F1 GP RÚSSIA: VITÓRIA “ARRANJADA” NÃO AGRADOU A NINGUÉM

Por a 1 Outubro 2018 19:25

Como é possível que uma vitória não seja do agrado de ninguém?! Lewis Hamilton ficou com as contas do título praticamente arrumadas e a Mercedes para lá caminha, porque razão não ficam contentes? Isto porque Sebastian Vettel e a Ferrari ficarem chateados com a dobradinha da Mercedes é normal pois os títulos fogem-lhes como alguém que procura apanhar o vento. Afinal, porque é que ficou tudo com enorme azia no final do Grande Prémio da Rússia?

Tudo começou com o “esmagamento” que a Mercedes deu na Ferrari durante os treinos livres e na qualificação. Se é verdade que a casa alemã sempre foi favorita na pista de Sochi, os italianos chegavam à estância balnear russa com esperanças justificadas de poderem incomodar Hamilton e Bottas, o “czar” finlandês de Sochi. A realidade foi mais dura do Maurizio Arrivabene e os seus rapazes imaginaram e a Mercedes “esmagou” a Ferrari e arrebatou a primeira fila da grelha de partida com Bottas a fazer a “pole position”. Nada de novo: nunca o piloto mais rápido da Q2 conseguiu rubricar a “pole”, manteve-se a “maldição”.

A reta da meta é longa e até á primeira curva há muito espaço para mudar tudo como sucedeu em 2017, com Valteri Bottas a sair de terceiro e sair da primeira curva em primeiro. Essa era a grande preocupação da Mercedes.

E na largada, Vettel abriu um postigo e quase apanhava Hamilton, mas uma vez mais, Bottas fez o papel de “mordomo”: o Ferrari SF71H fez um excelente arranque, chegou a estar na frente de Hamilton, mas o finlandês da Mercedes veio para dentro e “desligou” o cone de aspiração ao Ferrari, ligando o de Hamilton. O britânico conseguiu a velocidade extra necessária para recuperar a posição e fechar o postigo a Vettel. “Bem jogado” diria no final o alemão.

Com o Ferrari a não conseguir igualar o ritmo dos Mercedes, pensava-se que Hamilton iria guardar o segundo lugar que, tranquilamente, lhe daria mais uma mão cheia de pontos de vantagem para Vettel, até porque, soube-se depois, havia um acordo para que Bottas vencesse a corrida se estivesse na frente entre outros cenários ponde figurava, certamente, mas alguma aselhice ou erro de Vettel.

Mas a Mercedes voltou a tropeçar nos atacadores e mandou parar Bottas na 12º volta e trocou os pneus Ultramacios pelos Macios. Até aqui nada de estranho, uma paragem segura, rápida e dentro da janela que todos entendiam ser a melhor para uma só paragem. Mas o demónio está nos detalhes: Vettel parou na volta 13 e Hamilton na volta 14. O alemão gastou 29,798s e fez 1m44,329s na volta em parou nas boxes. Hamilton tinha 1,7 segundos de vantagem para Vettel, fez 1m44,617s na volta de entrada nas boxes e cumpriu a paragem em 29,531s. Ficaram mais ou menos iguais – o tempo perdido na volta de entrada foi compensado com a rapidez dos mecânicos – mas terminadas as paragens, Vettel estava na frente de Hamilton! Como?

O alemão fez uma volta depois da paragem absolutamente fabulosa: 1m57,762s foi o tempo que foi mais rápido dois segundos que Bottas e quase o mesmo face a Hamilton. “Esquecemo-nos do efeito pneus frescos e Vettel foi melhor que nós” diria no final James Vowles, o responsável pela estratégia da Mercedes.

Num ápice, parecia que a portinhola fechada na largada se transformava num portão rumo a discussão da vitória entre Bottas e Vettel. Infelizmente para as cores de Maranello, esta ultrapassagem do alemão ao britânico exigiu uma fatura muito pesada: Vettel descarregou toda a energia da bateria, como em qualificação, e exigiu muito dos pneus, para uma magra vantagem face a Hamilton. Este, recomposto do soco vibrado pela Ferrari, encheu-se de brio e voltou a contar com a ajuda do “mordomo” Bottas. “Abrandei muito para parar o Sebastian e só voltei ao ritmo normal para evitar que ele pudesse usar o DRS na reta da meta” disse no final o finlandês. Vettel não conseguiu entrar na reta com o DRS aberto e ficou exposto a Hamilton pois o Ferrari apanhava o ar sujo do Mercedes, deixou de ter força descendente no carro e acabou a bloquear rodas.

Hamilton tentou uma vez com o DRS aberto na reta da meta, mas Vettel bloqueou, sem ser penalizado. O piloto da Mercedes queixou-se pelo rádio que o Ferrari mexeu-se duas vezes, mas Charlie Whitting não aceitou a reclamação dizendo que foi uma mudança de direção com atraso. Pois sim.

Mas era o prenúncio da derrota para Vettel: Hamilton atacou na curva 4 e na travagem, passou o Ferrari sem apelo nem agravo. Não sem pagar dividendo: os pneus ficaram em péssimo estado e com uma enorme bolha. E, poucas voltas depois, Vettel começou a rodar mais depressa que Hamilton, o que fez saltar da cadeira Toto Wolff que, deitando pela janela o acordo feito com Bottas (disse pelo rádio ao finlandês “eu sei que tínhamos um acordo, mas depois eu explico”) deu ordem ao finlandês para deixar passar Hamilton. Porquê? Porque o alemão da Ferrari estava a aproximar-se, demasiado, de um Hamilton a contas com pneus desgastados.

E como fiel escudeiro e “mordomo”, Valteri Bottas deixou passar Lewis Hamilton e foi-se defendendo, sem grandes dificuldades, de Vettel. Poderá dizer-se que o campeão do mundo de 2017 conseguiria defender-se do alemão da Ferrari, mas isso era o que os italianos desejavam, pois assim o Mercedes iria torrar os pneus macios bem antes do final da corrida. E pairou sobre Sochi a desastrada estratégia da Ferrari em Itália: se Hamilton entrasse na luta com Vettel, acabaria por ter de parar e isso iria significar elevada perda de pontos, pois o seu rival terminaria em segundo ou primeiro e ele para lá do quinto lugar. Por isso, “teve de ser mesmo assim, tínhamos de reagir com a frieza do momento, mesmo que os nossos corações sangrassem com a injustiça face ao Valteri” disse no final um exagerado Toto Wolff.

Lewis Hamilton percebeu que os 50 pontos de vantagem face a Vettel são saborosos e muito úteis, mas também sabe que a sua popularidade foi duramente atingida com mais este episódio. Os seus “haters” não lhe vão dar descanso. Por isso estava triste e repetiu “ad nauseum” que Bottas mereci a vitória. Bottas, por seu turno, fez o papel de “mordomo” e voltou a entregar uma corrida em bandeja de prata. Destacou a importância da “dobradinha”, mas era um homem desapontado no pódio. Sebastian Vettel, assinou mais um pódio, porém, tem o título a escapar-lhe das mãos como areia fina, deixando claro pela sua expressão corporal que atirou a toalha ao chão. O alemão e a Ferrari não se recompuseram desde a estrondosa derrota em Monza e contas feitas, Hamilton esteve muito superior nestas últimas corridas. Um pódio de pilotos pouco satisfeitos.

Fez bem ou mal a Mercedes fazer o que fez em Sochi? Do ponto de vista empresarial e dos objetivos da casa alemã, temos de compreender e respeitar e a Ferrari também já fez o mesmo no passado e ainda recentemente. No aspeto desportivo, Bottas foi sempre o melhor e merecia a vitória. Mas num desporto de milhões, nada nem ninguém se compadece destas questões e por isso a Mercedes ganhou em Sochi, mas não se livra de um coro de assobios dos adeptos mais ferranhos da F1.

No dia do seu aniversário, Max Verstappen poderia ter ganho o GP da Rússia, largando do 19º lugar. Penalizado três vezes – mudança de motor, caixa e desrespeito das bandeiras amarelas – o holandês largou bem lá de trás, mas com uma perícia inaudita, chegou ao Top 5 numa mão cheia de voltas. Vamos fazer a contabilidade: largada, passou por dois, no final da primeira volta, tinha passado por seis pilotos, na segunda volta passou mais dois, na terceira mais dois. Depois passou um na quarta volta, outro na quinta e mais um na oitava volta. E aproveitando a estratégia, ainda liderou a corrida entre a volta 19 e 42. Mas a troca obrigatória de pneus “tramou” o holandês. Poderia, mesmo, a RedBull vencer a corrida? Não! Apesar de tudo o do espetáculo que Verstappen deu, a RedBull não tinha andamento para Mercedes. Exatamente o mesmo problema dos Renault que, pura e simplesmente, não tiveram andamento e viram a Racing Point Force India e a Haas aproximarem-se.

Segue-se o Grande Prémio do Japão e Lewis Hamilton precisa de uma mão cheia de pontos para conquistar o título de 2018. Um título que, a concretizar-se, será certamente saboroso para o piloto britânico, pois teve de lutar muito e incentivar a equipa a melhorar um carro que a dada altura foi ultrapassado pelo Ferrari.

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