberta para abordar este exercício. Não era uma questão de partir do conceito do último carro e adaptá-lo às novas regras, portanto, quando lemos o novo regulamento tentámos fazê-lo com uma nova abordagem, tentar perceber como poderíamos melhorar a aerodinâmica e a performance geral do carro. Quando estivemos a conceber e a desenvolver o carro, a aerodinâmica foi a prioridade, posso dizer que as escolhas mecânicas foram uma consequência disso, assim como a integração da unidade de potência. No início, quando estivemos no túnel de vento, experimentámos todas as direções e escolhemos aquela que considerávamos ser a melhor para encontrar performance e, depois, desenvolver e conceber o carro num determinado caminho. Se olharmos para ele, podemos verificar que existem muitas escolhas não convencionais em termos de aerodinâmica, no que diz respeito à unidade de potência, também, que gostaria de mencionar, dado que o seu desenvolvimento será congelado durante as próximas quatro temporadas. Neste respeito colocámos muito esforço na sua concepção, temos um novo combustível, com 10% de etanol, o que poderá ser uma oportunidade quanto à combustão. Portanto, a unidade de potência e o motor de combustão interna é para nós uma grande inovação, relativamente ao passado, mas é algo que só nós podemos ver, está dentro da carroceria, portanto, difícil de julgar. Mas, no geral, diria que este carro tem muitas inovações, começando no motor de combustão interna, no conceito aerodinâmico, não se devendo apenas aos constrangimentos regulamentares, mas também à forma como abordámos o exercício.

Se estou nervoso ou não, honestamente, não e a razão para isso é que a equipa melhorou desde os últimos anos, desenvolveu capacidade, metodologias e a forma como a vi trabalhar, deixa-me bastante feliz. Não me sinto preocupado porque conheço o pessoal e sei quem são.

Com um novo conceito é importante ter flexibilidade no carro para que possa ser resolvida qualquer coisa que não corra bem. Existe no F1-75 a flexibilidade?

Mattia Binotto: Toda a equipa tem flexibilidade em termos de design. Vamos olhar para os outros carros, ver os seus conceitos, certamente que os testaremos no túnel de vento para verificar se existe uma direcção diferente para o nosso. Se olharem para a forma do nosso carro, é bastante largo, não sentimos que tenhamos pouca carroceria. Certamente que temos flexibilidade no meio do carro, onde os regulamentos permitem maior liberdade. Se olharmos para o regulamento, é bastante prescritivo na asa dianteira, no nariz e na asa traseira, mas existe mais flexibilidade à volta da carroceria. A forma como integramos a nossa unidade de potência oferece-nos alguma liberdade no futuro e pelo menos pode permitir-nos entender que existem outras direções que podem ser promissoras.

Que equipas poderão estar na luta pelas vitórias e haverá uma aproximação entre o pelotão?

Mattia Binotto: Mais tarde ou mais cedo vamos convergir. Penso que devido à forma como os regulamentos foram escritos, no final, a diferença entre o melhor e o pior carro será menor que no passado. Isto melhorará o nível de competição e o nível de performance de cada uma das equipas. Espero também, porque esse era um dos objectivos deste regulamento, que tenhamos vencedores diferentes de equipas distintas.

Haverá um piloto número 1 na Ferrari na eventualidade de o F1-75 ser competitivo o suficiente para lutar por títulos?

Mattia Binotto: Já o discutimos e vamos discutir ainda durante o Inverno. Do meu ponto de vista, fiquei muito satisfeito por os pilotos terem uma discussão completamente aberta, mostrando muita maturidade. Como vimos no ano passado, eles dão-se bem, mas provavelmente, não é assim que veem de fora quando se tem esse tipo de discussão, que pode ser muito delicada. Penso que ambos estão a evidenciar um nível fantástico de maturidade, o que me deixa muito satisfeito.

Seria um desapontamento se a Ferrari lutasse por vitórias, mas não pelo título?

Mattia Binotto: Antes mais a ambição clara da Ferrari, a nossa ambição, a minha ambição é que a Ferrari vença campeonatos, mas também sabemos da dificuldade em suprir a desvantagem para os melhores. O ano passado, no final da temporada, a diferença era ainda muito grande e o nosso objectivo para 2022 é voltar a ser competitivos. Ser competitivos significa sermos capazes de vencer corridas. Penso que essa é a forma como vemos as coisas de momento e penso que ficaremos bastante satisfeitos se estivermos nessa posição.

Como viu a situação que de decidiu o título em Abu Dhabi e qual a sua opinião sobre as medidas recentemente implementadas pela FIA?

Mattia Binotto: Penso que o aconteceu em Abu Dhabi foi demasiado discutido e analisado durante semanas, meses. Acredito que, ao ter levado tanto tempo (n.d.r.: a haver alterações promovidas pela FIA) demonstra a complexidade do assunto. Não há nada de óbvio. O que aconteceu lá, dada a sua complexidade, é difícil dizer que foi errado, correto, se foram cometidos erros ou não. Certamente que, quando se toma uma decisão destas, há sempre muita pressão, o calor do momento e penso que isto é verdade para a FIA, para as equipas, para quem estiver a trabalhar naquele difícil ambiente, dado que a pressão é muito, muito elevada. A comunicação das equipas para o Director de Corrida é claro que não ajuda. No geral, não considero que fosse uma situação óbvia com a decisão difícil de tomar.

Penso que todos nós precisamos de confiar na FIA, pela sua independência e na sua capacidade para, de alguma forma, tomar a decisão correcta para avançarmos, e nesse aspecto só a podemos apoiar. Enquanto Ferrari certamente que apoiamos a decisão do seu novo presidente e de toda a FIA e a Ferrari continuará a colaborar para um melhor futuro para a nossa competição

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