F1: A estranha decisão de Norris

Por a 11 Fevereiro 2022 14:55

Foi com alguma surpresa que Lando Norris assinou um novo contrato com a McLaren, mas mais inesperada foi a sua extensão, uma vez que o jovem piloto está em alta no mercado e podem surgir oportunidades em equipas de topo. O que poderá significar esta continuidade na equipa em que se estreou na Fórmula 1?

A cotação do inglês de vinte e dois anos está em alta depois de duas temporadas muito positivas – em 2020 fez jogo igual com o experiente Carlos Sainz e em 2021 trucidou Daniel Ricciardo – tendo sido determinante para que a McLaren terminasse o Campeonato de Construtores há dois anos no terceiro lugar e no ano passado em quarto, depois de ser batida pela ressurgente Ferrari.

As boas prestações de Norris não passaram despercebidas aos olhares dos responsáveis daquelas que são consideradas a “Três Grandes” – Mercedes, Red Bull e Ferrari – e hoje, no dia em que foi anunciado um contrato com a McLaren até ao final de 2025, o britânico admitiu que esteve em contacto com outras formações.

Contudo, o jovem britânico sublinha a sua confiança na sua actual escuderia. “Havia oportunidades que sabíamos que iriam surgir no futuro com várias equipas.

E esta é uma mensagem muito forte para transmitir a todos, a fé que temos um no outro, quão fortemente acredito que a McLaren ainda pode recuperar e chegar à frente nos próximos anos.

Mesmo com as oportunidades que poderiam surgir dentro de um ano, dois, três, é uma mensagem forte e definitivamente afasta os outros, por isso estou bem”, sublinhou o inglês.

No entanto, Norris, e como seria de esperar, não se mostra aberto para apontar com quem teve reuniões exploratórias. “Não vale a pena mentir, havia pequenos contactos aqui e ali com várias outras equipas, mas nada que tenha evoluído. Que equipas? É algo que não posso dizer. Provavelmente serão capazes de adivinhar com alguma precisão”, afirmou desafiante.

Vamos aceitar o desafio de Norris e tentar perceber quais as formações que lhe podem interessar.

Claro que, estando na McLaren, o inglês teria de olhar para cima, dado que não faria sentido equacionar a possibilidade de entrar numa equipa que se tenha mostrado menos competitiva que a formação de Woking e, nestas condições, estão a Ferrari, a Mercedes e a Red Bull.

No caso da equipa italiana, dificilmente Norris poderia conseguir um lugar nos próximos dois anos. Charles Leclerc tem contrato até ao final de 2024 e, muito embora Carlos Sainz termine o seu atual acordo no final da época, tudo parece indicar que verá a sua estadia em Maranello prolongada.

O espanhol é rápido e consistente, sendo uma garantia de resultados, e Norris, quando os dois estiveram juntos, não se mostrou melhor, ou substancialmente melhor.

Para além disso, Sainz e Leclerc dão-se muito bem, pelo menos, por enquanto não se encontram com um carro competitivo nas mãos, e colocar Norris no lugar do espanhol poderia ser um tiro no escuro quanto à relação com o monegasco e desestabilizar o ambiente.

É, portanto, evidente que não foi com a Ferrari que o inglês teve contactos exploratórios.

Porém, a Mercedes e a Red Bull parecem possibilidades plausíveis.

A formação de Brackley tem os seus dois pilotos definidos até ao final do próximo ano, isto se Lewis Hamilton continuar na Fórmula 1 como parece cada vez mais certo, mas a continuidade do heptacampeão mundial é colocada em causa quase anualmente.

Russell, é evidente, tem ainda muitos anos pela frente, mas Hamilton, com trinta e sete anos e quinze temporadas na categoria máxima, pode decidir terminar a sua carreira brevemente, sobretudo se a Mercedes não conseguir lhe dar um carro competitivo para o novo regulamento.

Esta, poderia, portanto, ser uma possibilidade para Norris, substituir o seu conterrâneo ao lado de Russell, de quem é amigo, a médio prazo.

A Red Bull é outra equipa que pode estar à procura de um piloto a curto prazo, podendo até precisar de o fazer no final da próxima temporada.

Max Verstappen tem um contrato longo e está bem implantado na estrutura de Milton Keynes, mas Sérgio Pérez termina o seu acordo no final do ano.

A primeira época do mexicano com a Red Bull foi positiva e foi até instrumental para que o seu colega de equipa se sagrasse Campeão do Mundo. No entanto, foi inconsistente e em diversas ocasiões esteve muito longe do holandês.

Se este ano não der um salto competitivo, aproximando-se de Verstappen, Helmut Marko, que já teceu alguns elogios a Norris, poderá começar a pensar numa opção ainda a meio da temporada.

Pierre Gasly é uma hipótese, sobretudo se mantiver o nível dos dois últimos anos, mas o inglês poderia uma boa opção, muito embora não seja um piloto criado pela Red Bull

Com contrato até ao final deste ano, Norris poderia dar-se ao luxo de esperar para ver como evolui o mercado e tomar uma decisão mais à frente, até porque, neste momento, tem mais margem negocial que a McLaren, que sendo uma equipa em evolução dificilmente poderia aliciar um piloto ganhador.

Então por que motivo o inglês tomou uma decisão tão cedo, colocando de parte qualquer possibilidade de entrar na Mercedes ou na Red Bull?

No caso da formação de Brackley o britânico poderá ter sentido que seria uma possibilidade remota e não querer esperar por uma decisão de Hamilton.

Quanto à equipa que levou Verstappen ao título, esta está dimensionada para o holandês e Norris poderia entrar em Milton Keynes para assumir o papel de delfim do atual Campeão do Mundo, situação que, por certo, não lhe agradaria.

Estes poderão ser os motivos exógenos para a decisão do inglês assumir um contrato até ao final de 2025, tornando-se no piloto que tem uma ligação mais distante de todo o plantel, mas existem, seguramente, igualmente causas endógenas.

A McLaren tem vindo a estar em ascensão, muito embora tenha no ano passado descido uma posição no Campeonato de Construtores, tendo vindo a fortalecer-se em todas as áreas, especialmente na técnica.

Neste momento a equipa de Woking tem ainda algumas limitações face à Mercedes, Ferrari e Red Bull, dado que o seu novo túnel de vento está em construção e só o carro de 2024 poderá beneficiar dele, mas então ficará com ferramentas ao nível das ‘Três Grandes’.

Isso poderá ter sido significativo para a decisão de Norris, uma vez que tem a garantia de que a McLaren poderá transformar-se numa força competitiva a médio prazo, podendo ter os meios para se bater com as suas adversárias e tendo como “ponta de lança” o seu jovem recruta, que manter-se-á num ambiente que bem conhece e onde se sente confortável.

Esta poderá ter sido o motivo decisivo para a escolha de Norris, que, como o próprio admite, tem fé na estrutura liderada por Zak Brown e Andreas Seidl. Mas outro motivo pode estar por trás da decisão do inglês.

Há fortes rumores de que a McLaren pode entrar numa parceria com a Audi, caso esta decida ingressar na Fórmula 1 em 2026, podendo até comprar a equipa de corridas, e isso poderá significar um reforço técnico e financeiro para a estrutura, o que se transformará num motivo de peso.

Mas seja o que for, a extensão do novo contrato de Norris é uma surpresa e evidencia algo muito forte para colocar de parte um hipotético lugar na Mercedes ou na Red Bull, mas só nos próximos anos poderemos perceber a estranha decisão do inglês.

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