Christian Horner: o que levou à queda do chefe mais emblemático da Fórmula 1?

Por a 10 Julho 2025 09:57

Christian Horner foi despedido da Red Bull, numa liderança que ruiu sob múltiplas pressões…

O despedimento de Christian Horner foi o culminar de meses de tensão, desconfiança e reestruturação interna.

De escândalos abafados a jogos de bastidores na estrutura acionista, passando pela aparente crise técnica no projeto de 2026 e pelas tensões com figuras-chave como Adrian Newey e Max Verstappen, Horner perdeu a rede de apoio que o sustentava.

A Red Bull entra agora numa nova fase, com muitos desafios pela frente — e sem o homem que a transformou numa das equipas mais dominantes da história da Fórmula 1. Melhor ou pior, não sabemos, mas o futuro será certamente diferente…

Uma saída surpreendente, mas há muito previsível

Christian Horner foi despedido da Red Bull Racing de forma abrupta, encerrando um longo reinado de quase duas décadas como chefe de equipa. Apesar do choque inicial que a decisão provocou no paddock, as razões por trás do afastamento acumulavam-se desde o início de 2024 e resultam de uma combinação de conflitos internos, perda de apoio político dentro da estrutura da Red Bull e dúvidas crescentes sobre a sua lealdade.

Um escândalo abafado… até deixar de o ser

O primeiro sinal de instabilidade surgiu no início de 2024, quando Horner foi acusado por uma funcionária de comportamento impróprio. Embora não tenha sido formalmente afastado na altura, a divisão austríaca da Red Bull — que detém 49% da empresa – pretendia demiti-lo. O único motivo que impediu a sua saída foi o apoio direto de Chalerm Yoovidhya, o acionista maioritário tailandês, que detinha 51% do capital da Red Bull GmbH e usou esse poder para manter Horner no cargo.

A mudança de acionistas que abriu a porta à demissão

No entanto, tudo mudou recentemente. Chalerm Yoovidhya vendeu 2% das suas ações à Fides Trustees SA, um fundo fiduciário suíço independente. Com esta reconfiguração, deixou de haver um só acionista com maioria absoluta, dando à ala austríaca margem para concretizar a saída de Horner.

Sem o seu maior protetor dentro da estrutura acionista, a decisão foi rápida: Horner foi informado numa terça-feira e, no dia seguinte, a notícia da sua demissão correu o mundo.

As suspeitas de traição e a perda de confiança

Segundo o antigo engenheiro Kees van de Grint, Horner também terá ajudado a cavar a sua própria sepultura. As alegadas conversas com outras equipas, nomeadamente Alpine e Ferrari, terão levantado sérias dúvidas sobre a sua lealdade à Red Bull. Van de Grint foi claro: “O seu flirt com outras equipas fez muitos questionar se ainda era assim tão leal”.

A forma como Laurent Mekies foi rapidamente nomeado como sucessor — apenas uma hora após a saída de Horner — também gerou críticas. “Não é assim que se trata alguém que liderou uma equipa durante 20 anos”, disse o jornalista Allard Kalff.

Um ambiente em declínio e a saída de Adrian Newey

Outro sinal de que algo não estava bem foi a saída de Adrian Newey. O lendário engenheiro britânico, uma das pedras basilares da era de sucesso da Red Bull, deixou a equipa e afirmou que o ambiente estava a “ficar estagnado”. Fontes próximas indicam que Newey se sentia desvalorizado e que a relação com Horner se deteriorou significativamente. Após a sua saída, os resultados caíram: apenas duas vitórias em 2025, uma quebra drástica face ao domínio anterior. Nem tudo teve a ver com Newey, mas certamente não ajudou em nada, a sua saída…

As dúvidas de Verstappen e os riscos para o futuro

A demissão de Horner surge num momento crítico, quando a Red Bull trabalha intensamente no projeto para 2026 — e aparentemente nem tudo corre bem. Segundo Tom Coronel, “algo correu mal com o desenvolvimento do carro de 2026”. O próprio Max Verstappen ainda não experimentou o novo carro (no simulador), mas a sua equipa tem mostrado reservas quanto ao novo motor da Ford/Red Bull Powertrains.

As dúvidas técnicas e a saída de Horner levantaram especulações sobre uma possível mudança de Verstappen para a Mercedes, mas Martin Brundle acredita que o neerlandês deverá continuar em 2026: “O meu instinto diz que ele vai ficar”, comentou na Sky Sports.

Reações no paddock: entre preocupação e descrença

O antigo campeão Damon Hill criticou abertamente a decisão: “Isto parece um golpe palaciano. Horner teve o apoio da equipa que construiu. Duvido que o novo líder consiga encher os seus sapatos”.

Por outro lado, há quem veja na mudança uma oportunidade para recomeçar, embora num momento arriscado, com nova regulamentação a entrar em vigor em 2026 e sem estabilidade técnica interna.

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6 comentários

  1. Jose Marques

    10 Julho, 2025 at 10:03

    Replico aqui o meu comentário que fiz noutro post…

    A Red Bull, com a morte do seu fundador, veio expor aquilo que acontece muito no mundo corporativo. Quando alguém que centralizava todas as decisões “sai”, logo surgem interessados a querer ocupar esse lugar. A hierarquia que antes era vertical (sendo que para isso a ótima relação entre os dois principais acionistas ajudava e muito), tornou-se agora mais politizada, onde tem muitos opinantes e poucos tomadores de decisão. Com isso, também se torna proibitivo esbanjar dinheiro, porque o compliance toma conta do negócio.
    Primeiro o suposto caso da funcionária da RBR (digo suposto, porque até hoje na verdade ninguém sabe exatamente o que aconteceu), onde com certeza foi dada uma indemnização para a pessoa em causa, consequentemente a perda de Adrian Newey, do Jonathan Wheatley, do chefe de mecânicos, do chefe de estratégia e até do Rob Marshall (embora esta mais antiga). Para além disso o despedimento do Pérez poucos meses depois da renovação do contrato.
    Outra coisa que deve ter pesado e bastante, foi a RBPT. Não a criação em sim, mas sim a pressão da FORD. Esta demonstrou publicamente o seu desagrado no que concerne à forma como a RB conduziu a questão da funcionária, e a RBPT depende e muito do financiamento do fabricante americano para ir avante com as suas pretensões megalómanas de produzir uma UP própria, coisa que a Renault deixará de fazer e a Mclaren, mesmo com o know how da Mclaren Automotive não ousa em aventurar-se.
    Contudo, creio que o MAIOR fator para este despedimento, é a ida do Verstappen para a Mercedes. Já ninguém consegue esconder mais.
    É o Max Verstappen que está neste momento a impedir que a situação em pista da RBR seja pior ainda.
    2026: Totalmente uma incógnita, sem Verstappen, motores próprios sem qualquer referência, muitos talentos perdidos e muito dinheiro gasto. Então decidiram tirar o timoneiro neste momento, para que o próximo possa preparar da melhor forma o próximo ano.
    Será o Mekies capaz? Se o Helmut Marko sair, creio que sim. A RBR quer criar novamente um ambiente são dentro da equipa, começar quase do zero para estar mais preparado para o futuro.

  2. Rhodas

    10 Julho, 2025 at 11:14

    ontem ouvi na Sky Sports que ele não foi despedido da Red Bull, o proprio Horner afirmava que ocupará outro cargo dentro da empresa…
    será uma maneira de o obrigarem a fazer gardening? porque se o despedirem mesmo, ele não o terá que fazer, ou tem?

  3. Pity

    10 Julho, 2025 at 11:41

    Concordo com o José Marques e reafirmo o que já disse antes: os pilotos passam, as equipas ficam. Se a (hipotética) saída de Verstappen foi a razão para chutarem o Horner, os decisores têm vistas curtas, não olham a longo prazo. Claro que o Verstappen é um activo muito importante mas, mais tarde ou mais cedo, teria de sair. Nenhum piloto é eterno (nem o Alonso ou o Hamilton), pelo que em qualquer altura a Red Bull seria confrontada com a sua saída, mesmo que vivessem na paz dos anjos.
    Se a questão é não estarem a vencer, nenhuma equipa domina eternamente. Há ciclos de domínio e ciclos de “carência”. Equipas mais históricas têm passado por isso: Ferrari, McLaren, Williams.
    Veremos é se estas decisões não levarão ao desaparecimento ou venda da(s) equipa(s) a curto ou médio prazo.

  4. F1 FOR FUN

    10 Julho, 2025 at 13:50

    O caso de assédio o ano passado e o encobrimento para o silenciar, até os jornalistas/youtubers ingleses não podem falar disso. O certo é que a vítima avançou para tribunal e o caso vai ser julgado para o ano que vem.

  5. Zacspeed

    10 Julho, 2025 at 20:33

    Quando a Porsche tentou comprar 51% da equipa ele foi a principal oposição, recentemente li que a Porsche está a pensar sériamente regressar à F1, será que tem alguma relação ?

  6. Canam

    11 Julho, 2025 at 16:36

    Vivemos numa época obscura no que diz respeito a relações humanas. A vida das pessoas pode ser estragada por pequenas coisas. A F1 desde há anos é um reflexo disso mesmo. Muitas lutas de bastidores, muita politica no mau sentido, muito postiço, ambiente tóxico por todo o lado. O que sucedeu com este sr. resulta disso na minha opinião. Independentemente de preferências pessoais, etc. É um mundo pouco recomendável. Valha-nos os carros.

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