Campeões do Mundo F1: o 4º foi Mike Hawthorn

Por a 29 Fevereiro 2024 17:15

O primeiro piloto britânico a alcançar um título mundial de Fórmula 1 com a Ferrari foi uma das personagens mais carismáticas do automobilismo da década de 50

Mike Hawthorn nasceu John Michael, na pequena vila de Mexborough, em Yorkshire. O seu pai era Leslie, um entusiasta que correu em motos e automóveis e que, dois anos depois do seu nascimento, comprou uma garagem em Farnham, próximo da pista de Brooklands, onde chegou a correr em motocicletas antes da II Grande Guerra. A proximidade da mítica oval e o ambiente da garagem paterna depressa apontaram o rumo de vida do pequeno Mike que, aos nove anos, decidiu que queria ser apenas uma coisa: piloto de competição.

A sua educação esmerada, no elitista colégio técnico de Chelsea, deu-lhe a preparação necessária para seguir os negócios da família. Mas, ao mesmo tempo, o seu pai ia-lhe dando os meios para se divertir em corridas locais, providenciando-lhe motos e depois automóveis que ele utilizava o melhor que sabia. E, também ao mesmo tempo, o irrequieto e endiabrado Mike passava o tempo a cirandar pelos arredores, liderando um grupo de amigos barulhentos, que eram o terror das raparigas locais e dos pacatos pubs de aldeia, onde ‘emborcavam’ cerveja aos litros.

Viver depressa e morrer jovem

Ele adorava a vida, conduzia depressa e morreu jovem. Grande, louro e sanguíneo, pilotava quase sempre com um enorme sorriso estampado por debaixo do capacete de pano e com uma estreita gravata, por vezes um elegante papillon, por baixo do queixo, encimando uma impecável camisa branca. Outros tempos: simplesmente, olhava para as corridas de automóveis como a forma mais simples de se divertir. Mas, quando a sua paixão se transformou em profissão, assumiu-a com a mesma força e calor. A sua carreira e a sua vida foram manchadas, com enorme frequência, pela tragédia, pelos escândalos e pela infelicidade. Até que, um dia, a F1 deixou de fazer sentido – e ele decidiu sair dela pela porta grande, como um vencedor, um campeão. Do Mundo e da vida. Morreu semanas depois, num acidente estranho que se transformou numa lenda. Tinha 29 anos e a certeza de que, sem o acidente, teria sobrevivido poucos meses, pois o único rim que tinha desde 1955, já não funcionava bem e causavam-lhe dores insanas e bloqueios cerebrais. Na história da F1, existiram muitos campeões carismáticos, mas nenhum tão fugaz e colorido como Mike Hawthorn.

Começar a vencer

Oficialmente, Mike Hawthorn começou a correr em 1950, vencendo corridas com um pequeno Riley de 1934, oferecido pelo pai, pois claro! E de tal forma foi bem sucedido que, três anos mais tarde, estava a pilotar carros para Enzo Ferrari na F1!

Antes, em 1952, tinha-se estreado na F1, no GP da Bélgica, que terminou em 4º lugar com um Cooper T20/Bristol que o pai tinha comprado de propósito para isso e que inscreveu sob o “label” da sua própria equipa, a LD Hawthorn. E foi com a equipa do pai que Mike correu nesse ano em mais três GP, conseguindo subir ao pódio em Silverstone e ser de novo 4º na Holanda, terminando o campeonato em 10º lugar, com 10 pontos.

No ano seguinte, começou uma longa e tumultuosa ligação à Scuderia Ferrari, que durou até sair da F1, com o título de Campeão do Mundo. Pelo meio, uma interrupção em 1956, ano em que fez apenas três provas do Mundial: duas com a Owen Racing Organization, sendo mesmo 3º na Argentina com um Maserati 250F; e uma na equipa oficial da Vanwall, sendo 10º na Inglaterra.

O seu período mais completo na Ferrari oram os dois primeiros anos, 1953 e 1954, em que venceu dois dos três GP que constam no seu palmarés, terminando em 4º e 3º, respetivamente, o Mundial. Em 1955, começou com um Vanwall oficial, antes de fazer três corridas com a Ferrari, nunca pontuando nas cinco provas de F1 que realizou. Para Mike Hawthorn este foi um autêntico “annus horribilis” – a doença juntou-se à tragédia e à glória. Piloto tão eclético como determinado, venceu com o seu amigo Ivor Bueb as 24 Horas de Le Mans de 1955, a maldita edição que ficou nos negros anais do automobilismo desportivo, com os seus 83 espetadores mortos, mais o piloto Pierre Levegh. Hawthorn escapou por pouco ao desastre, oferecendo à Jaguar á sua mais triste vitória.

Crónica de uma morte anunciada

Mike Hawthorn teve um ano para recuperar, física e psicologicamente. Em 1957, regressou à Scuderia Ferrari, fazendo com o seu amigo e compatriota Peter Collins uma dupla de ataque… a Luigi Musso, italiano, “bon vivant” e o terceiro elemento da Scuderia. Essa rivalidade, que levou os três a correr riscos arrepiantes em todas as corridas em que participaram, fez história na F1, podendo ser equiparada à que atraiu Ayrton Senna e Alain Prost. Pelo lado trágico, faz lembrar a que separou Didier Pironi e Gilles Villeneuve, em 1982. No ano de 1958, Hawthorn subiu ao pódio em todas as corridas, menos em duas, onde abandonou e na Holanda, onde foi 5º. Em França, ganhou a sua única corrida nesse ano, mas viu morreu à sua frente o seu grande inimigo, Luigi Musso. Semanas mais tarde, foi a vez do seu amigo Peter Collins ter um acidente fatal em Nurburgring, uma das provas onde Hawthorn desistiu. Doente, desiludido, decidiu abandonar as pistas – acalentando o sonho de fazer família com a sua noiva Jean Howarth, de 21 anos, que conhecera nesse ano.

Porém, tinha a certeza de que o destino lhe iria ser cruel, pois estava informado pelos médicos de que teria poucos meses de vida, quando disse adeus à F1. Assim foi: a 22 de janeiro de 1959, na saída da A3, nos arredores de Guildford, perdeu o controlo do seu Jaguar 3.4 MkI verde a alta velocidade e morreu. A razão do despiste nunca foi conhecida, mas a lenda diz que o britânico estava numa disputa em estrada aberta com Rob Walker, que o seguia no seu Mercedes 300 SL. Até morrer, Walker negou sempre o facto, mas sabe-se que Hawthorn tinha transformado o seu Jaguar (a que chamava “Merceater”) para ter mais potência e ser mais rápido. E, na sua biografia “Challenge Me The Race”, Hawthorn escreveu uma frase que poderá ajudar a compreender aquilo que sucedeu nesse dia fatídico: “No Kraut car could overtake or outaccelerate”

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