Albon na RedBull é um risco controlado ou um capricho?

Por a 14 Agosto 2019 08:13

“Para nós, apenas o principio da performance é que conta!” Foi com estas palavras que Helmut Marko justificou a troca de Daniil Kvyat por Max Verstappen em 2016, foi da mesma maneira que anunciou a promoção de Pierre Gasly à Red Bull (quando Daniel Ricciardo acreditou que ia para a Mercedes ou Ferrari e acabou na “inimiga” Renault) e é assim que o responsável da Red Bull justifica a permanente convulsão quando chega a altura de encontrar talento para ocupar os quatro lugares da Red Bull e da Toro Rosso.

Porém, a troca de Pierre Gasly por Alexander Albon é muito

diferente daquela que foi feita entre Daniil Kvyat e Max Verstappen: em 2016

Helmut Marko tinha à mão um jovem carregado de talento que hoje, ele e

Christian Horner, consideram ser o melhor piloto da Fórmula 1. Hoje… a

cantera da Red Bull está vazia e depois do afastamento de Dan Ticktum, a

solução mais à mão é Juri Vips, segundo do Campeonato de Fórmula 2. Por isso

mesmo é que o ataque de fúria de Helmut Marko acabou na promoção do piloto

escorraçado da Red Bull em 2012, pelo mesmo Helmut Marko.

Que por falta de opções já tinha sido forçado a recuperar

Daniil Kvyat – outro proscrito e que quase acabou a carreira depois da troca

com Max Verstappen – e deitou mão ao piloto tailandês nascido no Reino Unido há

23 anos, que estava a caminho da Fórmula E (contrato com a equipa Nissan) quando

recebeu um telefonema de Helmut Marko. Isto depois de um ano na F2 onde entrou,

in extremis, na DAMS e acabou a fazer a temporada completa de 2018 sendo o

único que deu que fazer a George Russell na luta pelo título.

Apesar das exibições do ano passado e de em 2017 ter sido um

dos maiores rivais de Charles Leclerc, perdendo as hipóteses de ser campeão ao

abandonar na última jornada devido a um desentendimento com Jack Aitken,

Alexander Albon passou ao lado dos blocos de apontamentos dos “olheiros” da

Fórmula 1.

Como disse acima, esta não é a primeira vez que a Red Bull

baralha e dá de novo. Porém, Helmut Marko e Christinan Horner deviam saber que

o resultado certeiro aquando da troca de Daniil Kvyatt por Max Verstappen – o

holandês chegou à Red Bull no GP de Espanha e… ganhou!, enquanto o russo se

afundou em idiossincrasias próprias e acabou fora da Red Bull no final de 2017 –

se deveu ao enorme talento que tinha em carteira. Um Max Versatappen é como um

Cristiano Ronaldo ou um Lionel Messi, não aparecem aos molhos!

Ainda por cima, os responsáveis da Red Bull arriscam, embora

não pareçam preocupados, a carreira não de um, mas de dois pilotos: Alexander

Albon e Pierre Gasly, não esquecendo Daniil Kvyat.

Sim, é verdade que Albon fez uma excelente primeira parte de

campeonato e pouco ficou a dever ao seu colega de equipa russo que, para já,

aparafusou mais um pouco o seu lugar na Toro Rosso com o pódio na Hungria. Mas,

não foi ele o escolhido para o lugar de Gasly, o que faria muito mais sentido,

não só porque tem muito mais experiência e já está numa idade em que se for

engolido pelas diatribes da Red Bull a sua carreira não será afetada. Além

disso, o russo teve a sua chance na Red Bull em 2015 e 2016, fez 23 provas e

nada provou ou fez de entusiasmante. Ele que ficou com o lugar que estava

destinado a António Félix da Costa na Toro Rosso.

Os homens da Red Bull pensaram de outra forma e, na minha

leitura dos factos, tendo a cantera vazia e quatro lugares para preencher,

entendem que o futuro passa por Albon. E o raciocínio é simples:

recuperaram-no, atiraram-no para a arena sem dó nem piedade com um Toro Rosso e

um russo já vivido e matreiro como colega de equipa, deu-se muito bem e assim

têm em mãos mais um talento que pode motivar, mais ainda, Max Verstappen e caso

este decida mudar de ares – esteve quase a ter essa oportunidade na mão não

fosse a vitória na Alemanha – ter ali uma opção para chegar ao título nos

próximos anos.

Porém, este pode ser um presente envenenado! Porque saiu Pierre

Gasly da Red Bull depois de todos os elogios e das certezas que nada o faria

sair da equipa principal?

Em primeiro lugar, não é fácil ser colega de equipa de Max Verstappen – é um bocadinho o calvário que vários pilotos de enorme qualidade passaram, ao lado de Ayrton Senna e Michael Schumacher. Depois, ninguém esperava que o pacote Red Bull/Honda se desenvolvesse tão depressa e cm resultados tão expressivos. Depois, os brilhantes desempenhos de Verstappen “obrigaram” Gasly a acompanhar o holandês na marcação de pontos suficientes para pressionar Mercedes e Ferrari. Verstappen tem feito o seu trabalho – já tem duas vitórias – Gasly não fez. E lá vem à memória a frase de Helmut Marko, “para nós, apenas o principio da performance é que conta!”

A Red Bull quer lutar pelos títulos em 2020 e não se pode

dar ao luxo de ter um carro que chateia os líderes e outro que é engolido pelo

segundo pelotão!

Coloquemos as coisas de forma simples: Verstappen “deu” 12-0 em qualificação a Pierre Gasy e a diferença média de tempo na qualificação entre o holandês e o francês é de 0,529s! Pierre Gasly tem apenas 35% dos pontos reclamados por Max Verstappen, ou seja, este tem 181 pontos, o francês apenas 63. Mas o que mais deve ter chocado Helmut Marko e Christian Horner é que se Pierre Gasly tivesse feito o mesmo que Valteri Bottas na Mercedes (75% dos pontos de Hamilton) e Charles Leclerc (85% dos pontos de Vettel), a Red Bull estaria na frente da Ferrari na tabela de construtores.

Finalmente, na Hungria, Gasly não esteve presente e a Red Bull acabou por perder uma prova que caso tivesse um segundo piloto á altura, talvez conseguisse outro resultado. Lembram como foi a prova? A Mercedes e Lewis Hamilton passaram a Red Bull e Max Verstappen devido a uma estratégia arriscada, mas que resultou apenas e só porque o britânico tinha uma enorme vantagem atrás de si. A Ferrari não tinha condições para lutar com a Mercedes e a Red Bull e por isso teria de ser Gasly a fechar esse espaço e a pressionar a equipa de Lerwis Hamilton, impedindo essa segunda paragem. O francês, campeão da GP2 em 2016!, não estava lá e fechou a corrida a uma volta de Verstappen (foi a quinta vez que acabou a uma volta do seu colega de equipa: Austrália, Canadá, França, Áustria e Hungria) num pálido sexto lugar que não serviu de nada á Red Bull. Aliás, Gasly não começou nem acabou nenhuma das corridas já realizadas acima do quarto lugar, enquanto que Verstappen já tem duas vitórias, cinco pódios e uma “pole position”. Um fosso gigantesco que o francês não pode justificar com um encolher de ombros e “não consigo explicar o que se passa!”

Voltemos a Alexander Albon. Acima digo que este pode ser um

presente envenenado e a razão radica, exatamente, nos problemas que levaram a

Red Bull a recuperar dois proscritos: Kvyat e Albon. Não há mais talento no

junior team da Red Bull, os pilotos apoiados pela casa austríaca têm-se

revelado fracasso atrás de fracasso e Albon “tem” de dar certo, porque se não

derem certo – e há muita coisa que concorre para isso! – o que fará a Red Bull?

Joga Albon pela janela, promove Kvyat e coloca um piloto qualquer ex-Red Bull

(são tantos!) na Toro Rosso? Acreditem, a decisão terá sido célere e no final

do GP da Hungria percebia-se que a paciência tinha acabado quando Helmut Marko

disse, repetidamente, para quem o queria ouvir “Verstappen passou pelo McLaren

(de Carlos Sainz, ndr) á primeira, o Gasly demorou uma eternidade!” (esteve 70

voltas atrás do McLaren do espanhol, ndr). Gasly vai regressar á Toro Rosso e

terá de ser forte mentalmente para não se eclipsar e desaparecer da Fórmula 1

pela porta pequena, entra Alexander Albon na Red Bull após 12 corridas na Toro

Rosso com o melhor resultado a ser um sexto lugar na Alemanha, recolhendo 16

pontos, 11 menos que Kvyat.

Contas feitas, Alexander Albon é o piloto que mais depressa

subiu à equipa principal, mas a tarefa não será fácil. O piloto tailandês

nascido no Reino Unido terá de provar em nove corridas que é digno de ficar com

o lugar para 2020 e, como disse acima, não pode falhar!

Ninguém espere que Albon faça o mesmo que Verstappen quando

saiu da Toro Rosso para a Red Bull, até porque os dois pilotos não são

comparáveis. Mas terá, em nove corridas, que conhecer um carro novo, uma equipa

nova, um ambiente competitivo muito mais tenso, terá a espada de Démocles em

cima do pescoço no que toca aos resultados e terá de enfrentar aquele que a sua

equipa considera o melhor piloto da Fórmula 1 atual. E como a Red Bull quer

aproveitar uma Ferrari enleada nos seus próprios atacadores, Albon terá de

conseguir resultados… já!

O resto da história adivinha-se… pilotos com outra tarimba

afundaram-se debaixo da pressão de obter resultados em equipas que não

conheciam. A pressão será absurda sobre os ombros de Alexander Albon.

A Red Bull acredita que o plano vai resultar, mas… o que

acontece se Albon ceder à pressão? Se não conseguir, já, os resultados

desejados, volta para a Toro Rosso? Ou sai porta fora com um valente pontapé no

traseiro, arruinando, talvez definitivamente, a sua carreira se fizer pior que

Gasly? É uma aposta arriscada que tem tudo para dar… errado! Gasly ficou chamuscado

depois da Red Bull ter tido a necessidade de responder á saída de Daniel

Ricciardo, quando devia ter estado no “forno” Toro Rosso mais uma temporada.

Sairá Alexander Albon esturricado depois desta promoção recorde?

Se Alexander Albon der uma boa resposta, Helmut Marko será

elogiado por todos, mas a Red Bull sabe perfeitamente que está no fio da

navalha. Ao manter Gasly perto, Helmut Marko mantém uma opção em aberto na

esperança que o francês não irá implodir como sucedeu ao, agora, colega de equipa,

Daniil Kvyat. Mas se isso suceder e Albon falhar, a Red Bull tem um problema

muito complicado para resolver. Veremos a partir de setembro.

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