F1: As dúvidas quanto à Ferrari…

Por a 6 Junho 2022 09:48

A Ferrari começou o ano em grande forma e, nas três primeiras corridas, venceu duas. Mas nas últimas semanas viu-se ultrapassada pela Red Bull e alguns erros e/ou problemas acabaram por prejudicar a equipa de Maranello e Charles Leclerc, que se viu suplantado por Max Verstappen no Campeonato de Pilotos.

A ‘Scuderia’ teve um início de temporada de sonho, depois de dois anos em que esteve longe de poder lutar por vitórias, quanto mais por títulos, que lhe fogem desde o longínquo ano de 2008, quando Felipe Massa e Kimi Raikkonen deram à formação transalpina o seu décimo sexto e último título, até agora, de Construtores.

No Bahrein, Leclerc, o ‘wonderboy’ da Ferrari, vencia seguido de Carlos Sainz, impondo-se categoricamente a Max Verstappen mesmo antes deste abandonar, repetindo o feito em Melbourne e, pelo meio, assegurava o segundo lugar na Arábia Saudita, o que lhe permitia liderar confortavelmente o Campeonato de Pilotos.

Ao monegasco nada podia correr mal que maximizava todas as oportunidades, enquanto o Campeão em título, que se assumia com o Leclerc como o grande protagonista na luta pelo título deste ano, contava já com dois abandonos – em Sakhir e em Melbourne.

Na prova australiana, porém, a Ferrari começava a sofrer com as dificuldades de Carlos Sainz que passou a cometer erros ao tentar replicar o andamento do seu colega de equipa, tendo em Melbourne abandonado logo na primeira volta, o que custou à equipa e ao espanhol, no mínimo um quarto lugar.

Em Imola, o espanhol voltou a bater, desta feita na qualificação, mas depois de recuperar bem no Sprint, o azar bateu-lhe à porta na corrida, quando Daniel Ricciardo lhe deu um ligeiro toque na Chicane de Tamburello que o atirou para a gravilha e para o abandono, tendo desaparecido mais um quarto lugar das contas da Ferrari.

Mas o Grande Prémio da Emilia-Romagna seria o primeiro grande desapontamento da “Scuderia”, uma vez que também Leclerc erraria.

Depois de um mau arranque do segundo lugar, que deixou os dois Red Bull nas duas primeiras posições, o monegasco tentava chegar-se a Sérgio Pérez para conseguir lançar um ataque à vice-liderança, mas ao passar de uma forma mais violenta pelo corrector da Variante Alta, numa pista ainda húmida, entrou em pião, embatendo ligeiramente nas barreiras de protecção. Com uma passagem pelas boxes para trocar a asa dianteira, Leclerc terminava apenas em sexto, quando um terceiro lugar estava garantido – sete pontos voavam.

Num momento em que a Red Bull ostentava algum ascendente competitivo, graças a um novo pacote aerodinâmico estreado em Imola, Miami correu com alguma normalidade, com Charles Leclerc a terminar em segundo e Sainz em terceiro, apesar de uma vez mais, este ter colocado o seu monolugar numa barreira durante uma sessão de treinos-livres.

Foi em Espanha que a Ferrari, enquanto equipa, sofreria o seu primeiro revés, uma vez que até então tinham sido os pilotos a errar.

Com um novo pacote aerodinâmico debutado em Barcelona, o F1-75 deu um salto competitivo, mostrando-se ligeiramente mais forte que o Red Bull RB18 e, quando Max Verstappen errou na Curva Repsol, caindo para quarto e com problemas no seu DRS, Leclerc parecia caminhar decisivamente para uma vitória autoritária.

No entanto, na vigésima sétima volta, o monegasco era obrigado a abandonar com problemas no turbo eléctrico do seu monolugar.

Pela primeira vez este ano, um Ferrari era obrigado a desistir com problemas de fiabilidade, o que custou uns massivos trinta e dois pontos a Leclerc relativamente a Verstappen, uma vez que este venceu, o que não aconteceria em circunstâncias normais.

Uma semana depois, no Grande Prémio do Mónaco, o jovem de vinte e quatro anos, estava determinado em deixar para trás a frustração de Barcelona e vencer nas “suas ruas”. De facto, dominou completamente toda a oposição, sendo o binómio Leclerc/Ferrari F1-75 claramente mais forte nos caminhos monegascos. Em condições normais, dificilmente alguém o impediria de vencer a “sua prova”.

Porém, durante uma corrida que começou com uma pista molhada, mas com tendência a secar, escolher o momento certo para trocar de pneus seria determinante para o desfecho da corrida e, com o piloto que está a lutar pelo título de Pilotos, a Ferrari errou por duas vezes – primeiro quando o chamou às boxes para trocar os pneus de chuva por intermédios duas voltas depois de Pérez ter feito o mesmo e, depois, quando resolveu montar slicks aos seus dois pilotos na mesma volta, apercebendo-se do erro demasiado tarde, quando Leclerc estava já na via das boxes.

O resultado foi que, depois de ter uma vantagem de mais de oito segundo para Pérez e de dez para Verstappen, com o seu colega de equipa a mais de seis, o monegasco terminava num desapontante quarto posto, no escape do seu rival na luta pelo ceptro deste ano.

No caso de Carlos Sainz, que deveria ter saído à frente do mexicano após a sua troca de pneus para slicks, não se deveu a um erro estratégico, antes à presença de Nicholas Latifi à sua frente quando saiu das boxes, o que o fez perder cerca de três segundos.

No entanto, no que diz respeito a Leclerc, os erros foram evidentes e foram dezasseis pontos que voaram pela janela, uma vez que ficou atrás de Verstappen, que terminou em terceiro.

No total, todos estes erros ao longo da temporada custaram cinquenta e cinco pontos ao monegasco e vinte e quatro a Sainz, o que perfaz o impressionante número de setenta e nove, os que a Ferrari viu voarem do seu pecúlio do Campeonato de Construtores.

É claro que a Red Bull também já teve os seus problemas – Verstappen perdeu trinta e seis pontos e Pérez doze devido a problemas de fiabilidade – mas como se percebe a “Scuderia” enjeitou mais do dobro, o que a continuar assim, não será negligenciável no final da temporada, quando as contas dos títulos se fizerem.

Para já, o único padrão que se verifica no seio da Ferrari são os erros de Sainz que, em quatro eventos consecutivos, cometeu erros de pilotagem que o atiraram para fora de pista, por vezes com consequências terminais.

Mas no Mónaco, o espanhol não colocou uma roda fora do sítio, realizando uma prestação sólida, apesar de não ter o ritmo do seu colega de equipa. Talvez esta seja a base para que Sainz deixe para trás a senda de erros que o afligiu nas últimas semanas.

Quanto à saída de pista de Leclerc, apesar do monegasco ter passado por algumas escapatórias em treinos-livres e qualificações, estas foram sempre benignas, não podendo ser considerado o erro de Imola uma cena de um filme maior, pelo menos para já.

Leclerc, desde então – em Miami, Barcelona e Monte Carlo – tem-se mostrado bastante seguro e nos dois últimos Grandes Prémios verdadeiramente imperial até que factores que não pode controlar lhe roubaram dois triunfos mais que certos.

No campo da equipa, com a questão do MGU-H do monegasco e a falha estratégica de Monte Carlo, não existe também um padrão, sendo eventos que ainda não se repetiram.

Na questão técnica, apesar de muito secretismo em redor da causa que colocou Leclerc fora de prova em Barcelona, a Ferrari garante que está no controlo da situação que espoletou o problema no turbo eléctrico do carro número dezasseis, não se esperando, portanto, que se repita.

Como se verificou o ano passado com a Mercedes, que teve graves dificuldades de fiabilidade com a sua unidade de potência, nem sempre a solução resolve definitivamente o problema, sendo algo a seguir no que diz respeito à Ferrari.

Quanto à questão estratégica, os dois erros que a “Scuderia” cometeu quanto à gestão da corrida monegasca de Leclerc, a génese do problema foi sempre o mesmo.

Os homens de Maranello subvalorizaram a vantagem de performance que os pneus intermédios ofereciam face aos de chuva numa pista que estava a secar rapidamente.

A situação que se vivia naquela tarde de Monte Carlo não era fácil para os estrategas e é muito comum uma equipa ser apanhada em contrapé, sendo importante que aprendam e afinem as suas ferramentas de simulação para que não se volta a repetir o mesmo episódio.

Se a Ferrari aprender com os erros do Mónaco e evitar questões de fiabilidade, então a sua campanha para terminar com a travessia de deserto no que diz respeito a títulos poderá continuar e poderá até ser bem-sucedida no final da temporada. Caso contrário, e se estivermos a ver algo semelhante ao passado em 2017 e 2018, quando erros de pilotagem, questões mecânicas e dificuldades em desenvolver o carro desviaram a “Scuderia” do caminho dos títulos, a travessia poderá continuar.

No próximo fim-de-semana, em Baku, já poderemos ter um vislumbre…

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