Apesar de tudo o que as separa, FIA está “em dívida” com a Liberty Media
Assumindo-se como diferente dos seus antecessores na liderança da FIA por ter vindo de um membro associado da entidade federativa, Mohammed ben Sulayem tem vindo a reforçar a mensagem que a organização que dirige está ao serviço do desporto e que não pode servir unicamente aos promotores ou sequer à vontade do seu Presidente. Esta ‘diretiva’ tem entrada em confronto com os detentores dos direitos comerciais da Fórmula 1, e apesar do Presidente da FIA considerar que estará “sempre em dívida com eles”, não deixa de apontar caminhos diferentes daqueles que a Liberty Media tem seguido.
Um dos maiores temas que separa, e muito, as duas partes é a inclusão da Andretti na grelha da Fórmula 1, porque cada uma das organizações defende algo diferente, que não tem permitido, pelo menos para já, um compromisso entre FIA e Liberty Media. A entidade federativa quer aumentar o número de concorrentes para melhorar a competição desportiva, enquanto os detentores dos direitos comerciais querem alguma estabilidade financeira agora que a F1 começa a ser rentável, depois de várias décadas onde se perdia dinheiro e começava a ser insuportável para as equipas. Por seu turno, as estruturas conseguem mostrar alguns números positivos aos seus investidores, apesar de muitas ainda estarem a tapar os buracos deixados por anos e anos de pobre saúde financeira.
Esta disputa tem tido episódios frequentes, em que se deixam escapar alguns comentários que tentam fragilizar cada uma das partes opostas. Por exemplo, Stefano Domenicali pediu mais rapidez na análise às contas das equipas e que os resultados sobre o cumprimento ou a falta deste, fosse tornado público mais cedo, isto ainda antes do anúncio da FIA em relação à temporada de 2022, mas depois de toda a polémica com o que se passou em 2021 e foi revelado no ano passado. Surgiram depois rumores sobre possíveis ilegalidades cometidas, tendo a FIA tentado colocar uma pedra sobre o assunto até que foram confirmados os resultados da equipa técnica que analisa toda a contabilidade das 10 equipas.
Mohammed ben Sulayem também não tem ficado calado, recorde-se o episódio caricato na Gala da FIA quando entregou o troféu a Christian Horner. Agora, em entrevista no Catar ao Motorsport-Total.com, deixou um recado à Liberty Media, dizendo que não pode depender apenas do interesse desencadeado pelo documentário da Netflix ‘Drive to Survive’ e há muito que fazer para manter o campeonato relevante e capaz de enfrentar novos desafios.
O Presidente da FIA tem sublinhado o papel do novo regulamento das unidades motrizes para 2026 para trazer novas marcas e interessados pela competição e quer que a Liberty Media faça mais para “melhorar nosso modelo de negócio e tenho certeza que sobreviverá por muito, muito tempo, desde que a FIA também seja forte”.
Mohammed ben Sulayem afirma que o que a Liberty fez “durante a pandemia foi fantástico. Estarei sempre em dívida com eles”, mas que os “desafios de há dez anos são completamente diferentes dos de hoje”, não podendo a competição estagnar.
É necessária uma aproximação das duas partes, simplificar algumas regras para a Fórmula 1 poder melhorar. Nem tudo pode girar em torno do dinheiro e das melhores condições que A ou B podem oferecer, sendo necessário manter alguma tradição desta disciplina.
Foto: Philippe NANCHINO / MPSA






