F1: Ferrari à beira de nova instabilidade

Por a 26 Novembro 2022 09:10

Mattia Binotto parece destinado a deixar a Ferrari nos próximos dias, promovendo uma troca do homem do leme na equipa de Maranello uma situação que esta conhece demasiado bem e que, normalmente, não lhe traz bons resultados.

Desde a saída de Jean Todt do comando da ‘Scuderia’ no final de 2007, então por ter decidido que a sua bem-sucedida missão tinha terminado, foram já quatro os nomes que assumiram a liderança da mais famosa equipa de Fórmula 1 – Stefano Domenicali, Marco Mattiacci, Maurizio Arrivabene e Binotto.

Para colocar esta instabilidade em perspetiva, a Red Bull ingressou na Fórmula 1 em 2005 e, desde então, Christian Horner permanece no seu posto de chefe de equipa, ao passo que Toto Wolff comanda a Mercedes desde 2013.

A última vez que a Ferrari esteve este tipo de estabilidade, Todt edificou a equipa que levaria Michael Schumacher a cinco títulos consecutivos e Kimi Raikkonen ao seu ceptro de 2007.

Após a era do francês, Domenicali foi quem esteve mais tempo ao leme da ‘Scuderia’, mas com a Fórmula 1 a passar por uma alteração de filosofia profunda – os testes em pista foram muito limitados, colocando o foco nas ferramentas de simulação – os resultados ressentiram-se da falta de tecnologia de simulação em Maranello e o italiano acabou por ser vítima da falta de paciência de Luca di Montezemolo.

A história parece estar a repetir-se agora com John Elkann, o presidente da Ferrari, e Binotto.

O italiano tem uma longa história na formação de Maranello, tendo ingressado na estrutura em 1995 como engenheiro no departamento de motores, tendo vindo a ser promovido no seio da equipa até ascender ao cargo de chefe de equipa no início de 2019, substituindo Arrivabene.

A vida de Binotto não tem sido fácil desde então, com o acordo entre a Ferrari e a FIA, no âmbito de um eventual funcionamento duvidoso da unidade de potência de Maranello, a deixar a equipa numa posição frágil para 2020, o que foi estendido por mais uma temporada graças à pandemia da COVID-19.

Estes dois anos foram vistos pelos responsáveis da equipa como uma oportunidade para reagrupar toda a estrutura, verificar as suas debilidades para as debelar, tendo em vista a introdução do novo regulamento técnico, este ano, que marcaria o regresso da Ferrari à competitividade e à luta por vitórias.

E é aqui se verifica a primeira diferença de expectativas no seio da equipa…

Binotto sempre se manteve fiel ao plano traçado para 2022, tendo sido consubstanciado por Elkann, mas o decorrer da temporada terá animado o presidente da Ferrari que estará a olhar para a temporada que terminou há alguns dias como uma oportunidade perdida.

No entanto, em abono da verdade, a ‘Scuderia’ não estava ainda preparada para lutar pelo título de uma forma sustentada, era demasiado cedo, e diversos motivos contribuíram para isso.

O mais evidente foi o projecto da unidade de potência de Maranello. Depois dos anos de estagnação obrigados pelo acordo com a FIA e pela COVID-19 e tendo em vista o congelamento do desenvolvimento dos V6 turbo-híbridos desde este ano até ao fim de 2025, a Ferrari tinha de arriscar tecnicamente para poder ter um motor competitivo, sabendo que os problemas de fiabilidade poderiam ser resolvidos, ao passo que a falta de performance não.

Os técnicos de Maranello arriscaram e colocaram nos seus carros aquela que é considerada a unidade de potência de melhores de prestações, mas isso trouxe um custo – questões de fiabilidade.

Charles Leclerc e Carlos Sainz sofrerem diversos problemas que os atiraram para o abandono e os obrigaram a penalizações em grelhas de partida, tendo ainda tido ao seu dispor de uma unidade de potência com as suas performances reduzidas a partir da corrida do Red Bull Ring, o palco do último triunfo deste ano da ‘Scuderia’.

A abordagem delineada por Binotto foi a correta, pode ter sacrificado a fiabilidade em 2022, mas poderá ter ganho uma unidade de potência muito forte para 2023, 2024 e 2025, sendo ainda consistente com os objectivos para a época em questão – vencer corridas e mostrar competitividade, sendo a luta pelo título um desiderato para depois.

Outro dos pontos em que a Ferrari mostrou algumas debilidades foi na estratégia, tendo perdido o Grande Prémio do Mónaco devido a más decisões da parte dos homens de Maranello.

Mas mesmo aí existem algumas questões que amenizam os erros verificados e que custaram o triunfo a Leclerc.

A situação vivida em Monte Carlo tinha como grande incógnita a velocidade a que a pista secaria e basta um fator que não se comporte de acordo com esperado – temperatura da pista, vento, etc – para que os valores dados pelas ferramentas de simulação possam levar a decisões erradas.

Estas são questões que se vão afinando recorrentemente e com os novos carros – que levantam mais água da pista, logo secando-a mais rapidamente – esse poderá ter sido um fator que não foi tido em conta corretamente pelos estrategas de Maranello.

Outros erros aconteceram, mas se olharmos tanto para a Mercedes como para a Red Bull falhas estratégicas foram também cometidas, no caso da equipa de Brackley com vitórias a fugirem-lhe por entre os dedos devido a más decisões em Austin e na Cidade do México.

É, portanto, evidente que a Ferrari não era ainda este ano uma máquina devidamente oleada para lutar pelo título sustentadamente, mas Binotto entregou aos adeptos da ‘Scuderia’ e aos seus responsáveis o objetivos a que se tinha proposto – devolver a competitividade à equipa e lutar por vitórias – e isso é obra dele.

A falta de confiança que parece sentir da parte de Elkann, e que poderá levar à sua demissão, só vai lançar para a instabilidade uma equipa que nos últimos quinze anos viveu de tudo menos o ambiente capaz de lhe proporcionar rumar aos títulos.

A saída de Binotto, a concretizar-se, vai obrigar a que o seu substituto recomece tudo de novo, quando o caminho traçado pelo italiano estava quase concluído.

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Pity
Pity
1 ano atrás

Já tinha saudades desta fotografia 🙂

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