F1: Mattia Binotto confiante para 2021, com 2022 no horizonte

Por a 28 Fevereiro 2021 16:05

A Ferrari protagonizou em 2020 uma das piores temporadas sua história, terminando apenas no sexto lugar do Campeonato de Construtores. Mattia Binotto não prevê uma recuperação fulgurante, mas na conferência de imprensa de apresentação da equipa, em que o AutoSport esteve presente, mostrou otimismo e revelou alguns dos planos para as próximas duas temporadas.

O chefe de equipa da “Scuderia” tem visto o seu lugar posto em causa pelos “tifosi” e por alguma da acutilante imprensa italiana, mas na cerimónia em Maranello, em que esteve presente juntamente com os pilotos titulares da equipa, mostrou-se sereno e confiante de que o pior está já para trás.

Porém, não promete resultados já em 2021, deixando antever que a Ferrari está a apostar tudo em 2022, muito embora deixe escapar que a resiliência que a estrutura revelar este ano será determinante para o seu futuro a curto prazo.

Em 2020 a Ferrari passou por muitas dificuldades, sobretudo, no que diz respeito a velocidade de ponta. Acredita que conseguiram ultrapassar os problemas com a nova unidade de potência?

Mattia Binotto: ”O ano passado o principal problema era o velocidade nas retas, não era apenas uma questão de potência, mas antes de potência e de ’drag’.

Trabalhámos muito tanto na área da unidade de potência, como na aerodinâmica do carro, para reduzir o seu ‘drag’, e, baseado naquilo que hoje podemos ver no que diz respeito a potência nos dinamómetros e ao ’drag’ do carro no túnel de vento, acreditamos que recuperámos muita velocidade nas retas.

Não espero que a velocidade de ponta seja um problema como foi, esperamos ser competitivos, mas só o saberemos quando chegarmos ao Bahrein, dado que temos sempre pensar no que os outros estão a fazer. Mas esperamos que o nosso carro seja mais eficiente que o do ano passado, seja do ponto de vista da aerodinâmica, seja do ponto de vista da potência.”

Depois de em 2020 ter terminado apenas no sexto lugar do Campeonato de Construtores, quais são as expectativas para a próxima temporada?

Mattia Binotto: ”O ano passado foi um grande, grande desapontamento, não podemos repetir um resultado tão mau, de alguma forma temos de fazer melhor em 2021. Penso que o mais importante é o nosso de desejo de vencer.

Não estou a dizer que vamos vencer, temos de ser realistas – havia carros muito fortes o ano passado e, com tantos componentes congelados, continuarão a sê-lo em 2021, mas penso que o nosso desejo de vencer, empenho, intenção, o nosso foco é estar consciente de que todos os detalhes contam. Creio que a determinação será importante para mostrar progressos.

É disto que estou à espera, é uma questão de mentalidade para a equipa e pilotos. Como chefe de equipa, estou consciente da responsabilidade que tenho ao fazer parte de uma equipa destas, que é um símbolo de excelência de Itália para o mundo. Não sinto a pressão, sinto a responsabilidade, assim como o orgulho de fazer melhor e essa é a minha primeira responsabilidade.”

Com as limitações regulamentares que existem presentemente para desenvolver os carros, onde foi o foco da Ferrari e até que ponto poderá recuperar face à Mercedes?

Mattia Binotto: ”Tivemos algumas limitações no que diz respeito a liberdade, tempo, com o sistema de tokens, usámos os nossos na traseira do carro. Acredito que o nosso carro é melhor que o do ano passado, muito embora não os possamos comparar devido às alterações do regulamento no fundo plano traseiro. Mas a forma como desenvolvemos o carro no túnel de vento e no dinamómetro foi um bom esforço. Mas precisamos de ser realistas, a diferença para os melhores o ano passado era muito significativa e não poderemos recuperar face eles tudo apenas num Inverno.”

Com um novo regulamento a entrar em 2022 e com as limitações de uso do túnel de vento e CFD, qual será a prioridade da Ferrari – evoluir em 2021 ou apostar em começar o mais forte possível no próximo ano?

Mattia Binotto: “O nosso foco em 2021 será inteiramente desenvolver o carro de 2022. Esse será o nosso principal objetivo. Portanto, não vamos passar muito tempo a desenvolver o carro de 2021 durante a temporada, existe sempre um equilíbrio e é algo que temos de decidir. Mas em 2022 haverá uma alteração muito grande.”

Este ano a Ferrari tem uma nova dupla de pilotos, com o Carlos Sainz a tomar o lugar de Sebastian Vettel. Como será a gestão da relação entre os dois pilotos – Charles Leclerc e o espanhol?

Mattia Binotto: “A equipa vem primeiro! A equipa importa e não é um indivíduo que conta mais que a equipa, é algo de que todos estamos conscientes. Algo que temos vindo a discutir juntos é que, para sermos campeões, antes temos de bater os outros pilotos e os outros carros e, só quando tivermos o carro e os pilotos mais rápidos em pista estes poderão lutar entre eles. Penso que o foco está em evoluir enquanto equipa, e os pilotos fazem parte dela, e é preciso haver transparência, confiança e creio que a relação entre eles está a correr muito bem, têm conversado muito e isto deixa-me muito confiante para o futuro, dado o início.”

Este ano teremos a introdução de corridas-sprint em alguns Grandes Prémios numa experiência para verificar se os fins-de-semana de Fórmula 1 poderão ser mais entusiasmantes. Qual a sua opinião sobre esta medida?

Mattia Binotto: “Estivemos muito envolvidos nas discussões com a FIA e a FOM e julgamos que, se realizarmos alterações para termos mais espetáculo e mais imprevisibilidade, será fantástico. Portanto, apoiamos as modificações, se essas estas alcançarem os objetivos. As discussões estão ainda a decorrer e parecem muito prometedoras, mas precisamos ainda de olhar para todos os detalhes, que poderão fazer toda a diferença. O trabalho de equipa tem de continuar e, esperamos, chegaremos a uma boa solução.

Em 2020 falhou algumas corridas no final da temporada, dado ter considerado ser necessário realizar uma reestruturação na equipa. Tenciona este ano voltar a não marcar presença em corridas? Qual os motivos para que o faça?

Mattia Binotto: O ano passado falhei algumas corridas no final, dado que existe toda uma companhia para gerir e não é apenas durante os fins-de-semanas de corrida na pista. Há muito fazer em Maranello, muitas pessoas para gerir, coordenar toda a actividade.

Este ano estamos a olhar para vinte e três corridas. Será uma segunda metade de temporada, muito longa e intensa. Para além disso, há ainda um desafio enorme para 2022. Portanto a minha intenção será, uma vez mais, não estar em todas as corridas de 2021.

Certamente que estarei presente no início da temporada, será importante verificar a nossa performance para garantir que tudo está a funcionar bem em pista. Mas em algum momento, começarei a falhar algumas corridas para estar em Maranello e concentrarmo-nos em 2022.

Claro que, quando estamos em Maranello, termos a nossa boxe virtual, portanto, estou em constante contacto com a pista.

Mas também temos o nosso diretor desportivo em pista, o Laurent Mekies, que tem muita experiência connosco. Provou no ano passado ser capaz de lidar com toda a equipa durante todo o fim-de-semana. Portanto, estou confortável com a escolha e por, por vezes, não estar em pista.

A equipa anunciou uma evolução da sua estrutura. Por que motivo considerou ser necessário fazer essa alteração e quão significativo é?

Mattia Binotto: “Sempre acreditei que uma organização tem de ser dinâmica e que tem de se adaptar aos desafios que tem pela frente.

É evidente que hoje temos novos desafios, temos em 2022 um novo projecto, o tecto orçamental…

Portanto, acreditamos que existia uma necessidade de tornar a estrutura mais simples e clara. Identificámos quatro responsáveis para as áreas do chassis, das unidades de potência, cadeia de fornecimento e a equipa de pista.

Agora temos mais clareza quanto às responsabilidades. Estamos ainda mais focados na performance, integramos a engenharia de pista na aerodinâmica e na dinâmica do veículo. Portanto, alterámos sempre que seja necessário para termos uma organização mais focada e clara.”

Binotto revela mais informação sobre Le Mans

A Ferrari anunciou há uma semana que regressará a Le Mans, mas o projecto continua envolto em muito secretismo. Mattia Binotto ofereceu algumas informações e Charles Leclerc mostrou interesse em participar na clássica francesa.

A Scuderia apresentou na passada sexta-feira a sua equipa de Fórmula 1 para a temporada de 2021, tendo o AutoSport sido um dos media presentes, mas a conversa foi até Le Mans, competição onde o construtor regressará para vencer à geral em 2023, cinquenta anos depois da sua ofensiva.

Os detalhes do projecto que enfrentará a Porsche, Audi, Peugeot, etc, são escassos e existia a ideia de que foi fruto da oportunidade que graças aos constrangimentos financeiros que passam a governar as equipas de Fórmula 1, mas Binotto aponta que não foi essa a motivação para o regresso da Ferrari, o que aponta para a regulamentação como a motivação do retorno, com a introdução dos Hypercars. “Não, não é uma consequência do tecto orçamental. O programa foi avaliado do ponto de vista da companhia e decidimos, enquanto Ferrari, estar envolvidos”, frisou Binotto.

Quanto à equipa que será responsável pelo projecto do Hypercar de Maranello, o italiano garante que não estará envolvido directamente, mas que a estrutura de Fórmula 1 poderá partilhar informação com o programa de Le Mans. “Se eu serei o responsável, antes de mais é necessário compreender que a Ferrari é uma única entidade e não é importante quem é o responsável. Mas diretamente, não serei eu o responsável, nós, a Scuderia Ferrari, estamos completamente focados no programa da Fórmula 1, mas se nós, o departamento de Fórmula 1, pudermos apoiar com ‘know-how’, conhecimento, fá-lo-emos, dado que, como já disse, somos uma única identidade”, afirmou o responsável pela “Scuderia”.

A dois anos da ofensiva da Ferrari em Le Mans é ainda muito cedo para discutir os nomes dos pilotos que defenderão em pista as cores da marca transalpina, mas Charles Leclerc não deixou de apresentar a sua candidatura a participar na grande clássica de resistência. ”Adoro Le Mans, sempre fui um fã de Le Mans, portanto, se a oportunidade surgir, ficarei muito feliz por participar”, afirmou o monegasco, pedindo a palavra para dar a sua opinião sobre o projeto.

Já Carlos Sainz, apesar de mostrar entusiasmo pelo novo programa do construtor de Maranello, não se revelou verdadeiramente interessado em tomar parte nas 24 Horas de Le Mans. “De momento, o meu foco prioritário é a Fórmula 1. Mas se a oportunidade surgir, porque não? Mas no que diz respeito a pilotagem, penso que tenho muito a fazer aqui na Ferrari. O meu foco total está com a Scuderia Ferrari Fórmula 1 e todos os outros projectos não têm, de momento, a minha atenção directa”, frisou o novo recruta da equipa.

Por detrás deste relativo desinteresse do espanhol poderá estar o facto de ter contrato com a “Scuderia” até ao final de 2022, terminando-o, caso não seja renovado, antes do regresso da Ferrari a La Sarthe para vencer à geral. Por seu lado, Leclerc, defenderá as cores do construtor de Maranello até ao início de 2025, havendo uma concomitância com o projecto de Le Mans, sabendo o jovem de vinte e três anos que, quando um carro da marca que venceu a prova por nove vezes estiver na grelha para procurar o décimo triunfo, estará ainda com o “Cavallino Rampante” ao peito.

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas F1
últimas Autosport
f1
últimas Automais
f1
Ativar notificações? Sim Não, obrigado