CRÓNICA O SEXTAVADO: Kubica não deveria ter regressado à F1

Por a 18 Novembro 2019 09:34

Por José Manuel Costa

Diz-se que nunca se deve regressar onde já fomos felizes e eu acrescento que nunca devemos regressar onde já fomos felizes quando temos um braço infeliz. Reconheço tenacidade, resiliência e até determinação em Robert Kubica, mas como sempre disse, o seu regresso à Fórmula 1, ainda por cima com a Williams, tinha tudo para ser um erro, uma verdadeira anedota.

Recordo com carinho o percurso do polaco: foi um master no karting ganhando tudo em Itália, deu nas vistas na Fórmula 3 (vice-campeão do GP de Macau duas vezes) e ganhou a Fórmula Renault 3.5 em 2005, sendo atirado para a Fórmula 1 como um piloto de eleição.

Velocíssimo, tinha queda para o disparate, mas ao volante do BMW Sauber foi fazendo exibições competentes, mostrou dotes de equilibrista à chuva e depois de dois anos de aprendizagem, chegou à vitória em 2008 no Grande Prémio do Canadá. Foi nessa mesma pista, um ano antes, que sofreu um violento acidente, depois de levar um toque do Toyota de Jarno Trulli antes da chegada ao gancho do Casino, despistando-se a mais de 200 km/h contra o muro interior. O Sauber BMW desintegrou-se, capota ao atravessar a pista e acreditava-se que Kubica poderia engrossar a lista de mortes na Fórmula 1. Felizmente, sofreu um ligeiro traumatismo craniano e um tornozelo deslocado.

Apesar de ter feito um bom campeonato em 2008, a BMW anunciou a sua saída da Fórmula 1 no final da temporada de 2009 e Kubica acaba por assinar um contrato com a Renault para 2010. Uma escolha terrível, pois a equipa estava moribunda e em reestruturação, órfã de Fernando Alonso e com Vitaly Petrov (o mealheiro da equipa) como companheiro de equipa, o polaco era visto como a tábua de salvação de Eric Bouiler. Acabou o ano no oitavo lugar e a sua qualidade era elogiada por muitos, que elevaram a fasquia ao colocar Kubica na Ferrari no lugar de Felipe Massa, aproveitando a amizade do polaco com o espanhol.

Seduzido pela participação de Kimi Raikkonen nos ralis, o polaco começou a gostar da disciplina e começou a fazer provas com um Renault Clio, disputando, mesmo, o Rali de Monte Carlo.

Acabaram por ser os ralis que o atiraram para fora da Fórmula 1. O dia 6 de fevereiro de 2011 ficará marcado a ferros na vida de Robert Kubica: foi até Andorra fazer um rali com um Skoda Fabia S2000. Após o arranque de uma das especiais, o polaco perdeu o controlo do carro e despenhou-se contra os “rails” e um deles entrou pelo carro adentro e quase lhe roubava a vida. Braço e perna diretas ficaram destruídos e a amputação foi um demónio que viveu pendurado na cama do hospital de Kubica.

Acabava a viagem do polaco na Fórmula 1 e seguiu-se uma recuperação dura que foi atrapalhada por uma perna partida em janeiro de 2012 (um ano depois do acidente!) que forçou nova operação.

Com evidentes dificuldades – o braço direito ficou destroçado, o pulso com evidentes limitações e a perna frágil – Robert Kubica tentou a reconversão com os ralis, ganhou um rali de Subaru WRC em Itália, voltou a dar mais um par de estaladas e voltou a ganhar em Itália.

Um acordo com a Citroen coloca-o a fazer duas provas com um C4 WRC: vence o Tropheo ACI Como, mas a sorte voltou a abandoná-lo e no Rally do Var, despistou-se e o carro incendiou-se. Escapou ileso. Manteve-se nos ralis com o apoio da petrolífera polaca, ensaiou o Mercedes do DTM em Valência e caiu na esparrela quando a Williams o requisitou para piloto de testes e de reserva e este ano passou a titular.

Infelizmente, as evidentes limitações físicas juntaram-se às péssimas prestações da equipa liderada por Claire Williams. A tempestade perfeita adicionou George Russell, que destruiu o polaco ao longo de 2019. É verdade que Kubica marcou um pontinho no GP da Alemanha, devido à penalização imposta aos Alfa Romeo, e Russell não, mas na qualificação, o britânico ficou, sempre à frente de Kubica. E por larga margem!

O feitio complicado de Kubica começou a criar brechas na relação com a equipa, a desilusão foi aumentando até a um ponto de não retorno: o polaco criticou a equipa desde os testes de Barcelona (onde a Williams deu uma imagem de amadorismo) até ao fim e a separação era inevitável.

Robert Kubica volta a sair da Fórmula 1, agora pela porta pequena e com uma imagem pobre, bem diferente daquela que deixou quando o acidente em Andorra mudou-lhe o destino. O polaco não deveria ter regressado á Fórmula 1, apesar da luz verde dos médicos. Kubica não merecia sair da Fórmula 1, mas o orgulho e a vaidade falaram mais alto. A queda foi tremenda e o polaco vai desaparecer do desporto automóvel com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma…

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