Bernie Ecclestone: “A F1 não tem de ser relevante para a indústria automóvel”

Por a 6 Janeiro 2021 16:32

Quem o disse foi o antigo ‘supremo’ da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, que em entrevista à Motorsport Magazine, é de opinião que a Fórmula 1 deve abandonar as unidades motrizes turbo híbridas e regressar aos motores normalmente aspirados. A ideia de Ecclestone é que a Fórmula 1 deve concentrar-se dar primazia ao entretenimento em vez de procurar ser relevante para a indústria automóvel: “Vão-me dar na cabeça por dizer isto mas acho que devíamos desenterrar os velhos motores normalmente aspirados. Toda a gente os tem, os custos baixam, o ruído voltará, e podemos usá-los durante cinco anos enquanto pensamos num motor para o futuro. A Fórmula 1 não tem de ser relevante para a indústria automóvel. As pessoas esquecem-se que a Fórmula 1 está no negócio do entretenimento e quando se deixa de entreter não se tem um negócio. Vai haver muitas mudanças [no mundo]. Todos terão carros elétricos, os políticos tratarão disso, não será possível levar um carro a gasolina para uma cidade. As pessoas dirão: Esperem, todos estes carros de F1 a carregar, porque não são elétricos? E os fabricantes vão deixar de fabricar carros a gasolina ou a gasóleo dentro de alguns anos”.

Há cerca de um ano, publicámos o artigo que se segue. Tire as suas conclusões:

F1: Que motores para o futuro?

Por Fábio Mendes

O mundo avança a um ritmo cada vez mais elevado. A busca por novas tecnologias agora assenta também na sustentabilidade e as mudanças climatéricas começam a estar cada vez mais no centro das atenções. A indústria automóvel mudou radicalmente a sua forma de pensar nos últimos cinco anos (alguns escândalos foram o catalisador ideal da mudança) e isso reflecte-se no desporto motorizado.

A F1 apostou nos híbridos em 2014 no início deste novo movimento mais verde, mas desde então temos visto uma aposta cada vez mais significativa em eléctricos, vimos o surgimento e crescimento da Fórmula E, agora uma categoria consolidada e cada vez mais interessante para as marcas. Do lado da F1, a atitude perante a nova tecnologia implementada foi sempre negativa. Poucos foram os que ficaram espantados com o aumento da eficiência térmica dos novos motores (um salto de quase o dobro em apenas cinco anos), pela sua complexidade e pelos seus sistemas que poderiam (e deveriam) ser aplicados em carros de estrada. Preferiu-se optar por um discurso negativo, porque eram caros, ou porque não cantavam bem. E talvez por isso o apelo destas magnificas peças de tecnologia não tivesse as proporções esperadas e devidas.

O investimento feito pelos fornecedores de motores foi grande, de tal forma que apenas a Honda se juntou às marcas existentes e sofreu muito para chegar aos primeiros triunfos. Poucas (ou nenhumas) marcas aceitarão o desafio que a Honda aceitou. E por esse investimento ( e pela falta de interesse de outras marcas) optou-se, e bem, por manter os motores actuais mais uns anos, até 2024. Mas Cyril Abiteboul levantou uma questão pertinente. Com um mundo a mudar a uma velocidade tão grande, não será tempo de pensar no futuro da F1 também?

“Se olharmos o ritmo a que o mundo está a mudar, na minha opinião, há um enorme risco de a F1 ficar para trás”, disse Abiteboul. “Vejam as Greta Thunberg deste mundo, vejam a electrificação.“

“Coisas que as pessoas dizem hoje que nem sequer considerariam seis meses atrás – a Ferrari a considerar um carro 100% eléctrico, por exemplo .“

“Temos que ter muito cuidado para não ficar para trás na indústria automóvel. Independentemente do que pensemos da electrificação, ela não vai desaparecer.“

“Significa é que estou a tentar tudo o que posso e alerto todos para acelerar o processo que nos levará a uma nova unidade motriz: o que deve ser, como deve ser, quanto deve custar para evitarmos gastar uma quantidade louca de dinheiro – porque estamos a gastar uma grande quantia, todos os quatro fabricantes de motores – e devíamos começar a gastar no que será relevante para o futuro “.

“De momento, estamos mais no processo de estruturar um plano, com um congelamento progressivo do motor e redução no número de especificações por ano, para que possamos acelerar para uma nova unidade motriz em 2026. Mas, francamente, daqui a sete anos, parece muito longe.”

Toto Wolff também é da opinião que 2024 talvez seja demasiado tempo e que mudanças podem ser implementadas mais cedo:

“De uma perspectiva de custo, estaríamos interessados, juntamente com a FIA e Liberty, em manter a fórmula actual”, disse Wolff.

“É uma unidade de energia híbrida muito eficiente e não somos bons o suficiente a mostra-la ao mundo. No entanto, o mundo está a mudar, temos milhões de pessoas nas ruas preocupadas com as alterações climáticas. Para nós, na Daimler, a sustentabilidade tornou-se mais importante do que apenas uma ferramenta de marketing.“

“Temos que nos perguntar como fornecedores de unidades motrizes, qual é a visão para o futuro motor de Fórmula 1?”

“Estamos a olhar para o novo motor em 2025 .”, disse ele. “A questão é: devemos antecipar isso? Porque o mundo está mais rápido do que no passado, e essa é uma discussão que precisamos ter”.

A próxima mudança será muito importante para a F1 e poderá definir uma mudança de paradigma sem precedentes. Até agora a F1 tem caminhado de mão dada com a evolução tecnológica no ramo automóvel. Mas a electrificação é cada vez mais uma realidade e para a evolução nessa área há uma competição cada vez mais interessante… a Fórmula E.

O Endurance está a apostar nas células de combustível de hidrogénio, pelo que a F1 terá de encontrar um caminho verdadeiramente relevante… ou mudar radicalmente a sua forma de pensar e olhar mais para o entretenimento do que para a evolução. Mas se a F1 for 100% entretenimento, isso vai implicar que não faz sentido gastar tanto em evolução… e se assim for teremos uma F1 verdadeira?

É tempo de pensar seriamente no futuro da F1 a médio prazo. Esta primeira fase pretende ser de mudança a nível de filosofia de chassis, o que faz sentido e é necessário, embora o processo tenha sido levado de forma pouco eficaz. Mas a mudança mais importante, deverá ser feita antes do que se esperava. Abiteboul tem razão, sete anos é muito tempo e a F1 não pode esperar tanto. Mas é preciso que todos tomem consciência de que a próxima mudança será provavelmente a mais importante da F1 nos últimos anos. Idealmente a busca por soluções de futuro no automobilismo levará a que a F1 aposte num rumo interessante e que atraia mais marcas… Mas a concorrência da Fórmula E foi talvez subvalorizada e esta ocupa agora uma posição central no palco do interesse dos fabricantes de carros. A F1 continua a ser o Grande Circo, mas se pretende manter-se assim, terá de apostar muito bem na próxima mudança, ou poderá ver-se ultrapassada.

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chicanalysis
3 anos atrás

Bernie Ecclestone com uma visão digna de homem das cavernas.
Não terá sido o Barney Flinstone a fazer estes comentários?

Pity
Pity
Reply to  chicanalysis
3 anos atrás

É a visão de um homem da idade dele, 90 anos.

garantia4
garantia4
3 anos atrás

Standing ovation para o Bernie. Dos raríssimos a não se intimidarem com a troupe que domina impunemente a F1. De facto, até ao advento do KERS a F1 tinha motores que custavam relativamente pouco, e projectar um motor aspirado de 8 a 16 cilindros era simples e “qualquer um” podia fazê-lo.O gap entre entre os melhores e piores era pequeno, a tecnologia aspirada era perfeitamente conhecida por todos, não havia mais nada a inventar, e havia fornecedores muito compententes que podiam dar uma mão e encurtar as distancias; do ponto de vista desportivo estava tudo Ok. Depois, com adopção do pack turbo/MGUK/MGUH.… Ler mais »

Last edited 3 anos atrás by jo baue
garantia4
garantia4
Reply to  garantia4
3 anos atrás

A F1 tem 2 caminhos: Ou decidem que é desporto,  e há que dar a possibilidade às pessoas de exprimir a sua inteligência, mas sem que isto custo muito €. E a solução poderia ser motores aspirados talvez com Kers, com a cilindrada como único limite. Talvez também com combustíell bio. E aí voltariam os pequenos tipo cosworth oi ilmor. Ou Que  esta deve ser uma F1- laboratório, mas  não falsa como a actual Fórmula mercedes; nesse caso os custos não seriam  o mais relevante, mas no centro do projecto deve estar a eficiencia a fim de poupar combustível nos carros… Ler mais »

ruimssousa
ruimssousa
3 anos atrás

Depois de muitos anos afastado (desde 1995), eu voltei a acompanhar a F1 por causa do interesse que me suscitaram os motores híbridos em 2014.
Felizmente este senhor já não manda nada na F1, que evoluiu muito desde que a vendeu.

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
3 anos atrás

Tem sim ou então passa a ser irrelevante e apenas mais um campeonato. Através da F1 podem-se desenvolver os sistemas híbridos bem mais depressa, especialmente na sua eficiência. Através da F1 podem-se desenvolver bem mais depressa os combustíveis sintéticos menos poluentes. Muita coisa desenvolveu-se bem mais depressa através da sua introdução na F1, seja por regra ou por espontânea vontade de cada equipa. Estamos a falar de coisas que podem ajudar muitas indústrias a fazer a transição mais depressa do que até aqui foi feito. Se a F1 quer descartar-se dessa importância, depois não se queixem se não passarem de… Ler mais »

Last edited 3 anos atrás by Frenando_Afondo™
can-am
can-am
3 anos atrás

Obviamente que tem razão.Hoje em dia as marcas não precisam das corridas para a tecnologia dos carros que vendem.Isso seria no passado e há muitas décadas.Vendeu-se a ideia que as corridas funcionavam como laboratório de tecnologias.Na realidade isso nunca foi verdade.
Mas quem manda no desporto é politicamente correctinho e medroso. e nem a América,onde havia maior liberdade criativa escapa a esta onda.
Mas o que o Bernie diz está certo…num mundo ideal !

Last edited 3 anos atrás by Speedway
Não me chateies
Não me chateies
3 anos atrás

Tem toda a razão. A F1 relevante não me interessa, já existe chama-se FE, e não suporto os carros e as pistas. Se a F1 seguir o caminho da evolução da indústria automóvel vamos ter corridas de Drones eléctricos comandados por inteligência artificial já em 2030. Ficava mais barato ver as corridas da e-sports, pelo menos serão pilotados por humanos.

Last edited 3 anos atrás by Não me chateies
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