Equipas americanas na F1: Conquistas vindas do oeste, mas como terminará o ‘caso’ Andretti?

Por a 1 Outubro 2023 12:04

Continua o folhetim relativo à candidatura da parceria entre a Andretti e a Cadillac para formar a 11ª equipa da grelha da Fórmula 1. A equipa norte-americana apresentou a sua candidatura à FIA e desde então, está a ser submetida a uma série de verificações e auditorias. A FIA deve concluir sua avaliação até o final de 2023. Se a candidatura for aprovada, a Andretti terá direito a uma vaga na grelha da F1 a partir de 2025. A possível entrada da Andretti na F1 é um evento que tem sido recebido com entusiasmo por muitos adeptos da categoria. A equipa tem uma longa história no automobilismo, incluindo 19 títulos de campeonato da IndyCar, mas tem sido recebida com resistência de algumas equipas existentes. Essas equipas acreditam que a entrada reduziria sua receita e prejudicaria sua competitividade. A FIA terá que tomar uma decisão até o final de 2023.

Neste momento, a Haas F1 Team é a única equipa norte-americana na Fórmula 1, mas estão longe de ser a única na história da competição. Vamos ficar a conhecê-las um pouco melhor.

Os norte-americanos têm tido uma relação estranha com a Fórmula 1. Bem entretidos com o que têm dentro de portas – e que ‘sala grande’ têm os norte-americanos – salvo raras exceções, a Fórmula 1 nunca foi a sua prioridade. Mas ao longo do tempo houve várias vezes exceções e hoje em dia na Fórmula 1 temos uma equipa americana, que por acaso não está a dar boa conta de si. já esteve bem melhor.

Asta aventura de Gene Haas não foi a primeira tentativa de uma equipa Americana na F1, na verdade muitas equipas competiram pela bandeira das ‘listas e estrelas’ e com vários tripos de sucesso.

Desde os primeiros tempos em Indianapolis passando pelo falhanço da USF1, à Haas F1, vamos recordar um pouco do que é essa história.

Na verdade, enquanto pilotos norte-americanos como Phil Hill, Dan Gurney e Mario Andretti conquistavam triunfos na Fórmula 1, as equipas nunca tiveram a mesma sorte, já que enquanto dois destes pilotos foram campeões do mundo, carros construídos por americanos venceram apenas por duas vezes.

Recuando no tempo, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, Europa e América do Norte tentaram uma reaproximação adotando regras semelhantes.

Curiosamente, este acordo favoreceu bem mais os europeus, pois, por exemplo, a Maserati venceu as 500 Milhas de Indianapolis em 1939 e 1940.

Quando o primeiro Campeonato do Mundo de Pilotos foi criado em 1940, as 500 Milhas faziam parte do calendário mas o intercâmbio foi mínimo.

A maior parte dos carros americanos nem sequer era legal nas provas europeias, especialmente a partir de 1954, quando a Fórmula 1 partiu numa direção radicalmente diferente… e Indianapolis ficou na mesma.

Em 1957, os organizadores de Monza criaram a Corrida de Dois Mundos, trazendo pela primeira vez para a Europa os carros usados nas grandes provas da USAC. A prova durou apenas dois anos, devido às dificuldades em pagar os grandes prémios de participação a que os pilotos americanos estavam habituados, mas os americanos logo descobriram que tinham as portas abertas na Europa.

As primeiras experiências

O primeiro carro norte-americano a participar numa corrida de Fórmula 1 foi um Kurtis Kraft Midget, inscrito pelo vencedor da Indy 500, Rodger Ward, para participar no Grande Prémio dos Estados Unidos de 1959, em Sebring. Ward estava convencido que o seu carro, com um motor mais pequeno, era leve o suficiente para fazer as curvas mais depressa que os carros de Grande Prémio, mas não estava a par das novas evoluções como motores centrais e travões de disco.

O seu carro era praticamente um ‘dinossauro’ comparado com os novos Cooper de motor central.

Em 1960, último ano da fórmula de 2,5 litros, o playboy americano Lance Reventlow, enteado do ator Cary Grant, financiou a construção de dois monolugares com o nome Scarab, um nome que Reventlow já tinha usado em sports cars nas provas americanas, onde conquistaram muitas vitórias pelas mãos de Chuck Daigh. Infelizmente, mais uma vez, os engenheiros americanos (Tom Barnes e DickTroutman) criaram um carro demasiado tradicional, com motor dianteiro.

Mas o calcanhar de Aquiles era o motor, construído por Daigh (de acordo com algumas fontes, baseado num bloco Offenhauser), que sofria constantemente de problemas com as válvulas. Um Scarab terminou uma prova de Fórmula 1, uma única, quando Daigh foi 10º no Grande Prémio dos Estados Unidos, em Riverside, e antes disso os carros apenas se tinham qualificado na Holanda. No ano seguinte, apareceu ocasionalmente em provas de Fórmula Intercontinental, na Inglaterra, mais uma vez sem sucesso.

Finalmente, o sucesso

Durante os anos 60, a América do Norte preferiu exportar mais pilotos que carros. Uma exceção veio não dos Estados Unidos, como era esperado, mas surpreendentemente, do Canadá. Um jovem engenheiro chamado Peter Broeker, cuja empresa Stebro que fazia escapes para carros desportivos, resolveu promover o seu negócio criando um carro de Fórmula Junior. Em 1963, Broeker convenceu os organizadores do Grande Prémio dos Estados Unidos a deixá-lo participar com dois carros, aumentando o motor Ford (derivado do MAE usado no Anglia) de 1,1 para 1,5 litros. Como era praticamente de série, tinha metade da potência dos Climax. O carro terminou a corrida no sétimo lugar, mas a 22 voltas do vencedor. Mesmo na Fórmula Junior, o Stebro continuava a ser lento.

Foi preciso esperar até 1966 para que nascesse um carro norte-americano de Fórmula 1 competitivo.

Dan Gurney tinha deixado a Brabham para fundar a All-American Racers, construindo carros com o nome Eagle, para F1 e F5000. Gurney estreou o carro na Bélgica, marcou os primeiros pontos em França e finalmente teve o carro a cem por cento (com o Weslake V12 no lugar do interino Climax) em Itália.

Um ano depois, na Bélgica, Gurney derrotou Jackie Stewart para conquistar a primeira e única vitória do seu carro.

Infelizmente, pouco tempo depois, a Cosworth estreou o DFV e em 1968 o motor Weslake era bem menos competitivo.

Gurney passou a concentrar-se nas pistas americanas, encerrando as portas da sua divisão inglesa, mas o canadiano Al Pease ainda fez algumas provas em 1969, no chassis original com motor Climax.

Agora, com asas

Em 1973, a Advanced Vehicle Systems, que construía carros de Can-Am com o nome Shadow, resolveu entrar para a Fórmula 1. No entanto, em vez de construir os carros nos Estados Unidos, Don Nichols criou uma filial britânica, dirigida por Jackie Oliver, para participar no campeonato. Apesar do dinheiro ser americano, a equipa de F1 era completamente europeia. Alan Jones venceu na Holanda em 1977.

No final de 1974, nada menos que dois construtores norte-americanos apareceram na Fórmula 1 ao mesmo tempo. Rivais nas corridas de Indycars da USAC, Roger Penske e Parnelli Jones apareceram noutro campo de batalha, a Fórmula 1, nas provas canadianas e americanas do Mundial, com Penske a inscrever o seu amigo Mark Donohue no Penske PC1, e Jones a convidar Mario Andretti, mais conhecedor dos meandros da Fórmula 1, para pilotar o Parnelli VPJ4.

Ambos marcaram os primeiros pontos das respetivas equipas no Grande Prémio da Suécia, com Andretti a bater Donohue na pista, mas esta ‘guerra civil’ não durou muito mais. Donohue morreu no GP da Áustria, e Andretti estava insatisfeito pela falta de desenvolvimento dos pneus Firestone.

A Parnelli abandonou após a prova de Long Beach, em 1976, mas a Penske continuou, com John Watson. Inesperadamente, Watson venceu na Áustria, um ano após a morte de Donohue, numa corrida onde esteve bastante competitivo, lutando com os Lotus, March e McLaren.

Só que a aventura europeia custava muito dinheiro e recursos a Penske, que desistiu no final do ano, voltando a focar-se na InyCar.

O Team Penske é até hoje a última equipa norte-americana a vencer na Fórmula 1.

A empresa alemã de jantes ATS comprou todo o material, incluindo dois chassis PC4 (o empresário Ted Field ficou com outro, que inscreveu patrocinado pela Interscope Records), utilizando-os na temporada de 1977.

Durante muito tempo, Construtores norte-americanos nunca mais regressaram à Fórmula 1. Carl Haas formou uma equipa para correr com os carros chamados Lola Beatrice (que na verdade não eram Lola), em 1985, mas a base da equipa era em Inglaterra, nas instalações da FORCE. Desde então, a única tentativa, que nem sequer chegou a arrancar, foi a US F1, que propôs-se correr na F1 em 2010. Até à Haas, claro…

Tentativas falhadas

Entre 1986 e o regresso de uma equipa norte-americana à Fórmula 1 em 2016, a Haas F1 Team, houve uma séria falta de espírito americano no campeonato mundial. Apenas um punhado de pilotos norte-americanos disputou corridas durante esses trinta anos, e até o próprio Grande Prémio dos Estados Unidos se depararia com problemas de vária índole, até desaparecer do calendário, pelo menos até que o Circuito das Américas fosse construído.

Em 2009, porém, dois homens tentaram mudar o curso da América do Norte na F1, com um projeto chamado Team USF1.

Fundada pelo ex-diretor técnico Ken Anderson e pelo jornalista da Speed TV, Peter Windsor, a equipa baseou-se (curiosamente) em Charlotte, na Carolina do Norte, e concorreu com sucesso a um lugar na grelha da F1 a partir de 2010.

A equipa estabeleceu metas ambiciosas, a ideia passava por encontrar dois pilotos norte-americanos para fazer parte da equipa na primeira temporada, isto para além de pretender ser a única equipa cuja fábrica estava localizada fora da Europa.

Com o passar do tempo e a aproximação da temporada de 2010, as preocupações começaram a aumentar fortemente.

Depressa se percebeu que a equipa estava muito atrasada no desenvolvimento do seu carro, e para piorar tudo, também com grandes dificuldades em encontrar patrocinadores e pilotos, tornando cada vez mais provável que não arrancassem no começo do campeonato.

O mais forte investidor, Chad Hurley, co-fundador do YouTube, chegou a manter negociações com a Stefan GP para uma fusão, no entanto, esses esforços não deram em nada. A USF1 retirou a inscrição, e nunca mais ninguém ouviu falar dela…

Finalmente, a Haas F1 Team

Seis anos mais tarde, aquele que até ali, tinha sido um sonho adiado, ver uma equipa de F1 norte-americana na grelha, tornou-se realidade com a Haas F1 Team. Ajudado por uma estreita colaboração e parceria técnica com a Ferrari, Gene Haas construiu uma equipa do ‘zero’… ou nem por isso, pois o ‘milagre’ que a equipa conseguiu levou a muitas críticas dos seus adversários, especialmente da Force India, já que era em teoria impossível a Haas F1 Team construir e desenvolver por si própria um monolugar como o que apresentou em Melbourne 2016, alcançando aí a mais bem conseguida estreia de uma nova equipa neste século, um quinto e um sexto lugares nas duas primeiras corridas.

Houve muita controvérsia, mas a Haas F1 usou bem os regulamentos técnicos da Fórmula 1, e depressa se ‘solidificou’ no plantel. Três anos depois, já se fixou na metade de cima do plantel, e embora este ano de 2019 tudo prometa ser bem mais equilibrado, o que fez até aqui já ninguém lhes tira.

Fundada pelo industrial Gene Haas, a equipa está sediada nos Estados Unidos da América do Norte, nas mesmas instalações da equipa campeã da NASCAR Sprint Cup Series, Stewart-Haas Racing, em Kannapolis, Carolina do Norte. Para além disso, a equipa, muito inteligentemente, também tem uma base no Reino Unido, na antiga fábrica da Marussia, em Banbury.

A Ferrari fornece unidades motrizes, transmissão e várias outras peças, para além de suporte técnico. Portanto, Gene Haas criou do zero, mas o que era realmente difícil…comprou feito. No final de 2016, entre dez equipas a Haas foi oitava, posição que manteve em 2017. No ano seguinte, o crescimento da equipa acentuou-se, e isso resultou no quinto lugar na classificação final, que facilmente poderia ter sido um quarto, se não tivessem acontecido erros de principiante, como rodas mal apertadas, ou pilotos a dormir com o Safety Car em pista.

Mas em 2019 a equipa perdeu muita competitividade, caiu de quinto para nono entre os construtores, foi mesmo a pior do plantel em 2021 e apesar de em 2022 e este ano ter recuperado para oitavo, o que prometeu em 2018 já se esvaiu há muito…

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